quarta-feira, 26 de setembro de 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

CARTA ABERTA (E BICUDA) AO DR. DURÃO BARROSO *

O Dr. Durão Barroso (DB) escreveu no Jornal “Público”, de 14 de Setembro de 2012, e na sua qualidade de Presidente da Comissão Europeia[1], um artigo intitulado “Rumo a uma Federação de Estados Nação”. No papiro DB defende, sem qualquer pudor, uma união política, que entronca numa afirmação prévia de que “ A Europa precisa de um novo rumo. A Europa precisa de uma nova forma de pensar”.

Aqui levanta-se o primeiro grande obstáculo, o qual tem a ver com aquilo que DB – um ex-maoista expulso do MRPP[2], em 1975, e que aderiu ao PSD (onde pelos vistos cabe tudo), em 1970, entende por “Europa” e de que Europa fala.

Será a Europa física que vai do Cabo da Roca aos Urais? Ou só até à fronteira da Federação Russa (e, já agora, esta situa-se onde?).

Será a Europa Política, constituída por uma miríade de Estados dos quais só numa pequena parte os mesmos têm correspondência na Nação que representam?
Será a Europa da maritimidade ou aquela identificada com a continentalidade?
Será a Europa que pertence à NATO ou a dos países que estão de fora?
Será a Europa dos Impérios ou a dos que foram sendo subjugados?
Será que a Turquia também faz parte?

É que poderíamos ter começado por cingir - nos à Europa dos 27, mas se calhar fica muita Europa de fora…

Bom, mas mesmo quanto aos 27, temos que ter em atenção que só 17 países aderiram ao “Euro”, serão só estes a quem DB se refere?

E, pergunta-se ainda, sendo a “eurozona” constituída por 17 estados porque é que a maioria das reuniões tem sido só a dois, entre a Alemanha e a França? Porque é que eles não se federam, para dar o exemplo?

A segunda contradição insanável é a ideia peregrina que veiculou da “Federação de Estados Nação”! O senhor meditou bem na parvoíce que escreveu, está a tentar reinventar a Ciência Política ou - o que é mais verosímil - está apenas a mandar areia para os olhos do cidadão pouco avisado?

Quer fazer o favor de explicar o significado exacto do que pariu? Como concilia a “federação” que pressupõe uma soberania a que todos os demais povos aceitam e se submetem, com a figura de estado-nação que requer uma individualidade e identidade própria? Será que ainda lê o livrinho vermelho do Mao e anda confuso (não confundir com Confúcio), ou atem-se ao princípio leninista de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade?

Porque labora neste imenso erro que representa a União Europeia? Que desígnios obscuros escondem? Sim, porque só pode.

Porque se quis transformar uma organização de sucesso que a Comunidade Económica Europeia representava (enquanto protegida pela NATO – leia-se guarda – chuva nuclear americano), numa utopia desastrada, a partir do Tratado de Maastricht?

A História dos países europeus tem centenas de anos de conflitos – muitos ainda por resolver – cheia de identidades políticas fortíssimas e o senhor defende que isto tudo se amalgame, ninguém sabe como? E deixaram entrar na Europa 50 milhões de emigrantes que nada têm de parecido com os europeus, que não se integram – nem os querem integrar - [3] para facilitar as coisas?

Será que DB ainda não entendeu que, a maioria das nações europeias são como ovos cozidos e não se podem fazer omeletes com ovos cozidos? Ou pensa que pode reduzir os povos a picado primeiro, para melhor os esmagar, depois?

Porque não propõe a obrigatoriedade do “esperanto” como língua oficial?

É tão obcecado que não vê que a riqueza da Europa deriva da sua diversidade e não na sua uniformização?

O Senhor Comissário quer, por acaso, transformar a UE numa babel ingovernável (onde, curiosamente, nunca deixou de imperar a hierarquia do poder dos Estados), que acabará inevitavelmente em várias guerras civis e entre estados?

Ou julga que uma oligarquia de banqueiros é a solução dos problemas?

O senhor acredita mesmo naquilo que diz, ou apenas o diz porque lhe pagam para isso?

Tirando os ensinamentos da História qual é o laboratório da ciência política onde vai beber as suas tiradas?

Ou trata-se de mais um experiencialismo político/social, agora já serôdio pela idade, depois das maluquices maoistas que lhe enxamearam a tola, na juventude?[4]

O que DB evita dizer é que o que se passa (entre muitas coisas):

Os bancos e instituições financeiras dos diferentes países emprestaram dinheiro uns aos outros (e ninguém sabe realmente o que se passa); inflacionaram o “dinheiro de plástico” e o crédito ao desbarato; especularam; inventaram e transacionaram “vigarices tóxicas”, tudo acompanhado com propaganda abundante e demagogia política (para ganhar votos), num sistema que está baseado e vive disso mesmo e dos negócios (e não de valores).

Com tudo isto aumentaram exponencialmente as dívidas das famílias e dos Estados - que a ganância de muitos e a pouca clarividência de quase todos - potenciaram em extremo.

De repente esta “Dona Branca” gigantesca rebentou e os governos em vez de responsabilizarem os fautores do descalabro, “nacionalizaram” os buracos financeiros pondo os contribuintes a pagá-los. Nem o José Stalin se lembrou de uma coisa destas!

Não contentes com isto, os bancos entretanto escorados com o dinheiro dos nossos impostos ainda querem vir reaver o que emprestaram, com juros de usurário.

Para facilitar as coisas rebaixam os países, pondo-os de joelhos e o senhor DB em vez de querer atacar as causas que nos levaram a este desastre, quer é fazer a união política!

Pois a mim parece-me que se tem prolongado artificialmente este estado de coisas, até levarem o desespero às pessoas, justamente para poderem, depois, acenar com essa suposta solução salvífica!

A Europa só tem futuro com Estados- Nação que colaborem, não que se federem, ou pensa que vou trocar as sardinhas assadas pelo arenque fumado? Julgará, por absurdo, que os interesses geopolíticos dos alemães têm alguma coisa a ver com os dos ingleses?

Não nos iludamos: o que a união política europeia significa para nós, portugueses, é o desaparecimento da nossa individualidade, primeiro, e da nossa identidade, depois. É a diluição da Pátria Portuguesa numa mirífica escravatura internacionalista…

Parece ser isto que o evolucionista social Barroso quer. Espero que aos restantes compatriotas reste a inteligência e a determinação de o mandarem à fava.

Se o senhor já não se sente português, aconselho-o a renunciar à nacionalidade, antes de entrar no âmbito da estrofe lapidar camoniana “entre os portugueses, alguns traidores houve, algumas vezes”.

Fará, todavia, o favor de devolver a Grã Cruz da Ordem de Cristo, com que alguém, certamente distraído, o condecorou, em 8/6/96.

Convenhamos que lhe assenta mal.




[1] Para onde marchou (pois “passaram-lhe” guia de marcha), em 23 de Novembro de 2004, quando já exercia a pseudo função de Primeiro - Ministro de Portugal. É claro que tudo isto só foi possível depois de DB, como MNE, ter participado pela 1ª vez numa reunião do Clube de Bilderberg, em 1994 (antecedido por um elogio do “World Economic Forúm”, no ano anterior, em que referindo-se a DB dizia ser ele um dos “Global leaders for tomorow” e uma “Political Star”. A sua ida para a Comissão Europeia foi antecedida por mais uma participação numa reunião do mesmo grupo (cuja 1ª reunião, patrocinada pelo Príncipe Bernardo – da Casa de Orange – ocorreu, em 1954). Depois participou, por inerência de funções (?), para receber ordens (?), em mais duas reuniões: na Alemanha, em 2005 e na Grécia, em 2009.
[2] “Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado”, fundado em 18/09/1980.
[3] A grande maioria dos europeus é racista, ou muito racista e o único povo que sabe, verdadeiramente, “integrar” é o português. O reconhecimento do falhanço do “multiculturalismo” é disso mesmo, prova eloquente!
[4] Quer que lhe envie uns vídeos para se rever?

sábado, 22 de setembro de 2012

A VISITA DE SUA SANTIDADE O PAPA, AO LIBANO

Sem ter o impacto mediático das visitas de João Paulo II, nem lograr a empatia pessoal que emanava do anterior Pontífice, as viagens de Bento XVI não deixam de ter uma densidade pastoral e teológica profunda e mensagens políticas e sociais diplomaticamente expressas, sem deixarem de ser assertivas.

A organização e discrição do que é feito não pode, também, deixar de merecer elogios.

Na linha do “não tenhais medo”, Benedito XVI tem feito visitas corajosas e esta última, ao Líbano, há pouco terminada, inclui-se, seguramente, nestas últimas.

Sua Santidade dá, deste modo, exemplo a políticos, diplomatas, generais e a todos aqueles que têm responsabilidades cívicas e sociais.

Mais uma vez condenou os fundamentalismos religiosos que, a manterem-se, deitarão por terra qualquer esperança de paz.

É neste âmbito que queremos lembrar, que a tolerância religiosa (como a política, social ou qualquer outra), para além de necessitar de reciprocidade não deve, outrossim, pôr em perigo a legitima defesa da dignidade e da vida humana.

Ora é neste particular que têm sido ultrapassadas várias fronteiras do admissível relativamente às comunidades cristãs, dentro e fora da Europa.

Não se deve continuar a assistir à perseguição, discriminação, quando não ao assassinato e, até, genocídio de cristãos, desde a Nigéria à Indonésia, passando pelos Coptas do Egipto, as diferentes comunidades cristãs do Médio Oriente, etc.

Estes conflitos estão, felizmente, reduzidos entre todas as religiões à excepção da Religião Islâmica, que mantêm conflitos com todas as outras.

A excepção para este estado de coisas é o regime Chinês que, por razões mais de ideologia (e poder), do que de religião, discrimina cristãos e, sobretudo, os tibetanos e o seu líder espiritual, o Dalai Lama, mantendo um conflito latente com a Santa Sé.

Parece que os governos de países de matriz cristã (com os mais democráticos à cabeça) preocupam-se com os direitos de tudo o que mexe, à excepção dos cristãos enquanto tal. O próprio clero aparenta estar adormecido relativamente a tudo o que se passa.

Dentro da Europa as coisas vão de mal a pior e arriscam-se a acabar em convulsões sociais gravíssimas e num banho de sangue.

De facto a demografia dos europeus de “jus soli” diminui a olhos vistos, enquanto que, a demografia islâmica aumenta exponencialmente com a emigração e as gerações seguintes de “jus sanguini”.

Ora acontece que estas comunidades, na sua grande maioria, não só não se integram nas sociedades para onde vão viver como, algo surrealista amente, questionam as leis vigentes e querem impôr os usos e costumes dos seus países de origem.

Os países europeus, com predomínio dos ocidentais, numa visão claramente distorcida e irrealista dos “Direitos Humanos” e da “Democracia” têm fechado os olhos a esta avalanche de eventos, de tal modo que muitos países já dificilmente controlam o que se passa nas suas sociedades.

Esta atitude tem derivado de uma posição ideológica conotada de “esquerda liberal”, adepta do “multiculturalismo” – quando o Islão é arreigadamente “monocultural” – e defendida por uma pluralidade de “istas” e “ismos”, cujo máximo divisor comum tem sido o pôr em causa e a relativização, da Moral, da Ética, dos Princípios e dos Valores cristãos tradicionais!

Isto tem minado a sociedade.

Insiste-se, todavia, na ingenuidade, na falta de entendimento da natureza humana e no desconhecimento da História das relações entre povos e estados, o que nos tem causado inúmeros sofrimentos e, no caso vertente, nos pode colocar, novamente, à beira de vagões que nos levem para um outro qualquer “campo de Auschwitz”.

Ora a matemática é, nestas circunstâncias uma arma de análise infalível e basta a um aluno médio, com a 4ª classe feita antes de 1974, fazer contas para perceber – mesmo com um desvio padrão muito estreito – que dentro de poucos anos (cerca de 2050) existirá uma maioria de população muçulmana e islamizada, em grande parte dos países europeus, o que será, também, acompanhado de uma previsível degradação das condições de vida para todos.

Não é preciso ser adivinho para se intuir estarmos perante uma “bomba nuclear” política e social que pode explodir a qualquer momento e que, caso não seja despoletada, irá colocar-nos a breve trecho numa situação de, “ou eles ou nós”.

Seria bom que estivesse enganado, mas alerto desde já que não parece nada que esteja e, já agora, que nada disto pode ser testado em nenhum laboratório de ciências sociais.

Por tudo isto, seria avisado impôr medidas restritivas, não só de emigração, como de acesso à nacionalidade – para a qual seria indispensável a obrigatoriedade de dois anos de serviço militar; ponderar direitos sociais (sobretudo face aos deveres); fazer cumprir as leis e expulsar de imediato quem se portasse mal.

Além disto tem que se exigir reciprocidade de tratamento nos países de origem dos emigrantes e fazer controlo efectivo de fronteiras.

Estamos a falar de medidas que têm em conta o bom senso e a justiça; isto para prevenir o uso de medidas que passem a ter com a nossa sobrevivência.

E o Papa ser vítima de um atentado e morrer, não é nenhum cenário de ficção científica.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

OU DAMOS CONTA DOS PARTIDOS OU OS PARTIDOS DESTROEM PORTUGAL!

Este artigo foi publicado em 8 de Novembro de 2005, apesar da acção nefasta dos actuais Partidos, se fazer sentir hà muito. Presumo que agora já seja mais fácil perceber porquê.
As pessoas, por norma, indignam-se tarde e a más horas e nem sempre pelas melhores razões. E, por norma, também, os diferentes escalões hierárquicos teimam em fingir que não vêem/não entendem, e porfiam em atacar efeitos e não causas. Faz parte da natureza humana.
Não aprender nada, não faz parte da natureza humana".
Brandão Ferreira

“ho que cumpria aho bom governo”
D. Manuel I
Frase, que segundo Damião de Góis, o Rei teria proferido após ter reconhecido a Janes Mendes Cicioso, burguês de Évora, depois de este ser ouvido uma justificação do seu protesto contra um imposto real.
Não só lhe deu razão, como o louvou apontando-o como exemplo dos homens que pretendia ter junto de si, de modo a dizerem-lhe “...”

E já o fizeram várias vezes...

Mas como o país tem a memória curta e se faz gala na ignorância militante, nunca se vai aprendendo nada.

Resumidamente foi assim:

Em 1820, na sequência de uma tentativa de golpe de estado frustrado, de contornos difusos, chefiada pelo General Gomes Freire de Andrade, em 1817, surtiu, no Porto, uma revolta que logrou sucesso. Esta revolta de carácter liberal foi urdida numa loja maçónica – o Sinédrio - e o vulto que assomou proeminente dava pelo nome de Fernandes Tomás. Rapidamente o movimento alastrou a pontos - chave do País, nomeadamente Lisboa. Nascia assim o Liberalismo em Portugal, inspirado nos ideais da Revolução Francesa. Em 1822 foi aprovada a primeira Constituição Portuguesa – que muitos viam como a chave da resolução dos problemas nacionais - e o Rei posto a recato no Brasil nos idos de 1807, resolveu regressar à capital do Reino a tempo de a jurar.

Os acontecimentos, porém, precipitaram-se: a independência do Brasil em marcha há algum tempo, foi apressada por imprudências da recém - eleita Assembleia Constituinte; a família real cindiu-se entre adeptos do novo regime e partidários da Ordem Antiga. E com eles dividem-se o Exército, o Clero, a Burguesia e o Povo. Estas desavenças que demoram livros a contar desembocaram na guerra civil mais cruenta que em Portugal houve, tendo atingido o seu auge entre 1832 e 34. O país, exangue pelas invasões francesas estava agora esfacelado. Com a paz de Évora - Monte inaugurou-se a Monarquia Constitucional.

Em 1838, nova Constituição era aprovada que substituía uma outra de 1826. Mas o sossego estava longe de assentar praça. Em vez dele reacenderam-se ódios; os partidos desacreditaram-se completamente e irrompiam constantemente quarteladas, golpes palacianos, revoltas militares à mistura com crises financeiras terríveis. A desorientação era total e acabámos noutra guerra civil, em 1847, a Patuleia, que só foi resolvida após intervenções militares da Espanha e da Inglaterra!

Em 1851, após mais um golpe de estado do Cabo de Guerra Saldanha, as forças políticas tomaram consciência do desastre em que tinham atolado o país e tentaram entender-se procurando imitar o parlamentarismo inglês. Surgiram, então, dois partidos, um mais à direita – o Regenerador e o outro mais à esquerda, o Progressista, que se alternariam no Poder. Entrou-se na Regeneração e no “Rotativismo”. Gerou-se alguma paz social e uma melhoria das contas públicas permitiu algum progresso económico. Apareceu um estadista: Fontes Pereira de Melo. As coisas foram-se aguentando com altos e baixos até 1890, com muita chapelada e caciquismo local à mistura.

A luta política nunca foi séria e disso se ressentia o “governo da cidade”. Eça, Ramalho, Oliveira Martins e o imortal Bordalo, fixaram toda esta época para sempre. A partir de 1890 com nova crise financeira e o “Ultimatum”, entrámos no estertor da Monarquia, que iria durar 20 longos anos. Surgia agora em força a propaganda e agitação republicana e algumas ideias socialistas e anarquistas.

A Monarquia caiu mal, vítima da inépcia, da cobardia e até da traição dos partidos e outras forças que a apoiavam e a República nasceu pior, pois que se fundou num crime de Regicídio. Também, nesses tempos, muitos houve que achavam que a simples mudança de um regime seria o suficiente para a salvação da Pátria, mas enganaram-se. Os 16 anos que se seguiram foram de indiscritível agitação político-social, bancarrota, revoltas, assassinatos, desgraças várias.

Pelo meio combatemos em quatro frentes durante a I Guerra Mundial o que causou imensos lutos, sacrifícios e desavenças.

Em 1926 o país estava novamente exangue e desacreditado, interna e internacionalmente. Por isso não espanta, nem se deve criticar, que o Exército tomasse o Poder. Só que as FAs sabiam o que não queriam, mas não estavam seguras do que deviam fazer a seguir.

Salvou-nos (é o termo!), um homem que se tornara conhecido pelas suas ideias e integridade e chamado a pôr ordem nas finanças se houve prestes, com grande acerto e competência. Chamava-se Salazar e era lente em Coimbra.

Sabendo concitar apoios, dispondo de uma Ideia Telúrica de Portugal e do seu povo e uma doutrina original que a sustentava, acabou por ser nomeado chefe do governo e por lá ficou 40 anos. E um dos principais e primeiros actos que intentou foi acabar com os partidos políticos e não se lhe pode levar a mal a atitude face aos péssimos serviços que estes tinham prestado ao país no último século! Não pode pela Ciência Política, ser qualificado de democrático, o regime então instaurado. Mas não se lhe pode negar coerência, Patriotismo extremo; princípios elevados; recta intenção; respeito pelo Direito e pela Moral e, ao contrário do que muitos dizem, elevado progresso económico e desenvolvimento social. Foi um regime sério e maioritariamente servido por pessoas sérias.

E, durante décadas, fez com que os portugueses voltassem a ganhar orgulho e confiança neles próprios. Pelo meio ganhou-se a guerra de Espanha, saímos incólumes e prestigiados da Segunda Guerra Mundial e quando se montou um dos maiores ataques à escala mundial que jamais se conjugara contra a maneira portuguesa de estar no mundo, organizou-se a resistência e a luta de tal modo, que não encontra paralelo desde o tempo do Senhor Afonso de Albuquerque. Perdeu-se Goa, Damão e Diu, é certo, mas só depois de termos ultrapassado vitoriosamente durante mais de 10 anos, todas as tropelias da União Indiana, e quando esta nos esmagou militarmente com força bruta, perante a inanidade hipócrita da Comunidade Internacional.

Quando o obreiro de tudo isto faleceu, não possuía palácios, contas na Suíça, nem qualquer bem que surtisse inveja ao mais pobre dos seus compatriotas. E a exiguidade da sua conta bancária (140 contos) só encontra paralelo na probidade com que serviu o Estado e a Nação. Nunca alardeou honrarias e jaz, por seu desígnio, em campa rasa na sua aldeia natal. Não se encontra exemplo que lhe possa ir a par, em toda a História de Portugal.

Chegámos a 1974 e uma pequena parte do Exército, entendeu, por razões que ainda não foram devidamente assumidas, fazer um golpe de estado. Ao contrário dos seus camaradas de 1926, não se percebeu muito bem o que possam alegar como justificação.

Todos os órgãos do estado funcionavam em pleno; não havia crise financeira nem económica; a ordem imperava nas ruas e nos lares.

A Nação encontrava-se em guerra e batia-se no seu melhor ia para 13 anos e não se pode admitir que profissionais do quadro permanente aleguem, porventura, estarem cansados de fazer a guerra.

Mas as coisas são o que são e o golpe deu-se. À semelhança de 1926 os militares também não sabiam o que fazer a seguir e logo se dividiram, prenderam e sanearam.

Ainda hoje a Instituição Militar está a pagar tanta insensatez. O país esteve à beira de nova guerra civil. A coisa lá se resolveu menos mal nos territórios europeus. No Ultramar foi o desastre. O Poder Nacional caiu catastroficamente mas, “hélas”, passámos a ter um regime democrático, mesmo assim contestado pela extrema - esquerda. E lá voltámos novamente aos Partidos.

A “pesada herança” (em ouro e divisas), dois acordos com o FMI e a adesão à CEE, têm aguentado as finanças e permitido a distribuição de benesses com que se compram votos. Mas tudo isto vai acabar e os vícios do sistema irão começar a aparecer em verdadeira grandeza. Os partidos são medíocres e são incapazes de se reformar. O que Eça, Ramalho e Bordalo escreveram voltou a estar actual.

O resto virá com o tempo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MARQUES MENDES E OS MILITARES

O Dr. Marques Mendes (MM), no seu comentário semanal na TVI 24, de 27/8/12, veio afirmar, “en passant”, que Portugal possui mais militares por mil habitantes do que a Espanha e a Alemanha (e mais policias do que a França e a Alemanha).

Esta mirabolante informação parece ter sido recolhida de um estudo de uma obscura “fundação” que assumiu o nome de “Oliveira Martins”, e citada num editorial do Diário de Noticias.

Presumo que MM o terá feito para respaldar os seus colegas no Governo nas já anunciadas facadas para as FAs que, seguramente, vão transpirar da avaliação da “Troika” - não sei até, porque é que eles não se instalam de vez em S. Bento!

De facto, quando se quer justificar seja o que for, não faltam argumentos, nem dados estatísticos desenterrados onde calhar.

A argumentação é tola e pobres, mas venenosas, são outras atoardas do mesmo jaez que por aí se ouvem, a mais comum das quais é a de que a “tropa” tem pessoal a mais (então generais nem se fala!) – coisa que oiço há mais de 30 anos (ao mesmo tempo que era confrontado com queixas de que “o pessoal não me chega”)!...

Ora dizer isto sem dizer mais nada, quer dizer tudo e não quer dizer nada, pois pelo meio seria pertinente referir que existe pessoal a mais ou a menos, em relação a quê; perceber as distorções e o porquê das mesmas; dividir a análise por Ramos, postos e especialidades; correlacionar o que existe com as missões atribuídas, o sistema de forças e o dispositivo (aprovados pelos políticos); analisar as medidas já tomadas ou a implementar para atenuar as eventuais distorções, etc.

Não fazer isto e andar a dizer que há gente a mais ou a menos, é atirar cuspo para o ar e fazer demagogia. Acresce que as condições mínimas para se harmonizarem quadros orgânicos e fluxos de carreira nunca foram criados, pela simples razão de nunca ter havido, nos últimos 38 anos, qualquer factor estável de planeamento.

Quer isto significar que nunca se cumpriu com os diplomas enformadores que foram sendo publicados; não parou de haver alterações, cortes a esmo, reorganizações, missões ao estrangeiro, que vão e voltam, etc. tudo agravado por ministros da defesa que se sucederam em catadupa, perfeitamente impreparados para o lugar e acolitados por um Conselho de Chefes que, por norma, fizeram gala em não tomar posição pública, sobre seja o que for, e tiveram extrema dificuldade em se entender (e, por isso, também em andar à frente dos acontecimentos), o que se estendeu desde a cor dos atacadores das botas à compra de submarinos.

Porém, estamos em crer, que a razão principal do estado a que as FAs chegaram, resulta dos preconceitos anti-militares da esmagadora maioria da classe política e na sua convicção de que a tropa não faz falta para nada.

E enquanto isto for assim não há nada a fazer a não ser que ser queira utilizar o cano da G-3 para uma função que não é suposto ter.

Outra atoarda que fere a cavidade auricular é a de que se gasta 80 ou 90% (ou o que for), em pessoal. Este argumento é imbecil de todo, já que facilmente se percebe que até se podia gastar 100% em pessoal…[1] Basta que o Governo apenas contemple o orçamento com as verbas necessárias para tal, que é o que tem sido a tendência verificada.

Mais uma vez, enviar estas “mensagens” para o éter, nada explica e esconde desígnios menos honestos!

Outra cretinice esférica (mas insidiosa),que corre na “Net” e em conversas de café é o suposto rácio entre efectivos e oficiais generais (e agora, também, os superiores) – chega-se a publicar os números existentes, mesmo que aproximados, e dizer que está tudo invertido, defendendo uma pirâmide do tipo “um tenente general, dois majores generais, quatro coronéis seis tenentes-coronéis”, e por aí abaixo (quanto aos sargentos a coisa ainda é mais nebulosa). Neste âmbito entra-se mesmo no campo da burrice pura.

Para além de não lhes ocorrer questionar se há generais a mais ou soldados a menos; qual o equilíbrio dos quadros orgânicos relativamente ao fluxo de promoções – sem o que não se consegue dar uma carreira e experiência a ninguém; o facto de não se dever tratar mal pessoas que entraram para uma instituição onde está previsto ficar 20/30 ou mais anos, que “monopoliza” os seus servidores – eles não podem mudar de “empresa”, nem emigrar – e depois quando “estão a mais”, cuspi-los fora (fuzilá-los seria um método expedito para resolver o problema); etc., ainda devem viver no tempo dos Romanos…

No Exército Romano as coisas eram simples (apesar de complexas para a época): um Decurião mandava em 10 legionários; um Centurião comandava 10 Decúrias; 10 Centúrias formavam uma Coorte e várias Coortes constituíam uma Legião. Á frente da legião estava um general.

As diferentes “armas” reuniam a Infantaria (ligeira e pesada), Cavalaria, Artilharia (engenhos piro-balísticos) e, até, Engenharia (pontes, estradas e fortificações). E havia ainda a Intendência, que já era complicada. O Estado-Maior só foi inventado por Napoleão…

Convenhamos que as coisas, hoje em dia, são bem mais complicadas e estão longe de serem feitas na base “10”!

O aumento da tecnologia, da sofisticação, a complexidade das tácticas e da logística, etc., mudou profundamente a composição das unidades, a diferenciação dos postos e especialidades, o treino, “and so on”.

Uma tripulação de um P-3, por ex., é de 11 elementos; não há lá um major, um capitão, dois subalternos, quatro sargentos e três cabos! Na manutenção de qualquer aeronave não existem soldados, a maioria são sargentos e entre estes a distribuição obedece a equilíbrios vários; num navio da Armada aplica-se a mesma lógica.

Até no Exército esta é a realidade que se tem imposto, pois o grau de avanço tecnológico, a letalidade das armas, a diversidade de equipamentos, torna cada militar num especialista. Mas as coisas no Exército nunca se podem comparar aos outros Ramos, pois necessitam de um maior número de efectivos, dado que as unidades de combate básicas continuam a ser a companhia, o batalhão e a brigada e este tipo de unidades precisam de se poder apoiar mutuamente e têm que ocupar o terreno e, ao mesmo tempo, manobrar. Ainda não se consegue fazer isto com meia dúzia de indivíduos…

Além disso as necessidades de treino e logísticas e de apoio dispararam, exigindo muito mais pessoal na retaguarda e no apoio ao teatro de operações. Mas o que é que o agora “analista político” saberá disto?

E que dizer de um órgão de Estado-Maior? Também se vai usar a “lógica” de ter um coronel, dois Tenentes-coronéis, três Majores e quatro capitães? Toda a gente sabe que as coisas não se passam assim. E, por outro lado, é preciso ter a noção que por via das organizações internacionais de defesa em que participamos e da Cooperação Técnico-Militar, o número de oficiais e sargentos (até de generais), necessários para ocuparem funções, disparou.

Também se torna necessário explicar a MM e, infelizmente, não só a ele, que em termos militares prefere a eficácia e não a eficiência, mas isso terei que deixar para outras núpcias.

Uma última coisa: para se ter algo a funcionar, para garantir uma capacidade, é necessário ter um número de pessoas a ela alocadas, sob pena dessa capacidade não existir. E isto é tanto válido para Portugal que tem 10.5 milhões de habitantes, como para os EUA que têm 300. Dá para entender?

Por isso caro Dr. MM quando falar em números ou em estatísticas convém ter alguma noção do que fala e de como interpretar as figuras. Já agora, tem alguma explicação para o facto de os Ramos estarem escalavrados de pessoal e o MDN inchar de civis?

E já se perguntou porque é que os sucessivos governos têm porfiado em substituir os militares em todas as funções que estes desempenhavam (e bem) fora das fileiras (Serviços de Informação, Protecção Civil, algumas EPs, Cruz Vermelha, etc. – e tudo leva a crer que querem reduzir mais – por pessoal com cartão partidário? Funções estas que também serviam como almofada reguladora de distorções na área de pessoal, e “saídas” por cima, além de fornecerem ao Estado bons profissionais a custo zero? (Por não ser necessário contratar mais ninguém).

Os senhores da política só têm tratado de negócios e assuntos partidários e agora queixam-se de quê?

Não acha que o que Portugal tem a mais são políticos (três governos – Continente e ilhas – 333 deputados, 308 camaras, 4259 freguesias, cerca de 1800 vereadores, uma corte assinalável de assessores em Belém, etc. – quer que continue?), por mil habitantes? Relativamente à Alemanha, por ex., tinham que reduzir o Parlamento para metade!

E para além de políticos o que parece haver a mais, no país são comentadores…

Lamentavelmente os militares não têm tido o querer e o saber para se defenderem, mas como diz o povo “não há bem que não se acabe nem mal que sempre dure”.

Não sei se o Dr. Aguiar Branco já trocou o jogo da “canasta” típico das “tias” da Foz do Douro, pela mais proletária “sueca” que há muito se jogava no município de Oeiras, onde um colega seu também se terá iniciado nos tristemente célebres três “R” (reduzir, reduzir e reduzir).

Será que é entre um “ás de copas” e um “corto” que se delineiam os cortes na tropa?

Já me esquecia, também creio que há polícias a mais: já reparou quantos é necessário arregimentar só para guardar as costas a todos os políticos que a tal têm direito?



[1] Ou até mais, o Exército já uma vez teve que pedir dinheiro emprestado à CGD para pagar vencimentos…

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A SEGURANÇA DE VOO E A “PRIMA”

Desde que os irmãos Wright conseguiram, em 17/12/1903, que o mais pesado que o ar se deslocasse 36 metros acima da superfície terrestre, desafiando as leis da gravidade, que é assim![1]

Já para não recuarmos à “Passarola” do nosso Gusmão, que não saiu da fase de projecto. E que projecto esse poderia ter sido! Talvez conseguíssemos ter feito no Ar o que tínhamos feito no Mar, 200 a 300 anos antes…

Nem o grande Sacadura Cabral, instructor do primeiro curso de pilotos militares, efectuado em Portugal, no já longínquo ano de 1916, em Vila Nova da Rainha, o conseguiu evitar. E como foi pena ter desaparecido no Mar do Norte nesse aziago voo da Holanda para Lisboa, em 1924!

Logo ele, de que tanto se poderia esperar.[2]

Mas enfim, devem estar todos ansiosos por saber o que tem a “prima” a ver com isto, sem embargo de algumas “avantesmas”, descendentes da “Aviação Heroica”, ainda vivos, já terem certamente percebido.

Bom, a “prima”, melhor dizendo a “visita” à mesma é, provavelmente, a mais antiga causa de indisciplina de voo e de um número de acidentes/incidentes/perdas de vidas e bens, não despiciendo.

A “visita à prima” explica-se em duas penadas: trata-se de um avassalador ímpeto interior, resultante de um fogo vaidoso do ego, que impele o “Zé Aviador” a arriscar fazenda, normas e integridade física, a fim de poder mostrar-se à prima. Prima esta que resulta da síntese, de um conceito alargado de familiares e amigos onde assume especial relevo o ser que, no momento, faça bater mais fortemente o coração entre ânsias e suspiros: a namorada (agora, também, o namorado).

Para impressionar a dita cuja, todas as precauções se abatem e os medos se afugentam e já que “perdido por um perdido por mil”, há que, invariavelmente, planear a cena para que a “máquina” passe raivosamente baixa (eventualmente raspante) e com a maior velocidade possível (tipo “motor aos copos”), de modo a causar o máximo de impressão na retina, nos tímpanos e, até, nos pêlos do nariz dos eventuais espectadores. De preferência avisados previamente (para não se atreverem a perder o espectáculo), da hora da passagem.

Caso a meteorologia, o local e a habilidade do “artista” sejam propícios, ainda se tentará fazer umas “piruetas”, vocábulo com que os simples costumam apelidar as figuras acrobáticas feitas pelos senhores aviadores.

Um recente “incidente” ocorrido – de características insólitas, até – que não caiu, por bambúrrio, na praça pública suscitou, digamos, esta chamada de atenção.

É que por mais (maus) exemplos que se refira, com que se queira ilustrar os perigos e desadequação do acto; das sanções disciplinares, latentes ou aplicadas, com que se possa acenar; da melhoria da instrução que se foi registando ao longo dos tempos; da maior visibilidade e falta de tolerância cívica por semelhantes situações e, ainda, a maior consciencialização e exigência profissional de toda a operação aérea, etc., a visita à prima irá continuar.

Por isso não se pode descurar a mentalização, vigilância, supervisão e as sanções – numa palavra, a liderança – sobre este peculiar aspecto da “Conquista do Ar”, a fim de tentar manter o número de ocorrências o mais baixo possível - e quando surgir a oportunidade (é fatal como o destino), uma nave espacial há - de fazer uma “rapada” na superfície da Lua ou num meteorito qualquer, logo que apanhe o “Houston Center” distraído…

A razão é simples e é apenas uma: enquanto a natureza humana for aquilo que é, não há prima que não seja objecto de tentação.

Poder-se-ia tentar conseguir que a dita cuja não estivesse presente na data/hora/local, desse evento de excitação extrema, digno do melhor marialvismo. Mas digam-me, algum de vós acredita mesmo, que a “prima” seja ele quem for, se queira subtrair a tão feérico momento?

Entretanto o Gabinete de Investigação e Prevenção de Acidentes com Aeronaves continua há meses, apenas com um investigador e com o seu director demissionário.

Façam o favor de irem tentando aterrar melhor do que descolam.



[1] A acreditarmos nos americanos e não nos brasileiros que contestam tal feito e reclamam o pioneirismo para Santos Dumont, com o voo que efectuou, em 23/10/1906, em Paris; ou nos franceses, que defendem que o seu compatriota Clément Ader o fez, em 9/10/1890, não se tendo sabido, na altura, por ser segredo militar. Uma coisa parece certa: é a este cidadão francês que se deve a invenção da palavra “avion”, que foi adoptada por todo o mundo.
[2] Segundo rezam as crónicas Sacadura Cabral andava, a estudar a hipótese de realizar um voo seguindo a rota da viagem de Fernando de Magalhães de circum-navegação.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CUIDADO! NÃO SE DEIXEM ENGANAR!

"Este poema é especialmente dedicado ao Sr. Ministro da Defesa, ao Dr. Durão Barroso que se lhe seguiu dizendo com enfâse que os países europeus se têm que federar (como se isso fosse possivel!) e a todos os que, iludidos ou atraidos por quiméricas "mulas carregadas de ouro", se inclinam a ler pela mesma cartilha.

Creio que, agora, já é claro - e não poderá haver sobre isso desculpas - que a "crise" tem sido artificialmente mantida e agravada, para poder "oferecer" aos povos esta "solução" milagrosa.

Cuidado, não se deixem enganar.

Por acaso alguma das vossas familias se quer "federar" com outra? Pensem pois, que Portugal é apenas a nossa familia maior.

O Dr. Durão Barroso aparenta estar ao serviço de interesses (ainda) inconfessáveis e, por mim, deixou de ser "persona grata" dentro do nosso espaço aéreo, maritimo e terrestre.

Deixo-vos com Afonso Lopes Vieira

Brandão Ferreira
(Das mui antigas, nobres, por vezes gloriosas, mas quase extintas Forças Armadas Portuguesas)

POEMA DE AFONSO LOPES VIEIRA
1878-1946

Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
e para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...

 
 
E se for um francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
fui eu que as depenei primeiro, e ás gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear


E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei á orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
— eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.


Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.


Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa á tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.


Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!


P.S.

A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.

domingo, 9 de setembro de 2012

SERÁ QUE O SR. MINISTRO DA DEFESA ENDOIDOU?

Uma das maneiras pelas quais podemos conhecer as pessoas é pela verificação das razões pelas quais se indignam. E sobre o que vamos discorrer, muito pouca gente se indignou e poucos tiveram expressão na Comunicação Social.

O palco foi a Universidade Católica, em Lisboa, corria o dia 4 de Setembro e o evento, a primeira conferência dedicada ao novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN). O licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1980 (agora convém acrescentar estas informações), Dr. Aguiar Branco (AB), que ocupa o cargo de Ministro da Defesa Nacional (MDN), entendeu estar presente e botar discurso.

Já no período de debate,[1] Sua Exª embalado por súbitos frémitos de densidade estratégica insuspeitada, veio defender “uma política de defesa conjunta com Espanha”; questionou “se faz sentido Portugal trabalhar de uma forma diferente do que fez historicamente com Espanha”; defende a “edificação de capacidades militares”; e que “não podemos ter a ilusão de que, sozinhos, vamos ter força para poder ser actores de segurança, já não secundários mas irrelevantes, como é exigível em termos de defesa nacional”.

E ainda perguntou: “Há uma cultura suficientemente forte de partilha interna e com países vizinhos, neste caso a Espanha, para se poder edificar despreconceituosamente e descomplexadamente aquilo que é fundamental para sermos produtores de segurança?” Perceberam?

Pelo meio umas vacuidades inconsistentes que, provavelmente, nem o próprio terá entendido o que disse.

Confesso que já há muito tempo que não lia tão sortido (e perigoso) conjunto de disparates.

Tal justifica a interrogação do título e espoleta, desde já, uma proposta para que a AR legisle no sentido de tornar obrigatório um exame médico e psicológico aturado, a todo o candidato a cargos políticos, sem o que nenhum deles poderia concorrer, muito menos tomar posse. Exame que se repetiria anualmente.[2]

O licenciado AB demonstra com as suas “propostas”, a maior ignorância sobre História, Geopolítica, Geoestratégia, Relações Internacionais, etc., nem tem a menor ideia do que representa um “Exército”.

Já era tempo dos responsáveis políticos deixarem de indigitar para cargos importantes (e o PR aceitar), pessoas impreparadas para os exercerem. Trata-se de uma indignidade social e profissional.

Ora se AB não está preparado para a função – e isso percebeu-se logo, desde o início – bem poderia ter o cuidado de escolher assessores capazes para o acolitarem; ouvir muito e falar pouco e dar, apenas, passos para os quais tenha pé.

Mas não, pelos vistos apanha umas coisas no ar, dá-se conta que na Bélgica ou na Dinamarca (países, aliás, muito parecidos com o nosso), puseram em execução uma ideia qualquer, arranja um adjunto que lhe explica umas siglas em inglês, polvilha tudo com um bocado de imaginação (democrática) e desata a c….  postas!

Julga V. Exª que o estou a desrespeitar? Engano seu, quem se sente agredido sou eu, que jurei bandeira há muitos anos (saberá o que é isso?) e sou oficial do quadro permanente, para agora um militante partidário arvorado em Ministro da Defesa, vir bacorar, insinuando que a Instituição onde servi 27 anos tem que se misturar com a espanhola!

Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito e não me venha dizer que a sua opinião é respeitável, pois essa de que todos temos que respeitar as opiniões de todos é uma treta do “estupidamente correcto”. E no seu caso é pior, pois tendo um acaso infeliz do destino, feito de si ministro, algumas das opiniões podem não só não ser respeitáveis, como intoleráveis!

Ora diga-me, o senhor é iberista? Quer juntar-se ao seu adversário Mário Lino, quando afirmou na Galiza, em espanholês, e na sua qualidade de ministro, que o governo português prosseguia uma política iberista?[3] Já lhe deixou de ecoar nos tímpanos o grito alarve dessa fraude política chamado Sócrates de “Espanha, Espanha, Espanha”?

Terá sido por estas eventuais ideias, que escolheu um reconhecido membro do “GOL” [4] para presidir ao grupo de trabalho que está a escrever uma proposta de CEDN – dando expressão aos desejos iberistas da segunda metade do século XIX, defendidos por aquela obediência maçónica?

Está à espera que o herdeiro do trono dos Bourbons seja coroado como Filipe VI, para se tornar o Cristóvão de Moura II?

Ou limitou-se a mandar barro à parede como, aparentemente, fez o seu colega António Von Goldman Sachs Borges, com a RTP?

Não lhe chegou ter a “Guardia Civil”, armada, em Lisboa, quando um “distraído” qualquer permitiu que a “Vuelta” a Espanha em bicicleta tivesse início na nossa capital? Ou, já este ano, policias espanhóis terem patrulhado as imediações dos Jerónimos (e outros locais), com a desculpa de prestarem “ajuda” aos turistas que falam castelhano?

Quer ter o obséquio de explicar o que entende por “maiores laços estratégicos” e "edificar capacidades militares conjuntas”?

Vê alguma ameaça no horizonte que nos afecte em conjunto?[5] Algo parecido com o Salado ou o Pacto ibérico de 1939, por ex.? E já reparou que em ambos os casos foram as FAs de ambos os países que se juntaram, em igualdade de termos, para repelirem uma ameaça comum?

Já falou com eles?

Que “maiores laços estratégicos comuns” vislumbra, para além daqueles que já temos a nível da NATO e da UE? Será que vai querer ajudar os espanhóis a reaverem Gibraltar e continuar a esquecer Olivença?

Que “capacidades militares conjuntas”? Vai pedir à Armada Espanhola (que sempre teve esse objectivo desde Afonso H.), para ajudar a patrulhar o Mar Português, que os senhores da política miseravelmente abandonaram desde 1976? Ou será só o Espaço Aéreo, agora que, recentemente, “eles” nos acusaram de sermos uma superpotência em termos de gestão desse espaço?

Quer vender os estaleiros de Viana do Castelo ao vizinho do lado, para lhes reforçar a sua poderosa indústria naval (que constrói porta - aviões!) em vez de os manter em mãos portuguesas, pois são estratégicos?

Vai fechar o Campo de Tiro de Alcochete para ficarmos sem um único local para ensaios de armamento e obrigar a Força Aérea a ir fazer tiro Ar-Chão a Espanha?

Vai querer integrar uma das nossas pobres brigadas do Exército na “Divisão Brunete”?

Pensa, por outro lado, que os espanhóis - apesar da Espanha se estar a partir toda e irem ficar pior que nós - vão encerrar a sua escola de pilotagem para virem formar os seus pilotos em Sintra? Acredita nisso?

Os senhores do governo entretêm-se, há mais de 20 anos, a destruir ou a reduzir à ínfima espécie todas as capacidades das FAs – com o silêncio, maioritariamente, não concordante, mas conivente, das chefias das FAs - e agora o senhor queixa-se que “não vamos ter força para ser actores de segurança”?

O senhor ainda não percebeu que as FAs são o principal símbolo e bastião da Soberania, sem o que tudo o mais se desmorona?

Ou será que também é partidário das ideias dessas “máfias” internacionalistas que querem destruir as nações europeias para fazerem uma amálgama não se sabe bem de quê e para quê?

Foram essas as instruções que os seus colegas Moreira da Silva e Luís Amado trouxeram da última reunião, do Grupo de Bilderberg, na Virgínia?[6] Irem-se federando…?

Por tudo isto esta discussão sobre o novo CEDN não faz sentido nenhum, pois esse conceito, de nacional não tem nada! O “conceito” não é para nós, é para outros… O senhor é apenas um dos ingénuos úteis ou é mesmo iniciado na coisa?

Esta discussão pública a que o senhor deu agora início só serve para “épater le bourgeois” e para tentar justificar mais umas facadas na Lei de Programação Militar, no dispositivo, sistemas de forças e efectivos (mantendo todas as missões, é claro). Será que também vai submeter o novo texto aos “troikanos”?

Serve, porém, outrossim para lhe dar alguma visibilidade que agora ganhou, com essas tiradas de mágico, arriscando-se mesmo a que na próxima universidade de verão dos “laranjinhas”, o elevem aos píncaros da Estratégia, por ter superado Aníbal, em Canas; Alexandre, em Gaugamela e, quiçá, Leónidas, nas Termópilas!

Sabe como conseguia poupar tanto esforço inútil e prestar um bom serviço ao país? Eu digo-lhe: bastava reduzir o CEDN a dois parágrafos;

1º Colocar portugueses competentes (isto é que soubessem algo de governação), probos (ou seja, não estivessem lá para tratar de negócios) e patriotas (quer dizer, não enfeudados a “maçonarias” de poder, internacionalista), no Parlamento, no Governo e na PR;

2º Expulsar a “Troika” (no sentido em que é necessário reganhar a soberania plena).

Tudo o que se escrever no CEDN para além disto é despiciendo.

Como fazer isto? Bom, isso não é para se andar a discutir na praça pública.

Apenas se explica o que for de implementar. A verdadeira estratégia – pois que trata de oposição entre unidades políticas – tem sempre uma parte classificada (segredo)…

Se o mandaram atirar barro á parede para verem a reacção, foi uma aposta ganha: conseguiram.

Portugal desaparecer não é opção. Fica avisado.



[1] Ver notícia do “Expresso on-line”, do mesmo dia, da jornalista Luísa Meireles, e não desmentida.
[2] Estou a falar seriamente: se eu para pilotar aviões tenho que fazer um exame médico semestral (e outros), por maioria de razão o deve fazer quem “pilota” a nave chamada Portugal!
[3] Afirmação que serviu de base para um grupo de cidadãos apresentar queixa na PGR, por crime de traição à Pátria (Art.º 308 do Código Penal)
[4] Grande Oriente Lusitano
[5] Talvez a imigração islâmica, coisa que, por enquanto ainda faz parte das atribuições do MAI e o senhor não se atreve a falar?
[6] Chantilly, entre 31 de Maio e 3 de Junho.