“O que não funciona vai dando
para o que não existe.”
Autor desconhecido
A frase expressa na introdução do
seu último livro, pelo Professor Cavaco Silva, defendendo que o seu substituto
na Presidência da República tivesse experiência em política internacional,
provocou uma pequena tempestade política num copo de água.
Não devem ter mesmo mais nada
para fazer.
Vejamos, a afirmação em si, é de
uma evidência cristalina e simultaneamente confrangedora, não representando
qualquer ideia política original, pensamento profundo sobre qualquer assunto ou
decisão que possa influir seja no que for.
É aquilo que em termos
científicos se poderia designar por “vulgaris de Lineu” e na gíria castrense,
de “generalidades e culatras”.
Mas logo vários pelotões de
políticos e comentadores vislumbraram na oração presidencial, intenções
capciosas sobre os putativos candidatos ao cargo e sei lá que mais
maquiavélicos pensamentos. Não há pachorra.
Lembramos que a extraordinária
lei eleitoral de que usufruímos, apenas impõe a um eventual candidato que seja
português (até ver) e que tenha mais do que 35 anos. Não exige mais nada (nem
sequer um registo criminal limpo), a não ser 7500 assinaturas de pessoas que
devem estar assaz preocupadas se os candidatos que apoiam sabem alguma coisa de
política externa….
Ofereço uma ideia: optem por ter
um Rei, que além de ter de saber dessa matéria, tem o problema da sucessão
resolvido!...
Um a zero na imbecilização do povo.
*****
O Ministro da Defesa fez um
despacho em que delega cerca de 90% (ou será mais?) das suas funções ao
alvedrio da sua Secretária de Estado.
Porque o fará?
Para que é preciso então, um ministro?
Já se sabia das preocupações que
S. Exª tem com o governo da sua firma de advogados (e eu a julgar que uma coisa
seria incompatível com a outra, até em termos de disponibilidade), mas que
diabo alguma coisa há-de ter para fazer no edifício do Restelo. Será que
necessita do seu precioso tempo para outras actividades, agora que se aproximam
épocas eleitorais?
Ou trata-se apenas de passar a
assumir publicamente a importância que dão à Defesa – que se resumiu sempre e
apenas, às Forças Armadas – e que agora como estas estão a caminho da exaustão,
atira-se-lhes com um “para quem é, bacalhau basta”?
Se assim for, porque poupa na
austeridade e não desaparece de vez, leva a Dr.ª Berta consigo e designa um
Director Geral com o título de “Presidente da Comissão Liquidatária”?
Não entenderá que é mais honesto
e consentâneo?
Dois a zero, na tal
imbecilização.
*****
Um Conselheiro de Estado perdeu
(depois de ter recorrido para a Relação), um processo que intentou em tribunal contra
um cidadão por se sentir difamado por ter intuído que lhe tinham chamado
traidor á Pátria, por alguns factos ocorridos no seu passado já longínquo.
Continua, porém, Conselheiro de
Estado, apesar do assunto ser pouco conhecido no país, já que a comunicação
social praticamente não fez eco do que se passou.
Felizmente que o julgamento
terminou desta forma, senão os cerca de um milhão de compatriotas, mobilizados
nas últimas campanhas ultramarinas (o caso tem a ver com este conflito) ficava
em maus lençóis por não terem seguido o exemplo em causa.
Podendo inferir-se até, que
seriam eles os traidores…
Mas não se tendo, por douta
sentença, seguido este caminho, ficam as perguntas seguintes: porque é que as
autoridades do país, na altura (referimo-nos ao pós 25 de Abril de 1974)
consubstanciados na Junta de Salvação Nacional e no Movimento das Forças
Armadas, não “arrecadaram” os que se tinham portado como o queixoso para os
julgarem sobre o que tinham feito, como se fez, por exemplo, com alguns daqueles
que foram na Legião Portuguesa lutar nas hostes napoleónicas, em 1807?
E como se permitiu, depois deste
“pecado original”, que a pessoa em causa e muitos outros, ocupassem altos
cargos em órgãos de soberania?
E como é que se permite que um
cidadão nestas condições (mesmo que eventuais crimes já tenham prescrito) se
possa candidatar ao mais alto cargo da Nação?
Porque não existe qualquer
censura social e quase toda a gente lhe aperta a mão?
Três a zero, a aumentar a
imbecilização do povo.
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Quase clandestinamente o
Parlamento votou a favor da ida de Eusébio da Silva Ferreira para o Panteão
Nacional.
A coisa foi feita algo
envergonhadamente e quando nada o faria supor.
Pudera, depois do “Pai da
Democracia”, cheio de verdete por o “Pantera Negra” nunca ter dito mal do
Professor Salazar, o mais apropriado que achou por bem dizer, após o passamento
do ídolo do futebol, foi tentar achincalhá-lo com um “bebia whisky ao pequeno -
almoço”, que se poderia esperar?
Lamentavelmente nada de
institucional existe para definir quem tem direito a dormir o sono eterno no
antigo templo de Santa Engrácia, ficando tudo à mercê das maiorias
parlamentares do momento.
Será até curioso, um dia ver o
que acontece quando se der um movimento para tirar de lá alguém…
Mas o que gostaríamos de focar
nesta crónica é, tão só, uma notícia veiculada nos órgãos de comunicação
social, e com origem, ao que se sabe, num deputado do PSD, que comentando a
novidade – que alguns órgãos de comunicação social propalaram acriticamente -
saiu-se com esta tirada digna de Horácio, Tucídides, quiçá, Virgílio: “Eusébio
é o primeiro português que vai para o Panteão e que não nasceu em Portugal”!
Gostaram?
Então nasceu onde, pode-se saber?
Lourenço Marques, capital de
Moçambique, onde chegámos em 1497, e que fez parte de todas as Constituições
portuguesas desde 1822, era território pária? E ninguém esfrega um pano
encharcado no “fácies” destes broncos?
Quatro a zero na imbecilização do
povo!
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A Escola Secundária “C+S de
Cascalhais de Baixo” está com o ar condicionado avariado há um mês. Resultado,
manifestação de professores e alunos à frente da escola sendo, amiúde, os
portões da dita cuja fechados a corrente e cadeado; cinco minutos de imagens
nas televisões (todas á excepção do 2º canal); os comentaristas espraiam-se em
voluptuosa verve; clama-se para que o ministro da pasta respectiva se apresente
no Parlamento, a fim de ser interpelado (às vezes ele vai) e, não raro, se pede
a demissão do chefe do governo; chovem acusações de que o PR não tem opinião
sobre coisa alguma, (aliás, quando ele fala, é o que se sabe…).
Os exemplos podiam multiplicar-se
por “ene factorial” (N!).
Em contrapartida, a Força Aérea,
a Marinha e o Exército – este último consegue bater os outros dois aos pontos –
estão numa situação dramática, com falta de tudo, sem verba para se
sustentarem, sem pessoal, com os equipamentos (que restam) quase todos parados
e não há uma voz neste país (as das associações militares ouvem-se baixinho),
que exale um “ai” de preocupação a começar pelas chefias militares que quando
abrem a boca é para exprimirem um ar de “tranquilidade”.
Deve ser por ser segredo de
Estado, não vá o inimigo dar-se conta!...
No fim do reinado do Rei, Senhor
D. João V – e não se podia alegar então, haver falta de verba – os sentinelas
chegavam a pedir esmola à porta dos quartéis.
Deve ser por isso, que agora, os
estão a substituir por empresas de segurança…
N! a zero na imbecilização do
povo!