O 40º
ANIVERSÁRIO DO 25 DE NOVEMBRO (DE 1975)
“Quem
o inimigo poupa, às mãos lhe morre”.
Provérbio
português (muito antigo).
Está à porta…
Mais uma vez os
órgãos de soberania, não parecem estar tentados a comemorar o evento. E os
órgãos de comunicação social, na sua esteira, usarão a lógica do politicamente
correcto e noticiarão, maioritariamente, a efeméride com algum fastio.
Sem embargo, a data
é de facto importante, uma das mais importantes do século XX português.
A razão é simples, por
ter afastado a hipótese – na altura muito real – de ser implantada uma ditadura
comunista e “esquerdoíde”, em Lisboa e a Sul do Tejo.
No resto do país,
incluindo ilhas, tal seria impossível.
Tenho para mim, que
todos os cursos de promoção a oficial superior e general (idem para os
sargentos), não direi desde então, mas desde 1982, data da “normalização” da
vida política nacional, com a extinção do Conselho da Revolução, do Pacto
MFA-Partidos e a entrada em vigor da Lei 29/82 (Lei da Defesa Nacional e das
Forças Armadas) – deveriam começar com a projecção de vários filmes, a saber: o
cerco à Embaixada de Espanha e da Assembleia Constituinte;
o escabroso “juramento de bandeira”, de punho fechado, no Ralis, a 21/11/75, e
a proclamação dos oficiais revolucionários, efectuada no dia anterior, do
varandim do jardim do Palácio de Belém, fronteiro à Praça Afonso de Albuquerque.
Por último, o filme
sobre a ocupação selvagem da Herdade da Torre Bela, ocorrida a 23/4/75.
Tudo isto se passou
no ano da graça de N.S.J.C., de 1975, mais propriamente entre o 11/3/75 e o
25/11/75, período conhecido como “Processo Revolucionário em Curso”(PREC),
embora as suas raízes tivessem começado logo no dia 25 de Abril de 1974, data
em que uma pequena percentagem da oficialidade decidiu tomar conta do Poder e
substituir o regime então vigente (os sargentos e cabos não se envolveram na
organização do golpe, ao contrário do que ocorreu, por ex., na implantação da
República).
A razão por que
defendo este início de actividades lectivas é simples: para que o corpo de
oficiais e sargentos das Forças Armadas Portuguesas tome consciência do
descalabro gigantesco; do grau de ignomínia alcançado e de como se destruiu uma
Instituição Militar magnífica a qual, apenas poucos meses antes, tinha 230.000 homens,
espalhados por quatro continentes e
outros tantos oceanos, e se batia galharda e competentemente, em três teatros
de operações distintos, separados por milhares de quilómetros entre si e a
“Metrópole”, que era a sua base logística principal.
E faziam-no sem
desfalecimento, há 13 anos.
Não há na História
de Portugal, desde Afonso Henriques, feito que se lhe iguale.
Esta descida aos
infernos – foi disso que se tratou – provocou em poucos meses, a quase
destruição da Marinha, do Exército e da Força Aérea, sendo directamente
responsável pela alienação em termos vergonhosos – nunca também historicamente
igualados – de 95% do território nacional e 60% da sua população.
É fundamental que o
corpo de oficiais e sargentos, tenha isto presente sempre, para que jamais
permita que tal se possa repetir ou assemelhar!
Ainda hoje sinto
profunda vergonha e revolta, por tudo o que se passou e a Instituição Militar
não conseguiu até ao momento, recuperar de tudo o que ocorreu e dar-se ao
respeito, e está a desaparecer em grande parte por causa disso.
Até porque não
soube, não quis, ou não pôde, separar o trigo do joio justamente a seguir ao 25
de Novembro de 1975.
Tivemos, no fim,
alguma sorte, pois a parte mais sã das Forças Armadas; a realidade geopolítica
internacional, de então (estávamos prestes a atingir o último pico da Guerra
Fria) e a índole do povo português, permitiu que as operações realizadas a 25
de Novembro de 1975 terminassem com a vitória do Bem sobre o Mal.
Foi sobretudo disso
que se tratou!
Porém foi uma
vitória parcial, em muitos casos, ilusória.
Vejamos:
É costume ouvir
dizer-se que o 25/11 foi o marco que permitiu a concretização dos ideais de
Abril.
A questão está mal
colocada.
A realidade é que
só se teve que fazer o 25/11 porque houve o 25/4…
O descalabro
começou no próprio dia do golpe, quando os autores do mesmo, numa atitude de
inacreditável ingenuidade e ignorância das realidades da geopolítica, da
História e da natureza humana, deitaram tudo a perder, não declarando o estado
de sítio, deixando, desse modo, vir a população para a rua.
De seguida,
começaram a prender-se e a sanear-se, mutuamente, sem critério.
Tudo isto no meio
duma guerra…
O resultado foi que
os tais ideais de Abril – que tinham pouco a ver com os que acabaram por ficar
nos livros de História – acabaram por ser consubstanciados no Programa do
Movimento das Forças Armadas. Programa que nunca foi cumprido pela anarquia que
se instalou no País.
Mas, após o 25/11,
foi a vez das forças vencedoras revelarem quão pouco tinham aprendido com o que
se tinha passado.
E permitiram que as
forças causadoras de todos os males e que queriam objectivamente instaurar um
estado totalitário no país, pela via revolucionária – ou seja, um conglomerado
inacreditável de desvairados "esquerdoídes" e o Partido Comunista,
que de português nunca teve nada – recolhessem em boa ordem de marcha, a
quartéis e ganhassem, posteriormente, respeitabilidade democrática.
Ora, devia ter-se
aproveitado a ocasião para pura e simplesmente, proibir estas forças políticas
de existirem à face da lei, pois isso era o mínimo que estas fariam a
todos os outros, se porventura tivessem alcançado o Poder. Foi isso, aliás, o
que fizeram, mais um rol extenso de barbaridades, que faz ter saudades do
Tamerlão, sempre que tiveram oportunidade, e em qualquer parte do mundo.
E que se saiba,
nenhuma dessas forças, até hoje, declarou publicamente ter renunciado a
quaisquer práticas golpistas!
Sem embargo, não se
coibiram de ilegalizar todos os partidos ou agrupamentos tidos por “Fascistas”
– apesar de não haver nenhum, desde que o Professor Salazar esvaziou os
nacionais sindicalistas de Rolo Preto, nos anos 30…
E deviam ter
colocado, outrossim, atrás das grades, o então Presidente da República Costa
Gomes, personalidade que até ao fim da vida andou, aparentemente, a fazer jogo
duplo ou triplo com todo o mundo.
Em vez disso veio a
ser promovido a Marechal…
Mais tarde veio-se
a reintegrar todos aqueles que à esquerda, ao centro ou à direita tinham sido
“saneados”, e com retroactivos (na tropa foram quase todos promovidos a coronel
ou a sargento-chefe e até se abriu uma excepção para oficial general…) tudo se
passando sem quaisquer julgamento e com critérios muito duvidosos.
Ao invés, meteu-se
tudo no mesmo saco e permitiram-se situações incríveis.
Tenta-se justificar
esta actuação pela necessidade de apaziguar a sociedade portuguesa, mas não
vejo como, gerar injustiças sobre injustiças, possa apaziguar seja o que for.
Alcandoraram-se (e
condecoraram-se) uma cáfila de traidores, desertores e, até criminosos de
delito comum, a funções de responsabilidade, com a justificação que combatiam a
“ditadura” e o “fascismo”, confundindo conceitos e actuações, ou querendo fazer
crer que na luta política vale tudo.
Despejaram em
seguida subsídios para cima das pessoas; pois bem o país entrou em bancarrota e
o dinheiro acabou.
A aceitação do PCP
e dos "esquerdoídes", se assim lhes podemos chamar, na vida
democrática, também é explicada pela necessidade de inclusão e pela
“superioridade moral” da Democracia.
Ora isto parece-me
tudo uma falácia, pois nem “eles” se querem incluir em coisa alguma; a sua
prática enquanto poder nunca foi democrática (aliás o que é que se entende por
Democracia?) e a sua ideologia é, provadamente incompetente, anti - natural e
anti - humana.
Aqui não há, pois,
superioridade moral, alguma, há é falta de senso, cobardia e estupidez!
E quase toda a
gente embarcou nisto: os restantes partidos políticos – que não passam de
aprendizes – de - feiticeiro, comparados com o PC – confiados não se sabe bem
em quê, deixaram de fazer, sequer, luta ideológica, sobretudo a partir da queda
do Muro de Berlim, em 1989;
A Instituição Militar
foi sendo sucessivamente menorizada, desmontada e reduzida à ínfima espécie, e
não conta hoje, para nada;
A Igreja é atacada
no Ocidente por todos os lados, anda aperreada de receios e pouco firme nos
princípios – precisa de apanhar um susto, para ver se acorda;
A Maçonaria está
impante mas, como sempre também, minada por divisões de capela e por “irmãos”
mais interessados em negócios, do que em rituais e trabalho de casa, além do
que têm sido ultrapassados pela burocracia de Bruxelas, “Grupo de Bilderberg” e
afins, e pelos poderes mais finos, do capital apátrida;
Os “parceiros
sociais” entretêm-se em se anular uns aos outros, em vez de serem
complementares;
Alguns “centros de
reflexão” com gente preocupada e diferenciada têm, por norma pouca expressão,
chovem no molhado, convertem convertidos, mas não dão as mãos em nada. Às vezes
bicam-se.
Em comum, têm
querer ser considerados bem comportados e refastelarem-se com umas garfadas,
devidamente regadas.
A população, em
geral, tem a memória curta – os jovens nem têm memória de nada! – e, por norma,
não se querem chatear com coisa alguma;
Está feito o quadro.
A Nação Portuguesa,
essa, anda à deriva e não se sente.
Como corolário do
provérbio da citação inicial, o PC e os tais “esquerdoídes” – que odeiam tanto
a sociedade que a querem andar sempre a mudar – estão 40 anos depois, (quase) no
governo .
E condicionaram
todos os anteriores.
Ainda hoje não se
consegue mudar a Constituição, eivada de erros…
Pergunta-se: neste
40º aniversário do 25/11 – cuja vitória em termos militares, se deve essencialmente,
às tropas “Comando” e às Esquadras de Voo, da Força Aérea – vai comemorar-se
exactamente o quê?
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador