sábado, 30 de maio de 2015

AS BARBARIDADES CONTRA OS MILITARES CONTINUAM!

www.marinha.pt
“As únicas nações que têm futuro, as únicas que se podem chamar históricas, são aquelas que sentem a importância e o valor das suas instituições e que, por conseguinte, lhes dão apreço”.
Tolstoi

O Ministro da Defesa, sobre quem qualquer adjectivo de urbanidade passou a ser estultícia, veio anunciar, no dia em que Vasco da Gama chegou ao Tejo, vindo da Índia, que iria desbloquear a promoção de 6088 militares e que tal implica a despesa de 6,8 milhões de euros.
Diversos órgãos de comunicação social fizeram eco das declarações, pondo enfâse e “entoação”, na ideia de que se trata de um tratamento preferencial, que o custo é pesado, deixando subentendidas várias criticas veladas.
Todos se comportam como se estivessem a fazer algum favor à Instituição Militar (à “tropa” como, eufemisticamente, usam apelidar), ou aos seus profissionais que são, desde Afonso Henriques, os primeiros servidores da causa pública.
E o que mais doí é que não há um único general ou chefe militar no activo, que venha a terreiro colocar as coisas como elas são.
Desde há 40 anos que raros foram aqueles que deram o peito às balas e tenham reposto a verdade dos factos e das intenções, e com o seu silêncio permitiram que basbaques da classe política e jornalística desconsiderassem, distorcessem, mentissem, prejudicassem e até humilhassem, não só a eles próprios, como a Instituição que integram e, supostamente comandam.
E já nem falo das ocasiões em que a soberania do País foi beliscada (e tem sido muito) e os mesmos aos costumes disseram nada, fazendo tábua rasa dos juramentos que fizeram.
Este melífluo ministro da defesa (e sua equipa), de falinhas mansas e untuosas, teve o despautério de apresentar uma medida, que deveria ser normal e automática, como sendo uma grande coisa, sem referir que o ora anúncio, que devia ter vergonha de fazer, apenas decorre da escabrosa e injustificada medida que o governo de que faz parte tomou, em 2011, de congelar as promoções nos três Ramos das Forças Armadas e que ia do simples soldado aos generais de três estrelas (e que vinha a ser preparado do governo anterior).
Os únicos que não foram “congelados” foram os de quatro estrelas, os quais poderiam ter entrado para a História se algum deles tivesse tido a coragem e a sageza de afirmar não querer receber a promoção enquanto a normalidade não fosse restabelecida!
Uma medida, aliás, muito mais gravosa do que o malfadado Decreto-Lei 353/73 (que regulava a passagem dos oficiais milicianos ao quadro permanente), que está na origem do golpe de estado ocorrido em 25/4/74!
E não se esqueceram de referir o custo quando, do anterior (e o actual despacho nº 5505-B/2015 reitera, e onde aberrantemente o MDN assina na companhia do Secretário de Estado da Administração Pública) se estabeleceu que todas as promoções a haver, não aumentavam a despesa global orçamentada para o pessoal!
É evidente que não devemos culpar apenas o inefável ministro, hífen Branco por mais esta aberração demagógica – a juntar às mais recentes extinção do Fundo de Pensões dos Militares; idem para o Complemento de Pensão de Reforma; a borrada em que continua a Saúde Militar; a destruição e apropriação do IASFA e a promulgação, hoje mesmo, do novo Estatuto dos Militares das FA, pelo PR, facada que culmina (por enquanto) o início da desmontagem da Instituição Militar iniciada no primeiro governo de Cavaco Silva.
As responsabilidades repartem-se pelo Governo (os anteriores também não foram melhores, neste âmbito, mas nunca se chegou tão longe), onde se destacou o Ministério das Finanças que, na sequência do que se fez no consulado do Ministro Santos Silva – conhecido na gíria por “hiena trotskista” (Governo Sócrates), numa incrível inspecção que fizeram aos Ramos - e que também não mereceu, na altura, qualquer oposição da hierarquia militar – tem continuado na mesma senda.
Aquilo representou um completo atestado de incompetência (até ao próprio ministro) e uma espécie de usurpação de funções!
E, claro, o Primeiro-Ministro que é o responsável máximo por toda a Política de Defesa Nacional, se é que tais termos se podem aplicar, actualmente, em Portugal.
Na sua arenga aos “Filhos da Escola” – termo pelo qual os nossos marinheiros gostam de se tratar – no tal dia em que a Armada comemora o seu aniversário, na data maior da sua vetusta História – que levou Toynbee a considera-lo divisória na época pré e pós – gamica – o personagem que o estrago – maior laranja arranjou para tutelar a Defesa, elogiou a Marinha afirmando que “todas ou grande parte das suas missões são missões de serviço público”.
Mas então era suposto serem o quê? E aquelas que ficaram de fora (“todas ou grande parte”), são o quê?
E saiu-se também com esta tirada: “está a generalizar-se em Portugal a ideia da importância do Mar para Portugal”.
Deve ser por isso que não se descobre um canal televisivo que tenha dado sequer uma notícia ou imagem do Dia da Marinha…
É incrível como a memória é tão curta, a desfaçatez tão comprida e a cobardia tão extensa – até a costumam confundir com “prudência”, “bom-senso” e, até “sentido de estado”…
De facto a natureza humana não muda mesmo.

sábado, 23 de maio de 2015

COMPORTAMENTOS INSÓLITOS (MILITARES E CIVIS) NUM PAÍS INSÓLITO (II)

“Votar é preciso; Governar não é preciso”
Fernoa Pernando[1]
Corre à rédea solta a pré campanha para as presidenciais do ano que vem.

É a sina do País que passa a vida alegremente em eleições – lembra-se que existem cinco actos eleitorais: para PR; legislativas; autárquicas, regionais e europeias (fora as internas dos Partidos) – ou seja, uma campanha eleitoral permanente, onde não se olha a gastos nem a demagogia. Restando saber quando, no meio de tudo isto existe tempo para governar e para pensar os problemas do País…
Não contentes com esta inflação de enfiar papelinhos em urnas (lindo nome!), ainda há quem peça amiúde, eleições antecipadas…

Votar é, assim, o alfa e o ómega do Regime Político que nos impuseram (lembro que a Constituição da República foi aprovada quase debaixo de sequestro e nunca referendada), mesmo que não se saiba no que se vota e, claro, desde que não seja para tratar de assuntos realmente importantes – caso da “Descolonização”; do tipo de regime; da soberania nacional; a entrada na CEE, a adesão ao euro, etc., só para citar estes.
Dizia, corre infrene a pré campanha para se saber quem são os candidatos a alinhar na linha de partida. E, neste âmbito, muitos debates e reuniões e têm feito para tentar definir qual o melhor perfil para a pessoa que irá ocupar transitoriamente a função de mais “alto magistrado da Nação”.

O que tenho ouvido, Deus meu!
Tudo, aliás, lucubrações respeitáveis.

Só que ainda não ouvi referir aquele desiderato que me parece a mim – como devo estar bralhe-lhas – dever vir à cabeça de todos: o de, simplesmente ser um português, patriota, e que se comporte como tal.
Se assim não for, vamos eleger alguém para quê? Não vos parece?

*****

Quando foi tomada a decisão, pela Assembleia da República, de transladar os restos mortais de Eusébio, para o Panteão Nacional, vários órgãos de comunicação social veicularam a notícia originada num deputado do PSD, de sua graça Duarte Marques (não sei se por mais alguém), de que o famoso futebolista será o primeiro português que não nasceu em Portugal, a ter essa honra!
Dada a imbecilização a que a nossa sociedade tem sido conduzida, não houve jornalista – já agora também algum político ou comentador – que tivesse o discernimento de lhe fazer a mais pueril das perguntas e que é esta: afinal, se não nasceu em Portugal, nasceu onde?

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Fui ao teatro. Há muito que não ia ao teatro.

Cada vez se vai menos ao teatro, em Portugal.
O teatro é a representação da vida e, independentemente de gostarmos mais ou menos do que vamos ver e ouvir, é importante fazê-lo.

O teatro é a arte da representação por excelência; é uma experiência pessoal de interacção imediata e constante entre o público, os actores e as personagens.
Uma boa interpretação possui uma capacidade de penetração densa e durável no tempo. Não é deglutição “fast food”.

Há 41 anos havia mais teatros em Portugal, do que agora.
Algo, entretanto, se passou.

Fez-me bem ir ao teatro.

*****

“Teatro”, porém, (e do mau) foi o que aconteceu no lançamento do livro sobre a pseudo-biografia do Primeiro-Ministro Passos Coelho.
Então não é que numa parte do papiro, a escrita lança umas bicadas ao líder do CDS e parceiro da coligação no Poder Executivo, provocando de imediato um desmentido de Paulo Portas, acabando – à boa maneira portuguesa – por não se apurar o que na realidade se passou e ficando no ar um mal – estar que já é crónico?!

Passando-se tudo isto, note-se, quase em simultâneo, após os dois “líderes” terem renovado, perante o País, o acordo de coligação para vigorar nas próximas eleições legislativas!
Será que estamos a ser governados por miúdos birrentos que não atinam com nada?

Bom senso e sentido de Estado precisam-se.

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“Teatro” ainda (pior) foi o triste espectáculo da greve da TAP, entre 1 e 10 de Maio.
Num processo em que ninguém tem as mãos limpas e ninguém tem razão (!), e que se arrasta desde há 40 anos (mais propriamente desde o “PREC”) e que tem origem na Constituição da República, que por sua vez enforma tudo o que ao movimento sindical, às leis do trabalho, à greve e o “Locke - out”, diz respeito, culminou agora com mais esta facada na economia e imagem nacionais.

Para variar ninguém acorda nos números relativos aos efeitos da greve e, no fim, nunca se apura a verdade dos factos.
Clama o Governo (e a Administração da TAP), por exemplo, que foram efectuados 70% dos voos previstos enquanto o Sindicato dos Pilotos (SPAC), baixa essa percentagem para os 50%.

Será que será assim tão difícil fazer contas? Operações aritméticas simples não tirariam a questão a limpo? Ou o que é difícil é ser-se honesto?
Cumulativamente, porém, o SPAC reclama que 85% dos pilotos aderiram à greve.

Neste ponto as coisas são mais curiosas: a ser verdade, tal significa que apenas 15% dos pilotos tinham conseguido fazer metade dos voos, e isto por um período alargado de 10 dias, o que mesmo não dormindo (o que se sabe é contra a lei), parece de todo impossível.
Restaria, todavia, uma possibilidade que é a da TAP ter muitos mais pilotos do que aqueles que necessita…

O que, seguramente, não será o caso.
A TAP vai ser vendida ao desbarato num processo que vai ser mau para todos.

Sobretudo para o comum do cidadão e para a Nação como tal, que tem aturado e pago todo este folclore e desbunda que dura à 40 longos anos!
*****

“Teatro” ainda (do péssimo) ocorre ali para os lados do Ministério da Administração Interna (MAI).
Depois de mais um lamentável episódio de fumos de corrupção, que mina e envergonha o País e a população portuguesa – estamos a referir-nos ao caso dos “vistos gold” e acessórios – que levou à demissão do anterior ministro Miguel Macedo.

Em desespero de causa – o que demonstra, se isso ainda fosse necessário, a falência dos Partidos Políticos em recrutarem e formarem quadros capazes – foram buscar uma Professora Universitária, a Coimbra, com nome no meio e não só por questões académicas.

Baptizaram-na como Anabela Rodrigues.
Sem embargo, esta nomeação esqueceu um princípio elementar que sustenta ser uma das maiores imoralidades, alguém desempenhar tarefas, ou cargo, para os quais não esteja minimamente habilitado ou capacitado.

Parece ser o caso.
Assim colocaram a senhora (culpa dela) numa espécie de aquário, onde mal sabe nadar, sem barbatanas nem guelras, onde a coitada passa a existência de olhos esbugalhados e com o nariz encostado ao vidro, ansiando que a pesquem.

Até já o nosso comentador Marques Mendes (“shorty” para os amigos), se deu conta!
Um dos dois Secretários de Estado saíu logo pela direita baixa; despediu praticamente a equipa toda que herdou; mandou todo o trabalho do seu antecessor às urtigas e entregou-se, qual Filipe II, ao seu Valido Duque de Lerma, o cidadão Fernando Pinto Soares, que convidou para seu Chefe de Gabinete.

Uma dupla inseparável que se especializou em esgueirar-se rapidamente, logo que uma cerimónia acaba, furtando-se a qualquer contacto seja com quem for.
A falta de “guelras” vai ao ponto de ter intentado, ao que consta, que o Comandante da GNR e o Director da PSP despachassem directamente com o tal Lerma, perdão, Soares, o que aqueles, num raro gesto de pundonor em titulares de cargos semelhantes, se recusaram a fazer.

O meu bem - hajam, por isso.
Palpita-me que as diferentes forças de segurança e afins estão prestes a subir as escadarias do Parlamento, uma vez mais.

Aceitam-se apostas.
*****

Finalmente sabe-se pelo “jornal da caserna” que a professora, agora titular do MAI, tirando o acaso astrológico, foi sugerida pelo nosso conhecido e já emérito, Ministro da Defesa, Aguiar traço Branco.

Compreende-se: assim fica com uma figura à sua ilharga, que tudo leva a crer, fará mais asneiras que ele próprio…
Aliás, é reincidente, já que noutra reencarnação como Ministro da Justiça, em 2004, a tinha convidado para Directora do Centro de Estudos Judiciários, o que teve como consequência imediata a demissão, em bloco, de toda a restante direcção e alguns outros juízes…

Sempre optimista, S. Excelência veio há dias (entrevista à Antena 1) atroar os ares com a seguinte “boutade”: Os militares estão satisfeitos com as reformas operadas (feitas de acordo com os chefes militares!), que contribuíram para a sustentabilidade das FA e para a melhoria do Moral das tropas”!
Um pandego, este ministro.

Não resisto a pedir emprestado Zurara para o assemelhar a “Sardanapalo, Rei dos Assírios, que por sua desgovernança foi destituído por Arbato, Capitão dos Medos; ou Baltazar, neto de Nabucodonosor, o qual se pôs em grande ufania naquele convite de que Daniel faz menção, sendo derrubado na noite seguinte pelo Rei dos Romanos.
Ou até Xerxes, Rei dos Persas que levando 380.000 homens de armas e uma multidão de navios passou à Grécia e por uma pequena multidão de gregos foi desbaratado, somente pela sua soberba presunção, desprezando o útil conselho do filósofo Amagaro”.[2]

Que Deus nos ajude.





[1] Parafraseando Fernando Pessoa…


[2] Gomes Enes de Zurara, “Crónica da Tomada de Ceuta”, cap. CIV

domingo, 10 de maio de 2015

O PADRE FEYTOR PINTO E A HISTÓRIA DA IGREJA PORTUGUESA NOS ÚLTIMOS 60 ANOS

Numa interessante “tertúlia” promovida pelo Dr. Ribeiro e Castro e a Livraria Ferin, coube a vez ao Padre Feytor Pinto de, no passado dia 27 de Abril, dissertar sobre o tema em título.
 
É muito agradável ouvir o padre Feytor Pinto pelos dotes de oratória que possui e pelos conhecimentos e fio de meada discursiva, claro e pontuado que exibe.
 
Porém (há sempre um “porém” qualquer, à nossa espera), a dissertação sintética, como não poderia deixar de ser, aparenta pautar-se pelo “política e socialmente correcto” e dominante e aqui é que se torna necessário fazer alguns reparos e tecer algumas considerações que parecem pertinentes para uma melhor compreensão do que verdadeiramente se passou.
 
O que era de todo impossível lucubrar no período de debate.
 
À laia de introdução o Padre Feytor Pinto (F.P.) deixou no ar a ideia de que a Igreja Portuguesa tinha, a partir do consulado do Professor Salazar, ficado subordinada ao Estado, dando como exemplo do que afirmava, a Concordata de 1940 e dentro desta, o facto da nomeação dos bispos carecerem de anuência governamental.
 
O Padre FP cai aqui em várias incorreções.
 

Em primeiro lugar “esqueceu-se” de que Salazar após tomar posse com Presidente do Conselho de Ministros, se reuniu com o já Cardeal Cerejeira e, sem embargo da grande amizade e admiração mútua, que vinha dos tempos da Universidade de Coimbra, tomou a iniciativa de separar claramente as águas: a Deus o que é de Deus e a César o que é de César [1]. Princípio que, creio, sobreviveu à morte de ambos e se mantém até hoje.
 
Depois porque a Concordata de 1940 (a que está associado o Acordo Missionário) é um documento notável, que foi dura e longamente negociado entre o Governo Português e a Santa Sé – ou seja, representa uma peça de Direito Internacional, entre dois Estados e que ultrapassa largamente o âmbito religioso.
 
E não se entende a admiração do padre FP no que toca à nomeação de bispos, já se terá esquecido que o Beneplácito Régio foi imposto pelo Rei D. Pedro I e apenas abolido ao tempo de D. João II, sem embargo do cuidado sempre posto neste âmbito, o que não evitou a existência de inúmeros conflitos desde então?
 
Certamente que o facto de 19 dos 34 reis de Portugal terem sido excomungados por Papas, não lhe é desconhecido. Só para citar este exemplo.
 
Mas talvez o Senhor Padre prefira o que aconteceu à Igreja após 1820 e que veio a culminar no terramoto que foi a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, só tenuemente mitigado a partir da Regeneração de 1851 (e da débacle que tal causou em todo o ultramar português); para já não falar nas perseguições, humilhações, violências, roubos e depredações inomináveis, ocorridas na I República, relativamente à Igreja Católica (e só a esta).
 
Talvez preferisse o modo como os bispos eram então “nomeados”…
 
A Concordata de 1940 veio pois, colocar ordem no caos e tensões existentes nas relações entre a Igreja e o Estado Português, entre este e a Santa Sé e, também, na inserção social da Igreja na Nação Portuguesa, os quais remontavam à implementação do Liberalismo em Portugal.
 
Onde, obviamente pontuou a Maçonaria sobre cuja acção o Padre Feytor Pinto, convenientemente, aos costumes disse nada.
 
Ou talvez, ainda, o Senhor Padre prefira a actual Concordata (de 18/5/2004) a qual, onze anos depois de assinada, ainda não está completamente regulamentada.
 
Matéria sobre a qual a Conferência Episcopal pouco fala, mesmo quando o Governo manda retirar os crucifixos dos edifícios públicos, curiosamente no dia seguinte, ao sucesso da procissão da imagem da Nossa Senhora de Fátima pelas ruas de Lisboa, em 12 de Novembro de 2005, que já não se realizava fazia décadas.
 
Deste modo, Padre Feytor Pinto, a mim parece-me que o período que durou o Estado Novo foi aquele em que, em toda a nossa História, houve maior equilíbrio e igualdade, nas relações entre o Estado e a Igreja em Portugal!
 
A História dos 60 anos da Igreja (a partir de 1954, ano anterior à ordenação de F.P. como Padre) contada pelo orador aparece como uma história de oposição ao Estado Novo e depois (moderadamente) contra os excessos do PREC, e coincide, ou resume-se, àquilo que os chamados “católicos progressistas” (cuja lista parcial, realçou nominalmente, no fim) fizeram ou intentaram fazer.
 
Tudo o resto é uma espécie de buraco negro…
 
Para o efeito realçou:
·         A Acção Católica (que o governo não geria);
·         O Escutismo, presume-se que católico (que o governo não via com bons olhos, por eventual concorrência com a Mocidade Portuguesa, segundo disse…);
·         A escolha dos alunos enviados para o Colégio Português em Roma;
·         O Congresso dos Organismos Operários, em 1955;
·         A Carta do Bispo do Porto, em 1958;
·         O Encontro da Juventude Católica, em 1963 (liderado por João Salgueiro);
·         A acção dos Bispos D. Sebastião de Resende, na Beira e D. Francisco Rendeiro, no Algarve;
·         O Concílio Vaticano II, apresentado como alfa e ómega de tudo;
·         A Acção do Papa Paulo VI;
·         A figura do Cardeal D. António Ribeiro.
 
Sobre o Cardeal Cerejeira, restantes bispos, Ordens Religiosas e restante povo de Deus cuja vivência decorreu, tanto na Metrópole como no Ultramar, fora das preocupações explicitadas, nem uma palavra.
 
Minto, relativamente ao Cardeal que exerceu o seu múnus durante 52 anos, referiu a sua benignidade relativamente ao modo como se deslocava cedo (sem dar nas vistas), a tomar o pequeno-almoço com o Padre Felicidade Alves que, na paróquia de Belém, invectivava tudo e todos (acrescento eu).
 

Padre que se despadrou e, como vários outros, apesar de tudo poucos, que se comportava como um comunistóide de sotaina e que o bom do Cerejeira (um fraco disciplinador no dizer de Salazar), não soube ou quis, meter na ordem, em tempo.
 
Quanto ao Ultramar apenas o subentendeu quando apelidou de “colonial” a guerra que travámos em 14 anos (sem contar com a Índia), em termos justos de legítima defesa, aliás como prescrito no tão incensado “Vaticano II”, na sua encíclica “Gaudiam et Spes”.
 
O Padre FP está enganado sobre o que fala, pois se assim não fosse, não teria qualquer dificuldade em bem aconselhar os jovens que disse virem ter consigo, queixando-se de não quererem ir para a guerra…
 
A defesa da figura controversa do Bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, também não parece muito curial.
 
Que se saiba o prelado não gozava sequer de grande apoio na Conferência Episcopal e com a sua intervenção veio ferir a tal separação de águas entre o que pertencia a Deus e a César. Mesmo assim foi preciso uma gota de água para o “expulsar”, nunca tendo sido incomodado de outra qualquer forma: o facto de ter tornado público uma carta de crítica áspera, que tinha enviado ao Presidente do Conselho.[2]
 
Não foi o único bispo a exilar-se ao longo da História, que o diga, por exemplo, o Cardeal Alpedrinha [3]. Como diria o outro, é a vida.
 
Marcello Caetano, numa acção algo filantrópica de reconciliação, resolveu autorizar o regresso daquele, ao mesmo tempo que fez outros gestos semelhantes. Parece que, no fim, se arrependeu de tudo.
 
Consta ainda que D. António teve sete secretários pessoais. Cinco acabaram por o deixar e só dois o seguiram: os, mais tarde, Bispo de Setúbal, D. Manuel conhecido pelo “Bispo Vermelho”, a que se reconhece coragem e acção pastoral e social relevante; e o Bispo das Forças Armadas e Segurança, D. Januário, sobre quem economizo palavras, nada dizendo.
 
Certamente que a acção de todos não levou em conta a frase assassina de Salazar sobre o badalado antigo Bispo da Invicta, “tinha demasiada cultura para a inteligência que possuía”…
 
Sobre a acção dos Bispos de Nampula e da Beira, referidos, certamente fizeram aquilo que a sua consciência lhes ditava, opondo-se à guerra, mesmo sabendo o que isso aproveitava aos inimigos de Portugal.[4]
 
Fica sempre bem, aliás, a um ministro de Cristo, condenar as guerras e apelar à Paz. Mas que alternativas davam S. Excelências Reverendíssimas para acabar com a guerra? Nunca se soube exactamente o que propunham, embora todos soubessem o que queriam. Mas seria isso justo e adequado?
 
Dos cerca de 500 padres e missionários existentes na altura em Moçambique, apenas cerca de 50 seguiam as ideias daqueles prelados, e muitos eram estrangeiros. Nunca se ouviu também a sua voz condenar os latrocínios feitos pela Frelimo; tão pouco as barbaridades cometidas após a independência do território.
 
Mas entende-se que estes “pormenores” tenham passado despercebidos ao Padre FP.
 
O mesmo parece ter acontecido ao Papa Paulo VI que, esqueceu-se do título de Nação Fidelíssima, outorgado pelos seus antecessores aos portugueses, resolveu pautar a sua actuação pela dos inimigos de Portugal. Foi triste e foi lamentável.
 
Mas o Padre FP mostrou-se algo indignado por a emissão da RTP ter sido cortada quando o então Padre António Ribeiro, deu a notícia de que o Papa Paulo VI tinha visitado a União Indiana (Bombaim), em 30/11/1964.
 
Lembra-se que desde 1950 que estávamos de relações cortadas com aquele país, que este nos fizera um conjunto de malfeitorias despudoradas, durante 14 anos e cometera uma escabrosa agressão militar sobre o Estado da Índia Portuguesa, em 1961, integrando-o á força no seu território, e o Sr. Padre FP acha que se deveria fazer o quê?
 
A seguir o Sumo Pontífice recebe no Vaticano os chefes dos Movimentos Terroristas (há quem lhes chamasse de “Libertação”) que nos faziam guerrilha em Angola, Moçambique e Guiné (em 1/7/1970) e o Sr. Padre FP, quer que um qualquer governo que se preze fique contente e bata palmas?[5]

Já reparou que a vinda de Paulo VI a Fátima, em 13/5/1967, e esta ter decorrido sem qualquer incidente, se pode considerar um pequeno milagre?
 
A propósito, o dia Mundial da Paz, criado por Paulo VI e citado pelo Padre FP, já resolveu alguma coisa até hoje?[6]
 
Já a notável criação da Universidade Católica, decidida em 1968, não lhe mereceu qualquer encómio, a não ser o comentário de que levou 20 anos a realizar-se. Ficámos sem saber porquê.
 
O Padre FP passa depois a relatar os eventos do golpe de Estado de 25/4/74 e o que se lhe seguiu, referindo alguns dos sucessivos eventos dramáticos, com uma bonomia, como se o clima de agitação e de loucura que colocou o país à beira de uma guerra civil fosse uma espécie de piquenique colectivo com muitos cabeçudos, bombos, cavalhadas e folclore!
 
E chega ao ponto de elogiar várias vezes o Marechal Costa Gomes a quem referiu como sendo um “católico de comunhão” e ter tido um “papel de equilíbrio”.
 
Não sei se o papel de equilíbrio tem a ver com a alcunha de “rolha” ou se comungar liga bem com o nome de “Judas”, com que o crismaram enquanto aluno do Colégio Militar. Ou até, se ambos se compaginam com o facto de ter baixado, mais a mulher, ao Hospital Militar da Estrela, na véspera do golpe que depôs o regime vigente.
 
As orações da Capela do Rato tinham finalmente sido ouvidas, e não propriamente aquelas que apelavam á paz…[7]
 
Mas como não sabemos o que é que Costa Gomes fez pela Igreja e pelos Católicos, talvez um dia o Padre FP nos possa esclarecer. Ou se foi, até, da CIA, do KGB, ou dos dois…
 
Ou se apenas dava para tudo conforme a égide do momento.
 
Que deve ter sido um Grande Homem, deve: que diabo fizeram dele Marechal do Exército!
 
Enfim, nas suas palavras, o 25 de Novembro de 75 “trouxe alguns raios de esperança…”.
 
E a Igreja começou a reorganizar-se. Nela teve papel destacado o novo Cardeal D. António Ribeiro, como foi afirmado e eu corroboro, com um merecido título de “Príncipe da Igreja”.
 
Esta acção foi muito facilitada pela única asneira que o novo regime político em Portugal não cometeu: a de não perseguir ostensivamente a Igreja e os católicos, como o fizeram os filhos de 1820, 1834 e de 1910.
 
Até porque a Igreja ajudou a que uma ditadura comunista não se viesse a implantar em Portugal.
 
Sem embargo de o ataque continuar, hoje em dia, sobre formas dissimuladas e, por isso, mais perigosas.
 
Apesar das várias tentativas de reforço da acção da Igreja na Sociedade, aquela foi ultrapassada pela dinâmica desta e pela emergência de conceitos ideológicos e doutrinas que vão ao arrepio de tudo o que o Evangelho prescreve.
 
O laicismo ganhou terreno e outras religiões e seitas, também.
 

Os grandes órgãos de comunicação social são-lhe de um modo geral, hostis (como são com as FA e com tudo o que cheire a instituição).
 
A Igreja perdeu a batalha da televisão.
 
E perdeu duplamente: primeiro porque não conseguiu filhar a TVI; depois porque as três que existem no mercado engalfinham-se a ver quem consegue nivelar mais por baixo e em propagandear o império do relativismo moral, que é a peste viral do século XXI.
 
E que é mortal para a Igreja e para os homens.
 
O Padre FP, nada referiu sobre estes assuntos cruciais, aparentando ser um “optimista inveterado”.
 
Aliás, já tinha referido com alguma efusão expressiva, os anos 60 e 70, como “a época das revoluções todas”. Pois é, temos vindo a pagar caro, tanta “revolução”…
 
A Igreja tem que ter coragem para dar a cara em defesa do que acredita e não ter medo.
 
Nas últimas décadas tem optado pela discrição, estando a despertar há poucos anos por causa da crise financeira e económica, onde já tem créditos firmados no apoio social às populações mais carenciadas.
 
Não se defende suficientemente dos ataques e também tem tido pouco apoio dos leigos.
 
Mas há que ser muito mais afirmativa na divulgação da palavra de Deus; no combate ao Relativismo Moral; no apoio à vida; na defesa da família natural; e na dos cristãos perseguidos; no ataque e denúncia das taras sociais; no combate á corrupção, ao vício, às ideologias malsãs e ao Deus Mamom”.
 
E, já agora, na defesa da Pátria Portuguesa e da Portugalidade.
 
É que, sendo a Igreja Universal, convém não esquecer que, uma boa parte dela, é portuguesa.


[1] Logo após tomar posse como Chefe do Governo, em 5 de Julho de 1932, Salazar deslocou-se ao Paço do Campo de Sant’Ana e depois de formalmente desejar “ que o Estado e a Igreja tenham boas relações de colaboração”, acrescentou: “Manuel, a partir deste momento os nossos destinos separam-se completamente. Eu defendo os interesses de Portugal e do Estado, e os interesses da Igreja só contam para mim enquanto se conjugarem com aqueles, e apenas nesta medida. E o Estado é independente e soberano.”
Ver Franco Nogueira, Salazar, Vol. II, pág. 152.
[2] De facto o Bispo não foi expulso, mas ausentou-se do país na sequência do Governo ter impedido, na prática, que ele exercesse as suas funções na Diocese. A Santa Sé, não o destituiu do título, tendo nomeado um “Administrador Apostólico. Na sequência foi proibido o seu retorno a Portugal.
[3] Inimigo figadal de D. João II.
[4] O mais aguerrido nas atitudes era D. Sebastião de Resende, Bispo da Beira, cujo antagonismo terá começado com o Ministro do Ultramar, Raul Ventura, em Junho de 1957, por causa da criação do liceu local. Não consta, também, que o Senhor Bispo tivesse razão na contenda.
[5] E que não foram mais do que veículos dos diferentes imperialismos reinantes, nomeadamente americano e soviético…
[6] A não ser ter sido “usurpado” pela ONU, que também resolveu decretar um dia “internacional” da paz, agora a 21/9…
[7] Aliás, havia católicos tão “progressistas” que até albergaram, ao que se sabe, um conhecido bombista das Brigadas Revolucionárias, de seu nome Carlos Antunes, em 1973, na Casa de Retiro da Buraca…