Pelas 10:00 teve hoje início o desfile comemorativo do 3 de Março, data do aniversário do Colégio Militar. Faz este ano 217 primaveras.
Infelizmente - e não sei se não houve algum excesso de zelo - a missa que se lhe costuma seguir foi cancelada, devido à ameaça do "corona virús", epidemia cuja história me parece muito mal contada.
Por altura do seu 189º aniversário escrevi o texto que junto e que na altura espelhava já a realidade das Forças Armadas Portuguesas.
O texto apesar de premonitório, fica bem àquem daquilo que foi acontecendo daí para cá ( já lá vão 31 anos) dado que a Instituição Militar está no limiar da sua sobrevivência, num processo inaudito que não encontra paralelo em toda a sociedade portuguesa e sem que tal estado, a caminho do caótico, preocupe qualquer sector da sociedade (incluindo grande parte dos militares) ou tenha qualquer reflexo público, a não ser um ou outro acto isolado e nunca continuado no tempo.
O CM apesar dos ataques que tem sofrido, lá se vai aguentando e até aumentou o seu efectivo (conta agora com cerca de 550 alunos), sobretudo derivado do facto de terem encerrado à força o notável Instituto de Odivelas. Mais um "crime de lesa Pátria".
Cumpts
Brandão Ferreira
A MELHOR UNIDADE DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS
Março de 1992
Não fui menino da
Luz. Sem embargo aprendi há muito a conhecer o Colégio. Não apenas as suas
paredes vetustas, significativamente antiga Casa dos Cavaleiros de Cristo, mas
a divisar-lhe a alma, a entender-lhe a forma e olhar à volta a fim de discernir
o seu entrosamento com a Nação.
Numa Nação com
quase nove séculos de existência, começa a ser uma idade provecta (e há muito
poucas nações com nove séculos…). Sobretudo se atendermos ao carácter efémero
do muito que se passa na sociedade portuguesa.
Nasceu para
garantir guarida e educação aos filhos dos oficiais do Exército e Armada Reais,
já que os seus afazeres profissionais, em muitos casos, não lhes permitiam
manter uma vida familiar normal e estável. Era seguro amparo para os órfãos
cujos pais perdessem a vida ao serviço da Pátria e constituía-se em alforge de
vocações para os que, mais tarde, quisessem seguir a carreira das armas.
Estes objectivos mantem-se hoje, mas os
acolhidos no seu seio, alargou-se a toda a sociedade. É um estabelecimento de
ensino único no país.[2] A vida é dura e austera,
para os mais de quatro centenas de jovens que constituem o Batalhão Colegial.
Este Batalhão é a
melhor unidade militar das Forças Armadas Portuguesas. Há muitas razões para
isto.
O Batalhão está
devidamente comandado e enquadrado. A hierarquia funciona e estão definidas
linhas claras de autoridade.
Respira-se
disciplina.
Existe uma
organização e as regras estão bem definidas.
O Batalhão é um
Batalhão. Isto é, tem os efectivos adequados. Todos dispõem de armamento e
equipamento necessário.
O Batalhão tem
Princípios, Símbolos e Código de Honra. Tem missões bem definidas: estudar,
formar Homens, manter a chama colegial e preservar as tradições.
Cultiva as
virtudes militares e humanas.
O Batalhão desfila
com garbo e tem “panache”. O Moral do Batalhão é bom.
O Batalhão não se
limita a Estar. É.
A missão é cumprida
porque a avaliação dos resultados demonstra que estão acima da média.
A vida no Colégio
liga o ressente ao passado e projeta-se no futuro. Os rapazes são ingénuos, têm
ideais, sonham. Toda a utopia é possível. Por outro lado, vivem, trabalham e movimentam-se,
segundo uma ordem formal. Esta ordem liberta mais do que oprime. Sabem onde
estão e para onde vão. O sentido de justiça está vivo e flui com a generosidade
e as convicções da juventude – uma falha neste campo destrói o equilíbrio vivencial
e tem que ser ultrapassada rapidamente.
A vida do Batalhão
Colegial não está enfeudada a grupos ou interesses pessoais. Não se orienta
pelo vil metal. O Batalhão é único e tem Portugal por referência.
A força do
Batalhão antecede-o e está para além dele. O elo da barretina é para sempre.
A cerimónia
religiosa que culmina as comemorações anuais de aniversário é a síntese
telúrica, a reflexão interior, o bálsamo tonificante.[3]É o Portugal profundo que
se encontra. Mesmo quando a sociedade à sua volta está doente.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
PS. Artigo publicado no jornal “Centurião” (da capelania –
mor das Forças Armadas), nº 2 de Março/Abril de 1992.
*****
Ficou muita gente
incomodada com este artigo. Vá-se lá saber porquê!...
Sempre defendemos
o Colégio Militar, ou melhor dizendo os Colégios Militares. Eles são
instituições com muitos anos e provas dadas. Podem parecer anacrónicos para muitos,
eivados de tecnocratismos modernos, despidos de noções de espiritualidade, para
quem Deus é o dinheiro. Vários ataques a estas instituições têm sido preparados
nas últimas três décadas e os constrangimentos financeiros das Forças Armadas
tornam cada vez mais difícil manter estas escolas de excelência.
Mas há que o
continuar a fazer. Nem tudo se pode reduzir a patacos.
PS. Nota que escrevi no livro “À Frente do Tempo”, da
Prefácio , Lisboa, 2008, onde o artigo vem transcrito.
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