OS MAREGAS DESTE
MUNDO
12/03/20
“Não foi por acaso que o meu
sangue que veio do Sul
Se cruzou com o meu sangue que
veio do Norte.
Não foi por acaso que o meu
sangue que veio do Oriente
Se cruzou com o meu sangue que
veio do Ocidente.
Não foi por acaso nada de quem
sou agora.
Em mim se cruzaram finalmente
todos os lados da terra.
A Natureza e o Tempo me valeram:
séculos e séculos
Ansiosos por este resultado um
dia
E até hoje fui sempre futuro. (…)
”.
José de Almada
Negreiros
Vou
falar de Portugal e dos portugueses.
Não
de outro país.
“Na
Conservatória do Registo Civil, um angolano residente em Portugal quer registar
o seu filho recém-nascido:
-
Bô dia! Eu quer registar o meu minino que nasceu otem.
Muito
bem. O seu filho nasceu ontem, é do sexo masculino … e qual é o nome?
-
Marmequer Bicicreta.
Desculpe?!
Quer chamar ao seu filho Malmequer Bicicleta?!
-
É
Desculpe,
mas não posso aceitar esse nome.
-
Não pode porque tu é racista! Si meu minino fosse branco tu punha.
-
Não tem nada a ver com racismo. Esse não é um nome admitido em Portugal.
-
Tu é racista. Si meu minino fosse branco tu punha esse nome a ele. Tu não põe
porque meu minino é preto.
Já
lhe disse que não tem nada a ver com racismo. Malmequer Bicicleta não é nome de
gente.
-
Ai não?! Então porque é que tu tem uma branca chamada Rosa Mota?”
Eu
já não vou a um estádio de futebol há muitos anos. Quero ver se não volto. E
não é por não gostar de futebol, de que gosto e gostava sobretudo de jogar. É
porque o espectáculo há muito que se tornou ordinário; o negócio preside a tudo
e onde há negócio, caso não haja “regras”, medra a corrupção e o desvario. Sendo
já tudo suficientemente mau, a Comunicação Social tornou tudo pior ao
exponenciar tudo isto, tornando toda a pouca-vergonha existente num circo
mediático da pior espécie e uma arma (literalmente) de alienação mental da
população, sobretudo da mais vulnerável.
Os
casos de imoralidade pública e de polícia têm sido tantos que envergonhariam
qualquer sociedade minimamente decente e lúcida.
Não
parece ser o caso daquela onde me calhou viver, actualmente.
Antes
pelo contrário, qualquer bicho careta da política, logo bajula e condecora o
primeiro simplório que se destaque na “arte” dos chutos da bola e sempre que
uma equipa de uma cidade se destaca transitoriamente, num fugaz triunfo
desportivo (estamos a falar do que era um desporto), logo é recebida com pompa
e circunstância no “palácio” da edilidade e mostrados ao povo!
Pelos
vistos o povo gosta, o povo quer, o povo tem!
Pensam
eles.
Mas
agora aumentou-se o patamar do confronto, da violência e da irracionalidade
política com o “caso Marega”.
Moussa
Marega, um francês naturalizado Maliano, com mau feitio e que, pelos vistos,
tem alguma dificuldade em se integrar seja onde for.
Como
anda por aí uma quantidade de bípedes que não sabem propriamente como empregar
o tempo e a massa encefálica, entretêm-se a arranjar problemas onde eles não
existem. Agora é o racismo, branco entenda-se, porque para as luminárias
indignadas que pululam, aparentemente só os caucasianos é que têm essa mácula.
Vamos
lá a ver se a gente se entende: os preconceitos racistas relacionados com uma
suposta inferioridade intelectual, moral, ou outra, relativamente a povos,
tribos, etnias, etc., fizeram a sua carreira ao longo dos séculos, o que levou
a várias formas de segregação e injustiça. Faz parte da evolução da História da
Humanidade. Neste âmbito, não tenho dúvidas em afirmar que os portugueses ao
longo da sua longa História foram os que se portaram melhor, à luz dos
conceitos de hoje e de ontem. E não temos lições a receber seja de quem for.
Nunca
houve portugueses racistas? Houve, do mesmo modo que houve mentirosos,
homicidas, ladrões, violadores, etc.
Fazer
desses exemplos uma mediana da população é que me parece uma mentira grosseira,
sendo que as práticas ofensivas foram sempre condenadas e castigadas através
dos documentos e directivas oficiais emanadas dos órgãos do Estado.
Em
Portugal sempre se falou e chamou livremente preto ao preto, chino, malabar,
monhé, mouro, etc., sem outro significado que não fosse o de uma evidência
factual.
Quando
entrei para a Academia Militar, em 1971, havia um cadete oriundo da Guiné,
preto retinto, cujo nome de guerra era o “pixa negra” (o que é que se lhe
haveria de chamar?), mas como já era repetente, praxava os recém - vindos, como
todos os outros. Nunca houve nenhum “racista” branco que se recusasse (ou
preocupasse) em fazer flexões de braços para o “senhor candidato pixa negra”!
Quando
se deu a independência (forçada) da Guiné-Bissau, o dito cujo optou por se
tornar cidadão do novo país. Acabou morto às ordens de um elemento do PAIGC,
que se tornou presidente daquela terra que, pelos vistos jamais se tornará um
país.
Quando
nós contamos anedotas de alentejanos ninguém leva a mal (sobretudo os ditos
cujos), e quando se dizia que aquela “estranhíssima” gente só tem duas
velocidades que é “devagarinho e parado”, todos nós entendemos e nos rimos.
Com
a atmosfera que se está a tentar criar, contar uma história parecida,
substituindo “alentejano” por “preto”, passará a ser proscrita, por racista…
Ora
vão passear “primatas” (também é perigoso dizer “macacos”) um ditado português!
Por
isso, fazer do episódio que se passou em Guimarães, no jogo que opôs a equipa
daquela cidade ao FCP, onde joga o tal de Marega, é profundamente vil e
ridículo. Não foi bonito, convenhamos, mas ter o país quase parado durante
quatro dias a discutir a cena, demonstra bem o estado de insanidade mental a
que descemos.
Qualquer
um de nós entra num estádio de futebol e ouve palavrão que ferve do princípio
ao fim, contra tudo e contra todos e é “normal”, mas chamar-se preto a um
jogador é racismo!?
O
desgraçado do árbitro pode ser agredido, vilipendiado e a sua mãezinha ofendida
vezes sem conta, com os piores epítetos e adjectivos que, “no passa nada” -
trata-se apenas de um “escape” dos “adeptos” em delírio; mas chamar macaco ou
imitar os sons do mesmo perante um jogador que levanta o dedo do meio para as
bancadas e aponta para o braço numa inegável menção à cor do mesmo (isso
chama-se o quê?), é tido não só como racismo mas quase um tiro de canhão nos
direitos humanos!
O
jovem passa-lhe uma coisa má pela cabeça e decide abandonar o campo sem ordem
do treinador – o que está no seu livre arbítrio e tem contrapartida na
assumpção da responsabilidade – e quase passa a herói, não direi nacional, pois
ainda não se caiu na asneira de se lhe conceder a nacionalidade, mas do dia? Ainda
se arrisca a ser condecorado no próximo 10 de Junho…
Não
tarda fazem uma lei na AR que mande para a prisão, quem chame “monhé” ao PM,
que se orgulha de ter antepassados indianos que não portugueses…
Mas
quem era ditador e fascista era o Professor Salazar. Curioso que no tempo dele
nunca ninguém chamava nomes ao Eusébio, ao Coluna, ao Vicente, ao Matateu e
tantos outros.
E
seguramente que eles também não se melindrariam se lhes chamassem pretos…
Eu
vivi em Bissau depois da independência e algumas vezes me chamaram “branco” e à
minha mulher “branca”. Não sei exactamente com que intenção e também nunca me
preocupei com isso.
Por
tudo isto (e muito mais) não entendo que tenham chamado nomes ou gozado com o
Marega (que nem deve conhecer minimamente o país onde vive) por ele ser preto,
mas por ser … como é.
Fazer
disto uma feira mediática para acusar a população portuguesa de ser racista é
um abuso idiota e maléfico (a que o próprio Marega é alheio).
João
José Brandão Ferreira
Oficial
Piloto Aviador
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