sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A “REALEZA” DE DOM MÁRIO

Apesar de há muito se saber, só há pouco tem vindo a público – num sentido muito critico – que o Dr. Mário Soares (MS) tem as suas propriedades de família guardadas, dia e noite, por agentes da PSP e militares da GNR. Estão nestas condições as casas do Campo Grande, Vau e Nafarros.

Esta Terceira República tem sido generosa para com os seus representantes máximos – e também relativamente a todos os cidadãos que obrem ocupar uma função política, o que se estende desde o Parlamento à Junta de Freguesia, passando pelas Empresas Públicas – e aprovou uma lei (a Lei 26/84, de 31/7 e suas sucedâneas), que garante aos ex- Presidentes da dita a manutenção de determinados direitos e regalias, como sejam gabinete, carro com condutor, telefone, secretariado, ajudas de custo, passaporte diplomático, uso e porte de arma, etc.

O “Estado” garante, ainda, a sua (deles) segurança pessoal, em função da análise da ameaça efectuada, periodicamente, pelo SIS (Serviço de Informações de Segurança). Só quando esta ameaça atinge o nível 3 é que tal segurança é facultada – o que não parece ser o caso nos últimos tempos o que, sem embargo, não impede S. Exª de ser, aparentemente, acompanhado por dois agentes.

Ora em lado nenhum está previsto, que esta segurança seja extensiva às residências particulares.[1]

Os outros ex-presidentes ainda vivos, os General Ramalho Eanes e Doutor Jorge Sampaio, nunca (que se saiba) usufruíram desta segurança.

Mas tal não aconteceu com MS que nunca deixou de ter agentes da autoridade a rondar-lhe as casas – apesar da acrimónia, falta de respeito e, até, de educação com que sempre os mimoseou e que, segundo consta, continua a evidenciar com os infortunados que lhe caem nas vigílias.

Hoje em dia já ninguém se deve lembrar porque é que isto se passa e quem o determinou, passou a ser parte das “lendas e narrativas”.

Ao longo do tempo vários escalões de comando das Forças de Segurança, questionaram este procedimento e alguns propuseram que lhe fosse posto um fim. Mas tal esbarrou sempre em negativas ou em reacções do tipo “não me comprometam” e bloqueado a nível político. “A família Soares está acima de qualquer suspeita”, ouvia-se.

Uma postura muito pouco republicana quer-me parecer…

Resta saber (a curiosidade é licita), de que tem medo o Dr. Soares, ou se algo lhe perturba a consciência.

Ou, por outro lado, tentar descortinar porque é que a figura do mediático ancião provoca eventuais temores ou reverências em certos círculos.

Felizmente esta discrepância – chamemos-lhe assim – começa a ser posta em causa ao ponto da segurança à sua casa de Nafarros ter passado a ser feita como a qualquer outro cidadão pagador de impostos (e de multas) da zona.

Espera-se que se sigam as outras.

Se estivessemos a tratar de outra pessoa tal situação já teria terminado há muito e, estou em crer, por iniciativa do próprio.

Porém, quando os humanos são menos bem formados, mostram sempre aquilo que são, até ao fim.



[1] Se contarmos quatro agentes por casa em turnos de seis horas, teremos 12 homens (fora os dois para o seguirem). Mas se juntarmos a isto as necessidades relativamente a folgas, doença e férias, o número certo de gente empenhada neste serviço sobe quase para seis por residência.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O DIREITO DE RESPOSTA E A POSIÇÃO DO JORNAL "EXPRESSO"

Após publicação de peça jornalística, intitulada "Militares julgados por difamarem Alegre", do jornalista José Pedro Castanheira no jornal Expresso no passado dia 4 de Agosto (CLICAR AQUI PARA VER), que considerei pouco rigorosa e passivel de induzir os leitores em erro, solicitei o direito de resposta ao abrigo da Lei da Imprensa, ao referido jornal.

O Expresso recusou-se a publicar a resposta, alegando incumprimento da lei de imprensa. Na sequência fiz as alterações que entendi necessárias. Mesmo assim não foi entendido estar correcto.

Passados poucos dias sem que qualquer contacto fosse estabelecido, enviei queixa para a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação). Mais tarde recebi um mail da direcção do Expresso com a sua justificação para nada publicar.

Junto a troca de correspondência para conhecimento de todos. Será assim a ERC a decidir o que acontecerá a seguir. Como a noticia do Expresso não é injuriosa ou difamatória, não existe necessidade de fazer mais nada.

Clique em cima dos títulos abaixo para abrir os documentos

1 - ARTIGO DE JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

OS SANEAMENTOS, OS DEPUTADOS E O ALMIRANTE TOMÁS

Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz
“Ridendo castigat mores”
(A rir se castigam os costumes)
Aforismo Latino

Tratámos em artigo anterior de um projecto de lei, com origem no Bloco de Esquerda (BE) – o 249/XII. Pretende-se com ele, ao fim de todos estes anos de bandalheira, abrir a porta a mais meia dúzia de, eventuais oportunistas, gente pouco limpa e de mau porte, pudessem vir sugar a nunca gasta teta do antifascismo e, desse modo, lograrem uma carreira nas FAs, mais fulgurante que a do Ministro Relvas (e outros) como aluno universitário. Ou compor ainda melhor o ramalhete a alguns, que entendam não ter cevado, suficientemente, as suas unhas nos impostos da comunidade.

Mas já que o BE gosta tanto de saltitar de nenúfar em ideias “fracturantes”, trago hoje uma sugestão para se poderem fracturar a eles próprios q.b., ei-la: elaborarem um projecto de lei para reintegrarem os falecidos cidadãos Américo Tomás e Henrique Tenreiro, na Armada e nos postos de que foram revolucionária e aleivosamente, expulsos e espoliados (Almirante e Contra-Almirante).

Estes dois oficiais devem ser os únicos que, no meio da bagunça que vivemos, ficaram “esquecidos” e não recuperaram a sua dignidade de oficiais (pese embora os esforços do CEMA, Almirante Leitão em resolver a questão)[1].

Estão a sorrir-se esparvoados com a ideia? Pois sorriam-se à vontade e fumem um charro que isso passa-lhes. Deviam, até, ficar-me grato: estou a oferecer-vos uma possibilidade de uma boa acção, com a qual possam minorar o balanço do “deve e do haver”, quando saltarem para o buraco escuro que imaginam, porventura, existir para lá do passamento físico.

Vejamos:
O Almirante Tomás foi destituído das funções presidenciais através da Lei 1/74, de 25 de Abril, e levado, nesse mesmo dia, para o Funchal e, a 20 do mês seguinte, partiu para o exilio no Rio de Janeiro, onde viveu de óbolos. Entretanto foi expulso compulsivamente da Marinha.

Autorizado a regressar ao país, por decisão presidencial, de Maio de 1978, chegou a Lisboa, em Julho de 1979. A Caixa Geral de Aposentações, após um processo que seria fastidioso explicar, outorgou-lhe uma pensão. Morreu em 18/9/87, com 92 anos, após ter escrito as suas “memórias” e visto frustrada a tentativa de ser reintegrado na Instituição que serviu devotadamente, e a quem a mesma muito deve.

Contra-Almirante Henrique Ernesto
Serra dos Santos Tenreiro
Ao Contra Almirante Tenreiro foi-lhe instaurado um processo, pela Armada, logo em Maio de 1974, pelo qual foi julgado. Das muitas acusações que lhe foram feitas saiu ilibado de todas, mas mesmo assim esteve preso. E, também, foi expulso da Armada. Na sequência, exilou-se para o Rio de Janeiro,[2] onde faleceu em 22/3/94. Nunca teve direito a nenhuma pensão, morreu pobre – tendo sido ajudado pelo industrial Tomé Feteira - e foi sepultado com a farda da Marinha Brasileira, de que era Almirante honorário.[3]

Não se conhece o “processo”/razões pelas quais foram expulsos da Marinha, com a concomitante perda do posto, pelo que apenas se pode especular que as razões (revolucionárias) se fundam no facto do primeiro ser PR em exercício, de um governo deposto por um golpe de estado e, o segundo, por ser tido como um dos principais apoiantes do Regime Político, suportado pela Constituição de 1933.

Podiam, na altura, tê-los sumariamente executado, ou feito outras coisas, mas ficaram-se pelo exposto. Vamos levar isto à conta da “excitação” do momento e das quenturas revolucionárias. Mas, depois de a poeira ter assentado devia-se ter olhado para esta situação (como para muitas outras) com outro cuidado e senso.

A primeira coisa que um novo regime político faz, em toda a parte do mundo, é legitimar-se a si próprio. Foi sempre assim e sempre assim será.

Uma das acções que a Justiça dos povos e a Moral pública requerem, mas nem sempre obrigam, é o julgamento dos principais responsáveis pelo regime deposto – partindo do princípio que este foi deposto por ser iníquo e exerceu acções contrárias ao bom governo dos povos, sem o que a acção que o derrubou, não encontraria justificação; sobretudo, se essas eventuais iniquidades configuram a prática de crimes.

Ora, após os eventos ocorridos a 25/4/74, ninguém julgou ninguém, salvo erro com a excepção do Almirante Tenreiro, já referido.[4]

A única coisa que se fez foi assassinar publicamente a memória do Professor Salazar, que já cá não estava para se defender - e muito poucos que o apoiaram em vida se prestaram a fazê-lo depois de morto.

Sobre Tenreiro dizia-se que tinha muitos “tachos”, como administrador de empresas e parece que, de facto, tinha alguns, embora não recebesse nada por isso…

Curiosa e recentemente a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários revelou, que umas dezenas de personalidades acumulavam inúmeros cargos em cargos de administração em empresas cotadas, sendo que um contava com 73...

Tudo, porém, feito o mais democraticamente possível!

O Almirante Tenreiro – que não consta ter andado a torturar ninguém (e quando disserem que pertenceu à Legião Portuguesa, não se esqueçam que o General Humberto Delgado também pertenceu e está no Panteão Nacional) – conseguiu elevar a actividade da pesca do bacalhau e seu comércio a um nível nunca antes (nem depois) atingido e melhorou muitíssimo as condições de vida dos pescadores (que eram muito duras) e o seu apoio social através (mas não só) dos Grémios e Casas dos Pescadores.[5]

Os portugueses que pescavam bacalhau, na Terra Nova, desde o século XV, passaram à condição de, há 30 anos a esta parte, não pescarem um único, apesar de serem o maior consumidor do “fiel amigo”, em todo o mundo…

O bom do velho Américo (pai) Tomás – que em toda a sua vida nunca fez mal a uma mosca – terá perdido as suas estrelas á pala de quê? Cometeu imoralidades, vilanias, crimes, não era patriota, traiu o país, era mau marinheiro? Nada consta.

Passaram a fazer chacota dele e a chamar-lhe “cabecinha de Abóbora” quando, já com demasiados anos de Presidente, começou a fazer discursos redondos e a trocar termos o que aproveitou ao anedotário nacional. Salvo melhor opinião, esta “derrapagem” intelectual não chega para fundamentar uma despromoção de Almirante…. a civil.

E convém lembrar que Tomás foi um notável Ministro da Marinha; como comandante de navio hidrográfico fez o levantamento de toda a costa metropolitana e foi sempre o número um, em todos os cursos que frequentou.

Ainda temos esperança de ver alguns que assim gozavam com o antigo sócio mais importante do “Belenenses”, fazerem muito pior figura. Aliás, já começámos a ver…

Gostaria ainda de lembrar aos ilustres deputados do BE e aos restantes concidadãos que, havendo na altura – lamentavelmente ao contrário de agora – tribunais militares, os oficiais em causa deviam ter sido julgados no seu âmbito, pois a perda de posto resulta de um crime essencialmente militar, e nenhum julgamento “político” ou “popular” deve conferir tal prerrogativa.

Seguindo a mesma lógica porque é que Marcello Caetano, que era o Chefe do Governo, não perdeu o seu título de “Professor Doutor”? E, ao contrário, porque é que, os outros membros do Governo que eram militares, também não perderam o seu posto?

E poderão explicar-me, por obséquio, porque é que o General Spínola, sendo ainda general no activo (creio), “desertou” para Espanha, em helicóptero militar, a seguir ao 11 de Março e foi, mais tarde, recebido de braços abertos e promovido a Marechal?

Face a tudo isto não parece curial que os cidadãos Tomás e Tenreiro passem à História como civis. Chamem-lhes os nomes que quiserem, mas não lhes toquem no posto. O Trotsky, mesmo mandado apagar das fotos pelo libérrimo José (de sua alcunha Estaline), não foi apagado da História. E era quem a gente sabe.

Parece, pois, haver algo de muito errado em tudo isto.

Tão errado, que quando o féretro de Américo Tomás desceu à terra que o viu nascer, a Armada, que reivindica ser a mais antiga do mundo (a nossa), não se fez representar. E resta saber porque é que a Marinha espanhola não esteve lá...

É que Tomás era Almirante honorário da Armada de Espanha e, estas coisas têm o seu protocolo e cerimonial.

Será que o BE, agora em dissolução rápida, está à altura de responder ao desafio?



[1] Não tenho a certeza se houve mais alguma tentativa, mas creio que não.
[2] Tendo passado primeiro a Espanha, onde foi recebido pelo Comandante Alpoim Calvão
[3] O Governo brasileiro prestou-lhe honras inerentes ao posto, tendo a Armada Portuguesa sido representada pelo então chefe de Gabinete do CEMA, trajando à civil. Mais tarde foi transladado para Portugal.
[4] Vamos deixar os processos relativos ao pessoal da DGS, para outras núpcias…
[5] É muito curioso referir que foi escrito um livro sobre a vida do Almirante Tenreiro, da autoria do Professor Álvaro Garrido, tido como de uma área política assaz distinta da do homem que retratou.
Este livro, muito elogiado pela sua isenção e factualidade, foi apresentado pelo Historiador Fernando Rosas (fundador do BE), que optou, ou não conseguiu, dizer mal do biografado. Não houve, porém, direito a perguntas e respostas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

OS SANEAMENTOS, OS DEPUTADOS… E O RESTO

Consta por aí que o Bloco de Esquerda (BE) vai apresentar um infame projecto de lei – o nº 249/XII – desenterrando o decreto-lei 173/74, de 26 de Abril (da Junta de Salvação Nacional), em que, ao seu abrigo, se “determina a reabertura da possibilidade de requerer a reintegração, por militares e ex-militares…” (art.º 1); que tal pode ser requerido “no período de 180 dias…” (art.º2.1) e, ainda, que “é igualmente aplicável aos militares e ex-militares que já tiverem sido reintegrados ao abrigo de outras disposições legais, desde que tenham sido lesados nas suas legítimas expectativas” (art.º 2.2).

Apetece dizer que a indigência ideológica e doutrinária do BE e o seu, aparente, ódio acrisolado à civilidade, dá nisto: estão constantemente a reinventar qual o sector da Sociedade que vão tentar esfrangalhar no dia seguinte…

Carecem de um tema “fracturante” quase diário, para que falem deles, como se tratasse de oxigénio para respirarem.

Têm, porém, obtido apoios e conivências em pessoas/instituições, que não se suspeitaria e apenas isso justifica que se perca tempo com semelhantes seres, mantendo a esperança que, um dia, o Espírito Santo também obre neles.

Cumpre explicar porque é que classificamos este projecto de lei, como infame.

Após a eclosão do 25 /4 (um golpe de estado ainda mal contado que, rapidamente, derivou em revolução anárquica), deu-se início a um furor de saneamentos, tanto a nível civil como militar, sem se terem observado as mais elementares normas de Justiça e, até, de simples bom senso.

Vamos ater-nos à parte militar.

À medida que o processo revolucionário se ia extremando, até transformar o país num “manicómio em autogestão”, o número de saneamentos foi aumentando sendo o seu “modus faciendi” cada vez mais expedito, aleatório e arbitrário. Isto para já não falar nas prisões…

Para quem tinha criticado tanto os “Tribunais Plenários”…

Veio o 25 de Novembro (de 1975) e os saneamentos continuaram. Agora era preciso “limpar” as fileiras…

Quando a vida política e social começou a serenar e se tornou evidente ser necessário tentar reparar as injustiças cometidas e apaziguar a casa portuguesa, começou a pensar-se em produzir legislação para reintegrar expulsos, reconstituir carreiras, amnistiar faltas, branquear comportamentos, etc.

Cometeram-se, todavia, dois gravíssimos erros (que julgo foram cometidos de forma consciente): não se levou ninguém a julgamento e não se objectivou suficientemente a legislação criada.

Ao não se querer julgar ninguém – e note-se que não se está a defender um julgamento político, ou de opções políticas, mas sim o de apurar quem cometeu crimes e, ou, não se pautou pelos “ditames da virtude e da Honra”[1] – meteu-se tudo no mesmo saco e enlameou-se a Instituição Militar por gerações, quiçá para sempre (quando se junta uma coisa boa com uma coisa má, não resultam duas coisas boas, mas sim duas coisas más...).

Quanto às leis, por serem mal feitas, deram origem às mais lamentáveis aldrabices; revelação de “anti - fascistas”, que nunca o foram e golpadas, onde se contam ultrapassagens hierárquicas, atribuição de pensões de invalidez indevidas, indemnizações escandalosas, reintegração e, ou, promoção de indigentes morais, e de indivíduos que tinham abandonado voluntariamente as fileiras para irem tratar da sua vida, para outro lado; mudanças de situação indevidas; olvido de casos de delito comum, etc.

Um “etc.” vasto e vergonhoso. Os casos contam-se às centenas e vão desde simples comerciantes por opção, rapidamente promovidos a coronel (com retroactivos), passando pelo célebre “major das batatas”, que virou figura pública destacada e finalizando no actor (frustrado) “Óthelo Fidel de Carvalho e Copcon”, salvo “in extremis” das garras da justiça, por uma amnistia presidencial.

Com o andar do tempo toda esta orgia de erros e oportunismos ganhou nome na gíria com o nome de “garimpo” e “garimpeiros”.

Seria ocioso tornar a elencar a legislação produzida (já o fiz uma vez e creio que não consegui ser exaustivo).

Numa palavra. O que tem presidido a toda esta sanha legislativa – que tem produzido efeitos até hoje, e já lá vão 38 anos – não foi nenhuma aspiração de Justiça, nem a salvaguarda do bom nome das FAs, mas sim o de passar um pano rápido sobre as lamentáveis ocorrências vividas, comprar consciências e sossego, através da distribuição generalizada de prebendas (poucos foram os que as recusaram, e aqui os saúdo), e sufocar a critica fazendo tábua rasa do Bem e do Mal.

A agravar a situação ainda se distribuíram subsídios vários (por ex., aos prisioneiros de guerra) e se fez demagogia barata com os ex-combatentes, outrossim com subsídios que prometem, dão e tiram – o país virou, aliás, um monturo eleiçoeiro à base da subsídio-dependência… - e oferta de medalhas a granel.

Tudo isto se passou frente aos olhos, ouvidos e narizes de todos, teve origem na chamada “Casa da Democracia”, e em governos supostamente escrutinados pelos deputados, e sem um “ai” de Belém. E sem que se tenha ouvido, também, um qualquer “isto está errado”, por parte da hierarquia militar, tão pouco das associações de militares.

Resulta daqui que o silêncio sobre este assunto não foi total, mas quase, e as injustiças relativas e absolutas aumentaram. E custaram (e continuam a custar) muitos milhões de euros ao erário público.

A única coisa que se tinha conseguido preservar foi o corpo de oficiais generais (a dança das reconstituições de carreira, parava neles), mas até isto se conseguiu romper aquando da promoção do Coronel Jaime Neves, a Major General, poucos anos atrás. Medida que nada veio acrescentar ao seu valor militar.

A consciência da maioria dos servidores das FAs não pode estar sossegada e muitos mantêm um estado de revolta latente contra as situações criadas.

O mais grave de tudo é que a Instituição Militar arranjou “telhados de vidro”, escusados, que concorrem para que esteja, há quase quatro décadas sem se conseguir dar ao respeito. O resultado está à vista de todos.

Por tudo isto os Senhores Deputados do BE – que, porventura, têm alguns ex-drogados ou “perseguidos” de género, a baterem-lhes à porta - bem podem meter a viola no saco e começar a limpar as mãos à parede.


[1] Artigo 4º do Regulamento de Disciplina Militar

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

MANUEL ALEGRE, ARTIGO DO "EXPRESSO" E EU

Deixo aqui o artigo de José Pedro Castanheira publicado no jornal Expresso no passado fim-de-semana,


relativo a uma queixa que o conselheiro de Estado Manuel Alegre fez contra mim e outras três pessoas por causa deste artigo,


e ao qual respondi ao abrigo do direito resposta da lei de imprensa.



E já agora, podem ver todo o processo AQUI!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

DE ALCÁCER QUIBIR ÀS CORTES DE TOMAR DE 1581, NA VERSÃO CONTEMPORÂNEA

“Mas sirvo-o com a pureza de minha obrigação, de que resulta não me moverem mercê prometidas que foi o laço em que cahio Portugal; porque fora do que devo nenhuma couza me poderá mover a troco de vender a honra, e lealdade, que não tem preço, nem há nenhum que eu tanto estime: lição que a muitos fidalgos esqueceo”.
Carta que escreveu Cyprian de Figueiredo de Vasconcelos,
Governador das Ilhas dos Açores,
a Filipe II de Espanha, em 13 de Março de 1582.

Aos portugueses actuais, onde se inscrevem os leitores, eventualmente, crentes no silogismo de que a “História não se repete”, poderá parecer estranho e até deslocado, o título que dei ao escrito. Estou até a imaginar algum abanar de cabeça e sorrisos de ironia.

De facto a História não se repete, no sentido em que todo o palco e personagens em que ela se desenrola muda com o rolar dos tempos. Mas isso não impede que outras situações, vividas ou criadas por outras pessoas e com outros (ou os mesmos), métodos, não deem azo a que objectivos idênticos não possam ser atingidos em tempos diferentes.

Acreditem que as 18 invasões militares que o Portugal europeu já sofreu dos seus vizinhos, nestes últimos oito séculos, foram todas diferentes. Embora nos pareça, que os seus objectivos não andariam longe uns dos outros …

Infelizmente constatamos com demasiada frequência, que a generalidade dos políticos que têm desfilado pelas cadeiras do Poder se esquece (quando o sabem), que há duas coisas que são a base da Geopolítica: a Geografia e o Carácter dos povos.

A Geografia, por mais que isso nos custe aceitar, não muda; e o Carácter dos povos muda muito pouco e ao fim de muito tempo.

Pensamos que após este “aperitivo”, inicial, ficámos com o estômago mais aconchegado para saborear o “conduto”. Esperando apenas, que este não seja indigesto…

Vejamos então, as analogias e as diferenças, que o título nos sugere.
A chamada “Descolonização Exemplar”, convenientemente rebaptizada mais tarde de “possível”, foi o novo Alcácer Quibir português.

A Descolonização foi má para todos e não teve em termos geoestratégicos, sobretudo para os interesses portugueses, uma única coisa positiva.

O Ocidente perdeu, pois viu-se reduzido em apoios políticos e em ganhos comerciais, já que os novos países entraram em declínio e guerra; não ganharam os marxistas, pois os ganhos que obtiveram no curto prazo foram perdidos com custos pelos erros cometidos. Além do que, logo depois, o comunismo ficou desacreditado como doutrina e entrou em decomposição em todo o mundo; perderam os países do Terceiro Mundo, pois apenas viram juntar mais pobreza àquela que já tinham; perderam, as populações das antigas províncias ultramarinas, já que a situação foi durante muitos anos e ainda é, nalguns territórios, catastrófica. Houve guerra, fome, doença, corrupção, paralisação quase total da vida produtiva, ditadura, desrespeito pelos direitos humanos, negação da liberdade, endividamento galopante, desperdício de recursos, exploração estrangeira, essa sim neocolonial, racismo, etc.

Finalmente perderam os portugueses que restaram, pois a Nação ficou diminuída e desmoralizada; Portugal deixou de ser um actor com peso na cena internacional; a “Consciência Nacional” ficou profundamente abalada e ainda não recuperou; o Estado Português passou a comportar-se como se não tivesse interesses próprios e ainda hoje hesita quanto a objectivos nacionais permanentes. O fim da guerra não trouxe a tão almejada riqueza, que se criaria com os recursos afectos àquela. Ao contrário, despenderam-se parte das reservas de ouro e divisas e cada português passou, de repente, a dever 500 contos ao estrangeiro. Em 1975, com o País à beira da guerra civil, cerca de 700 000 residentes em África (perto de 9% da população), metropolitana regressaram à parte europeia de Portugal, com todo um cortejo de problemas que, por “milagre” de solidariedade nacional, se acabaram por resolver sem crises de maior. Portugal perdeu a maior parte da sua liberdade estratégica e os portugueses ficaram enfraquecidos e divididos como comunidade.


O Alcácer Quibir de 1578 tem uma diferença fundamental, relativamente ao Alcácer Quibir de 1974/5. D. Sebastião quando passou a África queria retomar a iniciativa e o retorno a raízes antigas. Tinha um projecto político-religioso de actuação, consubstanciado numa análise estratégica (como se diria hoje em dia) de contenção do Turco para ocidente.

Sendo razões discutíveis (como são todas), não se lhe pode negar patriotismo, um substrato estratégico e ideal de cruzada. O rei poderia ter sido imprudente (e foi-o, por certo), por não ter acautelado a sua descendência, por se ter exposto em demasia e não seguir o conselho de alguns experimentados capitães, e arriscar tácticas para além do necessário.

Mas a sua bravura e sacrifício redimiram as suas faltas e caso tivesse ganho a batalha – o que esteve por pouco, hoje seria um herói nacional e a História de Portugal e da Europa seria provavelmente muito diferente.

A Descolonização, por sua vez, foi uma retirada de pé descalço, que nos envergonha, onde nada foi acautelado, nem a Honra, nem a fazenda, nem a vida e a segurança de ninguém e onde se passaram cenas militarmente deploráveis, que para sempre mancharão a já quase milenária História das Forças Armadas Portuguesas.

E para tantos que, hoje em dia em Portugal, se assanham em perseguir e julgar Pinochet e Milosevic, por exemplo, bem fariam em preocupar-se mais em encontrar responsáveis por todas as desgraças que nos bateram à porta. É que parece que tudo aconteceu por obra e graça do Espírito Santo!...

Portugal não perdeu a independência em 1578. Apenas ficou sem a sua plena autonomia, após o Duque de Alba ter entrado em Lisboa em 1580 e Filipe I se ter feito coroar nas Cortes de Tomar, em 1581. Também a Descolonização de 1974/75 não fez, por si só, a alienação da soberania. Tal só acontece quando a vontade nacional claudica ou é esmagada por potencial muito superior.

Em ambos os casos, a situação era muito delicada. Sem embargo, porém, a actual parece-nos mais precária, já que em 1578 dispúnhamos de meios e recursos espalhados por quatro continentes, que se apoiavam como um todo (lembre-se essa coisa extraordinária e única, que foi a aclamação imediata de D. João IV, após o 1º de Dezembro de 1640, em todas as praças portuguesas espalhadas pelo mundo, à excepção de Ceuta, cujo Governador era Castelhano e para sempre se perdeu). Hoje em dia apenas dispomos para os desafios contemporâneos, dos 90 000 Km2, separados por 14 vezes a mesma área do Oceano Atlântico.

Assim, enquanto Alcácer Quibir é uma batalha que se perdeu, a Descolonização e o que se seguiu, arrisca-se a ser uma guerra, à partida perdida.

As Cortes de Tomar de 1581, onde ficou selado o cingir da coroa portuguesa pelo monarca espanhol (isto é, o mesmo rei tinha duas coroas, daí se ter chamado de Monarquia Dual), encontra paralelo na adesão de Portugal e Espanha à CEE, em 1986.

As Cortes de Tomar foram um acto definitivo, que tentou selar pela via legal a ocupação militar efectuada no ano anterior (se bem que a ilha Terceira só se viesse a render, em 1583), e a compra das consciências, que resultou na traição da maior parte do Alto clero e da Nobreza.

Filipe I chegou a afirmar (com razão): “este reino herdei-o, conquistei-o e comprei-o”.

Este rei, que para além da sua sagacidade conhecia bem o povo português (a sua mãe era portuguesa e o mesmo acontecia com sua mulher), teve o cuidado de tudo fazer para não o ofender, garantindo-lhe todos os seus foros e regalias – o que quase fazia crer que Portugal mantinha a sua individualidade - política que os seus descendentes imprudentemente não seguiram.

A situação actual tem as suas diferenças e as suas semelhanças com a anterior, embora nos pareça dado o rumo que as coisas têm tomado, que o desfecho vá ser o mesmo.

Sobretudo por causa dos termos em que a adesão à CEE foi feita, isto é, estando Portugal na “mó de baixo”, com a sua economia destroçada, sem Poder efectivo e traumatizado por acontecimentos recentes. Com a agravante de nos termos preparado mal, e atirado de cabeça para a CEE, como se ela fosse um Objectivo Nacional Permanente Histórico (que não é), em vez de a considerarmos um objectivo nacional importante, mas transitório, o que ela devia ter sido. Ainda com a agravante do nosso comportamento posterior, querendo mostrar serviço e ser considerado “bom aluno”, deixando cair rapidamente todas as defesas, não salvaguardando interesses elementares e não procurando alternativas (ex. África, Brasil, EUA, etc.).

Finalmente, desbaratando em grande parte os apoios comunitários – de que até agora ninguém prestou contas ao país - não se investindo na aquisição de capacidades que nos garantissem mais-valias para o futuro e nos permitissem viver de vida própria. São excepção a realização de obras públicas de indubitável valor estratégico e factor de modernidade, mas sobre as quais se deve ter em conta o reverso da medalha: a factura futura da sua manutenção e a noção de que com eles os estrangeiros, nomeadamente os espanhóis, porque nos são os mais próximos, podem cá pôr os seus produtos mais depressa e mais baratos.

Nas Cortes de Tomar a elite portuguesa entregava-se vencida, comprada e iludida, a um rei estrangeiro; a adesão à CEE é uma atitude reactiva, de recursos por não sabermos o que fazer mais. A elite portuguesa não estaria comprada como em 1581, mas estava seguramente ainda mais iludida e sem se julgar vencida.

A adesão à CEE não é apenas uma opção nacional, mas internacionalista e representa uma ruptura político-estratégica nacional, de quase seis séculos. E assemelhou-se muito mais a uma situação de quem dá a mão a um pedinte do que a aceitação de um igual. Neste momento não existe ocupação militar nem parece haver ameaça militar sobre o nosso país – embora as forças portuguesas estejam já a ser empregues, como no tempo dos Filipes, na defesa das fronteiras de interesses que nos ultrapassam. Isto é, dizem-nos pouco, quando não nos dizem nada.

Não há reivindicações sobre Portugal, fazendo-se até afirmações em contrário, mas em todos os outros campos, económico, financeiro, cultural, psicológico e legislativo, a actividade é intensa. Não só de Bruxelas nos querem impor leis mais duras e estranhas ao nosso carácter do que os Filipes nos impuseram, como a tomada de posições leoninas nos campos atrás mencionados dispensa a maçada de ter de retirar a massa consistente às culatras em paiol.

E, em vez de umas Cortes de Tomar, definitivas, vão-se fazendo sucessivas cimeiras europeias onde sucessivamente se aperta o cerco e onde iremos ser reduzidos à nossa insignificância. Para quem destas coisas tem uma visão ingénua e idílica, lembramos que, para o caso vertente, se aplica a regra do aquário: os peixes grandes comem os peixes pequenos!

Intercalarmente fazem-se cimeiras ibéricas (que se deviam chamar Luso-Espanholas), onde entre sorrisos e abraços se vai fazendo tudo para não desagradar aos vizinhos do lado (excepção feita, para já, à questão da extradição dos Etarras). E é impressionante ver como os “nuestros hermanos”, conseguem até puxar o governo português para as teses que defendem no âmbito das cimeiras ibero-americanas!

A adesão à CEE implicou para Portugal dois grandes perigos relativamente a Espanha: a diluição da fronteira (que é, aliás, a única que temos com outro país), e a neutralização dos apoios externos de que quase sempre carecemos para nos equilibrar face ao Poder Continental. Acresce ainda que a Espanha, ao mesmo tempo que aderia à CEE, se tornou membro da NATO. Ou seja, Portugal está nas mesmas alianças, militares ou não, com a Espanha, o que acontece pela primeira vez em toda a nossa História. E se dentro de uma aliança pode ser mais fácil dirimir conflitos, também é certo que, em caso de conflito sério, os países aliados, por norma, deverão ser neutros. A excepção a tudo isto é a Aliança Inglesa, “velha” de 600 anos. Mas quem é que hoje em dia, ouve falar dela?

Ora de tudo isto deriva um perigo superior e que é este: no dia em que a União Europeia desaparecer (não pensem que vai durar para sempre – aliás a História da Europa está cheia de situações definitivas que demoram apenas alguns anos…), não se sabe como é que os portugueses vão poder desembaraçar-se da União Ibérica!

Para completar o quadro, resta-nos falar das razões/motivações que nos levaram a Tomar nos idos de quinhentos, e aos Jerónimos, há 15 anos.

Em 1578, o país estava em estado de choque e desorientado. Em Alcácer Quibir o Exército fora destroçado (embora a Marinha ficasse intacta) e muitos ficaram cativos. As famílias portuguesas, nomeadamente os nobres, endividaram-se para resgatar os seus parentes. Faltava, por outro lado, metal nobre, para a circulação fiduciária, havendo, porém, prata em abundância vinda das Américas, na praça de Sevilha.

Criou-se a ideia de que seria necessário intensificar as trocas comerciais com Castela a fim de complementar o nosso comércio e aumentar os proventos; havia a questão religiosa que era comum; não só a perseguição aos judeus como também o combate ao herege; instalou-se a crença, que já vinha do tempo de D. João III, de que a colaboração mútua entre a armada portuguesa e a espanhola nos beneficiaria na defesa contra a pirataria berbere e a da dos países do Norte da Europa por outro lado, as principais ordens militares, com relevo para a Ordem de Cristo, que eram os alforges da elite lusitana, estavam reformadas e enclausuradas, havia décadas. Finalmente, os subornos em dinheiro e em títulos nobiliárquicos facultados pelo traidor Cristóvão de Moura (agente de Filipe I), fizeram o resto.

Tudo isto, como os leitores sabem, mas a muitos de nós esqueceu, era uma ilusão.

Em primeiro lugar porque os espanhóis nunca iriam (como de resto não o fizeram), subalternizar os seus interesses, relativamente aos de Portugal.

Por outro lado, Portugal ficava privado de ter uma política externa própria e Filipe I não podia, como rei de Espanha combater os seus inimigos, e como rei de Portugal estar em paz com os mesmos!

Acreditamos que, logo em 1588, com o desastre da Invencível Armada, se perderam as ilusões...

A adesão à CEE possui semelhanças bastantes. Com a Descolonização o país impôs a si próprio uma derrota política e as FA portuguesas estavam também destroçadas, não só por terem deposto as armas numa guerra, que estavam a ganhar … mas, também, por lhe terem minado a hierarquia, a disciplina e a organização. O país estava sem rumo e subitamente, empobrecido, endividado, as reservas delapidadas, a economia no caos. Por isso a “elite” da altura, viu na CEE, a tábua de salvação, a regeneração de todos os males, o novo “el dorado”. As ameaças, que muitos supunham ter deixado de existir para sempre, seriam agora tratadas e divididas com os países amigos e enfrentadas pelas organizações internacionais de defesa.

E, como a força da vida real, não se tem revelado tão próxima deste idílico pensamento, logo se tornaram a levantar vozes de que na iberização e na União Peninsular estava o segredo da nossa sobrevivência. E assim se deixa que os espanhóis abocanhem as nossas empresas e tomem conta do comércio. Os nossos eventuais visados já se renderam e tomaram a iniciativa. E já há ex-governantes a denunciarem publicamente que isto se passa no seio do … próprio governo! E para os mais duvidosos lembramos o comportamento das diferentes comissões que supostamente deviam comemorar os Descobrimentos Portugueses, a nossa participação na Expo de Sevilha, a venda da GALP, da PT, a inauguração da nova ponte que liga Elvas a Olivença e a reconstrução da antiga e mais um rol extensíssimo de outros eventos, que são bem a prova do abismo profundo onde nos meteram e onde nos deixámos meter.

Até o Automóvel Clube de Portugal que, recordo, é o clube português com mais associados, fez um acordo com a empresa espanhola REPSOL, para que os seus sócios desfrutassem de uma redução de 6$00 no preço do litro da gasolina!...

E da última cimeira Luso - Espanhola de Janeiro deste ano, saiu um acordo em que diplomatas de ambos os países irão estagiar nos ministérios recíprocos. É o despudor total e absoluto.

É mister começar a reagir (e já estamos muito atrasados) e a chamar os bois pelos nomes. A palavra “traição” não nos parece que tenha mudado de significado. E o que se está a passar e a aparecer com contornos bem definidos é um acto de traição à Pátria uma falta de respeito pelos nossos avós e menosprezo pelos interesses dos nossos filhos e netos.

E os actos de traição sempre foram tratados exemplarmente. Assim deve continuar a ser.

E não venham falar em Democracia, Direitos Humanos e coisas do mesmo jaez.

Não nos devemos confundir ou deixar confundir com "slogans".

A sobrevivência de Portugal como entidade autónoma não tem rigorosamente nada a ver com isso. E está para além disso.

Será que só iremos reagir depois de termos subestimado os avisos, de estarmos ocupados e mais uma vez termos realizado (e sentido), que as promessas e as esperanças se tornaram vãs?; que as leis e os impostos, nos são estranhos, nos tolheram e empobreceram?; que os falsos amigos mostraram finalmente as suas verdadeiras intenções?; que passamos a pagar com a dignidade e até o sangue dos nossos filhos, a “honra” de pertencer a um clube supostamente avançado em termos materiais e espirituais?

Temo bem que assim vá ser. É uma maldição que nos persegue e de que não temos de nos queixar senão de nós próprios.

É preciso, por isso, lutar por todos os meios ao nosso alcance contra o actual estado das coisas. E é preciso começar a pôr ordem na nossa casa.

As palavras de Ciprião de Figueiredo de Vasconcelos nunca deixaram de ser pertinentes, e são novamente, actuais.

Publicado na Revista Militar nº 6/7 Jun./Jul. 2001
Adaptação de Conferência proferida na Universidade Lusíada,
promovida pelos Amigos de Olivença

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MISSEIS, EUROS E “MERCADOS"

O espaço europeu, onde nos inserimos, está no meio de vários confrontos estratégicos, actuais, que estão longe de serem minimamente claros e entendidos pela opinião pública portuguesa.

O mesmo se passa com a classe política, que se tem revelado perfeitamente impreparada – e nem sequer vocacionada – para entender o que se passa no mundo e de como Portugal pode ser afectado e defendido, no meio de tão complexa trama.

Creio apenas existirem umas largas centenas de pessoas conhecedoras, capazes de perspectivarem a situação Geopolítica e Geoestratégica de Portugal e com acesso a informação relevante; umas dezenas de milhares de cidadãos espalhados pelo país, que intuem e se preocupam com a gravidade da situação, e umas poucas dezenas de políticos/”gestores”, que são ponta de lança/controleiros dos poderes semi - ocultos que puxam os cordelinhos no xadrez internacional.

Os primeiros estão, por norma, fora do poder e pouco o influenciam; os segundos estão atomizados e dispersos, e sem liderança que os congregue; os derradeiros estão hipotecados a interesses, para os quais Portugal e a Nação dos portugueses, nada valem e nada interessam.

O Poder Nacional Português ficou catastroficamente reduzido no fim do “PREC” (25/11/1975) e o nosso país deixou de contar na cena internacional. Nem o futebol o salva…

O sistema político entretanto instituído tem-se revelado muito incapaz e incompetente para liderar a população. A sobrevivência de Portugal está verdadeiramente em causa, e não são declarações “solenes” a dizerem que temos 900 anos de História e que já ultrapassámos muitas crises, que são garantia de coisa alguma!

E tais tiradas não revelaram, até agora, qualquer virtualidade, a não ser uma falsa sensação de tranquilidade em espíritos mais impressionáveis.

Com este pano de fundo, a que se deve acrescentar o facto de nos termos colocado em pré-bancarrota, que originou a vinda da “Tróica” e termos ficado com a soberania limitada; importando cerca de 70% do que comemos e com demografia negativa, tudo o que se passa à nossa volta está a anos-luz de ser tranquilizador. E nós estamos sem “Poder”.

Sem Poder não há opções políticas nem estratégicas.

A Europa está a ficar um vulcão cheio de fumarolas.

A Nato (leia-se, os americanos) tenta empurrar os misseis cada vez mais para cima da fronteira da Rússia; a luta pelas fontes de energias, seu acesso e seu transporte, é feroz e subterrânea; a tentativa de controlo de locais chave, para o comércio, minerais estratégicos e de interesse militar, é global e cada vez mais intensa entre as grandes potências; o terrorismo está longe de estar controlado (parece até, estar a renascer na Irlanda do Norte); as velhas nações arriscam fragmentarem-se em “autonomias” e tentativas de independência; a “Primavera Árabe”, cujos contornos ainda não se conseguem perceber com nitidez, veio trazer imensos factores de imprevisibilidade e instabilidade; o Médio Oriente continua um barril de pólvora; o Afeganistão e Paquistão aparentam serem incontroláveis e instáveis e o ataque militar contra o Irão foi, aparentemente, adiado, sem se saber exactamente porquê. E não deixa de ser curioso, que a última reunião do Grupo de Bildelberg, prevista para Haifa (Israel), tenha sido transferida para Chantilly, Virgínia (USA) (31/5-3/6).

O quadro está longe de estar completo, mas não é esse o ponto. O ponto é chegar à crise financeira actual e tentar perceber o ataque ao euro (ao qual jamais Portugal devia ter aderido), o que corre paredes meias com uma aparente tentativa de hegemonia dentro da UE, por parte da Alemanha. Esta arrasta consigo os seus tradicionais aliados e leva a reboque a França que, desde Napoleão tem pânico dela. Como é tradição secular nestes casos, a Inglaterra (que funciona como “cavalo de troia” americano, na Europa), já manobra para sabotar o esquema.

É neste âmbito que ocorre o ataque ao euro. A guerra contra o euro parece não ter cara, mas ela existe e está do outro lado do Atlântico.

O que se consegue perceber de tudo isto – a informação relevante é difícil de obter, está camuflada e chega tarde – parece poder levar a concluir o seguinte:
As poucas dezenas de famílias/empórios, alguns já centenários, que dominam os EUA (muitas delas de matriz judaica/sionista), que constituem a plutocracia dominante (no mundo), não podem nem lhes convém, lançar misseis de cruzeiro sobre alvos europeus. Porquê?

Porque a maioria das teorias de Geoestratégia e Geopolítica fazem escola ao considerarem a união das margens do Atlântico Norte como um objectivo primordial de segurança.

Deste modo os EUA (e o Canadá) necessitam do Continente Europeu, sobretudo da sua parte ocidental e central, para uma defesa comum. Estas teses são o que justificam, primordialmente, a NATO.[1]

Todavia, sendo as margens do Atlântico complementares em termos de segurança são, outrossim, concorrenciais em termos económicos.

Os EUA precisam ter na Europa um mercado forte para os seus produtos (daí o Plano Marshall estar longe de ser apenas uma ajuda filantrópica), ao passo que nunca deixaram de proteger a sua produção com taxas alfandegárias (o aço é, disso, um bom exemplo).

Enquanto durou a “Guerra – Fria” este esquema funcionou na quase perfeição: Os europeus colaboravam com os americanos do norte nas despesas da defesa, cabendo a maior fatia aos americanos; devido ao guarda - chuva nuclear americano os países da CEE e a EFTA (enquanto durou), desenvolveram-se extraordinariamente e dedicaram-se ao comércio, o que era bom para todas as partes. A Alemanha estava ocupada militarmente (como ainda está agora, embora já não pareça), e pagava uma nota preta tanto para a NATO como para a CEE. E mantinha “um low profile”. O Dólar era rei.

A queda do muro de Berlim (9/11/ 1989); o alargamento da Organização Mundial do Comércio[2] a outros países, principalmente, à China (9/11/2001); a subida de patamar na perigosidade do terrorismo com o ataque World Trade Center (11/9/2001), em Nova Iorque (caso ainda para se perceber verdadeiramente), a evolução dos países muçulmanos e a emergência de novas potências (Brasil, India, Rússia, etc.), veio baralhar tudo.

A economia lá foi andando, havendo problemas cada vez mais acentuados, de âmbito social, nos países europeus (e também nos EUA), por causa da deslocalização das empresas e da concorrência de mão - de - obra barata/escrava.

Porém, o “sangue” de todo o sistema continua a ser o (maldito) dinheiro, isto é a moeda em que a maioria das transações é feita e a que se constitui como reserva mundial. Essa moeda tem sido o dólar.

Ora tem sido este fluxo ininterrupto de dólares (nomeadamente de “petrodólares”) que permite ao Federal Reserve, em Washington (FED, para os amigos), emitir as notas que quer; manter o nível de vida americano alto (e o preço do combustível baixo), imprescindível para não haver revoltas nos Estados da União e ir financiando o já hiperbólico “deficit” americano.

Eis senão quando o núcleo duro da UE decide avançar com o euro (entrada em vigor, a 1/1/2002).

O euro começou a fazer concorrência ao dólar e aqui é que a porca torceu o rabo…

Saddam ameaçou negociar o petróleo noutras moedas, até podia ser em euros, resultado, o Iraque foi bombardeado e ocupado. Saddam enforcado. Na altura houve uma crise transatlântica e surgiu a “nova Europa” versus a “velha Europa”, lembram-se?

Kadhafi fez a mesma ameaça (até tentou criar uma moeda única entre todos os países africanos produtores de hidrocarbonetos, para comercializar os mesmos), e passou imediatamente de bestial a besta. Também já cá não está para contar como foi…

Outros casos se deram e o Irão está a aguardar a sua vez. Aparentemente foi necessário tratar da Síria primeiro (e a realidade não tem nada a ver com o que é veiculado nas televisões).

Ora não sendo possível atacar a França e, sobretudo, a Alemanha – que, insiste-se, continua a ser um país ocupado militarmente e com uma constituição imposta pelos vencedores da IIGM – teve que se inventar um novo método.

No meio da ganancia dos principais agentes financeiros mundiais, concentrados do outro lado do Atlântico (e também na “city” de Londres – onde a Rainha só entra depois de pedir autorização ao “mayor” da cidade), ligados em rede pelas bolsas, a mais importante das quais fica na Wall Street (nome originado numa paliçada para proteger os primeiros colonos dos ataques dos índios),eis que apareceram essas figuras enigmáticas chamadas de “mercados”. Estes “mercados” movem-se, então, através dessas outras não menos enigmáticas figuras, apelidadas de “agências de rating”, obviamente americanas.

Primeiro, através da inflação do crédito barato fizeram disparar as dívidas de governos e indivíduos; apostaram na especulação; inventaram “produtos tóxicos” (fantasmas) e geraram biliões em dinheiro virtual que não tinha qualquer correspondência com a economia real.

Compraram políticos, comentadores e peritos para fazerem acreditar que tudo estava indo no bom caminho; desregularam o sistema financeiro internacional, sobretudo o Ocidental, depois de terem destruído os mecanismos de regulação, incluindo o do próprio governo americano. O sistema cretino- democrático da caça ao voto, fez o resto.

Muitos países endividaram-se a um nível impossível de poderem pagar as dívidas. Portugal foi um deles e não foi o pior.

A Alemanha resistiu, aguentou a indústria e não deslocalizou empresas, mantém uma agricultura muito desenvolvida, óptimos níveis de serviços e muitas mais – valias tecnológicas. Gerou “superavit” e os seus bancos emprestam dinheiro (sem embargo de estarem enredados na trama geral). Com cerca de 80 milhões de habitantes conseguem ter um PIB idêntico à China com 1.3 biliões de pessoas…

Resumindo, os países do euro estão a ser atacados um a um através dos seus elos mais fracos (a Espanha vai rapidamente ficar pior do que nós, seguindo-se a Itália e a Bélgica), mantendo o euro e a economia europeia numa instabilidade e derrapagem permanente. Tal criou clivagens entre os 27, paralisou o processo de tomada de decisão que passou de Bruxelas para Berlim e fez patinar a fuga para a frente do “federalismo europeu”, em que a Sr.ª Merkel pretenderia orientar o caminho, único que permitiria à Alemanha (que está longe de estar unificada) manter a supremacia na União.

A Grã – Bretanha já iniciou, até, a criação de um cordão sanitário – uma espécie de EFTA actualizada – para lhe fazer gorar os planos.

O pseudo governo instalado em Lisboa, se fosse português, percebesse alguma coisa do que se passa e não estivesse minado por conivências várias, faria os impossíveis por nos tirar deste atoleiro.

Convinha que o resto da população ajudasse.


[1] Cabe aqui recordar a célebre trilogia, que sempre correu na NATO, como piada, mas que representava a mais pura das realidades: “A Nato serve para manter os americanos in, os russos out e os alemães under”… 
[2] Criada em 15/4/1994