domingo, 30 de junho de 2019

A GUERRA CIVIL LARVAR E PERMANENTE EM QUE VIVEMOS


A GUERRA CIVIL LARVAR E PERMANENTE EM QUE VIVEMOS
28/6/19
                                        “O tempora! O mores!
                                        “Ó tempos! Ó costumes!”
                                           Exclamação de Cícero
                        (Contra a depravação dos seus contemporâneos)

                O problema fundamental que temos é um problema Moral. Já o escrevemos várias vezes, mas não é demais repeti-lo.
                O problema moral origina um problema político, que resulta num problema financeiro que desemboca num problema económico e todos resultam num problema social.
                Atacando efeitos e não causas ou não entendendo a hierarquia dos problemas, apenas se baralha tudo cada vez mais e não se resolve nada.
                É no que estamos.
                O problema fundamental são as pessoas e a sua natureza (humana) – vejam até como no mundo animal e vegetal, tudo corre “normalmente” baseado no equilíbrio natural, cujo problema disruptor maior é, justamente, o ser humano…
                Porém os animais e as plantas, para já não falar nas rochas e minerais, não têm um cérebro nem sentimentos, que se possam assemelhar ao ser humano.
               Nos humanos convive o Bem e o Mal, sendo capazes tanto de actos de santidade como das piores atrocidades.
                Na mente humana convivem grandes ideias e verdadeiros disparates e a maioria passa por cá sem se lhe conhecer uma ideia. E mil minudências de permeio.
                E, ao contrário da procura da simplicidade, tudo se torna cada vez mais complexo e emaranhado correndo a informação e desinformação a níveis frenéticos que deixam pouca margem para pensar e reflectir!
                A Moral e a Ética nunca foram muito do agrado da natureza humana e pioram catastroficamente com a falta de exemplo, que vem sempre de cima – quanto mais não seja por efeito da gravidade…
                Nem as diferentes religiões, que estudaram e se adaptaram particularmente, à natureza humana que, supostamente é feita à imagem e semelhança de Deus - o que à partida representa uma contradição algo insolúvel dado que por definição Deus é perfeito, é bom, é amor, etc., e o género humano estar tão longe disto, como as galinhas terem dentes – dizia, a conseguiram domar ou meter em carris.
                E desde que inventaram o “Relativismo Moral” as coisas tornaram-se ainda mais complicadas. A Política, a Sociedade, a Família está cada vez mais atomizada. Tudo é centrífugo, nada é centrípeto.
                Ora nestes termos não é possível manter nada de pé, nem países, nem empresas, instituições, religiões, família. Desta anarquia resultará cada um ser cidadão do mundo; a sua individualidade considerada acima de tudo; ser “Deus” de si mesmo, resultando que a Humanidade será apenas uma. Mas será una? E será verosímil?
                Quem governará toda esta mole humana?
                Talvez quem esteja a empurrar as coisas nestes termos…
                Eis um bom tema para reflexão, para quem quiser e souber.
                Entretanto (e limitemo-nos a Portugal) a “guerra civil” e a maldição moral continuam.
                Implantou-se um regime político na forma republicana – ou seja uma fórmula potencialmente anárquica e abandalhada – não por acaso as residências dos estudantes em Coimbra são denominadas de “Repúblicas”…
                Sem embargo funcionam bem melhor que a dita cuja oficial - solapada por um conjunto de partidos – cuja designação é bem o espelho do que representam – em que se oficializou uma ditadura partidocrática, que impuseram uma carga fiscal opressora das famílias e empresas e uma dívida de escravatura à Nação; alienam constantemente, a soberania e o património material dos portugueses; mentem sobre a sua História; andam a destruir a matriz cultural, através da importação massiva de emigrantes e pela criminosa facilitação na atribuição da nacionalidade; acabaram com a moeda nacional (coisa que nem o Filipe I, se atreveu); reduziram as Forças Armadas a uma quase ficção; elevaram as “garantias dos direitos individuais” a tal ponto que paralisaram e viciaram o exercício da Justiça; transformaram a diplomacia num mero exercício de relações internacionais, em detrimento da defesa dos interesses estratégicos permanentes portugueses; transformaram o ensino numa manta de retalhos inadjectivável, que mal prepara a juventude para a vida, em todos os campos em que toca, etc..
              Destruíram ainda, grande parte do tecido produtivo português, em troca dos fundos comunitários de coesão, dos quais nunca se apresentaram contas, nem se apuraram responsabilidades.
                É certo que não se prende ninguém (até ver) por afirmar coisas, mas daí até haver oportunidades para o fazer vai alguma distância; a censura continua a existir a todos os níveis, só não tem um carácter oficial e ninguém admite que a faz. Sendo que, a tentativa de condicionar o pensamento, é uma realidade permanente.
                Como pano de fundo de tudo isto, temos uma Constituição da dita República, anacrónica, prolixa, mal escrita, irrealista e desajustada da realidade nacional.
                Que impôs um “sistema” semi - presidencialista, que não é carne nem é peixe, com um predomínio idiota e antinatural dos “Direitos” relativamente aos “Deveres”; uma organização desequilibrada do trabalho onde predomina uma relevância nefasta das organizações sindicais, donde resulta estar cerca de metade do funcionalismo público permanentemente de baixa ou em greve; uma permissividade irresponsável que, não poucas vezes, imobiliza sectores cruciais do país pondo em causa a própria economia e segurança nacionais; potencia um conflito constante nas empresas privadas oscilando o braço de ferro entre a ditadura dos sindicatos ou o capitalismo selvagem, e os órgãos de concertação social, raramente concertam seja o que for.
              No fundo uma verdadeira guerra civil, sem tiros (até ver) …
                Mas quase todo o mundo fica paralisado quando se ouve uma palavra mágica: Democracia!
                Esquecem-se é de dizer que a situação de “perda” em que nos encontramos foi conseguida, justamente, usando os tais “princípios ditos democráticos”!...
                Mas a questão Moral e Ética não originou apenas todo este descalabro, não. Fê-lo acompanhar de um cortejo de corrupção, nas suas vertentes moral, económica, financeira, de costumes, compadrio, nepotismo, etc., que passou a ser transversal ao país (e nenhuma instituição lhe está imune) com especial incidência nos organismos do Estado, nas Autarquias (que apenas são prolongamentos dos Partidos) e na Banca. Já nem falo do futebol…
                Por isso não passa um santo dia em que os jornais, as rádios e as televisões não relatem os casos mais incríveis neste âmbito, acompanhados por barbaridades várias (a asneira passou a ser livre) e imbecilidades muitas, pois uma verdadeira campanha de imbecilização caiu sobre todos nós - basta ouvir esta pergunta repetida à saciedade, “vem aí uma vaga de frio, (ou de calor), o que é que o senhor pensa fazer?”.
             Numa síntese que dói, bem pode dizer-se que o que se passou em Tancos, em Pedrógão Grande e à volta do Comendador Berardo ilustra bem o Estado em que estamos e a Sociedade que criámos.
              O problema fundamental não está entre “Esquerda” e Direita”, mas sim entre portugueses defensores da sua Nação e entre internacionalistas, globalistas ou defensores de ideologias estranhas à matriz cultural portuguesa; entre Patriotas e traidores, entre corruptos e sãos; entre viciados e limpos; entre competentes e coiros, entre degenerados e íntegros.
             O tal problema Moral e Ético (este sim civilizacional), que a actual Ministra da Cultura confundiu com as touradas.
                Perante tudo isto apetece fazer uma de três coisas: ir para a praia sempre que possível (leia-se também discutir futebol, novelas ou ir a um concerto rock); lutar contra o sistema ou eutanasiar-se.
                Em face do exposto não é difícil ao leitor e meu excelente concidadão acertar naquilo que a esmagadora maioria tem feito.
                É o que de resto, está mais conforme à natureza humana.


                                                                   João José Brandão Ferreira
                                                                  Oficial Piloto Aviador (Ref.)

quarta-feira, 26 de junho de 2019

A APOLOGIA DO “DOLCE FAR NIENTE”

A APOLOGIA DO “DOLCE FAR NIENTE”
20/6/19



                                 “O tempora! O mores!”
                                  “Ó tempos! Ó costumes!”
                                   Exclamação de Cícero
                                  (Contra a depravação dos seus contemporâneos)
                Deve ser para esquecer.
                As agruras da vida…
                Reparem caros concidadãos como a coisa está entranhada (como diria o Pessoa).
                Chusmas de jornalistas, sendo a maioria radialistas (pelo menos pelos “sound bytes” que me chegam), ficam deliciados com os dias de calor, que logo associam à praia. Daí o incentivo para ir para a praia, congratular-se com o estar na praia, é um passo curto…
              A que corresponde, já agora, a abominação da chuva que, como se sabe não faz falta nenhuma…
                Até aqui se vê a diferença entre uma cultura citadina, quiçá, suburbana infecciosa – cuja alternativa invernosa é ir passear de fato de treino para os centros comerciais – e a ruralidade do interior cada vez mais abandonado e despovoado.
                A última frase que nos feriu os tímpanos foi pronunciada na Rádio Renascença no pretérito 28 de Abril: “ter areia no carro não é tão bom? É sinal que estamos perto da praia…”
                Bom, ir à praia, apesar de ser um hábito relativamente recente – inaugurado pela Corte Inglesa em fins de setecentos, mas apenas verdadeiramente assumido e generalizado, no século XX e por fases – não tem nada de mal e eu não me eximo a fazê-lo.
                A questão está em que para se ir à praia, outros ou os mesmos, têm que assegurar que o podem fazer.
                Ou seja, tem a ver com bom senso e o trabalho (melhor dizendo produtividade) realizado.
                Ou seja o bom senso deve dizer-nos que o trabalho vem primeiro que o lazer; que os direitos devem derivar dos deveres cumpridos (ao contrário do que prescreve a nossa douta Constituição); que a praia serve para retemperar as forças físicas e anímicas para continuar a vida, mas não é um fim em si mesmo. A praia não educa, nós é que devemos ser educados para ir à praia. Outros exemplos (e não só de praia) se poderiam dar.
                Quanto ao trabalho, e à produtividade, quem quer saber dele? É tido como uma canga!
              Uma chatice.
              Quem lhe louva os méritos? Quem lhe sobressai a necessidade? Quem incensa o bem -fazer?
              Pois parece que ninguém.
              Antes pelo contrário, tudo se faz para o depreciarem, denegrir e evitar.
              Criou-se o mito das boas e das más profissões, em vez de se justiçar os bons e os maus profissionais; estimula-se a preguiça através do subsídio de desemprego (de que se abusa); do rendimento mínimo garantido (de que se abusa) e de outros apoios sociais (de que também se abusa!).
              O resultado é que os nacionais (e, sobretudo, os europeus) deixaram de querer fazer determinados ofícios e tarefas, resultando as incongruências da emigração e da imigração (de que se abusa); a ociosidade (com o seu cortejo de consequências/vícios) e estarem os centros de emprego cheios de desempregados e uma quantidade enorme de vagas de emprego por preencher…
              Para tal muito contribuiu o fim das Escolas Técnicas e Comerciais; o nivelar por baixo e a estúpida mania de que toda a gente tem que ter uma licenciatura!
                Acontece, porém, que a Natureza surtiu imperfeita no âmbito do ócio e do trabalho, ou seja, obriga – desde a Idade da Pedra Lascada - a que, o “homo sapiens sapiens” tenha de respirar; comer e beber qualquer coisa diariamente; tem de se proteger das intempéries; acumule algumas reservas para dias piores; garanta uma forma qualquer de energia; consiga sobreviver através da reprodução e se organize e estude um pouco o que se passa à sua volta, a fim de aprender alguma coisa. Só para ficarmos por aqui.
                Azar dos Távoras, não é que tudo isto dá um trabalho dos diabos? E que dizer de todos aqueles que são a maioria, que passam a vida a labutar, a aspirar pela reforma (que é outra modernice com poucos anos – refiro estas coisas para situar devidamente as questões) e depois se esquecem de a preparar e estiolam pelos cantos, sem sequer lhes apetecer ir à praia? Ora a “praia” parece que se traduziu nesta sociedade moderna numa obsessão, enquanto não há quem elogie o trabalho.
              Mais ainda, passou a trabalhar-se para ir de férias e, quando se regressa destas, precisa-se de novo ir para a praia descansar. Das férias e da “depressão” de se ter que ir trabalhar novamente…
              Os próprios feriados passaram a ser “ilhas” para se ir para a praia, em vez de se comemorar a razão da sua origem. Sendo assim, como justificar a sua existência?
               Os jornalistas, os comentadores, a escola, e por arrastamento (aqui põe-se a questão do ovo e da galinha) os políticos, vão na onda da demagogia e do “laisser faire, laisser passer”.
                Os sindicalistas e os Partidos Políticos, além de não valorizarem o trabalho reivindicam constantemente, não a sua melhor organização e produtividade, mas o trabalhar menos, recebendo mais. Por sua vez os empresários dão prioridade ao lucro em detrimento da elevação moral e da “alegria” no trabalho. Preferem a distribuição de dividendos à liderança e ao investimento.
                No início dos tempos, o trabalho revertia para o próprio e as trocas eram directas através de produtos, ou em troca de segurança.
                Até se inventar o dinheiro.
                Um “cómodo” muito eficaz que permite trocar trabalho ou a aquisição/venda de um produto ou serviço, por uma retribuição monetária.
                Mas, para além de se manter esta relação em desequilíbrio constante, conseguiu - se desestabilizar as relações sociais e entre Estados, para todo o sempre e fomentou - se os piores instintos da natureza humana, como a cupidez, a avareza ou a ganância.
                Mas isso já é outro âmbito de discussão e já ninguém se lembra de como tudo começou.
                Se calhar o melhor mesmo é ir para a praia.                  
               


                                                              João José Brandão Ferreira
                                                              Oficial Piloto Aviador (Ref.)