sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

UM PROBLEMA CHAMADO TAP, OU A REPÚBLICA DA ASNEIRA?

“É mais importante ser português do que viver bem… Entendimento que a muitos esqueceu.”
(Se ainda não tem autor, passo a ser eu).

Lá vou escrever de modo a ficar de mal com quase todos, mas que se há - de fazer? Nós virámos mesmo a república da asneira!
O mal está feito, é extenso e só por milagre será reversível.
O problema actual da TAP (e, por extensão, do país) começou nos idos de 1974/5.
Nessa altura o caos instalou-se e quando a situação política e social “estabilizou” a TAP, à semelhança da generalidade do Estado, passou a viver entre a incompetência das administrações – fruto da partidocracia e corruptocracia, que passou a reinar (não a “Democracia”) – e a “ditadura” dos sindicatos – que uma Constituição parida no meio de sequestros vários impôs em termos marxistas (e algo utópicos) e, até hoje, nunca devidamente revistos.
As restantes empresas ligadas à Aviação, que proliferaram de então para cá, e que conseguiram fugir a esta matriz caíram, por sua vez, no seio da inconstância da oferta e da procura, raras sendo as que não entraram numa subcultura de capitalismo selvagem.
Ao contrário da TAP (e também da SATA) têm que lutar pela sua sobrevivência, o que inclui o esforço dos seus trabalhadores…
A TAP nasceu bem e conseguiu manter desde o início uma escola exigente, elevados padrões de segurança de voo e uma boa qualidade de serviço.
Com altos e baixos estes “pilares” foram-se mantendo até hoje. Mas o resto virou desastre.
A última gerência com lucros foi a da administração Vaz Pinto, em 1974.
Terminadas que foram as rotas “protegidas” entre as várias parcelas ultramarinas portuguesas, de então, dispararam as exigências sindicais – levando a benesses absurdas, embora longe de serem as únicas no país – e o descontrolo das administrações, pagas a peso de ouro.
A actual – e ainda se está para perceber porque se foi deitar mão de estrangeiros, e acabados de sair de uma empresa falida – ganha, ao que se sabe, mais do que o inquilino da Casa Branca…
Seria para se evitar que aquele bolo apetecível fosse abocanhado pelos próceres das forças políticas que se revezavam nas lides governativas?
Tem sido um fartar vilanagem, a que se tem que juntar bastas admissões de “boys e girls” dos Partidos e reformas antecipadas para reduzir pessoal, colmatadas logo de seguida, com novas admissões!...
Pelo meio ocorreram duas requisições civis mal engendradas e, em 1999, registou-se uma tentativa de venda/associação da TAP com a SWISSAIR, que se saldou por um fracasso rotundo, não sem que a TAP ficasse prejudicada por ter cedido a sua carteira de reservas – uma das mais-valias que possuía.
Comprou-se a Portugália por 140 milhões de euros (sem passivo), ao BESI, em 6/11/2006, mas que muitos defendem ter sido um preço muito acima do seu valor real.
O último negócio foi o da empresa de manutenção no Brasil (VEM), em 2007, por 500 milhões de euros, que se tem revelado ruinoso e está sob investigação da PGR, desde 2013.
E de nada tem valido à transportadora nacional, ter vivido em parte, em termos de pessoal, dos especialistas que tem conseguido “atrair”, vindos da Força Aérea, onerando os custos desta e aliviando os seus, com o alegre assobiar para o ar dos sucessivos ministros da Defesa e chefias militares.
Passaram os anos e foi-se acumulando o passivo – de que raramente se fala – mas que deve rondar os 1.2 biliões de euros (1200 mil milhões).
Vive-se de engenharia financeira e num limbo estreito e estranho, entre o que a Comissão Europeia autoriza os estados nacionais, a fazerem em termos de injecção de capital, nas suas companhias de bandeira.
Os responsáveis maiores por tudo o que se tem passado não podem deixar de ser os sucessivos governos, cuja vontade, capacidade e autoridade para resolver o problema tem sido praticamente nulo.
E cada vez que os sindicatos do pessoal da TAP, com destaque para o dos pilotos, que têm vivido à custa de condições extremamente benignas, plasmadas nos contratos coletivos de trabalho, ameaçam (nem é preciso fazerem) com alguma greve, os governos, por norma, ajoelham. E rezam para que passe depressa…
E resta saber no que já cederam para que nove sindicatos já se tenham posto de fora da greve.
Isto para já não falar em medidas “off the record” que têm permitido suavizar a austeridade imposta, que é “para todos”, mas apenas efectiva em alguns…
Agora a situação chegou a um ponto de ruptura: o passivo não é sustentável; a gestão não descola; a estratégia de quem está no poder tem passado apenas por vender tudo (até a nacionalidade) à medida que o aperto financeiro tem picos; e o Patriotismo foi-se, não se vislumbrando ninguém nos passos do poder a quem Portugal, como Nação, interesse.
A conjuntura actual é dramática com a liquidez de tesouraria do país sempre na “corda bamba”.
A TAP, aliás, um dia destes não vai ter dinheiro para pagar vencimentos (aí o assunto resolvia-se num instante…), e a dificuldade actual na transferência de verbas da África do Sul, Angola e Venezuela (como já acontecera com a Guiné) e o anúncio de um empréstimo de 250 milhões de euros, é seguramente uma das causas e consequência.
O Governo acossado de todos os lados, sem meios para agir e vivendo da demagogia dos votos, quer é ver-se livre do problema de qualquer maneira.
Daí a pressa da privatização (uma “pressa” que se arrasta desde 1997 – apesar da declaração de intenções recuar a 1991 e a Cavaco Silva…).
Resta ainda perceber que sentido faz - se a TAP era para vender -as recentes compras de novos aviões e abertura de novas rotas. Será que é oferta para os compradores?
Ora no estado actual da TAP, só se consegue vender a empresa por “um euro” (dado o passivo, os maus negócios e a necessidade de investimento), além do que ninguém vai gastar um cêntimo, caso não possa ficar a mandar.
Muito menos ainda, vai querer ficar com uma empresa que tem 12 sindicatos aos gritos e que vão passar a ser, como diriam os americanos “a pain in the ass”.
Por outro lado, a conjuntura política e social, em Portugal, faz confluir o interesse da não privatização da TAP, em todos os sectores políticos e sindicais, que se opõem ao actual governo e maioria.
Daí todos invocarem o “interesse nacional” quando, no fundo, querem – e não quero ser injusto com quem tem propósitos honestos - uns, o derrube do governo; os outros a manutenção dos postos de trabalho e respectivas “mordomias” (ou, até, aumentá-las) e, se possível garantirem ganhos no processo de privatização, como começou a ser negociado, algo secretamente, no consulado de A. Guterres.
As posições estremaram-se, entretanto, e já ninguém pode recuar sem perder a face.
Tenho cá um pressentimento que vai tudo correr mal (para variar) e todos (o País), vai sair a perder.
É muito evidente que a TAP não devia ser privatizada (como outras empresas já foram), para mãos estrangeiras, por razões estratégicas de interesse nacional português.[1]
Mas que se pode esperar de vagas sucessivas de políticos que abdicaram da sua condição de portugueses, para quem apenas o negócio interessa e se têm mostrado capazes de vender a própria mãe?
Ficando a TAP em mãos nacionais, porém, eu como cidadão português, com os direitos e deveres em dia, não estou para continuar a conviver com uma empresa a funcionar nos moldes em que tem funcionado, nos últimos 40 anos.
Tinha que ser saneada de alto-a-baixo.
Para o conseguir é condição necessária pôr termo a este Sistema Político Partidocrático - que tem arruinado (e envergonhado) o País e nos conduziu ao descalabro político, social e económico e que tudo tem feito para acabar com a nacionalidade – e mudar a lei sindical que está profundamente errada.
Ora só se consegue fazer isto mudando a Constituição – se é que precisamos de alguma!
Coisa que o bloqueamento político em que estamos – e não se vê saída – impede absolutamente.
Estamos pois num impasse, que a requisição civil, neste particular, se arrisca a não resolver, dados os inúmeros alçapões que a lei permite e a dificuldade que existe em obrigar seja quem for a ir voar.[2]
E tudo o que vier a seguir (?) vai piorar as coisas, de que as “interpretações” jurídicas, ameaças várias e o desentendimento dos sindicatos, já está a tornar num nó górdio.
O governo só resolveria as coisas a seu favor se intentasse uma requisição militar (como os espanhóis fizeram há poucos anos com os controladores).
Só que não têm autoridade para tanto e, até agora, todos se “esqueceram” de regulamentar tal hipótese.
E se alguém o intentar espero que as chefias militares tenham o bom senso – até porque não lhes resta mais nada – em colocar as coisas nos seus devidos termos.
Isto tem mesmo que bater no fundo. Até lá o país continuará a sua queda livre.
O actual imbróglio podia ter, todavia, o mérito de relançar a questão da venda do país e da alienação da nacionalidade, a que esta prolongada política está a tornar inexorável, com a ilusão de vivermos melhor.
Questão que a poucos tem ocorrido e a outros esqueceu.



[1] Independentemente da grande maioria das empresas de aviação de bandeira, europeias, terem privatizado em diferentes modalidades. Cada caso é um caso.
[2] Porque será que ainda ninguém se deu ao trabalho de actualizar o Dec. Lei da requisição civil que remonta a Novembro de 1974?

NACIONALIDADE PORTUGUESA OLIVENTINOS

Há seis anos que a Associação Cultural Além Guadiana tem vindo a contribuir com a valorização da nossa herança cultural portuguesa e à aproximação da lusofonia, em diversos âmbitos como a música, a língua, as tradições, a literatura, etc., tudo isto de harmonia com os nossos representantes institucionais e com a cidadania de Olivença, lugar ímpar na península ibérica devido à sua história partilhada entre Portugal e Espanha.

Uma das actividades mais importantes da nossa associação cultural tem sido o acompanhamento do processo de adquisição da nacionalidade portuguesa para os olivençanos que o desejarem.

Precisamente, as pessoas naturais de Olivença e os seus descendentes têm a faculdade de usufruir duas nacionalidades, a espanhola e a portuguesa. Para muitos de nós, isto encerra um imenso valor afectivo, simbólico, cultural, etc, exprimindo uma identidade vincada pela principal singularidade de
Olivença: ser bicultural.

Após um longo percurso, há duas semanas foi entregue em Olivença aos requerentes a resolução sobre a atribuição de nacionalidade portuguesa, um feito que, em nosso juízo, tem uma enorme transcendência.  Por isso, a fim de informar sobre este assunto, na sexta-feira dia 26 de Dezembro pelas 13:00 h. daremos no Hotel Palácio Arteaga de Olivença uma conferência de imprensa na qual estarão presentes representantes políticos, a imprensa e cidadãos interessados.

Para qualquer informação ou esclarecimento:
Eduardo Machado (Vogal e fundador): 00 34 667764470
Joaquín Fuentes (Presidente e fundador): 00 34 626566469

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O SENTIDO DA VIDA

“O espírito português é avesso às grandes abstrações, às grandes ideias que ultrapassam o o sentido humano”.
Jorge Dias[1]

“Na morte o homem acaba e a alma começa”.
Victor Hugo

O sentido da vida escapa-me.

Escapa-me o sentido da vida.

Nascemos, vivemos e morremos…

Não sabemos de onde vimos e porque vimos.

Passamos um tempo mais ou menos fugaz, em que pensamos, por norma pouco e mal.

E depois partimos sem saber para onde vamos, ou se vamos.

Então porque ou para que, vivemos? Quem nos enviou? Foi um acaso biológico?

Para fazer o quê? Com que finalidade?

Mas se morremos e ficamos apenas pó, que sentido é que isso tem?

Para fazer sentido só algo que nos transcenda. Deus?

Deus faz sentido. Mas só faz sentido se O alcançarmos e deixarmos que Ele nos alcance.

Deus é, assim, uma realidade teológica (e teleológica); uma necessidade filosófica e uma (quase) verdade científica.

Só aparenta haver três vias para o alcançar: pela Razão, pela Fé ou por ambas.

Mas enquanto O não alcançamos a vida não faz sentido. É apenas um fenómeno da Natureza? Um “grão de areia” na imensidão inimaginável do Cosmos? Imensidão que é outra coisa que sentido, não faz…

Mas mesmo supondo que a nossa relação com Deus é pacífica, continua a não fazer sentido, o sentido do nosso caminhar pela Terra.

No conceito cristão, o sentido da vida é a salvação e, nesse âmbito, o sentido da vida é aquele que nós escolhermos. Ou seja, nós temos que criar um sentido para a nossa própria vida!

Tal, porém, não nos sossega. Por exemplo, como entender, então, que a vida para uns possa durar horas; outros, décadas e alguns mais de 100 anos?

Na vida movemo-nos por instinto e pela razão, quando e se a ganhamos. Mas, sobretudo pelo sentimento e pelo desejo. O desejo equilibra-se entre a razão e o instinto.

O instinto dá-nos o ímpeto da sobrevivência (e da reprodução). O medo da morte, também. Idem para a dor física, outro factor preponderante da sobrevivência, logo da vida.

A dor espiritual é, por sua vez, uma pena que nos azucrina a existência.

Desistimos de viver – uma decisão condenada por todas as religiões (se Deus deu a vida só ele a poder tirar…) – quando a dor da existência é superior ao instinto de sobrevivência, quando a razão nos diz que estar vivo não vale a pena, ou quando deixamos de ter medo da morte, ou esta aparece, simplesmente, como salvadora de algo que nos é extremamente penoso.

De facto a vida é um roteiro maravilhoso, uma graça, cheia de encantos, mas que acaba por ser sempre penosa. Para muitos, muito penosa, até revoltantemente penosa.

O próprio Cristo que o diga. E Ele, tanto quanto se sabe, só pregou e fez o Bem.

Ora o Mal existe em contraponto ao Bem.

Deus podia não existir, mas o Mal e o Bem existem. São palpáveis, mas (mais difícil ainda) sendo mutuamente exclusivos, interpenetram-se.

Estão dentro de cada um de nós e à nossa volta.

Deus existe como Ser absoluto, intangível, perfeito, por definição.

Mas, a um ser perfeito, só faz sentido que conceba coisas boas. Como explicar então a existência do Mal?

O Mal e o Bem são inatos e, ou, apreendemo-los através da nossa vivência?

Deus ter-nos-á criado para o Bem, mas deu-nos o livre arbítrio (a liberdade) de o poder escolher ou não?

Estaremos a ser testados para uma escolha ou trata-se de uma aprendizagem para uma evolução cognitiva mais elevada? Para ter acesso a um nível de consciência superior?

Mas, se sim, porquê? Com que objectivo?

Vamos e vimos, isto é, reencarnamos (as vezes que forem precisas)?

Segundo a doutrina cristã a vida é única e irrepetível, ficando a aguardar a ressurreição e o julgamento final.

Resta o mistério da Criação.

Ora “o nada” não pode gerar nada. A Criação necessita de um Criador.

Resta saber quem criou o Criador…

Temos que parar aqui e assumir (e aceitar) que há mistérios para os quais nós não estamos em condições de decifrar ou compreender.

É como termos a consciência de que a percepção da própria realidade é muito curta e falível, já que a nossa capacidade sensorial é assaz limitada. Nós não vemos o ar, mas sabemos que ele existe e um cão, por exemplo, bate-nos aos pontos em termos de espectro acústico…

O sentido da vida escapa-me.

Escapa-me, sobretudo, a finalidade.

Calha que vou conseguindo viver sem que as dúvidas me tirem o sono.

Vou dando conta que vou cumprindo o ciclo de nascer – para o que, ao que sabemos, em nada concorremos -, viver – no meio de biliões que fazem o mesmo, provavelmente com as mesmas interrogações - e morrer – em data incógnita.

Para os ateus – no fundo seres sem Esperança e sem Fé, mas não necessariamente despidos de Ética ou de Caridade – fina-se ali o ciclo.

Para os crentes segue-se a passagem à vida eterna, segundo o que acreditam.

Numa sociedade onde se fala de tudo e se discute tudo, raramente se reflete sobre estas coisas que são, no fundo, o fulcro da nossa existência.

A Comunicação Social, os filósofos e os ideólogos, porque estão eivados de Ciência e Positivismo e, desde há poucas décadas, de Relativismo Moral; os membros das várias confissões religiosas, por receio que algo possa pôr em causa as suas verdades ou beliscar a doutrina; os políticos, porque tal discussão não rende votos, além de que são todos “rigorosamente” laicos; os indivíduos por simples medo: medo de si mesmos; medo do ridículo; medo do incómodo.

Raro os namorados trocam ideias sobre estes temas; idem para marido e mulher; pais e filhos; os amigos entre dois copos.

É nisto que (ainda) estou, esperando que o tempo (o que é o tempo?) se escoe até ao dia em que partimos.

O dia em que, segundo a expressão feliz de Victor Hugo, o homem acaba e a alma começa.[2]

Alma que se manifesta através da nossa consciência (ou será ela própria a consciência?), sem que todavia nós saibamos onde ela mora dentro de nós – nunca aparecendo em nenhuma autópsia…
Nessa altura tenho esperança que os mistérios se revelem e a vida faça, finalmente, sentido.

Entretanto estou em crer ser boa ideia debruçar-nos sobre o sentido da vida que aquele Menino, cujo nascimento comemoramos há 2014 anos, nos deixou.

Estimo um Santo Natal para todos.




[1] Um dos maiores etnólogos portugueses de sempre (1907-1973), in “Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”.
[2] Não vou agora entrar na discussão do que é a alma e o espírito e se ambos os conceitos são idênticos ou diferentes…

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CURTAS E GROSSAS III (Dedicado à Defesa)

“Uma Força Aérea sem munições é apenas um aeroclube muito caro”.
Uma evidência politicamente incorrecta.

(Também aplicável ao Exército – um grupo de escuteiros crescidos – e à Armada – um clube náutico na maior marina do mundo: o Alfeite!).
O projecto de alargamento da Plataforma Continental Portuguesa, a ser decidido favoravelmente, pela ONU, constituiria o ganho geopolítico mais significativo desde 1543, pico da expansão portuguesa com a nossa chegada ao Japão.
Daí para cá foi sempre a reduzir…
Este projecto está a ser “gerido” pela “Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental” (EMEPC), tendo o Governo apresentado a proposta, tempestivamente, na Comissão de Limites da Plataforma Continental, da ONU, em 11/5/2009.
O trabalho das autoridades portuguesas, onde a Armada pontuou largamente, na fase inicial, ficou concentrado na EMEPC e teve sucesso devido à competência e discrição com que têm decorrido os trabalhos, discrição felizmente conseguida devido à ausência de especulações jornalísticas e discussões inúteis no Parlamento.
A aprovação deste projecto – um dos poucos eminentemente nacionais – está longe de ser “favas contadas”, acrescendo o facto da falta de Poder Nacional, inviabilizar a “ocupação” e controlo efectivo mínimo, de tão vasta área.[1]
Arriscamos mesmo a sermos confrontados com um novo “Mapa Cor-de-Rosa” e, ou, estarmos a trabalhar para outros virem a colher os frutos da nossa legítima ambição, mas que não está sustentada em capacidades reais.
Este projecto não é a feijões, como soi dizer-se, e é na sua essência, geopolítico e geoestratégico.
Pois senhores vá-se lá saber por que bulas, a EMEPC, que dependia do MDN, passou, desde a tomada de posse do actual governo, para o Ministério da Agricultura e Mar!
Não contentes com esta aberração estrutural, foi admitida na EMEPC uma cidadã espanhola, de origem basca, bióloga marinha, que se juntou à equipa!
Este facto nem daria para acreditar, não fora já nada nos surpreender…
Então a vizinha Espanha, que nunca escondeu o apetite em interferir nas nossas águas e em tomar conta do nosso Mar; concorre na apetência de espaços contíguos; faz-nos marcação cerrada em todos os “tabuleiros” onde nos movemos e nos faz má vizinhança nas Selvagens, consegue infiltrar uma potencial “Matahari” (até em beleza física), no núcleo duro da principal equipa que trata deste assunto complexo e fundamental?[2]
Era mais fácil o embaixador espanhol ter assento no Conselho de Ministros…
Será que o Senhor Ministro (Aguiar) Traço (Branco) entende que isto é uma situação “normal”?
O Estado Português deixou de existir.
Está reduzido apenas a uma repartição de finanças que nos esbulha e a uma comissão liquidatária, que arremata o país em saldos de pouca vergonha.
*****
No passado dia 3 de Dezembro viu a luz do dia, uma pequena cerimónia de cunho militar, em Pedrouços/Belém, em que se pretendeu evocar a participação das FA Portuguesas no Teatro de Operações do Afeganistão.
Cumpre elogiar a iniciativa – de que não sabemos a origem – pois é o mínimo que se pode fazer para reconhecer e dar a conhecer das forças militares (ainda) nacionais, longe da Pátria, na defesa do que foi considerado como interesse do Estado Português.
No Forte do Bom Sucesso, actual museu da Liga dos Combatentes – encontra-se uma exposição alusiva a esta participação que envolveu 3227 militares dos três Ramos, durante 12 anos (desde 2002), e que nos causaram uns lisonjeiros – dada a perigosidade e complexidade das missões – dois mortos (o número oficial de feridos nunca foi revelado), que merecem o nosso respeito e consideração.
Acontece que, praticamente, ninguém ligou ao evento, sendo o desinteresse do público uma realidade gritante.
Convinha meditar sobre este facto, sobretudo tendo em conta que a nossa prestação não desmereceu das melhores tradições militares portuguesas; das limitações que sofremos) muito do material e equipamento utilizado ou foi comprado à pressa, ou foi emprestado por “aliados”); e do facto de, ao que julgamos saber, das forças portuguesas, juntamente com as inglesas e americanas, serem as únicas que podiam ser empenhadas em todo o tipo de operações – ao contrário das dos restantes países!
Outro facto que deve merecer a nossa reflexão…
Sem querer ser exaustivo, estou em crer que este “desinteresse” é fruto da displicência com que em Portugal se passou a encarar os assuntos de Segurança e Defesa; o desinteresse dos órgãos do Estado pela Instituição Militar; a fobia militante de grande parte dos OCS sobre tudo o que diga respeito ao termo “militar” e de não haver qualquer política de relações públicas das autoridades competentes relativamente às FA.[3]
Ainda, porque depois do fim infeliz, do serviço militar obrigatório e da instauração do “duplo voluntariado”, a opinião pública passou a olhar para a tropa como um emprego como outro qualquer e o cumprimento de missões fora de portas, ter passado a ser encarado como uma espécie de mercenarismo.
Outro âmbito em que o Estado Português passou a ser um resquício de simulacro…
*****
Mais uma “bronca” pública num estabelecimento militar de ensino, desta feita o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE): acusações de maus tratos, seguido dos invariáveis inquéritos.
Tem que se ter o maior cuidado com estas coisas, não só pelos danos que causam, mas também pela má vontade política e mediática para com estas escolas e tudo o que inclua o termo – insiste-se – “militar”.
É sabido que cenas de violência – fora o resto, droga, roubos, ofensas várias, distúrbios sexuais, etc. – acontecem um pouco por todas as escolas do país, sobretudo as públicas e aquelas frequentadas por camadas de população mais desfavorecida e problemática.[4]
Mas no seio militar tais situações são menos admissíveis (apesar de serem muito mais limitadas do que noutros locais), dado o enquadramento, supervisão, estrutura e regime disciplinar existente, ou que devia existir – embora o internato as possa potenciar.[5]
Sempre defendi as praxes e as tradições, por variadas razões, mas tal nada tem a ver com práticas menos consentâneas com a dignidade e integridade humana, muito menos com actos de violência gratuita.
Discernimento, orientação, disciplina e mão pesada, precisam-se.
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A Federação Russa através de aviões bombardeiros e respectivas tripulações – certamente fartos do clima agreste das regiões setentrionais, resolveu vir pavonear-se até latitudes mais cálidas, chegando a atingir o paralelo de Sagres.
Fizeram-no voando calmamente perto do espaço aéreo nacional (e de outros países da Nato), aos costumes dizendo nada, no que concerne ao controlo de tráfego aéreo civil.
Prestes, descolaram os caças, que nos restam, da Base Aérea 5, sita em Monte Real.
O facto foi, desta vez, objecto de ampla cobertura noticiosa e comentário público, vindo o inefável ministro “Traço” dizer que tudo se passou na maior das normalidades.
Ora nada do ocorrido tem a ver com “normalidade”…
O que se passou é consequência da crise político-militar que tem como polo, por um lado, a Nato/UE e, por outro, a Federação Russa.
Entre os muitos focos de tensão crescentes, o fulcro desta demonstração de força russa – pois é disso que se trata - centra-se nas últimas ocorrências na Crimeia; nos Estados Bálticos e no Leste da Ucrânia.
Ora os Russos – o Império contra ataca – depois de se sentirem humilhados desde a época de Yeltsin, estão a reagir (Putin não brinca em serviço), fazendo a tal demostração de força, que serve, ao mesmo tempo, para testar equipamentos próprios e alheios e avaliar reacções havidas.
Marcam posição e lançam avisos.
O aviso a Portugal foi claro: ao chegarem a Sagres querem significar que nenhuma parte do território nacional está ao abrigo de qualquer ataque ou retaliação.
Porque procedem assim? Simples, porque Portugal pertence à Nato, e pertencendo a essa organização de defesa colectiva, enviou seis F-16, o ano passado para proteger o espaço aéreo da Islândia e, sobretudo, por neste momento ainda ter outros tantos caças a liderar uma missão da Nato de protecção dos Estados Bálticos – área de absoluto interesse estratégico de Moscovo.
Seria bom que o Governo Português dispensasse alguma atenção, à Geopolítica e ponderasse para que serve hoje em dia a Nato, e se é do nosso interesse lá continuar e em que termos.
Pois convinha apurar quem está a provocar quem: se os russos querem ameaçar o ocidente ou se é a Nato – leia-se, os EUA – que querem empurrar com a barriga (e com misseis) para cima das fronteiras de segurança russas. Ou se ambos.
Convém não andar apenas a ver passar os comboios.
Neste caso, os bombardeiros russos…
O Governo Português – com a aparente conivência das chefias militares – optou há anos, por vender 12 F-16 à Roménia, venda que está agora em plena execução.
Importa perguntar se continuam satisfeitos com o negócio (lembra-se que a Força Aérea só dispõe, neste momento de duas aeronaves que dão tiros, os F-16 e os P-3) e, se sim, porque não vende o resto?
Nunca se viu tanta asneira junta!

[1] Apesar de todas as “garantias” do Direito Internacional…
[2] Dr.ª Estibliz Bercibar Zugati, “Esti”, para os amigos.
[3] Sem embargo do número não despiciendo de pessoas envolvidas nesta área.
[4] Infelizmente, e desde há muito, que uma percentagem considerável das candidaturas aos estabelecimentos militares de ensino secundário passou a ser de membros de famílias destruturadas.
[5] Isto não quer dizer que seja contra o internato, antes pelo contrário.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

EM DEFESA DA PORTUGALIDADE

“É um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes, os seus defeitos, conforme a égide do momento”.
Professor Jorge Dias (Porto, 3/7/1907 – Lisboa, 5/2/1973).[1]

O recente reconhecimento pela Unesco, do Cante Alentejano como património imaterial da humanidade, para além de ser uma boa notícia, vai ao encontro do título deste escrito.
Esta distinção tinha sido antecedida pela relativa ao Fado – essa canção que sendo originária de Lisboa, passou a ser assumida por toda a Nação e a ser símbolo da mesma – e por outras iniciativas do mesmo âmbito.
Daí também a importância que reveste a iniciativa de dar cunho popular – que andava esquecido há décadas – às comemorações dessa aurora gloriosa que ocorreu no dia 1º de Dezembro de 1640 e à recuperação da dignidade de feriado nacional, que uma decisão funesta, de gente ignorante e pouco lúcida, retirou à data.[2]
Esta data, como muitas outras, fazem parte da identidade nacional, que deve ser preservada, ilustrada e reforçada.
Acção tão mais importante quanto passou a ser fundamental à nossa sobrevivência como povo autónomo na comunidade dos países, não só porque a “Globalização” materialista, capitaneada pela alta finança internacional, se está a tornar asfixiante como, sobretudo, pela perda constante e catastrófica do Poder Nacional Português.
A agravar tudo isto, apanhámos com 40 anos de internacionalismos vários, de carácter politico - partidário e de União Europeia, cujos cantos de sereia tanta gente tem enganado e tantas portas de perigo de divisão e diluição da nacionalidade, tem aberto.
As várias organizações internacionais, a que devemos ponderar pertencer, são aquelas que sejam do nosso interesse (e onde possamos ter uma palavra a dizer) e que a Estratégia e a Geopolítica aconselham ou determinam.
Como continua a ser o caso da Aliança Luso - Britânica que, muito curiosamente deixou de ser falada, sequer citada, nos conceitos estratégicos de defesa…
Uma outra organização “internacionalista” que nos interessa e tem sido desprezada é a CPLP, o que obviamente para nós não se trata de algo “internacional”, mas o prolongamento da Portugalidade…
É pois imperioso que ganhemos juízo e arrepiemos caminho, pois o desastre tem sido extenso.
Por isso os governos portugueses têm que passar a fazer uma política que seja eminentemente nacional e patriota, a começar pela defesa da própria nacionalidade como um bem precioso que se assume e apenas se outorga a quem prove e mostre merecer, através de leis adequadas e controlo sobre a emigração, sob pena de termos problemas de integração graves e, ou, passarmos a ser estranhos na nossa própria terra.

“Terra”, cuja venda também tem que passar a ter regras estritas, sob pena de nem um metro quadrado passar a ser nossa!
Para já não falarmos nesse negócio de lupanar que dá pelo nome de “vistos dourados”…

Melhor será tratar da nossa demografia, das nossas famílias e dos bons costumes. Um problema fulcral.
Temos de apostar no reforço de todas as instituições que velam pela Soberania (FAs, de Segurança, Diplomacia, Tribunais) e acarinhar os nossos laços culturais e identitários pelo que é necessário reorganizar e disciplinar a Escola e a Universidade, evitando que sejam pasto de negócios, de ideologias, de facilitismos e de experiências pseudo - pedagógicas, insanas.
E tudo isto tem de estar a salvo de organizações cuja actividade está envolta em cortinas de segredo…
Será sensato apostar em tudo o que é genuinamente português e que tenha provado bem ao longo dos séculos: um sistema político baseado no municipalismo, no saber e organização das corporações, nas Cortes Gerais e na aclamação do Rei; a preservação da língua, que é o vínculo mais forte pelo qual nos ligamos; a tradição das feiras e romarias, abrilhantadas pelas bandas filarmónicas, corporações de bombeiros e ranchos folclóricos, sempre envolvidas pelas diferentes congregações religiosas, que representam os traços fundamentais da tradição popular.
Que vá das touradas à arte de bem cavalgar toda a sela; de darmos novamente substância à ideia de sermos um país de marinheiros e, que diabo, dos homens gostarem de mulheres e vice - versa!
 Passando tudo, obviamente, pela gastronomia, essa catedral majestosa, que nos une quase tanto como a língua. Enquanto houver bacalhau com batatas e couves a alma portuguesa não morre; pena é que já não tenhamos frota para o pescar…
As instituições de solidariedade social, onde se devem destacar as Misericórdias – a instituição nacional permanente, mais antiga ainda em funcionamento (fundadas em 1498) – por serem um elo de entreajuda entre todos, muito relevante.
A expressão maior da solidariedade social, porém, revela-se no espirito de defesa, pois trata-se da solidariedade (sobrevivência) para com toda a Nação. Por isso nunca se deve menosprezar o aparelho de segurança e as tradições militares nacionais. Por isso, também, se deve retomar o serviço militar obrigatório, que tem origem e tradição desde o início da nacionalidade.
Os portugueses também têm a sua Filosofia (embora não sejam dados a grandes reflexões), a sua Música, a sua Pintura, a sua Arquitectura (cujo expoente se encontra no “Manuelino”), a sua Escultura, o seu Teatro, o seu Cinema e uma Literatura em prosa e poesia, que foi sempre pujante.
As Ciências portuguesas também têm os seus pergaminhos e o seu lugar na História.
História que não nos coloca mal no ranking das maiores nações a nível mundial e só nos tem deslustrado quando as divisões internas são mal resolvidas, como acentuadamente se fez sentir desde 1820 até aos nossos dias.
Todo este passado deixou rastro e deixou lastro. Está representado em todo o património cultural, a que se deve juntar o património territorial – a geografia física - que vai desde o coberto vegetal à orla marítima, das belezas naturais ao reordenamento do território.
Existe ainda, e sobretudo, um património moral e religioso, enformado pelo Cristianismo e um sentimento de pertença e de coesão que foi moldado por uma vivência em comum de séculos, com as suas tragédias e alegrias; vicissitudes e objectivos alcançados; derrotas e vitórias.
Foi tudo isto que fez com que nós sejamos como somos e não uma coisa diferente.
E poucos portugueses tomam consciência da sorte que têm em estarmos neste canto do ocidente europeu, com muito mar pelo meio – mar que une, não divide. Só nos damos conta disso quando estamos longe e aí sentimos a “Saudade”, que não necessita definição pois todos sabemos o que é sem qualquer tipo de aprendizagem e, estou em crer, ninguém no mundo a entende como nós.
Existe ainda uma saudade interior, confinada ao espaço lusíada, que está ligada à memória das grandezas passadas e ao mito sebástico. Enfim, coisas nossas…
Devemos pois, voltar a tudo o que seja português - sem arrivismos, xenofobismos nem chauvinismos que nunca tivemos pois não estão na nossa índole – (sem fechar os olhos a nada e estando atentos a tudo), pois é imperativo reaportuguesar Portugal.


[1] In “Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”.
[2] O Professor Cavaco Silva fez-se representar nas cerimónias. Esteve bem representado, com o senão de dever ser ele a estar presente. Pela simples razão de que apenas existe um local para o Chefe do Estado estar, em todos os dias 1º de Dezembro: a Praça dos Restauradores!