domingo, 8 de março de 2020

A Melhor Unidade Militar das FA Portuguesas




 Pelas 10:00 teve hoje início o desfile comemorativo do 3 de Março, data do aniversário do Colégio Militar. Faz este ano 217 primaveras.
   Infelizmente - e não sei se não houve algum excesso de zelo - a missa que se lhe costuma seguir foi cancelada, devido à ameaça do "corona virús", epidemia cuja história me parece muito mal contada.
    Por altura do seu 189º aniversário escrevi o texto que junto e que na altura espelhava já a realidade das Forças Armadas Portuguesas. 
    O texto apesar de premonitório, fica bem àquem daquilo que foi acontecendo daí para cá ( já lá vão 31 anos) dado que a Instituição Militar está no limiar da sua sobrevivência, num processo inaudito que não encontra paralelo em toda a sociedade portuguesa e sem que tal estado, a caminho do caótico, preocupe qualquer sector da sociedade (incluindo grande parte dos militares) ou tenha qualquer reflexo público, a não ser um ou outro acto isolado e nunca continuado no tempo.
   O CM apesar dos ataques que tem sofrido, lá se vai aguentando e até aumentou o seu efectivo (conta agora com cerca de 550 alunos), sobretudo derivado do facto de terem encerrado à força o notável Instituto de Odivelas. Mais um "crime de lesa Pátria". 

    Cumpts
   Brandão Ferreira






A MELHOR UNIDADE DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS
Março de 1992

    Não fui menino da Luz. Sem embargo aprendi há muito a conhecer o Colégio. Não apenas as suas paredes vetustas, significativamente antiga Casa dos Cavaleiros de Cristo, mas a divisar-lhe a alma, a entender-lhe a forma e olhar à volta a fim de discernir o seu entrosamento com a Nação.
    O Colégio Militar vai a caminho de 200 anos. [1]
    Numa Nação com quase nove séculos de existência, começa a ser uma idade provecta (e há muito poucas nações com nove séculos…). Sobretudo se atendermos ao carácter efémero do muito que se passa na sociedade portuguesa.
    Nasceu para garantir guarida e educação aos filhos dos oficiais do Exército e Armada Reais, já que os seus afazeres profissionais, em muitos casos, não lhes permitiam manter uma vida familiar normal e estável. Era seguro amparo para os órfãos cujos pais perdessem a vida ao serviço da Pátria e constituía-se em alforge de vocações para os que, mais tarde, quisessem seguir a carreira das armas.
    Estes objectivos mantem-se hoje, mas os acolhidos no seu seio, alargou-se a toda a sociedade. É um estabelecimento de ensino único no país.[2] A vida é dura e austera, para os mais de quatro centenas de jovens que constituem o Batalhão Colegial.
    Este Batalhão é a melhor unidade militar das Forças Armadas Portuguesas. Há muitas razões para isto.
    O Batalhão está devidamente comandado e enquadrado. A hierarquia funciona e estão definidas linhas claras de autoridade.
    Respira-se disciplina.
    Existe uma organização e as regras estão bem definidas.
    O Batalhão é um Batalhão. Isto é, tem os efectivos adequados. Todos dispõem de armamento e equipamento necessário.
    O Batalhão tem Princípios, Símbolos e Código de Honra. Tem missões bem definidas: estudar, formar Homens, manter a chama colegial e preservar as tradições.
    Cultiva as virtudes militares e humanas.
    O Batalhão desfila com garbo e tem “panache”. O Moral do Batalhão é bom.
    O Batalhão não se limita a Estar. É.
    A missão é cumprida porque a avaliação dos resultados demonstra que estão acima da média.
    A vida no Colégio liga o ressente ao passado e projeta-se no futuro. Os rapazes são ingénuos, têm ideais, sonham. Toda a utopia é possível. Por outro lado, vivem, trabalham e movimentam-se, segundo uma ordem formal. Esta ordem liberta mais do que oprime. Sabem onde estão e para onde vão. O sentido de justiça está vivo e flui com a generosidade e as convicções da juventude – uma falha neste campo destrói o equilíbrio vivencial e tem que ser ultrapassada rapidamente.
    A vida do Batalhão Colegial não está enfeudada a grupos ou interesses pessoais. Não se orienta pelo vil metal. O Batalhão é único e tem Portugal por referência.
    A força do Batalhão antecede-o e está para além dele. O elo da barretina é para sempre.
     A cerimónia religiosa que culmina as comemorações anuais de aniversário é a síntese telúrica, a reflexão interior, o bálsamo tonificante.[3]É o Portugal profundo que se encontra. Mesmo quando a sociedade à sua volta está doente.
    Portugal precisa de Zacatraz.[4] Zacatraz não pode abandonar Portugal.
                                                                       
                                                                  João José Brandão Ferreira
                                                                     Oficial Piloto Aviador



PS. Artigo publicado no jornal “Centurião” (da capelania – mor das Forças Armadas), nº 2 de Março/Abril de 1992.
                                                          *****
    Ficou muita gente incomodada com este artigo. Vá-se lá saber porquê!...
    Sempre defendemos o Colégio Militar, ou melhor dizendo os Colégios Militares. Eles são instituições com muitos anos e provas dadas. Podem parecer anacrónicos para muitos, eivados de tecnocratismos modernos, despidos de noções de espiritualidade, para quem Deus é o dinheiro. Vários ataques a estas instituições têm sido preparados nas últimas três décadas e os constrangimentos financeiros das Forças Armadas tornam cada vez mais difícil manter estas escolas de excelência.
    Mas há que o continuar a fazer. Nem tudo se pode reduzir a patacos.
PS. Nota que escrevi no livro “À Frente do Tempo”, da Prefácio , Lisboa, 2008, onde o artigo vem transcrito.


[1] Foi fundado em 3 de Março de 1803, pelo Marechal Teixeira Rebelo.
[2] Juntamente com o Instituto Militar dos Pupilos do Exército e Instituto de Odivelas.
[3] Uma missa militar de grande elevação, no ambiente algo irreal e etéreo, da Igreja de S. Domingos.
[4] Grito do Colégio.

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