terça-feira, 30 de julho de 2019

O VAZIO DE CRAVINHO


O VAZIO DE CRAVINHO
29/7/19

“O público, como todos os soberanos, como os reis, os povos e as mulheres, não gosta que se lhes diga a verdade”.
Alexandre Dumas
Não contente com a desajeitada (e malcriada) reacção - que teve perante a mais do que adequada entrevista dada pelo Almirante CEMGFA, no pretérito dia 18 de Julho, onde este chamou a atenção para meia dúzia de problemas (das muitas dezenas existentes), há muito tempo por resolver – por culpa do poder político, não dos militares – veio o circunstante escrever no jornal “Público”, de 24/7, um artigo.
Naturalmente, sem o dizer, de resposta ao oficial general de maior hierarquia militar, sem também nunca lhe citar o nome, ou lhe fazer qualquer referência.
Mas se na verdade queria dar alguma resposta ou “tranquilizar” a opinião pública, perante os problemas apresentados, a cartada saiu furada, pois os cerca de quatro mil caracteres impressos espelham basicamente o … nada.
Foi um exercício sobre o nada; a página podia ter saído em branco que era igual, com a vantagem de ser mais honesta.
É bem o espelho deste diplomata por empréstimo (ou também chamado de politico), já que não pertence à carreira diplomática, e da sua equipa, cujos principais membros parecem que foram escolhidos a dedo.
Pelo menos a Instituição Militar esteve até agora a salvo de ter um político ”graduado” ou até mesmo, nomeado general para exercer sabe-se lá que funções…
Como ainda não conseguiram colocar um “boy” de um partido qualquer, a comandar a Base Aérea de Beja, por exemplo, o que pelo andar da carruagem não deve faltar muito …
É de facto inacreditável o número de lugares comuns – ideia traduzida em linguagem castrense, como “generalidades e culatras” – que percorrem todo o escrito.
A outra característica do texto é a mentira; a mentira sem pudor, pois sabem que nenhum chefe militar até hoje, os desacreditou ou desmentiu em público. E a mentira maior que dura pelo menos desde o primeiro governo do Professor Cavaco Silva, é que trabalham em conjunto, ou sintonia, com as chefias militares, o que raramente acontece; tão pouco ligam seja o que for ao que eles dizem ou propõem; consultam-nos às vezes, com prazos curtíssimos para estes se pronunciarem; criam grupos de trabalho à parte, cada vez mais com civis que percebem tanto de coisas militares como a Madonna percebe de lagares de azeite; retiram constantemente aos chefes militares competências administrativas; inoculam o Ministério da Defesa de “primos” ideológicos, chegando-se ao ponto, desta equipa, confrontar as chefias militares com decisões já tomadas sem mais aquelas.
E como o MDN estava aflitinho foi pedir ajuda ao Director – Geral de Pessoal do respectivo ministério, há 17 anos, que tem enormes responsabilidades em todo este desastre.
O cidadão, conhecido como Alberto Coelho, habituado a actuar na sombra, e a influenciar negativamente os ministros e secretários de estado, que por lá passam, desde o tempo do ministro Portas, atreveu-se a fazer duas intervenções na SIC e na RTP 1, que são penosas de se ouvir. Mas penosas mesmo.
Esta alminha além de não saber falar, não conseguir articular uma frase com sujeito, predicado e complemento directo, de meter os pés pelas mãos e falar como se fosse disléxico, a única coisa que acrescentou ao vazio do ministro, foi a novidade (!) de um novo portal!
Insinuou ainda, o capcioso, que os “jovens” (termo, que deve ter repetido duas vezes em cada frase) evoluíram muito e que os Ramos das FA não souberam adaptar-se a essa mudança…
Tal idiotice levar-nos-ia longe, mas convém lembrar-lhe que as missões das FA não mudaram; que na vida militar o conjunto vale mais que o individuo e que o modo como se transformam civis em militares está inventado há mais de dois mil anos e que não é propriamente um avençado político/partidário, que terá algum crédito nas suas declarações descabidas. Sem embargo da pesporrência atrevida com que o faz.
 E, já agora, atente também que sendo o serviço militar voluntário, os recrutas é que têm que mostrar que são capazes de lidar com as exigências requeridas.
               Numa palavra, os voluntários é que se têm que adaptar à “tropa” e não esta àqueles.
               Ainda dito de outra maneira que é para ver se entende (já vimos que precisa): os mancebos é que têm que querer vir para a Instituição Militar; não é esta que tem que andar atrás deles…
               Vamos a ver se não invertemos as coisas mais do que já estão.
                Porque é que não se oferece para tirar uma recruta? Ainda está em boa altura e talvez aprendesse alguma coisa.
                                                                                  *****
Como transpareceu da reacção do ministro à entrevista, os chefes militares existem simplesmente para serem seus mainatos e comerem a papa que lhes é posta à frente.
A situação é pois, muito mais grave do que aparenta ser.
E são vingativos, uma das razões, por exemplo, pela qual o anterior Chefe do Estado-Maior da Força Aérea não foi reconduzido, encontra-se seguramente, no facto de ter chamado, publicamente, a atenção de que não tinha efectivos, nomeadamente para as novas missões que de um dia para o outro, foram atribuídas àquele Ramo, relativamente aos fogos e ter oposto reticências à mudança de dispositivo, para que querem empurrar a Força Aérea.
Ora o Dispositivo faz parte e decorre do Conceito Estratégico Militar, documento que deve ser aprovado pelo Conselho de Chefes; pelo Conselho Superior Militar e ratificado pelo Conselho Superior de Defesa Nacional…
E o actual Director Nacional da PSP que se cuide depois de, no dia de aniversário da força, ter referido a existência de problemas e centenas de guardas terem virado as costas aquando do seu discurso e abandonado o recinto, em protesto, quando chegou a vez do inefável ministro da tutela.       
Creio que nisto a hierarquia da PSP não deve ter qualquer responsabilidade: é que os polícias habituados aos sindicatos (e aparentemente o “movimento zero” é transversal a tudo), já nem lhes obedecem (por enquanto apenas neste âmbito).
Aliás, este pensamento sobre a figura dos “mainatos”, encontra-se mais espalhado do que se pensa, lembro apenas o batpizado Diogo Freitas do Amaral, figura de um peculiar hibridismo político/ideológico, ter lançado publicamente a ideia de pôr os generais e almirantes a andar de bicicleta. Enfim, certamente preocupações ambientais “avant la lettre”!
Insiste o ministro (será que é masoquista?) que os problemas são conhecidos e estão a ser resolvidos.
Pois toda a gente sabe que os problemas existem, a começar pelos responsáveis políticos que os criaram e há muito que, dos mesmos, têm sido avisados pelas chefias militares que, faz tempo, deveriam ter dado um murro na mesa.
E não sei se deveriam ficar-se pela mesa.
Agora que tenha havido qualquer vontade política em os resolver é que é outra afirmação mentirosa, quiçá, ridícula.
E já que focou todo o seu “nada” no pessoal, sempre lhe quero dizer que os quadros permanentes têm sido reduzidos continuadamente; que uma medida sobre pessoal se repercute pelo menos durante 20 anos; que não há reservas mobilizáveis; que o pessoal do Q.P. continua com a carreira congelada, sendo promovidos (uma vez) nos últimos dias do ano, sonegando-lhes proventos; ou seja não há lei nem roque – uma situação cem vezes mais gravosa daquela que levou ao 25 de Abril; os chefes não têm autoridade para promover um soldado, estando essa decisão dependente dos humores de um qualquer quarto secretário do ministério das cativações, perdão, das finanças; que quanto às praças o desastre começou com o fim do serviço militar obrigatório - uma medida política de lesa - Pátria, movida pela demagogia de dar satisfação às juventudes partidárias (PC excluído) e pela convicção tola de que, com a queda do muro de Berlim, iam acabar as guerras e as crises.
A coisa não tem parado de piorar, pois a ignorância militante, a estupidez política e preconceitos atávicos de alguma intelectualidade e jornalistas, tem votado a Instituição Militar para a prateleira das “inutilidades toleradas”.
A cada vez menor perda de referências morais e éticas, virtudes cívicas e a parafernália infecta de “ismos”, que têm decomposto a sociedade actual, fazem o resto.
Por isso as Forças Armadas lutam com gravosos problemas de recrutamento, tanto em qualidade como em quantidade; a retenção é um desastre e a reinserção é outro igual. O pagamento miserável, a falta de incentivos e a falta da defesa institucional da dignidade do “serviço” militar, tornam a situação descontrolada e irreversível.
“Recrutar, Reter e Reinserir” não é mais do que uma reedição serôdia de outros “3 Rs” de má memória (lembram-se do Reestruturar, Redimensionar e Racionalizar, do “cabo” Nogueira?), com que intitulou o artigo, mas que só querem dizer reduzir, reduzir e reduzir.
Aliás, mentem tanto, que depois de reduzirem constantemente o número de efectivos, abaixo de qualquer nível coerente seja com o que for, ainda impedem que os mesmos sejam recrutados para pouparem uns trocos!
Não têm mesmo vergonha na cara!
Faça-me ao menos um favor: não torne a falar na necessidade de recrutar mulheres. As mulheres na tropa são um modernismo idiota e mandá-las combater representa até, um retrocesso civilizacional!
As mulheres só possuem alguma mais - valia em poucas especialidades, a mais evidente das quais é a do âmbito da saúde (desde que não vão para maqueiros de um pelotão de infantaria…).
As mulheres não resolvem problema algum e acrescentam muitos (a gestão de pessoal é, por exemplo, uma dor de cabeça).
E termino dizendo uma coisa que vai adorar ouvir: a grande mais-valia das mulheres é aguentarem a retaguarda – como sempre fizeram – e criarem bons filhos para poderem ser bons soldados, caso necessário.
E até para não termos um dia destes no que resta das fileiras, 90% de voluntários (serão mesmo voluntários?) de gente de várias cores e feitios, nacionalizados à pressa, mas que de portugueses não têm nada.
Deviam era, isso sim, antes de obterem a nacionalidade portuguesa, ser obrigados a cumprir um tempo mínimo de serviço militar.
Entretanto, ministro Cravinho, remeta-se ao silêncio, entretenha-se a ler, sei lá, a História da Guerra do Peloponeso, do Tucídides e, na primeira oportunidade, peça ao “primeiro” arvorado Costa, para sair pela esquerda (muito) baixa.
Suavemente e sem dar nas vistas (e não se esqueça de levar consigo o tal de Coelho).



                                    João José Brandão Ferreira
                                   (Oficial Piloto Aviador Ref.)

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