O VAZIO DE
CRAVINHO
29/7/19
“O público, como todos os
soberanos, como os reis, os povos e as mulheres, não gosta que se lhes diga a
verdade”.
Alexandre Dumas
Não contente
com a desajeitada (e malcriada) reacção - que teve perante a mais do que
adequada entrevista dada pelo Almirante CEMGFA, no pretérito dia 18 de Julho,
onde este chamou a atenção para meia dúzia de problemas (das muitas dezenas
existentes), há muito tempo por resolver – por culpa do poder político, não dos
militares – veio o circunstante escrever no jornal “Público”, de 24/7, um
artigo.
Naturalmente,
sem o dizer, de resposta ao oficial general de maior hierarquia militar, sem
também nunca lhe citar o nome, ou lhe fazer qualquer referência.
Mas se na
verdade queria dar alguma resposta ou “tranquilizar” a opinião pública, perante
os problemas apresentados, a cartada saiu furada, pois os cerca de quatro mil
caracteres impressos espelham basicamente o … nada.
Foi um
exercício sobre o nada; a página podia ter saído em branco que era igual, com a
vantagem de ser mais honesta.
É bem o
espelho deste diplomata por empréstimo (ou também chamado de politico), já que
não pertence à carreira diplomática, e da sua equipa, cujos principais membros
parecem que foram escolhidos a dedo.
Pelo menos a
Instituição Militar esteve até agora a salvo de ter um político ”graduado” ou
até mesmo, nomeado general para exercer sabe-se lá que funções…
Como ainda não
conseguiram colocar um “boy” de um partido qualquer, a comandar a Base Aérea de
Beja, por exemplo, o que pelo andar da carruagem não deve faltar muito …
É de facto
inacreditável o número de lugares comuns – ideia traduzida em linguagem
castrense, como “generalidades e culatras” – que percorrem todo o escrito.
A outra
característica do texto é a mentira; a mentira sem pudor, pois sabem que nenhum
chefe militar até hoje, os desacreditou ou desmentiu em público. E a mentira
maior que dura pelo menos desde o primeiro governo do Professor Cavaco Silva, é
que trabalham em conjunto, ou sintonia, com as chefias militares, o que
raramente acontece; tão pouco ligam seja o que for ao que eles dizem ou
propõem; consultam-nos às vezes, com prazos curtíssimos para estes se
pronunciarem; criam grupos de trabalho à parte, cada vez mais com civis que percebem
tanto de coisas militares como a Madonna percebe de lagares de azeite; retiram
constantemente aos chefes militares competências administrativas; inoculam o
Ministério da Defesa de “primos” ideológicos, chegando-se ao ponto, desta
equipa, confrontar as chefias militares com decisões já tomadas sem mais
aquelas.
E como o MDN
estava aflitinho foi pedir ajuda ao Director – Geral de Pessoal do respectivo
ministério, há 17 anos, que tem enormes responsabilidades em todo este
desastre.
O cidadão,
conhecido como Alberto Coelho, habituado a actuar na sombra, e a influenciar
negativamente os ministros e secretários de estado, que por lá passam, desde o
tempo do ministro Portas, atreveu-se a fazer duas intervenções na SIC e na RTP
1, que são penosas de se ouvir. Mas penosas mesmo.
Esta alminha
além de não saber falar, não conseguir articular uma frase com sujeito,
predicado e complemento directo, de meter os pés pelas mãos e falar como se
fosse disléxico, a única coisa que acrescentou ao vazio do ministro, foi a
novidade (!) de um novo portal!
Insinuou ainda,
o capcioso, que os “jovens” (termo, que deve ter repetido duas vezes em cada
frase) evoluíram muito e que os Ramos das FA não souberam adaptar-se a essa
mudança…
Tal idiotice
levar-nos-ia longe, mas convém lembrar-lhe que as missões das FA não mudaram;
que na vida militar o conjunto vale mais que o individuo e que o modo como se
transformam civis em militares está inventado há mais de dois mil anos e que
não é propriamente um avençado político/partidário, que terá algum crédito nas
suas declarações descabidas. Sem embargo da pesporrência atrevida com que o
faz.
E, já agora, atente também que sendo o serviço
militar voluntário, os recrutas é que têm que mostrar que são capazes de lidar
com as exigências requeridas.
Numa palavra, os voluntários é
que se têm que adaptar à “tropa” e não esta àqueles.
Ainda dito de outra maneira que é
para ver se entende (já vimos que precisa): os mancebos é que têm que querer
vir para a Instituição Militar; não é esta que tem que andar atrás deles…
Vamos a ver se não invertemos as
coisas mais do que já estão.
Porque é que não se oferece
para tirar uma recruta? Ainda está em boa altura e talvez aprendesse alguma
coisa.
*****
Como
transpareceu da reacção do ministro à entrevista, os chefes militares existem
simplesmente para serem seus mainatos e comerem a papa que lhes é posta à
frente.
A situação é
pois, muito mais grave do que aparenta ser.
E são
vingativos, uma das razões, por exemplo, pela qual o anterior Chefe do
Estado-Maior da Força Aérea não foi reconduzido, encontra-se seguramente, no
facto de ter chamado, publicamente, a atenção de que não tinha efectivos,
nomeadamente para as novas missões que de um dia para o outro, foram atribuídas
àquele Ramo, relativamente aos fogos e ter oposto reticências à mudança de
dispositivo, para que querem empurrar a Força Aérea.
Ora o
Dispositivo faz parte e decorre do Conceito Estratégico Militar, documento que
deve ser aprovado pelo Conselho de Chefes; pelo Conselho Superior Militar e
ratificado pelo Conselho Superior de Defesa Nacional…
E o actual
Director Nacional da PSP que se cuide depois de, no dia de aniversário da força,
ter referido a existência de problemas e centenas de guardas terem virado as
costas aquando do seu discurso e abandonado o recinto, em protesto, quando
chegou a vez do inefável ministro da tutela.
Creio que
nisto a hierarquia da PSP não deve ter qualquer responsabilidade: é que os
polícias habituados aos sindicatos (e aparentemente o “movimento zero” é
transversal a tudo), já nem lhes obedecem (por enquanto apenas neste âmbito).
Aliás, este
pensamento sobre a figura dos “mainatos”, encontra-se mais espalhado do que se
pensa, lembro apenas o batpizado Diogo Freitas do Amaral, figura de um peculiar
hibridismo político/ideológico, ter lançado publicamente a ideia de pôr os generais
e almirantes a andar de bicicleta. Enfim, certamente preocupações ambientais
“avant la lettre”!
Insiste o ministro
(será que é masoquista?) que os problemas são conhecidos e estão a ser
resolvidos.
Pois toda a
gente sabe que os problemas existem, a começar pelos responsáveis políticos que
os criaram e há muito que, dos mesmos, têm sido avisados pelas chefias
militares que, faz tempo, deveriam ter dado um murro na mesa.
E não sei se
deveriam ficar-se pela mesa.
Agora que
tenha havido qualquer vontade política em os resolver é que é outra afirmação
mentirosa, quiçá, ridícula.
E já que focou
todo o seu “nada” no pessoal, sempre lhe quero dizer que os quadros permanentes
têm sido reduzidos continuadamente; que uma medida sobre pessoal se repercute
pelo menos durante 20 anos; que não há reservas mobilizáveis; que o pessoal do
Q.P. continua com a carreira congelada, sendo promovidos (uma vez) nos últimos
dias do ano, sonegando-lhes proventos; ou seja não há lei nem roque – uma
situação cem vezes mais gravosa daquela que levou ao 25 de Abril; os chefes não
têm autoridade para promover um soldado, estando essa decisão dependente dos
humores de um qualquer quarto secretário do ministério das cativações, perdão,
das finanças; que quanto às praças o desastre começou com o fim do serviço
militar obrigatório - uma medida política de lesa - Pátria, movida pela
demagogia de dar satisfação às juventudes partidárias (PC excluído) e pela
convicção tola de que, com a queda do muro de Berlim, iam acabar as guerras e
as crises.
A coisa não
tem parado de piorar, pois a ignorância militante, a estupidez política e
preconceitos atávicos de alguma intelectualidade e jornalistas, tem votado a
Instituição Militar para a prateleira das “inutilidades toleradas”.
A cada vez
menor perda de referências morais e éticas, virtudes cívicas e a parafernália
infecta de “ismos”, que têm decomposto a sociedade actual, fazem o resto.
Por isso as Forças
Armadas lutam com gravosos problemas de recrutamento, tanto em qualidade como em
quantidade; a retenção é um desastre e a reinserção é outro igual. O pagamento
miserável, a falta de incentivos e a falta da defesa institucional da dignidade
do “serviço” militar, tornam a situação descontrolada e irreversível.
“Recrutar,
Reter e Reinserir” não é mais do que uma reedição serôdia de outros “3 Rs” de
má memória (lembram-se do Reestruturar, Redimensionar e Racionalizar, do “cabo”
Nogueira?), com que intitulou o artigo, mas que só querem dizer reduzir,
reduzir e reduzir.
Aliás, mentem
tanto, que depois de reduzirem constantemente o número de efectivos, abaixo de
qualquer nível coerente seja com o que for, ainda impedem que os mesmos sejam
recrutados para pouparem uns trocos!
Não têm mesmo
vergonha na cara!
Faça-me ao
menos um favor: não torne a falar na necessidade de recrutar mulheres. As
mulheres na tropa são um modernismo idiota e mandá-las combater representa até,
um retrocesso civilizacional!
As mulheres só
possuem alguma mais - valia em poucas especialidades, a mais evidente das quais
é a do âmbito da saúde (desde que não vão para maqueiros de um pelotão de
infantaria…).
As mulheres
não resolvem problema algum e acrescentam muitos (a gestão de pessoal é, por
exemplo, uma dor de cabeça).
E termino
dizendo uma coisa que vai adorar ouvir: a grande mais-valia das mulheres é
aguentarem a retaguarda – como sempre fizeram – e criarem bons filhos para
poderem ser bons soldados, caso necessário.
E até para não
termos um dia destes no que resta das fileiras, 90% de voluntários (serão mesmo
voluntários?) de gente de várias cores e feitios, nacionalizados à pressa, mas que
de portugueses não têm nada.
Deviam era,
isso sim, antes de obterem a nacionalidade portuguesa, ser obrigados a
cumprir um tempo mínimo de serviço militar.
Entretanto,
ministro Cravinho, remeta-se ao silêncio, entretenha-se a ler, sei lá, a História
da Guerra do Peloponeso, do Tucídides e, na primeira oportunidade, peça ao
“primeiro” arvorado Costa, para sair pela esquerda (muito) baixa.
Suavemente e
sem dar nas vistas (e não se esqueça de levar consigo o tal de Coelho).
João
José Brandão Ferreira
(Oficial Piloto Aviador Ref.)