HOMENAGENS NAS
FORÇAS ARMADAS
19/2/2018
“Só existem
dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro
chama-se amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e
principalmente viver”.
Dalai Lama
Recentemente
a Força Aérea homenageou dois brilhantes Chefes Militares, bons combatentes e
bons aviadores.
Estou
a falar dos Generais Lemos Ferreira e Brochado Miranda.
A
homenagem foi mais que justa e o PR quis associar-se à segunda homenagem condecorando
o oficial em causa com a Grã Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Sendo
a ideia boa (e apoiada com “laudes”), justa e adequada, a sua execução poderia
ter outros contornos que a tornariam, melhor, mais justa e mais adequada.
É
sobre este ponto que me proponho elaborar e tal é válido tanto para a Força Aérea
como para o Exército, a Armada e as Forças de Segurança.
Sendo
a homenagem de um Ramo a um dos seus ilustres que se destacam no cumprimento do
Dever Militar faz todo o sentido que a homenagem seja o mais abrangente
possível e o critério dos convites não fique, por exemplo, dependente da
capacidade de uma sala.
Ora
fazer uma homenagem – que é a homenagem de uma vida – e circunscrevê-la a um
convite aos oficiais generais, alguns amigos, representações dos sargentos e
civis, parece ser curto.
Curto
e desaconselhável.
E
com os meios de comunicação existentes hoje em dia é possível chegar a toda a
gente e num tempo recorde.
Os
oficiais generais não são os “donos” da Instituição Militar (IM). Esta é
representada pelos chefes militares mas a IM é feita por todos os que nela Servem
(não trabalham), sem soluções de continuidade, numa roda de evolução e num
cadinho de integração que no caso português tem séculos de existência.
A
IM pertence à Nação, é um elemento fundamental do Estado e nela ninguém está ao
serviço de ninguém: estão todos ao serviço.
Esse
serviço é nacional e é consubstanciado nas missões atribuídas e no Dever
Militar.
Aos
oficiais generais ninguém lhes tira a importância, pois esta é-lhes conferida
pela autoridade correspondente ao posto e pela precedência em todos os actos de
serviço.
A
outra face da “moeda” encontra-se na responsabilidade acrescida que lhe advém
por inerência – e que tem que ser aceite com as consequências que tal acarreta
– e na importância do exemplo que dão.
Ora
não faz sentido algum (nem há uma simples razão que o possa contrariar), que na
citada homenagem não possam participar todos os elementos da grande família militar
que queiram estar presentes, sobretudo aqueles que possam ter privado e, ou
servido, com o homenageado e desse modo prestar-lhe os seus respeitos.
E,
por outro lado, faz todo o sentido que a homenagem sirva para quem não
conheceu, ou conheceu mal, a figura em destaque, possa vir a obter tal
informação de um modo impressivo.
Uma
homenagem alargada ainda se justifica por duas outras razões que têm a ver com
a desmoralização existente no seio da Instituição Militar (não estou a falar só
do pessoal que está no activo) e no estado de coma final (induzido) em que as
Forças Armadas foram postas (e se deixaram pôr), relativamente a todos os
aspectos da sua existência.
E
serviria ainda para “amenizar” um pouco o completo ostracismo a que a Instituição
Militar foi votada pela classe política e pela maioria dos órgãos de
comunicação social, apesar de algum esforço em contrário efectuado pelo actual
Presidente da República, mas que não tem surtido efeito.
Não
deixa de ser ironicamente triste que, numa recente entrevista ao Semanário “Expresso”,
o próprio General Ramalho Eanes ter afirmado que as “Forças Armadas foram
colocadas num gueto”! (a exclamação é nossa).[1]
Uma
cerimónia deste âmbito deve ser feita em parada (hangar para o caso de meteorologia
desfavorável), com formatura de tropas – que diabo a Instituição ainda se chama
“militar” – com a presença de aviões (os homenageados são pilotos aviadores) –
não venham cá com desculpas das restrições orçamentais – e cheiro a JP4[2].
Depois,
e a tudo isto, podem acoplar-se mil e uma ideias em função da pessoa em causa.
Não estamos em época de desperdiçar
qualquer oportunidade de elevar o múnus militar e minorar as atribulações
castrenses.[3]
Quem
faz mal, faz bem.
E não custa nada.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador