quarta-feira, 18 de março de 2020

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1 comentário:

Maria Manuela Gorjão disse...

Exmo. Senhor Brandão Ferreira,

Para esta humilde escriba, e se a inevitável perda de faculdades decorrente dos seus setenta e sete anos ainda não obnubilou totalmente as capacidades que lhe permitiram leccionar a disciplina de Matemática do Liceu, ao longo de várias décadas de carreira contributiva, as conclusões que a sua fonte retirou dos números que apresenta revelam a mesma preguiça e incapacidade de análise que me era dado observar nos meus alunos menos aplicados.

Com efeito, os números traduzem inequivocamente a letalidade relativa dos vírus: dividindo 38 por 1329, concluímos que o COVID-19 apresenta, nos Estados Unidos da América do Norte, uma letalidade de 2,859%.

Já dividindo 12 469 por 60 800 000, verificamos que o H1N1 apresentava, no mesmo país, uma letalidade de 0,021%.

Ou seja, o COVID-19 apresenta uma letalidade mais de cem vezes superior ao H1N1!

Tendo em conta o grau de contágio do actual vírus, que segundo várias fontes científicas é superior à do H1N1, com um R-nought (capacidade de propagação) estimado entre 2 e 2,5 (enquanto o do H1N1 era de 1,46; cf., por exemplo, https://www.livescience.com/covid-19-pandemic-vs-swine-flu.html), a ausência de medidas de prevenção massivas (que se enquadrará, certamente, naquilo que a sua fonte designa por “histeria”) teria como provável consequência um nível de infecção superior aos referidos 60 800 000, resultando num volume de mortes acima daquele que se obtém multiplicando esse número por 2,859%.

Ou seja, teríamos, nos Estados Unidos da América do Norte, 1 738 450 mortes por COVID-19 (face às 12 469 causadas pelo H1N1), caso se permitisse que o este vírus se disseminasse tanto como o H1N1.

Nada menos do que 139 vezes mais mortes por COVID-19 relativamente às originadas pelo H1N1!

Talvez seja por isso que pessoas como o senhor e eu (que nos situamos, por razões de enquadramento etário, em grupos de risco, sendo o meu, certamente, ainda maior do que o seu) deveremos agradecer (aos governos, à comunicação social e aos cidadãos, independentemente da sua cor política) que se conceda a este vírus relevância suficiente.

Já no que concerne à reacção da sociedade perante ambos os vírus, e regressando à clara indolência cognitiva da sua fonte, recomendo a leitura de https://www.reuters.com/article/uk-factcheck-h1n1-totally-chill/partly-false-claim-covid-19-and-h1n1-numbers-compared-the-public-was-totally-chill-during-the-h1n1-pandemic-of-2009-2010-while-covid-19-is-causing-mass-hysteria-idUSKBN2172HT (“As reported by Reuters during the early days of the swine flu outbreak, swine flu chatter spread swiftly through blogs and social network sites like Twitter and Facebook while U.S. cable news networks’ saturation coverage of the outbreak gave way to a major political story. An academic paper that analyzed the hysteria presented by the media at the time says “media attention was immense”) e, especificamente, a consulta de https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/13669877.2014.923029 (“Swine flu and hype: a systematic review of media dramatization of the H1N1 influenza pandemic”), por forma a verificar adequadamente a reacção da imprensa da época.

Ou seja, uma reacção, essa sim, bastante desproporcionada, face a uma epidemia bastante mais inofensiva do que a actual.

Desconheço, no entanto, se o ex-Presidente Obama apresentou, até à data, qualquer reclamação relativamente à mesma.

Melhores cumprimentos,
Maria Manuela Gorjão