“… Escrevo por muitos motivos que
expressei no lançamento do volume I, mas não explicitei, na altura, que também
o faço por egoísmo puro. Isto é, escrever ajuda a manter o equilíbrio psicossomático
e evita que tenha tentações para sair para a rua e desatar a agredir coisas e
pessoas. É assim como se a ira e a agressividade saíssem pela ponta da caneta,
como se estivesse debaixo de uma lei da Física que aprendíamos no liceu,
conhecida pelo “poder das pontas” – as coisas que a gente aprendia!"
É que cada vez somos agredidos
diariamente por barbaridades imorais.
O livro permite percorrer a vida
nacional e, pontualmente, a internacional, nas matérias abrangidas (Política,
Politica e Defesa Nacional, Geopolítica/ Geoestratégia/ Estratégia/ Relações
Internacionais, Forças Armadas e Sociologia Militar, História, Sociedade e
Diversos).
Convém ao em que agora estamos,
dissecar o título do livro.
A palavra “tempo” surte como a
mais importante. Tempo não tem aqui nada a ver com as condições meteorológicas
ou climáticas de um dado momento ou local.
O tempo aqui invocado tem uma
definição científica: “a grandeza física directamente associada ao correcto
sequenciamento, mediante ordem de ocorrência, dos eventos naturais;
estabelecido segundo coincidências simultaneamente espaciais e temporais entre
tais eventos e as indicações de um ou mais relógios adequadamente posicionados,
sincronizados e atrelados de forma adequada à origem e aos eixos coordenados do
referencial para o qual define-se o tempo”.
A definição é de Einstein e dita
assim, ninguém a entende. Faz lembrar até, uma pergunta de algibeira e que é
esta: como é que se conseguiu acertar a hora ao 1º relógio, depois de
inventado?
Toda a gente, porém, tem a noção
do que é o tempo, mesmo sem o saber explicar.
Para facilidade de entendimento,
limitamo-nos a referir que, independentemente da percepção que os nossos
sentidos nos dão do passar do tempo, o tempo é um recurso aparentemente
inesgotável, que se vai renovando anualmente – na justa proporção em que a
Terra perfaz a sua elipse de translação à volta do sol.
Este intervalo foi então dividido
- agora com a preciosa ajuda do nosso único satélite, a Lua – em meses e
semanas; dias – estes resultantes do movimento de rotação da Terra – horas,
minutos e segundos.
Querem divertir-se com a
definição actual de “segundo”, como unidade padrão? Aqui vai: “é o tempo de
duração de 9.192.631.770 vibrações da radiação emitida pela transição
eletrônica entre os níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de Césio
133”.
Imaginem o que é que os caloiros
da Academia Militar, conhecidos na gíria como “infras”, teriam sofrido se eu,
na altura em que lhes infernizava a existência, já conhecesse esta definição?
Bom, acredito que não imaginem.
Adiante…
*****
Estamos assim situados
relativamente ao “tempo”; e ao “à frente”?
Creio que o poderemos colocar no
âmbito dos advérbios de tempo, modo e lugar.
Ou seja, o conteúdo do livro –
isto é os escritos, nele incluídos, andavam ou estavam adiante do calendário
vivido no momento.
Isto não tem nada a ver com
adivinhação pois não tenho, ao que sei, o dom de prever o futuro. Basearam-se
apenas em análise das circunstâncias, das pessoas e dos actos, e das suas
possíveis consequências.
Por isso são sempre falíveis.
Andar à frente do tempo é um
desconforto, um desgaste e uma frustração.
Por isso é que, em Política, não
se pode ter razão antes de tempo – a não ser que se tenha autoridade para tal –
e, daí, não ser de espantar que o comportamento comum seja o de andar como a
cortiça, acompanhando a espuma do tempo e a corrente das águas.
Daqui deriva também, o
politicamente correcto e a célebre frase “só os burros é que não mudam”!
Estar à frente do tempo é estar
sempre em dessíntonia com a maioria dos demais e é correr o risco de ser
acusado de “perturbador” e portador de más noticias.
Sabe-se como era costume no
Império Otomano cortar as cabeças aos assim chamados. Não parece ter sido uma
prática despicienda: a “Sublime Porta” aguentou-se como império por cerca de
500 anos e ainda hoje dispõe de um poder nada desprezível!...
*****
Andar à frente do tempo, quer
hoje dizer tomarmos consciência que Portugal – o nosso país – está, como Nação
independente, numa das esquinas mais perigosas da sua História. E corre sério
perigo de ir desaparecendo, como já está a acontecer.
Os perigos são internos e
externos e até agora a sociedade portuguesa – com os seus dirigentes políticos
à cabeça – não tem tido a presciência de andar à “frente do tempo” e por isso
perdemos a capacidade e até o interesse em agir. Apenas reagimos, por norma,
tarde e mal.
Sem embargo de já se terem feito
dezenas e dezenas de análises, diagnósticos e propostas de terapia. Tudo em
vão.
Há 40 anos que não temos uma
Ideia de, e para Portugal; não temos uma política clara sobre nada, nem
prolongada no tempo; tão pouco qualquer estratégia para a alcançar e manter.
A Moral relativizou -se; o
facilitismo instalou-se, a Ética, foi-se!
O partidarismo, o reduzir tudo a
negócio, o materialismo e o hedonismo, tomaram conta da sociedade e o país, no
seu todo, resvalou inclinadamente, para a corrupção. Corrupção moral, corrupção
mental e corrupção física.
Apesar das coisas mais
fundamentais só fugidiamente constarem das notícias e do comentário público, o
que acabo de descrever vem estampado em catadupas, diariamente, na proliferação
de OCS de que somos servidos.
De pouco serve, porém, já que
raramente se emenda a mão ou se resolve um problema.
Ou seja, a tão incensada
liberdade de expressão, de imprensa, de opinião, etc., de pouco tem servido (ou
seja, serve para nos ir desmoralizando cada vez mais e a não se acreditar em
nada).
Por isso é que considero a
sentença do processo “Face Oculta”- apesar de ainda só ir em 1ª instância –
como histórico!
É uma esperança…
*****
Este é o pano de fundo – muito
sucinto – que acomoda os grandes desafios político/estratégicos que nos ameaçam
o horizonte.
Vou apontar os que considero como
principais.
- Liderança
política/sistema/regime político, inadequados;
- Não se
fazer uma política nacional;
- A nossa
prestação na União Europeia;
- A
globalização financeira;
- O
relativismo moral.
Vou tentar dar umas pinceladas
rápidas sobre cada um deles.
Quanto ao primeiro existe uma
necessidade imperiosa de questionar, alterar e melhorar o regime e o sistema
político em vigor. Eles são os principais responsáveis pela maneira como a
sociedade funciona e o país progride.
E – não menos relevante – é
responsável pelo modo como se escolhem os cidadãos que vão ocupar os cargos
políticos e que, supostamente nos representam.
Seria bom e desejável que a Nação
Portuguesa se tentasse nivelar pela Aristocracia do Bem, do Carácter e do
Saber, em vez de se degradar pelo nivelamento acéfalo e individualista, da
quantificação massificada, a que passaram a chamar e confundem com
“Democracia”.
É bom que se faça isto por
evolução em vez de revolução, pondo fim a um ciclo que perdura, desde 1817.
Daqui decorre que a política
deixou de ser nacional para estar ao serviço de interesses estranhos e dos …
negócios.
Ora já alguém, que sabia o que
dizia e do que falava, que “a política ou é nacional, ou não o é”.
Como a política deixou de ser
nacional decorre, entre muitas outras coisas, que nos estamos a suicidar
colectivamente. Estamos a desaparecer. Dou alguns exemplos.
- Destruição
acelerada de todo o Poder Nacional; ora sem poder não há estratégia, por
não poder haver opções de se fazer seja o que for; não havendo estratégia,
não se pode delinear uma política. Apenas se finge que temos uma Política.
É o que acontece;
- Alienamos
soberania, alegremente, em todos os campos; o vocábulo “individualidade”
deixou de se ouvir e apenas se vai mantendo a “identidade”. Porém é papa
para enganar os tolos, já que esta não se consegue manter sem aquela.
Aliás, passámos constitucionalmente a nossa soberania para Bruxelas – essa
entidade que ninguém sabe definir – e engalanámos em arco;
- Suicidamo-nos
em termos demográficos, não só porque não nascem crianças – um problema
terrível sobre cujas causas não se quer falar a verdade – mas também
porque emigramos muito (e não é por excesso de população) e deixamos que
outros imigrem para cá em quantidades de difícil absorção e com regras
permissivas de muito duvidosa qualidade e interesse, das quais os vistos
“gold” são a última aberração: uma autêntica prostituição da identidade!
- Sobretudo
estamos a suicidar-nos por dentro, por desmoralização, por descaso, por
falta de percepção dos perigos, por vício de raciocínio ligado a mitos e
por descrença no devir da Portugalidade como imperativo nacional.
A nossa prestação na UE é um
desastre de proporções calamitosas só atenuado pelos erros que outros países
pertencentes ao “grupo” também cometem.
Sintetizando direi que a entrada
na CEE, pouco ponderada e enfraquecida pela derreada situação
política/económica/financeira/social, da altura, enformou de um erro capital,
que se tem agravado em muito, desde Maastricht: ter-se encarado a CEE como um
objectivo nacional permanente histórico, logo teleológico – o que aquela
entrada não deve ser – em vez de se ter considerado como um objectivo nacional
importante, e por isso transitório (ou seja, enquanto servir os nossos
interesses), que é como essa adesão devia ter sido assumida.
A entrada no “Euro” representou
um dos erros que nos estão a ser fatais e que foi agravado pelo mau uso que se
fez dele.
Hoje já se fala em sair do euro,
mas apenas se invocam razões económicas e financeiras; ainda não ouvi ninguém
dizer que as verdadeiras razões não são essas: são razões de geopolítica.
As mesmas razões, que deveriam ter
sustentado “ab initio”, a nossa não adesão ao mesmo...
A UE – que caminha rapidamente
para a “Eurábia”, logo para uma miríade de mini guerras civis por todo o lado –
só pode ter tês caminhos daqui para a frente:
- Continuar
a patinar como até agora, e nós a patinar com ela;
- Desmembrar-se,
indo cada um para seu lado, voltando-se à hierarquia das potências – que,
verdadeiramente, nunca foi abandonada – e, nesse caso, nós ficamos com a
“união ibérica”;
- Haver
fuga para a frente (que, penso, será o que vai ser tentado), a caminho de
um federalismo de contornos indefinidos o que representa, a prazo, o
desaparecimento de Portugal.
Nenhuma das hipóteses é boa para
nós mas, aparentemente, ninguém se preocupa com isso, nem se preparam
alternativas. E mais não digo.
Finalmente temos a “Globalização”
que, ao contrário daquela – espiritual – que os portugueses liderados pelas
Ordens Militares Religiosas, onde sobressaía a Ordem de Cristo, quiseram
implantar no século XV e início do XVI.
Agora a globalização é económica,
baseada na concentração e no domínio financeiro, o que tem logrado ultrapassar
as nações supostamente representadas pelos seus órgãos estaduais, pois estes já
são na sua maioria, no mundo ocidental (mas não exclusivamente) – e em Portugal
a partir dos anos 80 do século XX – por pessoas recrutadas e endoutrinadas no
seio de organismos “transnacionais”, que se mantêm na “sombra” do conhecimento
da generalidade dos cidadãos.
“Cidadãos” tidos, ao que se
constata, como peões descartáveis no tabuleiro de xadrez do poder e cuja
importância reside apenas no consumo que realizam.
Não tenho tempo, nem este é o
local próprio, para ir mais além, mas não posso deixar de frisar que tal estado
de coisas, só se pode manter e é potenciado, pelo relativismo moral (onde
impera o ataque à Igreja de Cristo); a destruição da família e das Pátrias, em
que caímos, e pelo “pão e circo” de que nos alimentamos.
*****
Poderão pensar que acabei de
fazer um manifesto político. Se assim pensaram, pensaram bem, pois foi exactamente
o que intentei fazer.
Nós temos que parar com o
desaparecimento da Pátria Portuguesa e do baixar das guardas que sempre a
protegeram. E temos que tentar passar a viver de bons Princípios. Devemos fazer
tudo isto, usando de todos os meios ao nosso alcance.
Já chega de cobardia e
desmoralização colectiva.
O que estou a dizer não
representa uma bravata, é um discurso amadurecido.
Este é o meu pensamento, este é o
meu sentir. De pouco servirá, partindo do princípio que tem algum valimento, se
não o passar a ninguém e possa servir de mínimo divisor comum – que tanta falta
faz à velha casa Lusitana.
Daí estar a lançar este livro que
é dedicado a Portugal e aos Portugueses.
Que viva Portugal (naturalmente).