quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O SISTEMA POLÍTICO E O COMPORTAMENTO DOS PARTIDOS

“O público, como todos os soberanos, como os reis, os povos e as mulheres, gosta que se lhes diga a verdade”.

Alexandre Dumas

Novamente grande discussão por causa do Orçamento para o ano que vem. Ameaça de crise política, previsões de catástrofe, dialética em catadupas. Não passamos disto. Aliás o orçamento não é a causa, é apenas o pretexto. Podia ser outra coisa qualquer.

Vejamos:

O sistema político democrático – como é entendido no Ocidente e em Portugal – assume na sua doutrina, que os Partidos Políticos (PP) são “estruturantes” da Democracia. Ou seja sem PP não há Democracia. Não vamos hoje discutir este “entendimento”, mas observar o comportamento dos ditos partidos, um nome, aliás, assaz infeliz.

Devemos começar por fazer uma pergunta e responder-lhe; para que servem os PP, qual o seu objectivo primordial? Pois o objectivo número um – e ao qual todos os demais se subordinam – é tomar o Poder e mantê-lo.

Como o Poder – nas democracias – é legitimado pelo voto popular, segue-se que a maioria, senão a totalidade, do esforço de qualquer PP se resume a tentar convencer o eleitorado a votar no seu programa e nas suas figuras de proa.

Se os partidos existentes que se reclamam da doutrina marxista-leninista – que prevê a via revolucionária para a tomada do poder (na verdade qualquer via…) – se dedicam à subversão da sociedade ou do Estado e mantêm capacidades para serem usadas nesse âmbito, é assunto de especulação, normalmente à boca pequena, pois raramente estes temas são abordados nos liberalíssimos órgãos de comunicação social.

E, de facto, se o objectivo primeiro dos PP, não fosse conseguir o Poder, não se justificava a sua existência. Manter o Poder é, a seguir, a tarefa fundamental, pois permite alargar a sua influência e distribuir lugares e prebendas pelos seus filiados (de que existe uma sofreguidão insaciável), condição sine qua non para garantir alguma lealdade canina nas hostes, sem o que despontarão “tendências”, “dissidências”, “alas críticas”, “renovadores”, etc., sempre efusiva e democraticamente saudadas, mas que constituem uma dor de cabeça que enjoa qualquer dirigente partidário, só de pensar nelas.

Ora quem está no Poder, não o quer abandonar e, por isso, fará tudo por lá se manter. A primeira coisa que faz é ocupar o maior número de lugares possível; depois tenta arranjar maneira de condicionar a comunicação social e arranjar uma parafernália enorme de propaganda e relações públicas; na sequência destribuem negócios pelos amigos, verdadeiros ou putativos – isto é fundamental para garantir apoios e aumentar os réditos do saco azul partidário; a seguir começam a mentir - leia-se Alexandre Dumas – até porque as pessoas, de um modo geral, gostam que se lhes minta (só aceitam a verdade em tempos de catástrofes extremas…).

O início das promessas começa aqui. Como é preciso garantir o voto, é só facilidades, mais direitos, mais obras, mais subsidios, quiçá a lua. Ninguém quer ouvir falar em sacrifícios, deveres, trabalho, disciplina, organização, hierarquia, restrições, etc.

A partir daqui a economia definha, os costumes relaxam-se, o crime aumenta, a corrupção instala-se. As crises internacionais e os “azares” que sempre acontecem, agravam o descalabro.

Finalmente, como não sabem fazer mais nada senão isto – o sistema parece que não se regenera – começam a pedir dinheiro emprestado. A partir daqui está tudo estragado e é uma questão de tempo para ser o próprio regime a ser posto em causa.

Vejamos agora os partidos que estão na oposição. Como o objectivo é, recorda-se, chegar ao Poder, têm que ser contra (até por princípio!), o governo em funções,suportado por um ou mais partidos; têm que o desacreditar, apresentar soluções diferentes, etc. Tudo isto resume-se, por norma, numa política de bota abaixo e em fazer demagogia, abusando das promessas. Quem tem meios para isso, provoca greves, cortes de estrada, manifestações nas ruas e campanhas de propaganda. Os mais fundamentalistas põem bombas.

Quando, após mais uma campanha eleitoral, longa, desgastante e cara (e com o uso e abuso, as pessoas já não as suportam!), a oposição chega ao Poder, faz exactamente o que os anteriores fizeram com algumas nuances de circunstância, ou novidades de marketing. A seguir pede mais dinheiro emprestado.

Andamos nisto desde 1820, com um intervalo de 48 anos, e várias guerras civis, pelo meio.

Quando o dinheiro emprestado, normalmente usado no pagamento da dívida e não em investimento reprodutivo, atinge uma certa soma, o descalabro financeiro passa do endividamento na razão aritmética, para a geométrica e a seguir para o crescimento exponencial.

Ora nenhum partido está em condições de inverter esta tendência não só porque é contra a lógica de funcionamento do sistema (como se pagariam as promessas?), como a oposição não permitiria. Só haveria “solução” se houvesse um amplo consenso partidário e aceitassem governar juntos. Ora isso é, justamente aquilo que, novamente, a lógica do sistema mais repele, porque uma vez (por hipótese), isso conseguido, deixariam de ser necessários os partidos… Os tais que são estruturantes da Democracia.

Como casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, e a fome é má conselheira, diz o povo, não o Dumas, podem os leitores fácilmente ajuizar, onde é que tudo isto se arrisca a descambar, após uma palete de confusões e desgraças, que hão-de suceder no entretanto.

Pôr as barbas de molho talvez não fosse má ideia.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

UMA HISTÓRIA DA HISTÓRIA

SAR D. Manuel II, pintado por José Malhoa
No fim do dia 25 de Setembro de 1910 o jovem rei D. Manuel II estava contentíssimo.

Acabava de regressar do Buçaco onde assistira às comemorações da memorável batalha que se travara contra os franceses naquele mesmo local, em 1810. Cem anos antes.

O seu contentamento, quis partilhá-lo com os seus íntimos e confidenciou-lhes que naquele dia tinha conquistado o Exército!

A que se devia este seu julgamento? Pois ao brilhantismo da cerimónia; àqueles milhares de homens perfilados nos seus melhores uniformes engalanados de todas as condecorações, aos discursos, às saudações. Enfim àquela memorável revista em que todos em uníssono, gritaram, “VIVA O REI”!

A alegria do rei poderia ter sido justificada se a interpretação que deu aos factos fosse a correcta. Naquela conturbada época a agitação política e social era infrene e a monarquia portuguesa estava abalada nos seus alicerces. O jovem monarca não tinha sido preparado para ser rei, ao contrário do seu irmão Luís Filipe, barbaramente abatido com o seu pai às mãos do Buiça e do Costa, dois anos antes.

Ter uma força como o Exército ao seu lado seria indubitavelmente importante. Mas a ingenuidade, o faz-de-conta dos cortesãos, a fraqueza do governo, as dissenções dos monárquicos e o “não me comprometas” dos restantes, ditaram a sorte, neste lance da História.

Na madrugada do dia 5 de Outubro, isto é, apenas nove dias depois era proclamada a República e o único oficial do Exército que levantou armas pela monarquia foi Paiva Couceiro, herói das campanhas de África. O Comandante e o 2º Comandante de Infantaria 16 foram mortos por sargentos, os navios de guerra tomados por uma espécie de sovietes de marinheiros que incluíam também alguns Sargentos e Oficiais.

Na Rotunda estava apenas um oficial: Machado Santos da Marinha e umas centenas de populares mal armados e enquadrados. O batalhão da Guarda Municipal e outras forças podia-os ter dizimado em pouco, mas… renderam-se. O golpe não tinha pernas para andar mas saíu vitorioso em pouco tempo.

Pergunta-se: seria possível a hierarquia daquele tempo não se ter dado conta de que tinha as unidades subvertidas pela Carbonária?

Andariam todos cegos? É difícil de crer. As razões para que as coisas se passem desta maneira, como em outras épocas da nossa História, terão que se buscar noutras áreas.

Mas não vamos hoje por esse caminho.

Finalizamos lembrando que é preciso olhar para o porvir estando atento às lições da História.

O Rei anda nú em qualquer época.

sábado, 25 de setembro de 2010

OS P3P E O QUE PODE SER FEITO

“Uma Nação que confia em seus direitos, em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda”
Rui Barbosa

Aeronave P3-P
A participação da Força Aérea (FA) na recente operação “Atalanta”, da União Europeia, com um avião P3-P e 42 militares, veio pôr novamente em destaque aquele sistema de armas, que é de grande mais valia para a defesa e segurança nacionais.

A participação portuguesa teve inicio em 21 de Abril deste ano e prolongou-se por quatro meses, tendo a aeronave regressado a 26 de Agosto. A operação destinava-se a combater a pirataria maritima que assola o “Corno de África”, tendo o nosso pessoal operado a partir de Victória (ilhas Seicheles) e Djibouti. O saldo final foi de 40 missões, 324 horas de voo e mais um sucesso para as cores nacionais.

A frota de P3P tem como principal missão a luta anti-submarina e como missões secundárias a busca e salvamento, a vigilância marítima e o apoio a operações especiais. É um avião dotado de grande autonomia e fiabilidade e pode ser equipado com uma panóplia muito variada de sensores e armamento permitindo, desse modo, uma grande flexibilidade de emprego.

O P3P Orion representa pois, um sistema de armas que cobre uma área importante e considerável das missões atribuídas às FA’s portuguesas e permite a continuação a escola “anti-submarina” em Portugal que aliás tinha sido interrompida com o abate ao efectivo da frota P2V5 Neptune, em 1978.

A vinda do P3P (6 aeronaves), em 1986, representou um investimento de cerca de 50 milhões de contos iniciais e concluíu um ingente esforço da FA em tornar a adquirir este tipo de plataformas o que foi feito com baixos custos e emprestando ao projecto pouquíssimos recursos humanos.

Tal facto e a falta de disponibilidade financeira (falta de empenhamento político) para equipamentos essenciais (por ex. o LINK II), comprometeram desde o início a correcta exploração da frota e o seu rápido aprontamento para as missões que era suposto vir a cumprir.

Resta dizer que uma das aeronaves ficou de imediato imobilizada em Beja e que o primeiro torpedo apenas foi disparado em 1998 (salvo erro), a prontidão foi sempre muito baixa e a FA levou quase 10 anos a voltar a ter o “Know How”, da operação deste sistema de armas, que é complexo, caro, mas muito importante para manter livre a fronteira marítima nacional. Houve excepções: sempre que a Esqª 601- “Lobos” foi chamada a operar em operações NATO, UEO e UE e houve facilidades logísticas por parte dos aliados, a prontidão e operacionalidade das nossas aeronaves e tripulações, esteve sempre no topo das forças com quem combinávamos.

Finalmente, os P3P são fundamentais para o treino das guarnições dos navios de superfície e submarinos da Armada, e podem ser utilizados, ainda no combate ao narco- tráfico, pesca furtiva, contrabando, pirataria (como se viu agora), poluição do meio ambiente,etc.

Por isso, estando os cinco aparelhos restantes a atingirem o seu limite de vida útil, (neste momento só há um avião a voar), o estado portugûes comprou cinco outros aparelhos à Holanda, em 2006. Destes cinco, dois estão a fazer modernizações nos EUA (um deles já cá está e será apresentado ao MDN, brevemente), e os restantes começaram a ser modernizados nas OGMA, em Alverca, o que representa uma fonte de receitas importante para esta empresa e hipóteses de negócio para o futuro (assim ganhem as capacidades tecnológicas rapidamente).

Esta modernização fará os P3 portugueses serem “topo de gama”, sem embargo das diferentes configurações o que tornará a manutenção e a interoperabilidade, mais complexas. Além de uma maior capacidade de sobrevivência (operação “stand off”), as novas máquinas possuem sensores (sistema ISTAR), que lhes permitem colher todo o tipo de informações e todo o tipo de vigilância.

O calcanhar de Aquiles de todo este sistema de armas, tirando os elevados meios financeiros para os operar e manter, são as tripulações - 12 elementos por avião. Ou seja, tem sido muito dificil formar e reter o pessoal (que é altamente especializado), sobretudo os pilotos, pois grande parte deles tem abandonado as fileiras em busca de melhores ordenados, missões mais fáceis, mais direitos e menos deveres e melhor reconhecimento social - são precisos muitos anos para se ganhar competências e capacidades e muito pouco para se perderem... Este problema deve ser resolvido com urgência!

Para quem pensar que a ameaça submarina a Portugal terminou com a queda do muro de Berlim, e por isso já não se justificaria este tipo de aeronaves, temos a argumentar que estas coisas vão e voltam, que as ameaças podem mudar de um dia para o outro e que em tempo de paz, nós temos que nos cuidar mais dos países amigos do que dos nossos inimigos. Os P3P representam, por isso, uma fatia importante de afirmação de soberania e um sistema de armas capaz de permitir múltiplas opções ao poder político, face a ameaças previsíveis com que a nação portuguesa se venha a confrontar na defesa dos seus interesses, ou simplesmente na afirmação de Portugal no xadrez mundial.

E é neste âmbito que se poderiam equacionar um conjunto de novas missões, de grande interesse politico/estratégico para o nosso país, que não se limitem a tentar entregar a nossa Defesa a organizações de Segurança intenacionais e de angariar subsídios da U.E., comprometendo o nosso futuro e a nossa soberania.

Vou dar um exemplo aplicado aos P3-P. A nossa projecção político-estratégica tem-se baseado, pelo menos em termos teóricos, no Atlântico (onde reside a nossa liberdade estratégica e janela de desenvolvimento económico), através do triângulo formado pelo Continente, os Açores e a Madeira, incluindo a ZEE, as regiões de Informação de Vôo (FIR), de Lisboa e S. Maria e o espaço interterritorial.

Toda esta enorme àrea está longe de ser convenientemente vigiada, ocupada e explorada. Acresce que, neste momento, o governo português submeteu na ONU, uma proposta para a extensão da Plataforma Continental até às 350 milhas o que, a ser autorizado, vai aumentar a nossa àrea de soberania (incluindo a imersa) em mais 2.150.000 km2!. Imagine-se os meios necessários para fazer reverter todo este potencial em realizações práticas, e da importância dos P3, neste cenário.

Por outro lado têm restado umas migalhas para o antigo mundo português, onde por inépcia e pseudo constrangimentos “neo-coloniais”, grande parte do investimento tem resultado em despesa, pouco retorno e algumas humilhações.

Ora, numa segunda fase (a primeira seria “explorar” convenientemente o triângulo estratégico definido, deveríamos projectar este triângulo, deslocando o seu vértice sul para Cabo Verde; numa terceira fase criar, um novo triângulo entre este arquipélago, o Brasil e S. Tomé – Luanda; finalmente transpormos em quadrilátero para a Costa de Moçambique, aberto ao Oriente. É evidente que precisariamos de vários artigos para desenvolver toda esta teoria, que pretendemos ilustrar apenas com o uso da frota P3P.

Assim uma destas aeronaves devia, depois de acordo devidamente negociado, ser deslocada para Cabo Verde, a fim de garantir os serviços de SAR da FIR do SAL (e ser alargado à Guiné-Bissau) Neste momento tal é garantido por um Breguet Atlantic, Francês baseado em Dacar... Com o tempo esta missão poderia ser alargada a outras.

O mesmo acordo poderia ser proposto a S. Tomé e, mais tarde, a Angola país que pelo seu passado recente, potencial estratégico e ambições regionais, apresenta-se como o principal obstáculo a semelhante negociação; finalmente o P3P afigura-se como a plataforma ideal para fazer a vigilância de toda a costa Moçambicana. Pode pensar-se que tudo isto está para além das nossas capacidades e representa uma despesa enorme. Creio que tal não corresponde à verdade.

Os portugueses respondem muito bem a desafios que aparentemente ultrapassem as suas capacidades. É aliás disso que eles gostam, tirando os “velhos do Restelo”; por outro lado tudo isto deve ser visto como um investimento, que naturalmente os países beneficiários teriam que pagar. E há muitas formas de o fazer. Para além do que as FIR representam soberania e o seu controle representa também receitas.

Por outro lado existem vantagens que são difíceis de contabilizar, mas que estão longe de ser despiciendas: por exemplo, respeito internacional; reconhecimento por parte dos países hospedeiros da contribuição que tal resulta para a sua soberania e contenção de eventuais objectivos expansionistas estrangeiros; realização de cooperação efectiva; aumento da importância de Portugal junto das organizações internacionais de que faz parte; possibilidade de recolha de informação nos mais variados campos, etc. Um etc grande que apenas encontra limites na nossa imaginação e no nosso querer.

Finalmente, poderia proporcionar um esteio politico/estratégico à Comunidade dos Paises de Expressão Oficial Portuguesa (PALOPs).

Com tudo isto, talvez a actual frota de cinco aviões, não fosse suficiente... Mas isto digo eu, que passei uma temporada em Marte e que, como os meus amigos sabem, vim de lá um bocado apanhado pelo clima.

Os leitores farão o favor de dar o devido desconto.

domingo, 19 de setembro de 2010

CERIMÓNIAS MILITARES: UM ANACRONISMO POLÍTICO, SOCIAL E HISTÓRICO?

15/08/2010

“Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”
Eça de Queiroz

Confesso que gosto de assistir a cerimónias militares. Sempre que posso e me convidam, faço por estar presente. Sou uma espécie de abencerragem… Desta feita fui assistir ao dia da Infantaria, que coincide com o dia da batalha de Aljubarrota de que este ano se comemorou o 625º (!) aniversário. Esse magnífico fim de tarde de uma aurora luminosa, feito de armas ímpar, inspirador perpétuo dos brios nacionais.

Como é timbre das coisas militares a cerimónia decorreu simples, digna e escorreita. Tempo para observar e reflectir. Eis o resultado.

Se pensarmos bem, todas as cerimónias militares em geral, e algumas em particular (como esta última), representam um anacronismo político. Porquê? Simples, porque tudo o que nela se defende, todo o seu ambiente e todo o seu espírito, não têm qualquer correspondência com a postura política, dos políticos contemporâneos.

Reparem: os militares apelam à defesa da Pátria, evocam os heróis nacionais que a defenderam ao longo dos séculos; honram os caídos nos campos de batalha (no campo da honra?!), respeitam-se os símbolos nacionais. No âmbito político entrega-se a soberania a entidades internacionalistas; subordina-se as leis nacionais ao articulado de Bruxelas, quase ignoraram a santificação de D. Nuno, escondem da população os novos equipamentos para as FAs (vidé submarinos...), etc.

Será que alguns destes actos são compatíveis com o juramento de Bandeira? Ou será que um dia destes vão legislar no sentido de colocarem o símbolo da UE, ao lado da bandeira das Quinas, na formatura?

Nas cerimónias militares respira-se ordem, hierarquia, organização, respeito… quanto à parte política os leitores responderão por si.

Os militares evocam as grandes referências da Nação, aqueles que se bateram com risco de vida, enfim os seus chefes ilustres e os patronos. No campo político permite-se que um cidadão desqualificado pelo seu passado anti patriótico, por se ter bandeado com os inimigos que nos emboscaram as tropas, num passado recente, seja candidato a Presidente da República e Comandante Supremo das FA (e alguns militares também apoiam!...)

No âmbito das cerimónias militares apela-se à união, à coesão, à lealdade, à camaradagem; no campo político é tudo centrifugo e desagregador, deixando a luta político-partidária de ser uma confrontação frutuosa de ideias e de uma luta leal pelo exercicio temporal do Poder, para se transformar numa guerra civil permanente que nos amarga o quotidiano e nos compromete o futuro! (vale o facto de ainda não termos entrado em violência política, mas será que não entraremos a breve trecho?).

Por isto, uma cerimónia militar, representa do ponto de vista político, um anacronismo. E estou convicto que a maioria dos políticos, mesmo os de nomeada, acham os militares uns seres anacrónicos, que não entendem, representam uma despesa e são uma maçada.

Por outro lado, uma cerimónia militar é já um anacronismo social. Porquê? Simples, porque as cerimónias militares são a expressão pública de toda a vivência, referências e estrutura que se vive paredes adentro da Instituição Militar (IM) e tal estar nos antípodas, dos hábitos e valores (ou ausência deles), que há umas três décadas a esta parte imperam na sociedade.

O expoente de tudo isto pode ser exemplificado com o fim do Serviço Militar Obrigatório (uma asneira de gabarito!) e a subsequente dificuldade em arranjar recrutas. Além disso, as cerimónias militares não têm público - tirando os familiares nos juramentos de bandeira e cada vez mais têm uma cobertura fugaz na comunicação social.

Ora havendo a existência destes dois anacronismos rapidamente podemos passar para um anacronismo histórico, ou seja, a uma coisa do passado.

Poderá parecer, assim, pela lógica aristotélica, que as cerimónias militares – ou seja a IM – se deveria adaptar às realidades políticas e sociais.

Acontece porém, que aquilo que as FAs e os militares defendem, o modo como se organizam e os valores que os orientam, estão correctos e não podem ser outros. E por isso não são aquelas que têm que se adaptar aos maus exemplos dos políticos e da sociedade. São estes e esta, que devem arrepiar caminho das veredas que levam ao precipício e para onde querem, conscientemente ou não, arrastar uma Instituição quase milenar, que lhes é indispensável.

Uma palavra última para um pequeno anacronismo sobre as cerimónias militares, elas próprias: os discursos são longos e abundantes. Alguns reflectem apenas uma “choca” académica oriunda da “universidade” militar de Pedrouços. Deve-se gastar alguma reflexão nisto.

Em primeiro lugar o público – que já vimos ser escasso – não ouve nada; as forças em parada – por razões que seria ocioso explanar – também não escutam coisa alguma - a estes deve-se falar em ambiente apropriado; os discursos não podem dizer nada de relevante: os assuntos de serviço, devem ser tratados em sede própria; recados para a sociedade ou para o poder político, também.

Quem sair fora deste âmbito ver-se-á demitido, seguramente com a carreira prejudicada. Por outro lado, dizer “generalidades e culatras” ou tecer elogios que cheirem a unto, também não fica bem a ninguém. Passar mensagens, referir exemplos, explicar conceitos, dar referencias, de forma entendível e enxuta, eis o desafio. Enfim, a audiência é a bancada…

Finalmente, os discursos em nada reflectem o que se fala a seguir no almoço, tão pouco ao café…

Os anacronismos, verdadeiros ou falsos criam desintonias e estas têm consequências que, por norma, não são boas.

Realidade que o Eça, tão bem, já identificara.

QUESTÕES MILITARES

“COISAS” POLÍTICO-MILITARES QUE SE PASSAM AQUI, AO LADO

AS ATRIBULAÇÕES POLÍTICO-MILITARES

ALGUMA COMPREENSÃO PELAS CHEFIAS MILITARES

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PORTUGAL, A NATO, O ATLÂNTICO SUL E O... BRASIL

12/09/10

Decorreu, recentemente, no Instituto de Defesa Nacional – casa onde não se discute futebol, novelas ou rock and roll, mas coisas sérias que interessam ao futuro do país – um seminário sobre o futuro conceito estratégico da Nato a que não é, certamente, estranha a próxima cimeira daquela organização, em Lisboa, em Novembro próximo.

O debate foi encerrado pelos ministro da defesa (MDN) português e pelo seu homólogo brasileiro, que estava de visita à terra de onde partiu um tal de Cabral, que haveria de arribar a Porto Seguro, por alturas da primavera de 1500.

Só por ter ouvido o ministro brasileiro valeu a pena a deslocação, mas já lá iremos.

Sem pretender tocar em tudo o que se debateu, direi que a focalização das intervenções se centrou na importancia que o “mar” parece ter voltado a ter para Portugal – e não só como projecção de poder, mas como exploração de recursos – e no “súbito” interesse que o governo português passou a ter em mostrar a importância que o Atlântico Sul deve ter para a NATO.

O que se passou, naquele ambito, naquele dia, mostrou à saciedade como, em politica, não se pode ter razão, infelizmente, antes de tempo. Mas, em Estratégia, pode e deve-se.

Expliquemo-nos: hà cerca de 50 anos, o governo português da altura,defendeu que a NATO se deveria estender ao Atlantico Sul, pois era necessário defender a Àfrica do ataque comunista e garantir a liberdade de comunicações maritimas, sobretudo a Rota do Cabo, por onde passavam (e passam!), a maioria dos abastecimentos para o mundo ocidental.

Na altura, é claro, ninguém deu ouvidos ao que disseram os governantes em Lisboa. Nem a Nato, nem a CEE, nem os EUA nem, tão pouco os Ibero-Americanos, Brasil incluído. Se alguns politicos de nomeada – e havia-os – acharam a ideia boa e pertinente, mantiveram a prudencia do recato, face ao politicamente correcto – uma constante de sempre.

Na altura pretendeu, ainda, o governo português lançar e desenvolver a “Comunidade Luso- Brasileira”, que poderia ter sido um instrumento de grande alcance para a segurança,desenvolvimento e aproximação das duas nações irmãs, que até há menos de 200 anos tinham sido uma só realidade politica.

O projecto gorou-se para além das palavras de circunstância, sobretudo por manifesto desinteresse do Brasil que preferiu apostar no seu “dolce farniente” tropical, baseado no samba, futebol e carnaval, sustentado pelo que colhe no seu úbere solo e subsolo. E, ainda, por causa da aposta que fez em nos substituir em África, acaso a Ideia portuguesa do Minho a Timor claudicasse, como veio a suceder.

Acontece que os povos podem viver nos mais diferentes regimes politicos ou ter da democracia a ideia mais díspare, mas vivem – normalmente sem darem conta – numa verdadeira ditadura geográfica. Ou seja a Geografia acaba sempre por se impôr à Politica e não esta àquela.

Sem embargo, um lance politico/social em que a história dos povos é pródiga, fez com que uns “adiantados mentais” tomassem de assalto o Terreiro do Paço e tivessem decretado que o Infante D. Henrique, o D. João II, mais o Bartolomeu Dias, o Diogo Cão, o Vasco da Gama e um rol extenso de outros de semelhante coturno, eram gente pouco estimável, quiçá responsáveis pelas desgraças da Nação – os outros, piores ainda, eram os seus herdeiros mais modernos.

Estas ideias peregrinas tiveram como consequencia que o país voltasse costas ao mar.

Passados mais de 30 anos após este erro trágico, a força das circunstâncias (e da Geografia...), está a fazer com que os responsáveis políticos actuais estejam a rever os erros (grosseiros) efectuados. A proposta de extenção da Plataforma Continental - que tão bem tem sido conduzida- aparece, assim, como uma espécie de “milagre” da N. Sª de Fátima!

Vamos a ver se em vez de reverter a nosso favor não vai ser pasto dos tubarões europeus...

O Brasil, por sua vez, só acordou há poucos anos da sua letargia, foi desenvolvendo indústrias de ponta e de grande mais valia económico/financeira; tornou-se autosuficiente em energia – que era a sua grande vulnerabilidade – e, de uma potencia regional centrada no seu umbigo, sem qualquer espirito maritimo, de repente aparece a crescer brutalmente, a querer um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU e a promover acordos nucleares com o... Irão!

Em Portugal, os politicos ofuscados pela Europa – de onde, no passado, quase nunca nos veio proveito algum – deram uns passos timidos junto de quem falava português no mundo e criaram, em 1996, a CPLP, cujo maior cultor foi o embaixador brasileiro José Aparecido de Oliveira que, só por isso, já merece ficar na História.

Esta organização tem tido um desenvolvimento muito periclitante em parte pelo pouco empenhamento português, desinteresse brasileiro e fragilidades de toda a sorte, de que sofrem os antigos territórios portugueses vitimas da malfadada “descolonização”.

Chegámos a 2010, com uma crise económico/financeira grave no mundo e outra pior em casa; com a UE cheia de problemas; sem peso especifico em nenhuma organização internacional de que Portugal é parte; endividados até ao tutano; com os partidos politicos em guerra civil permanente; a perder soberania e capacidades quase diàriamente para Bruxelas (e Madrid) - muitos até gostam!, etc,

Com este pano de fundo, os politicos do retangulo dão-se, finalmente, conta dos erros feitos relativamente à “maritimidade” e o governo acorda para a realidade da Nato querer fechar o comando que a Aliança tem em Oeiras, faz muitas décadas. Realiza, também, que tem que diversificar opções e mercados. O tempo que se perdeu!...

O Brasil e o mar aparecem, deste modo, como alternativas óbvias e válidas. Estando o ministro Jobim, de visita a Portugal e a assinar negócios, pareceu ao governo luso ser boa altura para lhe pedir um acordo que ajudasse à manutenção do comando da NATO em Oeiras, alegando-se uma parceria (“um olhar”), para o Atlântico Sul. A jogada foi bem vista e permitia, ainda, a Portugal aumentar a sua importancia junto daquela organização de Segurança e dar um ar da sua graça.

Só que o ministro brasileiro, em resposta ao MDN português estragou, ainda por cima com uma franqueza brutal, a bem delineada jogada de poker portuguesa.

O discurso do ministro Jobim valeu pela substancia mas, também, pela clareza e pela determinação que colocou nas ideias que defendeu. Nada , mas mesmo nada, usual num politico. Também denotou alguma arrogancia, sinal claro de que o aumento do poder real do Brasil, logo funcional, lhes está, já, a subir à cabeça (cabe aqui referir que um orador brasileiro que falou no painel anterior, querendo salientar a importancia do mar para o Brasil referiu que o único ataque que o seu pais sofreu veio por mar – o ataque ao Rio de Janeiro, por parte de franceses; ora a verdade é que o Brasil nunca sofreu qualquer ataque por mar, já que na altura do conflito, a terra de Vera Cruz pertencia à corte portuguesa...).

Durante a sua intervenção o MDN do país irmão – onde os portugueses são um dos pratos fortes do anedatório nacional – referiu a continuada fraqueza dos paises europeus da Nato, face aos EUA; condenou a expanção a leste; idem para a tentativa de colocar misseis americanos em alguns desses países (no que tem razão), bem como a alteração dos limites de actuação do artº 5º- que afirmou apenas servirem interesses dos EUA – no que também, penso, tem razão, etc.

No fundo defendeu que a NATO já não tem razão de existir, pois já não existem as razões que levaram à sua fundação ( no que está claramente enganado). Pelo meio desferiu uma tremenda catilinária sobre os EUA, que deve ter deixado o adido mlitar daquele país com as orelhas a arder, e o ministro Santos Silva com um sorriso de circunstância... amarelo.

Bom, a Nato para o Brasil tem apenas um interesse residual e talvez lhes escape que os europeus desenvolveram-se extraordináriamente à sombra do guarda chuva convencional e nuclear americano. E, seguramente, não fazem ideia do que é ter 150 divisões soviéticas do outro lado da fronteira...

Andar para leste foi o corolário natural dos russos terem perdido a “guerra” e a União Sovietica ter implodido. E se houve algum acordo com o sr Gorbachev, sobre isso, não se sabe publicamente. Humilhar ou despertar ameaças na grande nação russa é que já parece ser politicamente insensato e aí tem o sr ministro razão.

Que o Brasil possa ter razões de queixa dos EUA, por causa de muita politica de canhoneira por parte daqueles no Hemisfério Centro e Sul Americano, é razoàvel; que os critiquem sobre as diatribes do Tio Sam sobre a Amazónia, também se aceita; e que vá passar a haver mais choques agora que o Brasil aspira a ser uma (super)potencia é, outrosim, natural. O facto do ministro pertencer ao Partido dos Trabalhadores é apenas uma contingencia ideológica, que ajuda a alguma radicalização do discurso.

Que tudo isto deva interferir com a posição portuguesa é que já é discutivel.

Vejamos mais em detalhe:
A proposta de Lisboa não é geopoliticamente despropositada, nem ofende quaisquer interesses ou brios brasileiros. Permite uma eventual parceria que seria útil a ambos os paises e oferecia-lhes uma posição reforçada, para quando os EUA quisessem unilateralente e fora do ambito da Nato, instalar um comando qualquer que lhes permita operar no Atlântico Sul e em África. Dizer o sr ministro Jobim que não quer paises estranhos à região, por lá, pode ser uma tirada grandiloquente, mas que não colhe no campo prático, já que as àguas internacionais são livres e nada obsta a que paises terceiros façam acordos entre si.

Porém, acredito que uma outra abordagem ao problema teria sido preferivel, por parte do governo português: a de lançar a ideia de que o estabelecimento de uma zona de paz e segurança para a àrea em questão, dever constituir o esteio politico/doutrinário da CPLP – onde parece que que o Brasil não se quer empenhar, vide o recente acordo que fez com a CEDEAO1 . E Portugal não é estranho ao Atlantico Sul, andámos por lá uns cinco séculos e nas costas brasileiras 322 anos – mais do que aqueles que o Brasil leva de vida própria...

Ora estando a CPLP estruturada neste sentido, já seria mais fácil ao Brasil aceitar uma parceria com a Nato.

Mas agora só se pode pensar nisso para a próxima cimeira.


[1] Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Novos no ARQUIVO

O PROGRAMA DE ESTABILIDADE E CRESCIMENTO (PEC), BAH!...

O MUNDIAL DE FUTEBOL E AS MISSÕES MILITARES NO EXTERIOR

PORTUGAL: UM IMENSO CASINO!

O Presidente da República Brasileira, proibiu a existência de jogos de azar no Brasil, no já distante ano de 1946. Isto sem embargo, até, de ter sido acabado de construir um luxuoso casino na cidade de Petrópolis.
A situação mantém-se até hoje, e devia servir-nos de exemplo.

Durante o Estado Novo, a regulamentação sobre casinos e jogos de azar foi muito cuidadosa e algo restritiva. Existia a lotaria nacional e mais tarde foi criado o totobola que acompanhava o desporto mais popular entre os portugueses, mas os intuitos tinham sobretudo a ver com preocupações de ordem social e de assistência, para onde deveriam ser canalizada a maioria dos lucros.

Com os casinos era mais complicado, já que o jogo não era tido como uma virtude em termos de moral pública. A excepção em todo o território português foi Macau por particularidades próprias com as tradições e vizinhanças locais.

Deste modo Portugal era parco em casinos: o do Estoril, por via da concentração de personalidades e aristocracia, sobretudo a partir dos anos 30 e durante a II GM; três no Algarve, já nos anos 60, por razões relacionadas com o turismo e que tinham contrapartida a norte, com os casinos da Figueira da Foz e na Póvoa de Varzim.

Havia ainda restrições: o jogo estava proibido ao funcionalismo público, a magistrados, militares e diplomatas, e havia alguma escolha na clientela. E tudo estava muito longe da massificação actual que a divulgação das “slot machines” e a moderna tecnologia potencia.

Com o 25 de Abril, também a comporta que segurava “estas águas”, veio abaixo. De modo que, tem sido um “vê se te avias”...

Os casinos multiplicaram-se e “democratizaram-se”; criaram-se as salas de Bingo, que logo pulularam; inventou-se o totoloto com várias variedades; apareceram as raspadinhas, os lotos e agora joga-se na Internet. Isto para não falar nos “casinos” ilegais que são de sempre, antros de vício onde chefes de família se perdem e gente acaba mal os seus dias.

Com a economia a não carborar; sem se investir em mais valias que nos sustentem o futuro, antes apostando na especulação financeira e imobiliária; com a balança de pagamentos a derrapar constantemente; sem ideia séria e consequente do que queremos continuar a ser como Nação; pondo a esmagadora maioria das pessoas a viver acima das suas possibilidades com o acesso indiscriminado ao “dinheiro de plástico”; a criminosa doutrinação que sobrepõe os direitos aos deveres e a propaganda à informação séria, é natural que governantes e governados, optem por dinâmicas de “negócio” menos apropriado para sustentar, uns, os réditos públicos e os cofres partidários, a fim de se manterem no Poder; os outros para sobreviverem e manterem expectativas que lhes criaram, mas que estão longe de serem realistas ou sérias.

E assim se resvala para a corrupção.

Perante este cenário é fácil a virtude dar lugar ao vício; o negócio a qualquer preço, preferir o trabalho sério e continuado; a Verdade o Belo, o Bem, a Fé, a Caridade, a Esperança, o Patriotismo, o Respeito, o Carácter, a Integridade, etc., que são as verdadeiras molas reais com séculos de apuro, que têm feito a Humanidade progredir, deram lugar ao relativismo moral numa inominável cedência ao voto individual e ao interesse de cada um.

E para as almas que se perdem, não se pede castigo, responsabilização ou consequências: desculpabiliza-se; exige-se mais direitos e mais oportunidades. Os que têm o azar de se manter equilibrados, pagam!

Aliás, apareceram recentemente nos “media” uns filantropos a denunciar que já haveria cerca de 100.000 jogadores patológicos(!), e deveria existir apoio estatal para os doentinhos. Ora aqui está mais um belo negócio em perspectiva...

Não espanta pois que os portugueses tenham aderido em massa ao nóvel euromilhões e estejam todos à espera que lhes saia o jackpot! Temos sido o país da Europa, aliás, onde mais se joga e onde saem mais prémios …

O jogo a dinheiro, é perigoso porque pode criar habituação e esta leva ao vício. Tudo o que é vicioso deve ser combatido e contido. Porque é uma referência errada e negativa para a sociedade; porque cria chagas sociais e porque auto limita a liberdade. Um viciado (seja no que for), nunca pode afirmar que é um Homem livre.

Aproveitando a recente notícia vinda da Rússia, em que esta vai reprimir o jogo, devíamos segui-la.

Mas não, o Estado, alienou a patacos a Sociedade Estoril Sol, por ex., sobre cujos contornos se fez, de repente, silêncio. E, até, já põe o dinheiro dos contribuintes a render em “Off Shores” sem dizer nada aos cidadãos.

Um dia destes acaba a explorar bordeis.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DROGA: TRISTEZA (E INCAPACIDADE) NACIONAL

Passei recentemente, por duas vezes, em ruas da Mouraria. Aquilo está uma verdadeira vergonha. Ambiente degradado, lixo, desordenamento e pior que tudo, topando-se amiúde com seres humanos que damos graças a Deus não serem familiares nossos e a que, seguramente, ocultaríamos a estrangeiros que fossem nossos compatriotas.

É isto um bairro tido como popular, de Lisboa, dos mais antigos da capital, cheio de tradições e castiço e que concorre todos os anos à melhor marcha de Lisboa. É uma tristeza e uma tristeza que se passa nas barbas das autoridades e da população.

Nem uns nem outros, aparentemente, se dão ao trabalho de se molestar com o triste espectáculo que os seus olhos não podem deixar de ver.

Uma das razões principais para tudo isto é a degradação operada pela via do tráfico e consumo de drogas, que piorou exponencialmente quando as autoridades “limparam” o Casal Ventoso. Consumo e tráfico, faz-se a céu aberto, de noite e de dia, à frente de toda a gente. Faz-se até a uns metros de uma esquadra da Polícia...

Tudo isto prefigura uma sociedade doente. Profundamente doente.

Tem-se gasto milhões de euros no “combate” ao consumo e prevenção da droga o que encontra apenas paralelo nos milhões de caracteres usados em artigos de opinião e outros tantos vocábulos expressos em debates, colóquios, conferências e grupos de trabalho.

Os resultados são medíocres. Cumulativamente têm sido desmanteladas às dezenas as redes de trafico;numerosos traficantes estão presos (não se sabe é por quanto tempo...); toneladas de droga apreendida.

Não se sabe onde existem prisões para guardar tanta gente mas sabe-se que o tráfico e o consumo continua lá dentro. E há até cobertura, oficiosa, para tal estado de coisas, pois é uma maneira de conter as “tensões” dentro de limites aceitáveis !... A gente vai sabendo estas coisas e nem quer acreditar.

À volta de todo este estado de coisas, vão prosperando um conjunto de negócios, clínicas de reabilitação, organismos oficiais para tratar o assunto, proliferação de fármacos; branqueamento de capitais e por aí fora.

No meio disto tudo, um conjunto de “adiantados mentais” baralharam parte apreciável da sociedade com doutrimas erradas e surrealistas; a organização da justiça paralisa a acção das forças policiais; os “media”, políticos e intelectuais, poluem a opinião pública com teorias de desculpabilização, que alimentam o vício, destroem qualquer tipo de censura social e protegem objectivamente as actividades criminosas.

O cidadão comum, que trabalha, cumpre as suas obrigações e se porta bem, é que para além de sofrer com todo este mau aspecto; aguentar com a insegurança, o aumento da criminalidade, quando não acaba infernizado por algum membro da sua família te sido agarrado nas malhas desta engrenagem, ainda tem que pagar os devaneios demagógicos, pedagógicos e judiciários que as sucessivas lideranças políticas, tolhidas de autoridade, confiança e saber, inventam amiíude para (pseudo) satisfação das massas!

Os auto proclamados técnicos nestas matérias conseguiram convencer muitas mentes que quem se droga é um doente, tem que ser tratado e não punido. Como se os vícios fossem apenas doenças! Porque não desculpam os batoteiros? Os pedófilos? Os cleptomaníacos? E os traficantes?

Bom, bastava que legalizassem o comércio para que tais “deserdados” da sociedade se transformassem em honestíssimos homens de negócios! O que é inverosímel é que em paralelo passassem a fazer campanhas enormes contra o tabaco e as companhias tabaqueiras, porque o tabaco faz mal à saúde!... A droga parece que não faz...

Não há pachorra!

Deixo um alvitre.

Não gostaria de chegar a situações extremas como em Singapura (mas lá que resultam, resultam!). Lembro, porém, que para os lados de Penamacor existe um antigo quartel do Exército onde em tempos (certamente jurássicos!), funcionou a primeira companhia disciplinar, que se destinava a acolher os mancebos que por via de possuírem cadastro eram ali colocados quando chegava a sua vez de cumprirem o serviço militar obrigatório (de saudosa memória!).

Porque é que não se remodela o local (não é preciso muito!), e se põem lá os drogados todos? Não, não é inconstitucional, esses nossos concidadãos – que se recusaram aliás a sê-lo -, por via do vício que têm, deixaram de ser livres, logo são ininputáveis para determinadas responsabilidades e incapazes de decidirem do seu destino. Tornaram-se um peso e um perigo para a sociedade.

Vão por mim: coloquem-nos em Penamacor, ponham lá médicos e enfermeiros para os acompanharem – eles afinal estão doentes! ... -, agora obriguem-nos a ganhar o pão de cada dia, ponham-nos a trabalhar, na agricultura, na pecuária, nos ofícios, em algo, mas a trabalhar e no duro. Obriguem-nos a fazer desporto e paguem-lhes as mais valias que eventualmente produzam. Vão ver como eles se curam depressa; os outros ficam sem vontade de experimentar e a maioria dos chefes de família, deixam de ter que os aturar e de os pagar!

Os traficantes, que restassem, pois a clientela sumia-se, iam para uma Penamacor mas muito mais dura.

Verão que dá resultado. Alguém quer apostar?

NOVOS ARTIGOS NO ARQUIVO

Publiquei hoje 3 artigos que considero relevantes no meu ARQUIVO, que pode ver em http://www.adamastor-arquivo.blogspot.com/ ou clicando nos titulos dos artigos directamente abaixo;

O PAPA EM PORTUGAL
O PR E A DIGNIDADE NACIONAL
O PR E O “ISTO ESTÁ CADA VEZ PIOR”!...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O ATAQUE À IGREJA

6/4/2010

“A hipocrisia é o juro que o vício paga à virtude”
(não me lembro do autor)

Sé de Lisboa
O grande alarido que por aí vai por causa dos hipotéticos e dos provados, casos de pedofilia em que estão envolvidos padres católicos poderia parecer mais um ataque daqueles recorrentes que se fazem à Igreja de Roma, sobretudo desde que uns revolucionários em Paris deram em cortar cabeças a esmo.

A extensão, organização e o alvo dos ataques leva, contudo, a que se deva prestar mais atenção ao fenómeno e em formas de actuação. A pedofilia é a desculpa, o objectivo a atingir é enlamear o Papa e com isso vibrar um golpe, eventualmente, mortal na Igreja de Cristo.

A estratégia parece visar mais alto ainda: a vitória do laicismo sobre a religião. E não é contra o islamismo, o judaísmo, o cristianismo ou o budismo, que os laicistas empedernidos se viram, não, é contra o cristianismo. Porque será?

Os laicistas não estão satisfeitos com a separação do Estado e das confissões religiosas; não pretendem o respeito e a harmonia entre as pessoas, modos de vida e crenças, não, o que eles querem é domínio absoluto e para isso não hesitam em abrir as guerras que julgarem necessárias. Ainda não é uma guerra no sentido literal do termo – com mortos e feridos – mas lá poderemos chegar.

Como estão organizados os laicistas (que não os laicos…) e como se manifestam? Que organizações os representam? Eis perguntas que carecem de respostas explícitas. Os instigadores têm que passar a ter nomes, caras, identidade. Um dia um qualquer tribunal terá que apurar responsabilidades.

Casos, reais ou fictícios, de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica (os ocorridos com outros ramos do cristianismo, são curiosamente mais poupados…), viraram a brecha por onde entraram os Hunos!

Diga-se em abono da verdade que algum encobrimento e lentidão em reagir adequadamente aos casos conhecidos e provados, não abonam à hierarquia da Igreja. Mas esta, na sua prudência milenar e culto dos preceitos de indulgência, caridade e perdão, que a enformam, tentou talvez resolver as questões no seu seio sem causar escândalo público. Entende-se, mas uma coisa é o conceito de pecado e outra o de crime, abrangido pelas leis penais.

Por isso a Igreja só tem que fazer uma coisa nestes casos: é aplicar ela própria o direito canónico e deixar as autoridades aplicarem o direito público. E isto, tem que ser rápido porque afecta terceiros que ainda por cima são menores. O arrependimento, a reconciliação e o perdão, farão o seu caminho, mais tarde.

Quis a Igreja garantir todos os meios de defesa aos acusados, não se lhes pode levar a mal, já que a sociedade está cheia de leis onde os direitos prevalecem sobre os deveres e onde até os delinquentes estão mais defendidos do que os cidadãos honestos. Achar o contrário é hipocrisia política e social.

Ora a sociedade tem que olhar para estes casos como pontuais e circunscritos. Não deve aproveitá-los para se fazer um libelo contra a Igreja como Instituição e um julgamento público contra os sacerdotes e o seu múnus, no seu todo. E não podemos desligar do facto da Igreja, como Instituição, ser servida por homens. Homens que devem pautar o seu comportamento por preceitos elevados de conduta – o magistério de Cristo é exigente – nos homens. Só raros vão a Santos…

Ora não é isto que se tem tentado fazer. E o despautério chega ao ponto de querer responsabilizar Sua Santidade o Papa como se ele tivesse decretado alguma lei iníqua no sentido dos abusos sexuais, ou a Igreja fosse uma associação de malfeitores. Os advogados americanos e ingleses que querem julgar o Papa, porque não exigem também julgar o Presidente Obama e a Rainha Elisabete, pelos pedófilos de todas as profissões existentes nos respectivos países? Se um dia destes houver um caso de pedofilia numa unidade militar, vai-se pedir a cabeça do Chefe de Estado-Maior ou acabar com a tropa?

Tudo isto já foi longe demais.

Curioso também é verificar a tentativa de considerar como de causa/efeito, os abusos pedófilos com o celibato exigido aos sacerdotes. Outra demagogia, que pretende atacar indirectamente um preceito que parece preocupar tanto, os não católicos, sem lhes dizer minimamente respeito. Fica sem explicar, os casos de membros de outras confissões, que são casados ou podem casar e também foram acusados de pedofilia.

E é curioso verificar que nenhuma preocupação existe em ponderar os casos de pedofilia, com o desregramento das relações, o relativismo moral, a pornografia, a propaganda explícita e descarada que passa nos “media”, cinema, etc. Nem sequer afloram o facto de cerca de 80% dos casos de pedofilia registados, em geral, serem ocasionados por homossexuais…

Ora perante toda esta avalanche de ataques – que não vão parar – há que cerrar fileiras e passar ao contra ataque.

E para isto resultar bem, é imperioso que a hierarquia da Igreja passe a funcionar e dê as suas ordens. A Igreja já fez o número de genuflexões suficientes e já pediu perdão que baste. Ser humilde, reconhecer erros e pedir perdão por pecados, fica bem, até ao momento em que passe o limiar da dignidade, do decoro e da justiça.

Já é, até, discutível se é razoável pedir desculpas colectivas. Eu não me sinto responsável, pela escravatura, pelos pecados da Inquisição, a expulsão dos Judeus, a revolta dos Albigenses ou o saque de Constantinopla. Já basta ter que herdar as consequências. Não há purismos históricos.

Mais a mais, quando mais ninguém no mundo segue o exemplo do Papa e dos Católicos! Sim, ainda estou para ver um rabino ou um pregador muçulmano, pedir desculpa seja pelo que for e já agora algum membro da Maçonaria, por terem mandado o Luís XVI e a Maria Antonieta para a guilhotina!

Por isso caríssimos Bispos, V. Exªs Reverendíssimas não usam o anel e o báculo apenas como símbolos de autoridade, é vosso dever merecê-los.

Por isso eu vos incito ao bom combate. Basta de ser saco de levar pancada, e já devem ter percebido que contemporizar não leva a lado nenhum.

Entende-se a prudência mas não se pode aceitar a paralisia do medo. E por mais que isso vos possa custar, enquanto “passamos” pela terra, estamos no Reino dos Homens. Não no reino de Deus.

sábado, 4 de setembro de 2010

MIGUEL SOUSA TAVARES, A PORTARIA E A PORTA D’ARMAS

14/4/2010

Porta d'armas do Quartel do Carmo, da GNR, em Lisboa
Estabelecer a diferença entre uma “portaria” e uma “porta d’armas” poderá parecer a questão mais pueril, idiota ou desnecessária, que não prenderá trinta segundos de atenção a qualquer pacato cidadão, nem sequer aos mais curiosos.

Sem embargo, é sobre ela que juntaremos umas reflexões em noite de pachorrenta digestão.

Uma portaria é um substantivo comum, à vida de todos os dias. Basta dizer que a maioria dos prédios de habitação e das empresas onde trabalhamos têm uma. Portaria representa, pois, em forma variada, um artefacto movível semelhante ao que se convencionou chamar de “porta” e que permite o acesso a um qualquer espaço confinado. Normalmente é-lhe atribuído um número, curiosamente chamado, “número de polícia”. É uma designação do vulgo, por isso vulgar.

Por seu lado, o termo “Porta d’Armas”, fere-nos de imediato o ouvido; é forte e algo distinto. Provém da bruma dos tempos, é seguramente medievo, porventura da Antiguidade Clássica. Está associado a uma praça forte, um castelo, uma fortaleza. E, indubitavelmente, associada a “armas”. É um local guardado e por onde passam e estagiam Homens d’Armas.

Uma porta d’armas não precisa de número, todos a distinguem, todos a identificam.

Enfim, uma portaria é uma funcionalidade civil, uma porta d’armas é um símbolo militar.

Isto é importante? É!

Uma portaria supõe um “porteiro”; uma porta d’armas, impõe uma “sentinela”, que faz parte de uma “guarda”; uma portaria pressupõe um “pátio”, a porta d’armas implica uma “parada”; a porta d’armas tem um “hall de entrada”, uma portaria é apenas uma porta de serventia; entrar por uma portaria obriga, quanto muito, a um “bom dia” e a troca de identificação; uma porta d’armas impõe um cerimonial regulamentado; se passarmos uma portaria para ir trabalhar, pica-se o ponto; por detrás da porta d’armas cada um é responsável pelo tempo que permanece e responde ao seu superior imediato – num lado existe um horário de trabalho; no outro um horário “normal” de permanência, trabalha-se quando é preciso, descansa-se quando se pode…

Atrás de uma porta d’armas existe uma cadeia de comando; quando se passa uma portaria, há uma direcção, ou apenas a nossa família.

Uma portaria transpõe-se de qualquer maneira; uma porta d’armas exige postura: militares quando fardados, obrigatoriamente de cabeça coberta; correspondem a saudações/honras e não passa pela cabeça de ninguém cruzar a “ponte levadiça” de cigarro na boca, a mascar pastilha elástica ou de alpercatas…

Uma porta d’armas carrega um passado e é herdeira de tradições e valores; que a ultrapassam e estão para além dela; uma portaria, quanto muito, interessa a alguns, é circunscrita a espaço e tempo e não se perpetua imaterialmente; uma porta d’armas, implica um comando; numa portaria não passará de uma chefia; uma porta d’armas funciona H24, 365 dias por ano, uma portaria, tem dias.

Em síntese, e para terminar, quando se transpõe uma Porta d’Armas é para se Ser, quando se passa uma portaria é para se Estar.

Não quer com isto dizer que uma portaria seja menos adequada à sua função do que uma porta d’armas, mas convenhamos que a dignidade e o grau de exigência não está ao mesmo nível. Não existe divisão ou antagonismo entre ambas, mas incorre-se numa distinção.

Miguel Sousa Tavares
Onde é que Miguel Sousa Tavares (MST) cabe nesta história? Nisto:

No seu programa da SIC “Sinais de Fogo” do passado dia 12/4, em que entrevistou a nóvel esperança partidária portuguesa, foi passado um curto documentário sobre a Escola Superior de Polícia, cujo objectivo era tentar perceber porque é que aquela escola teve no último concurso 45 candidatos para cada vaga, valor superior a todas as outras escolas de nível universitário do país (a Academia da Força Aèrea tem cerca de 40 candidatos, por vaga, para pilotos, sendo o grau de exigencia muito maior e havendo muitos que nem concorrem por saber não reunirem os requisitos).

MST fez um elogio à PSP e à sua evolução, desde os tempos do antigamente em que ele pouco a apreciava.

Falou bem, o homem, com uma excepção de monta, quando referiu que uma das razões do sucesso da polícia foi passar a ser mais “civil”, numa discreta, mas clara alusão depreciativa, ao tempo em que existiam muitos oficias do Exército a enquadrá-la.

MST só é ignorante quando quer, pelo que teremos que considerar intencional a inclusão do “pormenor”. Esqueceu-se de dizer que os militares foram por várias vezes salvar a polícia de estados depauperados a que diferentes cataclismos político-sociais a reduziram e porque só há cerca de duas décadas foi criada uma escola para formar os seus quadros superiores.

E, já agora, que foram os oficiais das FA's que transitaram definitivamente para a PSP, que tornaram possível a evolução que MST agora elogia e que têm também aguentado as vicissitudes que extensos erros no âmbito dos sindicatos, falta de autoridade, meios e edifício legislativo, têm causado no seio policial.

Mas se MST (e muitos como ele) quisesse ser minimamente honesto intelectualmente, bastava atentar nas diferenças entre quem presta serviço atrás de uma porta d’armas (os militares) e aqueles que se limitam a passar numa portaria (os polícias), para entender que a acção dos primeiros jamais prejudicaria o desempenho dos segundos.

Quem diria que a simples existência de uma Porta d’Armas, pudesse ter tanta importância?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

MANUEL ALEGRE “COMBATENTE”, POR QUEM?

03/05/2010

Decorreu nos pretéritos dias 3 e 4 de Maio, na Gulbenkian, um colóquio sobre a envolvente externa que condicionou o eclodir das operações de guerrilha no Ultramar português e o ataque a Goa, Damão e Diu e que acompanhou o desenrolar do conflito nos anos 50, 60 e 70 do século XX.

No primeiro dia constava na lista de oradores o cidadão Manuel Alegre (MA), a que o panfleto que enunciava o programa tinha filantropicamente antecedido de um “Dr”, título a que, em abono da verdade, o nosso poeta nunca reivindicou. A sua “oração” não tinha título, era anunciada apenas como “um depoimento”. Achei curioso e fui assistir.

O orador que acompanhava MA na erudição da sessão, era o embaixador Nunes Barata que me merece um comentário. O Sr. embaixador juntou um conjunto de factos irrefutáveis, fez uma análise bem estruturada mas tirou, creio, um conjunto de ilações erradas. É humano olhar para factos e intenções, cruzá-los e chegar-se a conclusões diferentes.
Por isso o contraditório e o estudo imparcial das questões é tão importante. Quando a premência das decisões e a incerteza do amanhã, se abatem sobre as personalidades com as responsabilidades do momento, a análise é uma; quanto esta análise pode ser feita décadas depois, com tudo serenado e os arquivos disponíveis, a tarefa torna-se mais fácil.

Ora o que o sr. embaixador defendeu, parece-me, foi que a conjuntura internacional era de tal modo adversa a Portugal e os “ventos da História” tão irreversíveis que só restava ao governo português ceder, adaptar-se e ir na onda. Isto é, fazer uma política que fosse ao encontro dos interesses alheios e não dos nossos. É natural que se este sentimento prevalecer, a maioria dos diplomatas vai para o desemprego...

Mas o mais perturbador é que todo o discurso do sr. embaixador apontava, algo descaradamente, para a “compreensão” da acção dos nossos inimigos e “amigos”/aliados, como se eles dispusessem do monopólio da verdade e do acerto e ao governo português de então – que se limitou a defender a sua terra e as suas gentes - tenha destinado o amplexo do erro!
E gostaria que o sr. embaixador explicasse qual foi a época da nossa História em que tivemos uma conjuntura internacional favorável e que não nos custasse um extenso lençol de trabalhos, crises e perdas. E porque apelidou a posição dos governos portugueses de então, de irrealismo e de meter o país num beco sem saída.
Creio que não será difícil ao sr. embaixador perceber que se nos quiséssemos sentar à mesa com Nerhu ou com os dirigentes dos movimentos que nos atacavam, tendo as grandes potências por detrás, e transferíssemos calmamente a soberania para eles, isso nos evitaria, a nós, um ror de chatices e a eles o incómodo de montar operações políticas, diplomáticas e militares, sempre desagradáveis.
Mas a que título e à pala de que princípios é que o faríamos? Se os seus “colegas” que actuaram no tempo da Restauração, pensassem assim talvez não estivéssemos na Fundação do Arménio que gostou da nossa hospitalidade, mas sim no Parque do Retiro, em Madrid, a beber umas “cañas”. E fico por aqui.

Agora vamos ao grande defensor da “Ética Republicana”.

MA aproveitou a ocasião para fazer uma breve explicação/branqueamento do seu percurso como militar e defensor dos movimentos nacionalistas (ao serviço da Guerra Fria). E não se coibiu, no fim, de elogiar o comportamento das FAs portuguesas durante o conflito e afirmar que não foram batidas no terreno. Mais, que os territórios se desenvolveram apesar da guerra. Registamos a evolução, que é de monta!

Explicou que não desertou, pois foi preso pela Polícia Militar (por actividades subversivas e de conluio com o inimigo) e passado à disponibilidade, altura em que lhe foi instaurado um processo pela PIDE, ainda em Luanda. Teve oportunidade de fugir e chegar a Argel. Daí para a frente o seu percurso é conhecido.

No período de debate coloquei-lhe a seguinte questão: “como sabe as FAs têm várias forças suas a actuar em diferentes teatros de operações no estrangeiro. A última unidade a partir, foi uma companhia de comandos, para Cabul . Vamos supor que eu, cidadão português, me metia num avião e ia para o Cairo, para Tripoli, ou Casablanca que é aqui mais perto, ou talvez Argel. Reunia-me lá com mais uns amigos que não concordassem com esta política, fundava uma rádio e passava a emitir textos de apoio aos talibãs, incitando os militares portugueses à deserção, passando informações ao IN, etc.
A pergunta é esta: como é que o senhor reagiria a isto, o que é que me chamaria? E acrescentei (pois já adivinhava a resposta): “ e não me venha dizer que antigamente era uma ditadura e agora estamos em democracia; porque, mesmo que fosse assim, tal facto é marginal à questão”.

Calejado por uma tarimba dialéctica de muitas décadas, o vate não se perturbou e respondeu, incidindo a justificação justamente na dualidade ditadura vs democracia; liberdade vs censura. Acrescentou que defendia a ida das tropas portuguesas para o Afeganistão, pois tudo fora discutido democraticamente e a pedido da NATO, de que fazíamos parte e que se teria invocado o artigo 5º (o ataque a um é um ataque a todos). E, ufano, declarou algures que se fosse hoje faria tudo na mesma.
Deixando a questão da NATO e a razão do envolvimento português que está longe de ser pelas razões que invocou, e registando a coerência no erro, vamos concentrar-nos na inacreditável argumentação que só pode ter origem numa grande confusão de conceitos, e má consciência. Ou ausência dela.

Devemos ver,em primeiro lugar,que o crime de traição é considerado em relação à Pátria, não em relação a governos ou regimes. Não há traidores “democráticos” ou traidores a ditaduras, ou outra coisa qualquer. A traição é sempre relativa a uma causa, um juramento, uma crença.
O cidadão MA quando foi para Argel não se limitou a combater o regime, consubstanciado nos órgãos do Estado, mas a ajudar objectivamente as forças políticas que nos emboscavam as tropas. A não ser que considerassem essas tropas como fiéis apaniguados do regime, coisa que até hoje sempre desmentiu.

Quando a Legião Portuguesa comandada pelo Marquês de Alorna (um maçónico afrancesado) foi enviada para França combater no Exército de Napoleão, nunca veio incorporada nas invasões francesas justamente para não ter de atacar o seu próprio país. Até os imperialistas napoleónicos perceberam isto!

E conhecerá MA algum governo de um país em guerra,que permita ou não se oponha a quem queira contestar a legitimidade do conflito em que estejam envolvidos –ou apoie o lado contrário?(lembra-se que na IIGM,os americanos até construiram campos de internamento para os suspeitos?).

Para encurtar razões, que legitimidade tem o senhor para invocar a democracia e a liberdade, para justificar a sua acção em Argel, quando na altura era membro do PCP – uma das mais fiéis correias de transmissão do Kremlin – e que, como se sabe, foi sempre um modelo de transparência, liberdade e democracia?.

Traição não tem, assim, que ver com ataques a pessoas, instituições ou sistemas políticos, a não ser que os fins justifiquem os meios. Traição tem mais a ver com carácter, ombridade e ser-se inteiro. O “citoyen” MA continua a querer justificar os maus conceitos que lhe povoam a cabeça, deve ser por isso que adjectiva constantemente a ética de “republicana”. A ética é a ciência do Bem, vale por si só, não precisa de adjectivos. Muito menos de adjectivos políticos…

Por isso, poupe-nos e não fale mais em Pátria. A palavra soa mal na sua boca.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SUSPENDER A “DEMOCRACIA”: SERÁ QUE A MANUELA TINHA RAZÃO?

03/6/2010
(Dia do Corpo de Deus)

Dr.ª Manuela Ferreira Leite
Não passa um santo dia em que o comum do cidadão não seja agredido na sua mente, no seu espírito e no seu bolso, por um qualquer evento ou declaração política.

Trata-se de uma verdadeira violentação cívica e psíquica, contumaz, que não há futebol, fado ou Fátima, que releve.

A última “pérola” de que fomos servidos, saíu da boquinha asneirenta do sr. Ministro das Finanças – isto não é um insulto mas antes a constatação do senhor não acertar em nada do que diz – ao defender no parlamento que o aumento do IRS devia ter efeitos retroactivos, pois o bem geral deve sobrepor-se à lei (neste caso a Constituição da República)! Este arrazoado pretende justificar a impossibilidade de uma tal medida ser tida como anticonstitucional.

E se não fora, é seguramente insensata. A insensatez e a ignorância correm, aliás, paredes meias com o despudor e a falta de vergonha com que a generalidade dos políticos diz as coisas mais inverosímeis, quando não uma coisa hoje e o seu contrário, amanhã afivelando o ar mais seráfico deste mundo.

Será que não terá ocorrido ao senhor ministro pensar para que servem então as leis? E se acaso as leis existentes não serem suposto servirem o bem público? Servirão então o quê? E se esta ideia do sr. ministro (do governo?), fizer vencimento, que outras se seguirão? Sim porque a partir daqui, é o vale tudo…Que os responsáveis políticos não dizem normalmente o que pensam, até uma mente infantil percebe; mas será que andam tão desorientados que já nem pensam o que dizem?

Quando se porá cobro a toda esta falta de seriedade, ao mais alto nível, que se desenvolve como uma mancha de óleo e que acobertada pelo termo “democrático” está a desgraçar e a desqualificar o nosso país, Portugal?

Quanto mais tempo iremos admitir, que a nível do Estado se tomem decisões gravíssimas algumas das quais põem em causa a existência de Portugal como país independente, sem consultarem e explicarem à população o que se passa?(caso da UE,por ex.). Até quando iremos admitir que nos faltem à verdade, que falhem constantemente nas previsões de tudo e raramente cumpram as promessas feitas?

Como é possível a maioria da população não se incomodar que o país esteja com uma segurança medíocre; a justiça não funcione – isto é, tudo funciona, mas não se exerce justiça… -; idem para a educação – isto é, tudo funciona, mas os resultados são desastrosos - e que se viva há mais de três décadas acima das nossas reais possibilidades, sem que ninguém responsável tenha tido a coragem de dizer que o rei anda nu ?

Até quando é que a população vai aceitar que cerca de umas 100 a 200.000 famílias que orbitam à volta dos partidos e do Estado suguem a quase totalidade da riqueza produzida na Nação?

O que será necessário acontecer para se perceber que não podemos viver sem termos objectivos políticos institucionais e de longa duração, e estratégias para os alcançar e tal não poder ser constantemente boicotado pela luta partidária (fratricida!) e pelas sucessivas pugnas eleitorais que não permitem que haja tempo para se exercer o Poder e … governar?

E será assim tão difícil apurar responsabilidades pela verdadeira incompetência/corrupção com que foi utilizada a maioria dos fundos comunitários que, tudo somado, pouco nos deixa de mais valias para o futuro? E já pensaram que estes fundos (cerca de dois milhões contos/dia desde 1986) representam uma soma incrível de riqueza que ultrapassa, em muito, as especiarias do Oriente, o ouro do Brasil e as riquezas de África, fundos estes que nós nem sequer tivemos que ter o esforço de enviar navios a buscá-los, pois estavam ao alcance de uma tecla de computador?

De facto é muito lamentável o estado a que nos deixámos chegar. E não devemos culpar ninguém, a não ser nós próprios, por isso.

Ainda não há ruptura de abastecimentos, dificuldades de sobrevivência graves e revoltas sociais extremas. Mas lá chegaremos se não atalharmos caminho.

Infelizmente não acredito que a classe política que temos se regenere e seja capaz de endireitar o país, por razões que não vou expor.

Mas vou expor meia dúzia de acções que julgo urgentes para parar o caminho para o abismo. Mesmo sabendo que vou incorrer no desacordo e na ira de muitos compatriotas.

O estado de sítio deve ser declarado.

O PR (é bom que seja o PR…), deve escolher um governo de salvação nacional, com personalidades independentes dos partidos, que reúnam três características: sejam patriotas, sérios e competentes.

O estado de sítio implicaria: suspensão da actividade partidária; censura à imprensa; proibição de greves, lockouts e manifestações; controle das fronteiras; reavaliação dos compromissos internacionais para determinar quais os que seriam suspensos; comando centralizado de todas as forças militares, policiais e de segurança; manter os tribunais ordinários a funcionar para questões correntes e suspensão dos tribunais superiores; poderes especiais para o Banco de Portugal poder intervir no sector financeiro, etc.

Os objectivos principais do estado de sítio (seis meses a um ano devem chegar), são cinco: a definição de um sistema político que funcionasse em Portugal, com portugueses – já se viu que este sistema de partidos não funciona e temos disso prova desde 1820, já chega;

A definição de objectivos nacionais permanentes e importantes e as estratégias para os alcançar (não pudemos andar constantemente à deriva ou a mudar de rumo!);

A definição de bases de uma economia minimamente sustentável, que possa ser avaliada e corrigida;

A criação de uma equipa alargada de investigadores com poderes especiais para investigarem todas as trafulhices existentes a nível dos órgãos do Estado e não só. Os casos de ilícitos instruídos transitariam para tribunais formados especificamente para julgar, com celeridade, estes casos;

Preparar a realização de referendos para as principais medidas que se vierem a considerar adequadas.

O estado de sítio não deve impedir o livre debate sobre as principais questões em apreço. Deve, porém, discipliná-las e torná-las representativas. E a acabar de vez com o mito idiota de que todas as pessoas podem ou devem, discutir e decidir sobre tudo – mesmo do que não entendem.

Por aqui me fico, sabendo que não farei vencimento. Pensem apenas que seria preferível jogar por antecipação para evitar males maiores.

Para evitar, por exemplo, que venhamos a ficar numa situação semelhante à de 1926.