No briefing diário
(das más noticias) o porta - voz do Governo confirmou, ao país, que ia vender
12 dos 39 caças F-16, que restam à Força Aérea Portuguesa (FAP).
Não hesito em
qualificar esta decisão de um acto de profunda incompetência e inconsciência!
Tal leva-me a
considerar o Governo como sofrendo de um estado de estupor (entorpecimento das
faculdades intelectuais, paralisia, etc.).
Vou provar porquê.
A FAP procurou
(através dos governos) adquirir um avião de caça de que o País estava privado
desde que os “velhinhos” e saudosos F-86-F foram abatidos ao inventário, em
1980, após 22 anos de bons serviços.
Até à vinda dos
F-16, em 5 de Junho de 1994, a FAP operou sem um único avião de caça – a
primeira vez que tal sucedeu desde 1919 - [1] que é o único capaz de
garantir a defesa do espaço aéreo nacional, razão principal da existência de qualquer
Força Aérea.
Pelo caminho
ensaiaram-se várias tentativas para colmatar esta gravíssima falha no âmbito da
Defesa Nacional, através da aquisição de outros meios, de que se destaca o F-5E;
tentativas baldadas pelo crónico "deficit" orçamental e medíocre
atenção que os governos dão a tudo o que se relacione com as Forças Armadas.
Como a Defesa
Aérea não são só caças e pessoal para os operar e manter, foi lançado o
“SICCAP”, salvo erro em 1977/8, avaliado em cerca de 70 milhões de contos e
comparticipado acima de 75% pela NATO.[2]
Tal representa
uma obra notável cuja II fase só agora está a ser concluída com a instalação do
radar de Defesa Aérea, no Pico do Areeiro, perto do Funchal.[3]
Após todo este tremendo esforço e
investimento em tecnologia, preparação do pessoal, manutenção e operação de
sistemas, meios financeiros, etc., a que se tem que juntar a enorme
complexidade que representou a negociação e compra dos F-16, aos EUA e o aprender
a operá-los e mantê-los, é que o governo (isto já vem de 2006!), se decide a
vender 12 aviões – 30% do total!
Se isto não é uma
supina estupidez, é o quê?
Esta convicção é
reforçada, ainda, por dois factos relevantes.
Portugal dispõe de pouquíssimos sistemas de
armas importantes em termos de modernidade e capacidade letal; o F-16 é um deles.
Por seu lado, a
FAP, apenas possui duas aeronaves que transportam armamento: o F-16 e o P3-P.[4] Acresce que as duas
esquadras de F-16 (hão-de querer acabar com uma e depois com ambas e passar a
defesa aérea para os espanhóis…), possuem poucos aviões/tripulações, para
cumprirem todas as missões atribuídas, quer a nível nacional quer a nível dos
compromissos internacionais assumidos – para já não falar na presença mais
assídua que deviam ter nos Arquipélagos e no âmbito da CPLP.
Mas a única coisa
que os governos fazem é reduzir o número de pessoal e as horas de voo, através
do estrangulamento financeiro!
Finalmente, a
venda dos F-16 é uma cavalidade imensa, pois o nosso país no estado de desastre
financeiro em que se encontra, não terá hipóteses de comprar qualquer outro
avião de combate nos próximos 50 anos.[5]
Por isso a solução
não passa por vender seja o que fôr, mas sim aproveitar tudo, o melhor
possível, até ao tutano.
E se for entendido
que não é conveniente operá-los a todos, em simultâneo, então que se preservem
muito bem armazenados até voltarem a ser necessários.
A FAP adquiriu,
entretanto, um “know-how” técnico na modernização e extensão, da vida útil do
F-16, que é único no mundo fora da indústria aeronáutica. Esta capacidade devia
ser, isso sim, explorada a nosso favor, com possível retorno financeiro e não
só.
Os F-16 são uma
espécie de seguro de vida. Deitar um seguro de vida pela janela fora, é outro
sinal de insensatez.
E que ganhará o governo em vender as
aeronaves?
Nada, a não ser uns poucos milhões de euros,
que serão tragados, em segundos, no abismo das “PPP”, “swaps”, resgate de
bancos falidos, indemnizações e contrapartidas de negócios ruinosos, luxos
faraónicos de órgãos do Estado, juros de dívida, etc., e manutenção de um
sistema político ineficaz, incompetente e maléfico, que atirou o País para uma
fossa moral/económico/financeira, abissal, que dez “Gaspares” juntos levariam
anos para conhecerem o fundo!
As capacidades dos
F-16, porém, não voltam mais…
Pela mesma lógica
(insana, insisto) com que realizaram este negócio, o que farão a seguir?
Vendem os
submarinos, as fragatas, os P3-P, os M-60 e as Pandur?
Os Jerónimos?
Já agora, imaginem
o que os americanos irão pensar (apesar de terem autorizado esta revenda) da
próxima vez que lhes formos bater à porta a fim de comprar/negociar armamento…
Com um bocado de
boa vontade esta decisão do Governo poderia, até, ser considerada inconstitucional,
dado ferir o nº 1 do Artº 273 da CR, “É obrigação do Estado assegurar a Defesa
Nacional”.
Mas quem a
suscitará? O PR? A Comissão Parlamentar de Defesa? O CSDN?[6]
Alguém mais foi
ouvido sobre esta decisão?
As chefias
militares opuseram-se ou foram coniventes? Convinha saber.
Se bem que, na
prática, no caso dos chefes militares tanto faz dizerem, escreverem, estarem
calados ou falarem. Infelizmente já há muito que lhes foi outorgado o estatuto
de “irrelevantes.
Ficámos, deste
modo, a ter mais um “cheirinho” do que, após terem aprovado o esparvoado
Conceito Estratégico de Defesa Nacional, o Governo entende por “racionalização”
e “aumento da operacionalidade”, com que se engasgam a falar.
Por tudo isto
afirmo que o Governo foi inconsciente e insensato. E como da inconsciência
resulta mais um crime de lesa-Pátria, o Governo devia ser levado à barra dos
tribunais e preso.
E numa prisão-hospício,
pois além de inconsciente revela traços de louco perigoso.[7]
Está a vender e a
destruir Portugal.
[1]
A não ser por um pequeno período entre 1956 (abate dos F-47) e 1958 (chegada
dos F-86). Não estou a contar com o F-84-G, por ser mais um caça-bombardeiro.
[2]
SICCAP – Sistema Integrado de Comando e Controlo Aéreo Português. Na altura
era, possivelmente, o maior e mais caro projeto a nível nacional, existente.
Era Chefe de Estado-Maior o General Lemos Ferreira.
[3]
A III fase incluía a instalação de dois radares no Arquipélago dos Açores. Foi
cancelada por a NATO estar com menos dinheiro e ter outras prioridades. Para
nós, portugueses, é mais uma infelicidade, pois os Açores irão estar, a breve
trecho, no “centro do furacão” relativo ao controlo e exploração das ZEE e Plataforma
Continental, no Atlântico Central.
[4]
O Alfa – jet não é considerado pois apenas serve, actualmente, para reconversão
de pilotos e está, a breve trecho, condenado.
[5]
Na versão optimista…
[6]
CSDN Conselho Superior de Defesa Nacional
[7]
Para desgraça nossa, tem a seu favor – sem lhe acrescentar coisa alguma – não
ter sido o único!