quinta-feira, 29 de maio de 2014

O VIDEO DA DEFESA


 
Há poucos dias foi colocado no sítio do Ministério da Defesa (MDN) e no “Youtube”, um vídeo de 3’ e 32”, onde se enumeram um conjunto de acções tidas como “reformas”, fazendo a sua apologia e verberando os críticos das mesmas.
Estou em crer que a fita do tempo e o fio condutor do filme deve ter sido feito por um astronauta, já que só quem vive para além da Tropopausa pode escrever uma coisa daquelas como, também, pela velocidade das imagens e do som que nem um piloto de F-16 consegue visualizar ou reter seja o que for.
Deve ser por isso que os querem vender (aos F-16) …
Todavia analisando a pelicula mais detalhadamente descobrimos coisas interessantíssimas - apesar de pouco verdadeiras – apresentadas como êxitos retumbantes.
Eis algumas a “vol d’oiseaux”:
·         O Hospital das FA representa o “Rossio na rua da Betesga”; uma diminuição sensível de capacidades e uma trapalhada em termos de execução. O que foi pensado deixa de fora a componente operacional da Saúde Militar – o verdadeiro amago da questão - e põe em causa o praticamente único direito que resta aos militares (e à família militar), derivado do Estatuto da Condição Militar.
E não resolve nem toca nas verdadeiras razões pelas quais a evolução dos Serviços de Saúde Militar tem sido lenta, sem embargo da sua complexidade, e que são a falta de entendimento crónico a nível do Conselho de Chefes Militares e o esvaziamento da sua autoridade, e a compatibilização das carreiras das especialidades do pessoal ligado à Saúde, e a sua condição de militares, o que se agrava na razão inversa em que a disciplina prospera.
Além disto as FA estão a ser vítimas do desejo político/ideológico – a que são alheias – de passar os cuidados de saúde da população, para instituições privadas. Ponto final.
·         Gabam-se, a seguir, de terem descongelado as promoções (ás pinguinhas…). É preciso ter lata! Então quem é que as congelou, em primeiro lugar? Deviam era pedir desculpa por uma medida que jamais devia ter sido aplicada às FA e colocar tudo na normalidade, o que ainda não ocorreu! Absolutamente inqualificável.
·         A questão dos estaleiros de Viana do Castelo é de facto relevante para a DN (a capacidade de construção naval, não tem apenas importância económica, mas outrossim, relevância estratégica) e a degradação a que chegaram nunca deveria ter tido lugar. A responsabilidade é de todos os governos anteriores e as razões situam-se a nível dos objectivos definidos para o sector (se é que alguns); da (in) competência das administrações (onde por vezes prevaleceram amizades e cumplicidades partidárias) e das normas que regulam o trabalho e os sindicatos.
Não se entende porque é que estes estaleiros estivessem debaixo da alçada do MDN e menos se alcança que, em vez de se ter concentrado a acção em pôr os estaleiros a funcionar, se tenha optado em fazer deles, campo de luta política. Mas sobre isto nunca ouvimos qualquer preocupação por parte do MDN. 
Com tudo isto a capacidade tecnológica e o “saber fazer” esvaíram-se!
        Será mesmo que o problema foi resolvido?
·         Gabam-se de terem redimensionado o número de efectivos, é preciso ter lata, novamente!
De facto não se redimensionou coisa alguma, a única coisa que se fez foi cortar a eito por razões que se prendem apenas com dificuldades de tesouraria e com o livre arbítrio de S. Excelências.
Cortaram de qualquer maneira para níveis que até o insuspeito General Loureiro dos San-
       tos classificou, recentemente, de absurdos.
       Usam e abusam (e não é só de agora, que isto já leva mais de 20 anos), de uma desonesti-
dade intelectual inacreditável – para além de inverterem o correcto planeamento dos sistemas de forças e dispositivo – pois após sucessivas facadas nos efectivos vêm dizer que o enquadramento está distorcido, não se justifica tantas unidades, etc..
Podem-se escrever livros sobre isto, pois a realidade ultrapassa sempre a ficção…
·         Não compreendem, também, as críticas ao facto de terem reunido as Escolas Práticas das Armas, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra.
Em boa verdade a responsabilidade maior cabe à chefia do Exército, da altura que, aparentemente quis fazer um “bonito” ao Governo, já que tal desiderato constava do respectivo programa. Não discuto a necessidade, ou a adequabilidade de, nos tempos actuais, as Escolas Práticas – que continuam a ser muito importantes na idiossincrasia de cada Arma ou Serviço – estarem reunidas, tanto para economizar recursos, como principalmente, para mais eficazmente operarem em conjunto.
Sabe-se que, raramente existem soluções ideais, muito menos aquelas que não trazem custos de alguma espécie. Mas, que diabo, qualquer antigo cabo readmitido, consegue perceber que só existe um local no País, onde essa “Escola” conjunta pode ser implementada, e esse local chama-se Santa Margarida, complementada com o Polígono de Tancos.
Ora transferir tudo para o “calhau” nome pelo qual, no jargão militar, se designa o Convento de Mafra onde, desde 1890, funcionava a EPI é algo aberrante e só explicável por uma nostalgia do passado e uma avaliação peca da realidade. É que tal unidade, apesar de ocupar parte da Tapada de Mafra que lhe é contígua, já dificilmente cumpria os requisitos para a formação dos descendentes do Santo Condestável D. Nuno, quanto mais para lá meter todas as outras escolas.[1]
Isto para já não falar dos custos de manutenção do Convento que, sendo monumento nacional, saem do orçamento do Exército.
Se porém formos analisar, pela rama, o que se fez, toparemos que o nome atribuído à nova unidade é “Escola das Armas”, tendo-se deixado cair o termo “Prática”, o que aparenta ser um contra senso e ainda:
- Os quarteis das antigas escolas não fecharam, mantendo o equipamento pesado;
- A ETAT ficou no mesmo sítio, bem como as Transmissões;
- Incluiu-se o Centro Militar de Equitação e Desportos, que nunca foi propriamente uma “escola prática”;
- Manteve-se o Serviço de Material e a Administração Militar, na Póvoa do Varzim.
Afinal o que se ganhou com tudo isto?
Exactamente! Ganhou-se um aborto. E vamos ficar por aqui.
·         E que dizer da vã glória de terem metido raparigas no Colégio Militar!?
Que pacóvio provincianismo, disfarçado de “progressismo!
Não se esqueçam, já agora, de arranjarem também uma turma para membros precoces do LGBT…
Ganhem tino.[2]  
·         Rejubilam por terem feito aprovar um novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN)!
Mas haverá algum MDN, digno desse nome, que não invente um novo? Não vou comentar tal documento que não é mais do que um conjunto de generalidades e vacuidades, que não serve para nada (como os anteriores não serviram), não só porque não é guia orientador seja para o que for, como ninguém lhe vai ligar coisa alguma.
Deixo apenas um alvitre: não se pode sequer conceber um CEDN, se o País não tiver qualquer Poder real, para aplicar. E o único “conceito” que os sucessivos governos têm seguido é justamente o de destruírem todo o poder que nos restava…
·         Alguém saberá o que “eles” querem dizer no vídeo, ao ufanarem-se de terem “estabilizado o orçamento das FA”? Quem descobrir ganha um VW Carocha oferecido pelas finanças!  
·         Gabam-se de terem revisto as leis estruturantes da DN. Mas, ó almas do purgatório, desde 1982, já pararam para fazer mais alguma coisa?
- As sucessivas revisões têm apenas um denominador comum: de um modo geral vão sendo piores umas que as outras e têm-se destinado a reduzir as FA a três militares, um de cada Ramo;
- Depois vai ser ainda necessário racionalizá-lo e redimensioná-los;
- Essas apelidadas revisões têm vindo a destruir toda a doutrina, para além dos valores deontológicos, virtudes e foros próprios da Instituição Militar. Passo a passo, pedra a pedra, até não restar nada.
A próxima revisão do EMFAR está a chegar. Vai ser outro motivo de orgulho…
·         Arranjaram mais clientes para o Arsenal do Alfeite, afirmam.
Mas será que isso tem alguma coisa de extraordinário? Não fará parte da gestão normal da coisa?
Todavia, já meditaram no erro que foi, ter-se retirado o Arsenal à Marinha como já o tinham feito às OGMA relativamente à Força Aérea (no tempo de um governo PSD)?
A ganância de arranjar tachos para a fauna partidária justifica tudo?
·         Regozijam-se ainda, vejam lá, por terem acabado com o Fundo de Pensões dos Militares, pois estava a dar muito prejuízo. Mas não foi também um anterior governo do PSD, que criou o Fundo para compensar outros cortes que tinham feito, nomeadamente no estatuto da reserva?
       E se o fundo era mal gerido que culpa é que os militares têm disso? Mas vão ficar sem ele!
·         Batem palmas a eles mesmos, por terem cancelado vários projectos que sofriam acidentes de percurso, como os helicópteros NH 90 e as viaturas blindadas Pandur.
Acaso os meios já não fazem falta? Foram considerados obsoletos ou com problemas técnicos insuperáveis? Nada disso foi alegado e, de facto, nada disso se passou.
Então porque os cancelaram? Por estarem a correr mal? Mas nesse caso porque não se resolveram os problemas em vez de cancelar projectos válidos e onde já se tinha gasto tanto esforço e dinheiro? Que aconteceu aos responsáveis?
Ou trata-se apenas de poupar na tesouraria mandando às urtigas como têm feito com quase tudo o que, fingidamente aprovam nas leis de programação militar que, até hoje, nunca foram cumpridas?
·         E aquela de estarem todos contentes por terem construído dois Patrulhas oceânicos para a Marinha? Mas foram eles ou o que já vinha do anterior?
E não era para serem oito? Onde estão os outros? É preferível irem gastar mais uns milhões a manterem operacional uma corveta com mais de 40 anos de serviço, como estão a fazer? A construção dos Patrulhas (já nem falo do navio Polivalente Logístico) não podia ter ajudado a salvar os Estaleiros de Viana?
·         E a venda dos 12 F-16, que coisa bem - feita, dizem S. Exas!
Eu chamo-lhes apenas um crime de lesa-Pátria, por razões que já expandi e não vou repetir. Vão ler.
Apenas refiro uma frase do filminho associada a esta decisão: “Portugal é hoje vendedor de material militar”. Afinal há humoristas no MDN, humoristas de humor negro apropriado a uma ópera bufa.
*****
Ainda sobre o pedaço de película, pergunta-se:
Para que serve? Quem o mandou fazer? Quanto custou? Qual a rúbrica de onde saiu o dinheiro para o pagar? Quem o fez?
Haverá mais algum ministério que faça “peças” deste calibre que mais parecem de propaganda eleitoral desenfreada?
O facto de não serem admitidos quaisquer comentários ao filme, tanto no sítio do MDN, como no “Youtube”, revela bem a má consciência de quem autorizou a exibição desta peça inolvidável que, seguramente, irá ficar nos anais da 7ª Arte!
Em jeito de balanço os grandes reformadores elogiam-se afirmando que “outros pensaram e eles fizeram”. Pois podem limpar as mãos às paredes.
*****
Reformar ou restruturar, Senhor MDN (dirijo-me agora a V.Exª por presumir ser o reformador – mor da República), não é chegar a uma função – para a qual não estamos preparados, como é nítido no seu caso – e desatar a partir tudo à sua volta, comportando-se como um elefante numa loja de porcelanas.
Uma reforma só se faz, em primeiro lugar, quando é necessária; depois definindo bem o objectivo e ter boa e reta intenção.
É preciso, de seguida, saber fazer, escolher bem as pessoas para a executar, elaborar estudos, nas estruturas adequadas, definir prazos realistas e alocar recursos. E não esquecer esta coisa evidente de que qualquer reforma necessita de um investimento inicial, o qual irá ser amortizado com os ganhos que se espera ter no futuro.
Ganhos, que no caso das FA, não devem ser apenas no campo financeiro, mas sobretudo no melhor cumprimento das suas missões.
Manda ainda o bom senso, ter sempre em conta o ónus que qualquer mudança sempre acarreta e não querer fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo…
E tendo ainda em consideração que a nível militar a eficácia deve preferir à eficiência e que, tão pouco, as reformas nas FA, são compagináveis com ciclos eleitorais coisa que, imagino, seja para si, Sr. Ministro algo difícil de entender.
Ora se nós transpusermos os passos atrás aludidos para as “reformas” de que nos fala a tal sequência de fotogramas, não conseguimos – mesmo pedindo emprestado a melhor boa vontade ao Professor Marcelo – deixar de atribuir uma classificação de “mau” (o a 4 valores, na escala de 0 a 20) ao citado vídeo. E à intenção que lhe está subjacente.
Sem querer gastar mais cera com tão ruim defunto, direi apenas que aqueles elogiados propósitos em 3’ e 52” de animação, parecem fazer parte de uma farsa Vicentina. Provavelmente do “Auto da Barca do Inferno”…

[1] Escola Prática de Artilharia; Cavalaria; Engenharia; Transmissões, Serviço de Material, Administração Militar e, porque não, a Escola de Tropas Aerotransportadas (ETAT).
[2] LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais – e o que mais adiante se verá!).

terça-feira, 27 de maio de 2014

O PATRIARCA LATINO DE JERUSALÉM E O “MASSACRE” DOS CRISTÃOS

Já há algum tempo que pensava escrever sobre a tragédia por que passam inúmeras comunidades cristãs espalhadas pelo mundo, maioritariamente em países comunistas e islâmicos, nomeadamente no Médio Oriente.
 
Surgiu agora a oportunidade com a visita do Patriarca Latino de Jerusalém, D. Fouad Twal, que este ano presidiu às celebrações do “13 de Maio” em Fátima e foi razão para um pequeno colóquio, em que deveria ser a figura principal, realizado na Universidade Católica no dia seguinte.[1]
Esta organização foi da iniciativa do Instituto de Direito Canónico da citada Universidade, presidido pelo Cónego Doutor João Seabra, uma das vozes corajosas da Igreja Portuguesa e que, em simultâneo, diz coisas acertadas.
O Patriarca de Jerusalém que tem, ainda, a ciclópica tarefa de pastorear as comunidades cristãs, dos mais diferentes ritos, em 16 Estados da região, fez uma curta e sentida intervenção, onde acabou a fazer uma apelo aos portugueses, à sua Igreja e aos órgãos de soberania, para ajudarem e influenciarem os países da UE, na resolução dos conflitos no Médio Oriente e, sobretudo, na protecção e defesa dos cristãos daquelas paragens.
Os quais, como alguém disse durante a sessão, apenas têm contado com a Igreja e a Santíssima Trindade…
De facto a falta de interesse da “Comunidade Internacional” invocada pelo Patriarca – mas Senhor Patriarca o que será isso da Comunidade Internacional? – sobretudo, pelos países de maioria cristã (digo eu), pelas atrocidades que um pouco por todo o lado, têm sido cometidas contra comunidades cristãs, tem sido pasmosa.
No Médio Oriente, por ex., estão todas a desaparecer em virtude das guerras e perseguições que se sucedem sem cessar, que levam a morte e o sofrimento, fazendo com que muitos optem pelo estatuto de emigrante ou refugiado. E nada disto encoraja a procriação…
A falta de protecção política, económica e, até, militar é dramática – para não dizer pouco cristã – já para não falar na falta de interesse, quiçá desprezo, com que a maioria dos OCS do mundo chamado “ocidental” lida com este fenómeno.
Os cristãos, de facto, viraram seres descartáveis que, aparentemente, só terão direito a sobreviver em catacumbas…
Menos se compreende tudo isto, quanto a Cristandade tem dado, desde há muito, a maior abertura e tolerância no âmbito religioso; a Igreja Católica tem sido a única a pedir desculpas por excessos do passado – onde ninguém tem as mãos limpas – e exemplo na aproximação ecuménica e entre religiões; os governos ocidentais, nomeadamente europeus, têm facilitado, até para além do razoável, o estabelecimento e desenvolvimento de comunidades de outras religiões, sem qualquer contrapartida, noutras partes do mundo, nomeadamente muçulmano.
Ainda, quando se constata uma lamentável dualidade de critérios na análise e reacção a eventos que vão acontecendo, como os recentes e graves incidentes ocorridos na Nigéria, com o rapto de duas centenas de moças, por parte de uma organização terrorista islâmica, ilustram à saciedade.
Não existe réstia de comparação quando se queimam cristãos dentro de igrejas, por exemplo…
Note-se que neste caso, das moças raptadas e sob a ameaça de serem vendidas como escravas – um cenário burlesco se não fosse trágico – as primeiras figuras das principais potências ocidentais vieram a público mostrar a sua indignação e prometer ajuda dando, por outro lado, a sensação que estão desejosos de utilizar o pretexto para intervirem na região por outros motivos menos filantrópicos…
Lamentamos ter de desiludir o Senhor Patriarca, mas não antevemos que nenhum país europeu vá em auxílio dos seus irmãos em Cristo, pela simples razão de que a “União Europeia” está moral e espiritualmente destroçada. A UE precisa sim, é que a ajudem a arrumar as diferentes casas europeias, pois não existe casa comum alguma a não ser os "corredores" pouco recomendáveis de Bruxelas e Estrasburgo. Até a sua matriz cristã renegou…
Sabe Senhor Patriarca, a Ordem do Templo foi extinta, sem piedade, há muito, e não se vislumbra em toda a Europa nenhum Bernardo de Claraval para definir uma estratégia comum e concertada.[2]
Permita que o aconselhe a escrever a um tal de Putin, lá para as bandas do antigo Ducado da Moscóvia, pelo menos para a defesa dos cristãos ortodoxos, tem grandes hipóteses de obter sucesso.
Em Portugal, caríssimo Patriarca, as coisas ainda estão piores, sabe!?
Em 40 anos sofremos uma tal e tão catastrófica diminuição de capacidades, a todos os níveis; sofremos uma regressão e perversão tão grande no campo dos Princípios, que mantêm uma comunidade nacional coesa e sã; e estamos tão falhos de liderança política, que o Moral anda pelas ruas da amargura de tal modo que o máximo divisor comum passou a ser o “isto não tem concerto”…
“Isto” costumava ter o nome de Portugal.
Para atendermos ao seu pedido, tínhamos que restaurar, na sua plenitude, as Ordens de Cristo, Santiago e Avis e substituir todos os partidos políticos por elas…[3]
A tarefa como pode imaginar – apesar de compreender que possa conhecer mal o percurso dos nossos nove séculos – não é nada fácil.
É que este estranho povo, a meio da sua História, perdeu-se, isto é, passou a escolher mal alguns caminhos.
Como penso que saberá as Ordens Militares/Religiosas citadas, foram fundamentais para a independência, consolidação e alargamento deste antigo reino; formaram grande parte das suas elites e moldaram muito do seu carácter e da sua religiosidade, ou seja, da sua idiossincrasia.[4]
Por isso sempre foram respeitadas pelos Reis e acarinhadas pelos restantes “braços” do Reino.
Até que um rei, certamente mal avisado, encarregou um frade de reformar as ditas ordens, em 1529, tornando-as orantes, enclausurando-as e retirando-lhes todo o poder que detinham.
Uma outra Rainha, apesar de lhes querer restaurar o prestígio, secularizou-as, em 1789, tentando ainda harmonizá-las e fixar-lhes objectivos específicos; os monarcas portugueses passaram a ostentar a banda das três ordens.
Depois a desgraça consumou-se na sua plenitude, quando no fim da pior guerra civil que o país dos portugueses sofreu, um governo eivado do mais fino jacobinismo, pura e simplesmente extinguiu todas as Ordens Religiosas. Corria o ano de 1834.
Restou o seu carácter honorífico.
Finalmente, a República começou por as extinguir como tal, em 1910, mas reverteu a situação durante a I Grande Guerra, fixando na pessoa do PR, o título de Grão - Mestre das mesmas e a autoridade para as atribuir.
E o pior de tudo, Sereníssimo Patriarca, é que cerca de 95% da população já nem faz a menor ideia daquilo que está para trás. E devo estar a ser optimista.
Deus o abençoe na sua prestimosa tarefa - que se afigura um verdadeiro Calvário - e pode acreditar que o ajudarei de boa mente, naquilo que puder.
Peço-lhe apenas que também deixe cair uma oração por este canto mais ocidental (e não do Sul) da Europa.
Acredite que precisamos.


[1] D. Fouad Twal, de nacionalidade Jordana, ocupa o cargo desde 2008 e é, também Grão - Prior da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. O Patriarcado de Jerusalém foi criado, nos tempos modernos, pelo Papa Pio IX, em 23/7/1847. A Arquidiocese tem sede na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém e jurisdição eclesiástica sobre Israel, Palestina, Chipre e Jordânia. Deve acrescentar-se que apenas existem mais três patriarcas em todo o mundo: Veneza, Lisboa e o Patriarca das Índias Orientais.
[2] Extintos no Congresso de Vienne, em 1311, note-se, por um Papa, Clemente V, que devido às suas fraquezas permitiu que o muito pouco cristão e endividado Rei de França, Filipe IV, o Belo, exorbitasse e concorresse em tal vilania. Felizmente o Rei D. Dinis iludiu esta directiva, transformando o Templo em Ordem de Cristo, em 1319.
[3] A Ordem dos Hospitalários teve origem em Jerusalém, em 1099, e a sua primeira casa em Portugal, em Leça do Balio, estabelecida entre 1122 e 1128. O seu Superior no nosso País era conhecido pelo Prior do Hospital e desde o reinado de D. Afonso IV, por Prior do Crato. É conhecida hoje em dia, por Ordem Soberana e Militar de Malta, tendo a sua sede em Roma.
[4] As Ordens Militares conheceram o seu maior desenvolvimento na Idade Média tendo obtido grandes mercês dos nossos primeiros reis, e ainda no século XV. O preclaro Rei D. Dinis “nacionalizou-as”, de modo a garantir que todos os Grão-Mestres fossem portugueses; D. João I começou a torna-las reais, processo que ficou concluído com D. Afonso V.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Novas sobre o julgamento que me opõe ao Conselheiro de Estado Sr. Manuel Alegre

Na última sessão foi "apreciado" o pedido do assistente em arrolar quatro novas testemunhas (uma delas faleceu entretanto). Este pedido, apesar de ter sido interposto intempestivamente e de ir ferir a norma de que as testemunhas de acusação devem ser ouvidas em primeiro lugar, do que as de defesa, foi aceite pelo Tribunal.
 
Deste modo, no próximo dia 28 de Maio, pelas 10:30, estão previstos testemunhar os Dr. Fernando Rosas, conhecido político do BE;  o Dr. António Reis, antigo Grão-Mestre da Maçonaria do GOL e o C.M.G. José J. Abrantes Serra.

ABENÇOADO

O FIM DA TROIKA

Tentemos juntar o que poucos disseram, se é que alguns (enfim, não posso garantir a 100%).
Singela e resumidamente:
Há mais de três anos, um governo do PS em estado de negação e mentiroso compulsivo, entrou em perda e, finalmente – com um empurrão da banca e um rebate de consciência do então Ministro das Finanças [1] - pediu um resgate financeiro.
“Resgate” é apenas um eufemismo dos tempos, que significa pedir ajuda financeira para evitar uma bancarrota em toda a sua crua dimensão.
Dos desatinos que levaram a isto não vamos hoje falar, pois são demasiado conhecidos embora, sobre eles, ninguém até hoje tenha assumido responsabilidades, tão pouco pedido desculpa, sequer ter afivelado um ar compungido.
Forçado pelas conjunturas escolhidas do anterior – diz-me com quem andas dir-te-ei quem és – em vez de irmos pedir dinheiro ao Japão, ao Irão, à China ou ao Sultão do Brunei, ficámos pelos vizinhos europeus consubstanciados no BCE (euro “oblige”); a Comissão Europeia (que não é a mesma coisa, mas quase), e o FMI onde manda o dólar, isto é, quem controla os EUA – o que pouco tem a ver com o Governo americano…
Acordou-se, isto é, aceitou-se, um empréstimo de 78 mil milhões, com juros algo leoninos, e respectivas condições: ou seja, uma dose brutal e experimental de austeridade (experimental por não ter ainda sido testada num país do 1º mundo – nós fomos as cobaias juntamente com a Grécia e a Irlanda).[2]
O actual executivo que foi implementando a coisa (o anterior foi entretanto corrido, por indecente e má figura) tem mostrado estar absolutamente impreparado para o governo da cidade.[3]
A impreparação junto com as necessidades prementes de tesouraria fez com que o Governo passasse a aplicar cortes cegos em tudo o que mexia e não trazia complicações de maior, provocando uma contracção abrupta do consumo, falências e despedimentos em série e incapacidade para cumprimento de encargos financeiros das famílias e empresas, em catadupa.
O desemprego tornou-se dramático e dramáticas são as suas consequências.
Ocorreram ainda dolorosos cortes no chamado estado social consubstanciado na Saúde, Ensino, prestações sociais e reformas, estado social, aliás, que vivia há longos anos muito acima da capacidade da economia em o sustentar, estando afundado em dívidas e muito má gestão. Para ficarmos por aqui.
Tudo foi sendo acompanhado de muita agitação política e social, ruído mediático, avalanche de notícias e desencontro constante entre números, promessas, diagnósticos, atoardas, demagogia barata, etc.
Se entendem que isto é o que deve passar numa “democracia”, pois quem sou eu para contestar…
De avaliação em avaliação, lá se chegou à última em que a “Troika” decidiu abandonar o país com uma saída “limpa”, isto é sem necessidade de um segundo resgate e sem medidas “cautelares”. Mas, abandonará mesmo?
Pelo que se ouve dizer, a saída é limpa mas continuarão a existir “mecanismos” de controlo durante muitos anos…
Quem apoia o governo engalanou em arco; o PS dá uma no cravo e outra na ferradura (tem-se portado como uma “barata tonta” em todo este interlúdio) e a extrema-esquerda vai mantendo o discurso do bota abaixo, usual.
Nada disto é sério.
Vejamos para que serviram os 78 mil milhões, alguém sabe?
Vão apresentar contas de como o dinheiro foi gasto?
Aparentemente os euros (os milhões relativos aos juros, ficaram logo retidos na fonte, à cabeça) foram gastos para pagar salários; dívida e juros de dívida; 12 mil milhões foram destinados para ajudar a banca, mas parece que a verba não foi toda gasta, já que houve grande relutância nalguns bancos, em quererem aceitar as condições do governo.
Não se tem conhecimento, todavia, de que um único euro tenha sido empregue em investimento ou em qualquer coisa que garantisse uma mais-valia futura.
Ou seja, a austeridade apenas serviu para diminuir o “deficit” orçamental – o que não é de somenos – e os 78 milhões, serviram de almofada para empurrar a crise com a barriga para a frente de modo a garantir (esperançosamente) que os juros de quem nos emprestava dinheiro baixassem para valores aceitáveis e não fossem considerados usura.
Lembra-se ainda que, durante todo este processo não se deixou de pedir dinheiro emprestado e o serviço da dívida não parou de aumentar…
Em súmula os 78 milhões apenas compraram tempo à custa de nos terem feito aumentar o peso da dívida.
Continua a ser um excelente negócio para os credores e nós ficámos agarrados como “escravos” para tempo indeterminado.
Desde o início, porém, que o Governo:
  • E as forças políticas que o apoiam, não estruturaram e apresentaram objectivos políticos faseados no tempo, nem qualquer estratégia para os alcançar;
  • Legislou amiúde contra a lei fundamental do país (a Constituição) o que resultou em frequentes choques com o Tribunal Constitucional;[4]
  • Nunca deu o exemplo (aquilo de viajar em turística foi um flop sem importância e sem continuidade), o que seria fundamental para a sua credibilidade e para conseguir levar “alguém” atrás de si;
  • Apenas conseguiu fazer acordos pontuais com os parceiros sociais e algumas vezes nem os cumpriu;
  • Não se atreveu a cortar na PR, AR, Gabinetes de Ministros, Autarquias nem em nada que pudesse “lesar” os serventuários dos partidos;
  • Manteve no essencial, a pouca vergonha da miríade de conezias ligadas às Swaps, PPPs, institutos, fundações, etc., etc., o que apesar de se falar e falar sem fim, nada de relevante acontece (afinal para que serve a tão apregoada liberdade de expressão?).
Deve ter-se ainda em conta que:
  • O Ministério Público não consegue fazer condenar quase ninguém, face à onda de corrupção e destrambelhamento que alastrou pelo país, faz décadas (todo o sistema de justiça está montado para não funcionar e ninguém quer ver isto!);
  • As verdadeiras gorduras do Estado que têm dado origem a copiosos escândalos, nunca foram atacadas de frente (nem de cernelha…);
  • O Governo mostrou-se incapaz de reformar o Estado limitando-se a cortar nos reformados, despedir funcionários públicos e a destruir as Forças Armadas (também quiseram dar um nó nas Forças de Segurança, mas não se estão a sair bem da tarefa);
  • Os órgãos de soberania deixaram-se “infiltrar” por elementos que estão ao serviço de interesses, que de portugueses não têm nada;
  • O Governo e o Parlamento tomaram atitudes de confisco, que os comparam a autênticos salteadores de estrada, que fazem o Zé do Telhado parecer um menino de coro;
  • Permite-se e alimenta-se uma Comunicação Social onde, na prática, quase tudo é permitido;
  • Induziu-se na opinião pública que em Política é “normal” e faz parte do “sistema” mentir; ser troca-tintas; vira casacas; dizer uma coisa e fazer outra; misturar favores, apoios e negócios; ter falta de vergonha e todo um conjunto de comportamentos aberrantes, enfim tudo aquilo que o cidadão minimamente honesto repudia e não aceita, nas relações sociais!
No fundo os políticos vivem na porcaria e na chicana e os cidadãos passaram a achar que isso é “natural” – para políticos… Mas a percentagem de quem vota no âmbito do actual sistema, ainda é elevada.
Ganhámos em tudo isto, uma espécie de “saco azul” financeiro que o Governo veio prestes dizer, que se trata de uma reserva para algo que possa correr mal, mas que nós só iremos acreditar se não virmos esbanjar a dita, na caça aos votos para as próximas legislativas.
Finalmente os incansáveis homens e mulheres que se embrenham no que entenderam ser fazer Política, não se contêm e exalam verborreia por todos os poros. Não perceberam ainda – o que revela já uma profunda falta de inteligência e senso – de que se falassem menos, acertavam mais, e retiravam à oposição o comburente por onde se alimentam evitando, em simultâneo, o ruído mediático cacofónico o que seria um descanso para o espirito de todos nós e um regalo para a alma.
Irra que já não se suporta!
No fim desta etapa o País está mais pobre e os “mercados” satisfeitos; quem se portou mal, recompensado; a população de gatas; a Soberania esvaída; a Nação portuguesa em suicídio militante.[5]
Investimento para o futuro não se vislumbra ao passo que um conjunto de empresas essenciais para o país, mudaram para mãos estrangeiras; a finança apropriou-se de uma quantidade enorme de bens, cujos proprietários endividados deixaram de poder pagar, e uma parte não contabilizada de ouro e joias das famílias portuguesas, foram derretidas e exportadas.
A partir de agora quem controla o capital já pode abrir a torneira do crédito e dar-se início a um novo ciclo de “expansão, contracção, recessão”.
E não parece ter-se aprendido nada.

[1] Aparentemente um homem sério que se deixou arrastar por maus caminhos e companhias, até descarrilar. E não parece que o então PM lhe tenha, até hoje, perdoado o seu rebate de consciência…
[2] Na Islândia a manobra aparentemente, correu-lhes mal, por isso nada se fala…
[3] Os Partidos Políticos Portugueses – com excepção do PCP, insiste-se – têm-se revelado as entidades mais incapazes para lidarem seja com o que for e ainda ninguém conseguiu ou quis explicar isto na televisão. Para nossa infelicidade o PCP, sendo o único capaz, defende uma doutrina incompetente, anti - natural e com implementação sanguinária sempre que foi tentada.
[4] A vinda da “Troika” foi, aliás, a primeira medida anti constitucional…
[5] Por via da demografia negativa, emigração e imigração…

sexta-feira, 16 de maio de 2014

FILME FÁTIMA NO MUNDO

 

FORÇAS ARMADAS/GOVERNO: AINDA A PROPÓSITO DO CASO DOS 99 PILOTOS

Desde o Antigo Egipto, seguramente desde os Caldeus/Assírios, passando pelos Medos/Persas, que as coisas se passam de modo parecido, quase igual.

A natureza humana não evoluiu muito e não aprende mesmo…
Em síntese é assim:
Em todas as épocas surgem problemas. Como, por norma, não são atacados atempadamente, pioram. Num dado momento existe um qualquer problema que se destaca pela sua gravidade; na sequência surgem outros.
Os responsáveis, também por norma, ignoram, menosprezam, não percebem que o problema é mesmo um problema, assobiam para o lado, ou não estão para se maçar.
Na vida militar as coisas não se passam de maneira diferente, mas como quem por lá milita, possui armas e um treino específico e único, a coisa tende a ter consequências mais graves.
O (s) problema (s) começa (m) por afectar um grupo restrito de pessoas, passando a haver um mal-estar localizado. Outros que sabem, ficam na expectativa, pensam duas vezes e se não se sentem afectados, dormem para esse lado.
O tempo passa, o (s) problema (s) piora (m); alarga-se o espectro dos afectados; o mesmo sucedendo com o conhecimento e consciência do que vai ocorrendo e suas consequências.
A hierarquia repousa na sua inércia e no “conservadorismo” das coisas, tentando passar nos “intervalos da chuva”, sentindo-se satisfeitos com algum alerta expedido e, ou, ensaiando o politicamente correcto, ou seja pegar no pedaço de merda pela sua parte mais limpa…
Alguns, porém, reagem mas, por norma, são ignorados ou prejudicam-se.
A velha fórmula repressivo/passiva.
Quando os problemas se agravam verdadeiramente, ainda sobrevêm fenómenos típicos a saber: a existência do estado de negação; passar a viver-se com os pés a 30 centímetros do solo e a fuga para a frente.
Na fase terminal ocorre o desnorte completo e a inanidade psicológica.
Querem um exemplo? Foi o que aconteceu ao Governo de Marcello Caetano, cerca de um ano antes do 25 de Abril.
*****
Quando os problemas começam a afectar uma parte alargada de cidadãos, acaba sempre por surgir uma liderança qualquer (é dos livros) que começa a organizar uma estrutura para se opor ao “status quo” e encontrar soluções para o (s) problema (s), por norma contra quem não os quer ver ou resolver e à margem ou à revelia das regras ou leis existentes.
Ou seja, o “caldo de cultura” para algo acontecer, que devia ser evitado, está criado.
Colhe-se da experiência histórica que, a partir daqui, entra-se num movimento uniformemente acelerado para surgir qualquer coisa fora das normas instituídas para a época, e que tal vai ter custos mais ou menos acrescidos.
Apesar das evidências de haver uma liderança – à partida clandestina – que começa a estruturar-se, a criar objectivos, doutrina para os sustentar e máximos divisores comuns, a hierarquia do “establishment” faz por ignorar o que se passa, sem embargo de tentar espiar o que se passa.
É quase como que inerente à natureza humana e tem causas várias, como por exemplo a ignorância, desleixo, má avaliação, menosprezo, cobardia, numa palavra, medo.
Medo de tudo, que culmina no medo da própria sombra.
A partir daqui quem está, está na defensiva e diminuído; quem está fora está na ofensiva e tem a iniciativa e a surpresa do seu lado. Por norma ganha.
Quando e se, os responsáveis começam a reagir, já tarde, fazem-no reprimindo, o que faz aumentar a tensão em vez de a aliviar. Neste ponto é usual deflagrarem incidentes vários.

Se, por outro lado, cederem demasiado nunca mais vão parar de ceder e perde-se o respeito.
No fundo a velha fórmula de Brito Camacho: “é preciso obrigar o governo às cedências que rebaixam e às violências que revoltam”…
Chegamos então, ao limiar de qualquer coisa à fronteira da confrontação.

Até que um dia, uma acção, um incidente, uma tomada de posição menos ponderada – o que ninguém sabe prever exactamente – funciona como ignidor.
É como o “triângulo” do fogo… [1]
O 25 de Abril de 1974 é, neste aspecto também, exemplar: o ignidor foi o decreto-lei nº 353/73, de 13/7, assaz conhecido, mas convenientemente esquecido.
De seguida a anarquia e as piores emoções da natureza humana soltam-se já que, também por norma, não se pensa no dia seguinte. E o dia seguinte é que é o diabo…
Quando a ocorrência se dá – seja ela qual for – aparecem de imediato uns iluminados a dizer “estava-se mesmo a ver”, alguns dos quais com avantajadas responsabilidades no que se passou…
Sem embargo de só se terem tornados evidentes depois de ocorrerem…
Outros, certamente videntes, reputam o ocorrido de “inevitável” - sem nunca terem feito nada para o evitar...
Nem eles sabem bem o que dizem pois “inevitável” é a gente morrer. E mesmo assim, só para quem não acredita na Ressureição.
Aguarda-se, em jubilosa esperança, os resultados dos próximos capítulos das actuais novelas.
Pois começa a haver várias em desenvolvimento.


[1] Ou seja, para haver fogo é necessário existir oxigénio, um comburente e um … ignidor!

sábado, 10 de maio de 2014

Parabéns Sr. Ten. Coronel MARCELINO DA MATA pelos seus 74 anos

 

O PM, AS VACINAS E MIGUEL SOUSA TAVARES

A propósito da recente visita do Primeiro-Ministro ao Hospital das Forças Armadas (sabe-se agora que se ia vacinar), e do que escrevi sobre tal facto, fui reler o artigo abaixo publicado em 14/4/2010, que vos recomendo, apesar de ninguém ser bom juiz em causa própria...
 
Clicar abaixo para ler o artigo

sábado, 3 de maio de 2014

FORÇAS ARMADAS E GOVERNO: O ESTADO EM DESAGREGAÇÃO

Passos Coelho e Aguiar Branco
Escrevemos no dia do trabalhador. É, em simultâneo, um modo de trabalhar e de intervenção cívica, apesar de ser feriado…

Na sequência da visita do Ministro da Defesa (MDN) à Base Aérea 6, no Montijo, no pretérito dia 28/4, foi divulgado nos meios da Comunicação Social (OCS), a notícia de que 98 (na realidade 99) oficiais pilotos aviadores (cerca de dois terços do efectivo) tinham aderido, em bloco, à Associação de Oficiais (AOFA).[1]
O “frisson” causado, nada tem a ver com qualquer irregularidade, mas sim pelo seu significado. Significado esse, por sinal, ignorado pela generalidade desses mesmos OCS, sem dúvida alguma, prosélitos e praticantes das mais elementares regras democráticas e da liberdade de expressão.
Eis uma síntese rápida ao correr da pena.
O MDN foi visitar a BA 6, a fim de mostrar serviço com a ida de um C-130 Para a República Centro Africana, no âmbito de uma missão da União Europeia e também assistir ao aniversário da Esquadra 751, que opera os sofisticados helicópteros EH 101 e que passa por uma crise de falta de pilotos e qualificações adequadas (aliás, todas passam).
Estas dificuldades já estão a pôr em causa o cumprimento de uma missão da FA – que extravasa o país: a Busca e Salvamento.[2]
Propositadamente ou não, o que é certo é que alguns oficiais conversaram com jornalistas e deram-lhes conta de algumas das dificuldades existentes, enquanto o MDN era confrontado com um discurso duro do Comandante da Esquadra 501, sobre a prontidão das aeronaves, manutenção, treino e segurança de voo, e outros, que se arrastam há muitos anos e como é lógico, não deixam de se agravar com o passar do tempo e a muito errada actuação política para com as FA.[3]
Actuação, ainda agravada por dissidências corporativas entre os Ramos, falta de estratégia comum das chefias militares (onde se incluem os Conselhos Superiores) e alguns erros e ambições pessoais avulsos.
Tudo se traduzindo numa paz podre reinante, a que um falso discurso de “tranquilidade” tenta tapar, como a peneira tapa o sol.
Livrou-se, ainda, o MDN de ouvir outro discurso duro, por parte do Comandante da Esquadra 751, não fora o texto sido atempadamente “censurado”.
Por “feliz” coincidência foi tornada pública a adesão dos citados 99 oficiais à AOFA – e outras estão previstas (o MDN foi apanhado desprevenido) o que, aparentemente, começou a ser preparado desde o último encontro de oficiais, no ISCTE, em 22/2/14.[4]
Independentemente das várias leituras possíveis para esta adesão, uma salta à vista desarmada e é indesmentível, trata-se de um atestado de desconfiança às chefias militares, passado com luva branca (mas que não deixa de ser um murro no estomago).
Significa simplesmente que deixaram de acreditar na cadeia hierárquica e que passaram a sua esperança de resolução de problemas para a AOFA.
A qual de facto, e independentemente da evolução da sociedade e dos tempos, só tem razão de existir pela falta de defesa dos homens e da própria Instituição Militar (IM), que deixou de ser cabalmente feito, sobretudo a partir da data em que as chefias militares passaram a ser exclusivamente escolhidas pelo poder político. [5]
Como pano de fundo, que já vem de longe, temos o ataque contumaz ao estatuto da condição militar; a redução sistemática das FA á inanidade operacional e da IM, à cota zero da sua representação política e inexpressividade social.
Não se tem olhado a meios para conseguir tudo isto, e nesse objectivo nenhuma força política tem as mãos limpas.
Na actual circunstância e no que toca concretamente aos pilotos, tudo – e é muito - se pode sintetizar numa frase: Há cerca de três anos, que se passou a colocar alferes tirocinados, isto é acabados de receberem as asas, a voar… secretárias!
E todos – agora já se engloba todos os militares dos três Ramos das FA e GNR – vivem na angústia do próximo EMFAR, de que ninguém sabe nada, já que nada transpira (e há muito que a confiança se exauriu) e que, por sinal, está a ser cozinhada por alguns seres que os bons chefes de família, não convidariam para se sentarem à mesa com eles. Por isso está a suscitar oposição das partes sãs do processo.
E sobre o futuro EMFAR, arrisco um prognóstico: se não for atalhado, a versão final irá ultrapassar tudo o que de pior se possa pensar.
Será o fim do que resta das FA, como instrumento militar de qualquer valia; a sua funcionalização completa e, até, a sua partidarização.
*****
Estávamos nisto quando S. Excelência, o Senhor Primeiro Ministro (PM) se apresentou, no dia 29/4, à porta de armas (que também arrisco dizer, ele não ter a mínima ideia do que seja ou represente), do Hospital das FA (HFAR).
Identificado pela “sentinela”, logo disse que não queria falar com ninguém, que estava ali como um cidadão qualquer (o Dr. Sá Carneiro, em tempos idos, também se arvorou nisto e meteu-se, de qualquer maneira, dentro de uma aeronave em mau estado e acabou por não sobreviver para contar o que sucedeu).
Sem embargo, claro, de se fazer acompanhar por motorista oficial e membros da segurança.
O atrapalhado militar – quando havia tropa a sério, o PM, não saía do local sem o oficial de dia (parece que agora é um “graduado de serviço”) o acompanhar ao comandante – lá informou quem lhe competia e a informação acabou por chegar ao Comando da FA, em Alfragide, tendo a mesma sido ignorada. Creio que bem.
De facto a informação chegou lá por inércia, isto é, o Comandante da Unidade de Apoio ao HFAR ainda é oficial da FA, mas este Ramo já não manda no complexo, apenas ainda lá possui subunidades suas.
Mais estranho é, aparentemente, que o único a saber da visita do PM, perdão do cidadão Passos Coelho, ter sido o Director do Hospital, o qual também se terá “esquecido” de informar o seu chefe hierárquico, ou seja o CEMGFA.
O qual, por sua vez, também achará “natural” a ocorrência e estará “tranquilo”. Tanto mais que, em boa verdade, nada obrigaria o Director do HFAR – a não ser o bom senso – a dar essa informação, dado que o MDN fez um despacho determinando que “nesta fase de transição” o dito Director dependia dele!
E, já agora, porque é que o policia da Porta d’Armas, o oficial de dia, ou lá o que seja, e o Comandante da Unidade de Apoio (outro nome que nada tem ver com a terminologia militar), etc. têm que se preocupar com estes “pormenores” de segurança, hierarquia, regulamentos militares, ética, etc., quando o PM quer passar despercebido e tem comportamentos destes? (o Hollande, em França, também quis passar despercebido e vejam o que lhe aconteceu…).
E que pensar quando o MDN chamou a uma unidade militar (o HFAR e restantes) um “Campus de Saúde”? Talvez ainda um dia lá façam o “Rock in Rio”…
Resta pois saber o que S. Exª lá foi fazer, será que foi verificar como corre a linda obra do seu ministro, ou virou beneficiário da ADM?[6]
*****
Por fim e a propósito, quando o CEMFA soube desta “visita” estava de abalada para S. Julião da Barra, para um encontro com o SACEUR, o General Philip M. Breedlove. [7]
Este, no fim, veio informar o país, de que a FA ia comandar uma força no Báltico, com seis F-16, em Junho (se ainda os houver), numa operação da NATO – com a crise da Ucrânia por fundo.
Pergunta-se: então já não bastava ter a “Troika” a fazer conferências de imprensa em Lisboa e ainda temos que vir a saber, por um general americano, o que compete ao governo, ou às FA Portugueses, informar?

O Estado Português não está a desagregar-se. Já está desagregado.


[1] Mais concretamente, quatro majores e 95 capitães e subalternos.
[2] A prontidão do Helicóptero que está em Porto Santo, por ex., está afectada, pois não existe piloto comandante disponível para lá colocar. Prevê-se que vai de “Falcon” quando houver uma emergência…
Aguarda-se a explosão de alegria que o Dr. Alberto João vai ter quando souber. Esperamos que seja o MDN a dizer-lhe, pois a responsabilidade é dele… (e não dos chefes militares).
[3] O Comandante da Esquadra 501 foi entrevistado, mais tarde, na TVI 24, e falou durante mais de 10’. Mas como não é jogador de futebol, estrela de rock, ou bombeiro voluntário, a explicar porque é que um fogo se reacendeu “N” vezes no mesmo local, só teve direito a 30 segundos de fama…
[4] Para esta reunião estavam previstos aparecerem cerca de 300 oficiais, mas estiveram 700, mais de100 dos quais, no activo. São dados relevantes.
[5] Esta defesa, juntamente com o cumprimento da missão e da coesão e moral das tropas, é um dever inalienável de qualquer comandante.
[6] ADM – Assistência na Doença aos Militares.
[7] SACEUR – Supreme Allied Comander Europe - Comandante Supremo Aliado na Europa.