EFEMÉRIDE:O
EXÉRCITO PORTUGUÊS ATACA E DESTRÓI A BASE DE KUMBAMORI
10/05/17
O cerco de Guidaje,
pequena povoação a meio da fronteira norte da Província da Guiné, tinha
começado há cerca de duas semanas, a 8 de Maio.
Corria o ano
de 1973.
Desta vez o
inimigo tinha mudado de táctica, concentrando um elevado número de
guerrilheiros no mesmo local, cercaram a povoação e minaram todos os acessos à
mesma, bombardeando-a quase diariamente.
Tinham a
nítida intenção de a assaltar e ocupar.
Estavam
apoiados numa base a 6 km chamada Kumbamori, na República do Senegal, que lhes
fornecia toda a logística e estava fortemente defendida por armas antiaéreas,
nomeadamente o recém - introduzido míssil SAM7, Strella, que tinha causado nas
últimas semanas, perdas sensíveis nas aeronaves da Força Aérea, passando a
limitar o número e modo como as diferentes esquadras baseadas em Bissalanca,
cumpriam as suas missões.
O facto de os
guerrilheiros operarem maioritariamente do outro lado da fronteira, dava-lhes
segurança e sentimento de impunidade, julgando-se ao abrigo de retaliações das
forças portuguesas.
A povoação
estava fracamente defendida pois apenas dispunha de uma companhia de caçadores,
com efectivos maioritariamente locais, reforçada por meio destacamento de
fuzileiros especiais e um pelotão de artilharia com peças de 10,5, num total de
cerca de 200 homens. Porém, superiormente comandadas pelo Tenente Coronel
Correia de Campos, que se houve de forma notável revelando em alto grau,
qualidades de comando, liderança e espírito militar.
A situação era
desesperada, faltava tudo, incluindo munições e alimentos e os mortos e feridos
não podiam ser evacuados.
A acção da
Força Aérea não era suficiente para aliviar a pressão exercida.
Guidaje,
que sofreu um total de 43 ataques, estava em sérios riscos de ser assaltada e
tomada pelo PAIGC.
O
Comando-Chefe concebeu então, a arriscada missão de atacar Kumbamori a fim de
desarticular o dispositivo inimigo. Chamaram-lhe “Operação Ametista Real”.
E
se bem pensou, melhor o fez.
Porém,
a missão obrigava a violar o território do Senegal, país com o qual Portugal
não estava oficialmente em guerra, mas que permitia - sem grande entusiasmo,
diga-se - a circulação de unidades da guerrilha e a existência de bases de
apoio da mesma.
Os
militares que integrassem a missão ficariam entregues a si próprios e não
poderiam ter apoio aéreo; teriam que lidar sozinhos com as suas baixas e não
seriam reconhecidos, caso capturados, como militares portugueses. Foram todos,
aliás, sem documentos.
Foi
escolhido o Batalhão de Comandos da Guiné, que tinha cinco companhias – três de
comandos africanos e as 35ª e 38ª Companhias de Comandos. Pediram-se
voluntários, todos se ofereceram.
Foram
escolhidas as três companhias de comandos, cujos combatentes eram oriundos das
diferentes etnias da Guiné, onde só os comandantes de companhia eram europeus.
A
força foi articulada em três agrupamentos. O agrupamento “Centauro” do comando
do Capitão Folques; o agrupamento “Bombox”, comandando pelo Capitão Matos Gomes
e o agrupamento “Romeu”, do comando do Capitão Ramos; onde estava incluído o
pelotão independente do Capitão Marcelino da Mata.
A 38ª garantia a segurança do
trajeto Binta- Guidaje
Os
cerca de 450 homens internaram-se no Senegal, a partir de Binta, para fazerem o
percurso a pé, até ao alvo.
Tornava-se
muito difícil manter o efeito surpresa, não só pelo volume de tropas como
também por a marcha se efectuar de dia.
De
facto uma das companhias foi detectada e o efeito surpresa perdeu-se.
Mesmo
assim foi decidido manter o plano de ataque, com o Agrupamento “Romeu” a atacar
o objectivo de frente e o Agrupamento “Bombox” a flanqueá-lo.
O
Agrupamento “Centauro” ficou em reserva e ia ter a missão mais difícil:
proteger as outras duas, na sua retirada.
Era
o dia 20 de Maio.
O
ataque foi um sucesso, a base foi ocupada e destruída. Muitas toneladas de
material e equipamento foram destruídos. Contaram-se 67 inimigos mortos,
incluindo dois cubanos e três malianos.
O
Agrupamento Romeu apanhou depois com o grosso das forças do PAIGC (onde
existiam cubanos e militares de outros países), que se reagruparam e passaram a
lançar contra ataques de perseguição. Foram efectuados cinco ataques e chegou a
haver luta corpo a corpo.
A
situação chegou também a ser crítica e já perto da nossa fronteira foi
solicitado apoio aéreo, o qual foi efectuado em condições muito difíceis – as
nossas tropas arriscavam-se a ser atingidas por fogo amigo dada a proximidade
que estavam do inimigo – mas felizmente com grande sucesso.
O
Batalhão de Comandos, comandado pelo então Major Almeida Bruno, que participou
na operação, pagou um elevado preço de sangue pela sua bravura e intrepidez: 10
mortos e 22 feridos!
Houve muitos actos de heroísmo.
Guidaje,
não ficou salva de imediato. Foi preciso forçar o seu reabastecimento por
várias vezes à custa de muito esforço e sangue. E a guerrilha só se deu por
vencida nos seus esforços quando uma companhia de paraquedistas conseguiu, mais
tarde, entrar em Guidaje e segurar o perímetro.
O
cerco tinha durado 30 dias…
Uma
vitória muito importante para a qual os justamente afamados militares do
Batalhão de Comandos da Guiné, muito contribuíram.
Na
sequência dos eventos ocorridos a 25 de Abril de 1974, a maioria dos briosos
militares dos comandos africanos, que eram portugueses, combateram como
portugueses e queriam continuar a ser portugueses, foram abandonados pelas
autoridades político-militares em Lisboa, no tempo do “PREC” e deixados fuzilar
pelo PAIGC, cujo principal responsável era o Presidente Luís Cabral. Já depois
das hostilidades terem terminado!
Um acto
infame, que constitui uma das páginas mais negras e revoltantes da História do
nosso País e do nóvel.
Não
tem perdão nem deve ser esquecido.
Vamos
ter que carregar tal fardo na nossa consciência colectiva, para todo o sempre.
Viva
o Exército Português; abaixo os poltrões!
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador