domingo, 28 de julho de 2013

O GOVERNO VAI VENDER F-16!

No briefing diário (das más noticias) o porta - voz do Governo confirmou, ao país, que ia vender 12 dos 39 caças F-16, que restam à Força Aérea Portuguesa (FAP).

    Não hesito em qualificar esta decisão de um acto de profunda incompetência e inconsciência!
    Tal leva-me a considerar o Governo como sofrendo de um estado de estupor (entorpecimento das faculdades intelectuais, paralisia, etc.).
    Vou provar porquê.
    A FAP procurou (através dos governos) adquirir um avião de caça de que o País estava privado desde que os “velhinhos” e saudosos F-86-F foram abatidos ao inventário, em 1980, após 22 anos de bons serviços.
    Até à vinda dos F-16, em 5 de Junho de 1994, a FAP operou sem um único avião de caça – a primeira vez que tal sucedeu desde 1919 - [1] que é o único capaz de garantir a defesa do espaço aéreo nacional, razão principal da existência de qualquer Força Aérea.
    Pelo caminho ensaiaram-se várias tentativas para colmatar esta gravíssima falha no âmbito da Defesa Nacional, através da aquisição de outros meios, de que se destaca o F-5E; tentativas baldadas pelo crónico "deficit" orçamental e medíocre atenção que os governos dão a tudo o que se relacione com as Forças Armadas.
    Como a Defesa Aérea não são só caças e pessoal para os operar e manter, foi lançado o “SICCAP”, salvo erro em 1977/8, avaliado em cerca de 70 milhões de contos e comparticipado acima de 75% pela NATO.[2]
     Tal representa uma obra notável cuja II fase só agora está a ser concluída com a instalação do radar de Defesa Aérea, no Pico do Areeiro, perto do Funchal.[3]
    Após todo este tremendo esforço e investimento em tecnologia, preparação do pessoal, manutenção e operação de sistemas, meios financeiros, etc., a que se tem que juntar a enorme complexidade que representou a negociação e compra dos F-16, aos EUA e o aprender a operá-los e mantê-los, é que o governo (isto já vem de 2006!), se decide a vender 12 aviões – 30% do total!
    Se isto não é uma supina estupidez, é o quê?
    Esta convicção é reforçada, ainda, por dois factos relevantes.
    Portugal dispõe de pouquíssimos sistemas de armas importantes em termos de modernidade e capacidade letal; o F-16 é um deles.
    Por seu lado, a FAP, apenas possui duas aeronaves que transportam armamento: o F-16 e o P3-P.[4] Acresce que as duas esquadras de F-16 (hão-de querer acabar com uma e depois com ambas e passar a defesa aérea para os espanhóis…), possuem poucos aviões/tripulações, para cumprirem todas as missões atribuídas, quer a nível nacional quer a nível dos compromissos internacionais assumidos – para já não falar na presença mais assídua que deviam ter nos Arquipélagos e no âmbito da CPLP.
    Mas a única coisa que os governos fazem é reduzir o número de pessoal e as horas de voo, através do estrangulamento financeiro!
    Finalmente, a venda dos F-16 é uma cavalidade imensa, pois o nosso país no estado de desastre financeiro em que se encontra, não terá hipóteses de comprar qualquer outro avião de combate nos próximos 50 anos.[5]
    Por isso a solução não passa por vender seja o que fôr, mas sim aproveitar tudo, o melhor possível, até ao tutano.
    E se for entendido que não é conveniente operá-los a todos, em simultâneo, então que se preservem muito bem armazenados até voltarem a ser necessários.
    A FAP adquiriu, entretanto, um “know-how” técnico na modernização e extensão, da vida útil do F-16, que é único no mundo fora da indústria aeronáutica. Esta capacidade devia ser, isso sim, explorada a nosso favor, com possível retorno financeiro e não só.
    Os F-16 são uma espécie de seguro de vida. Deitar um seguro de vida pela janela fora, é outro sinal de insensatez.
    E que ganhará o governo em vender as aeronaves?
    Nada, a não ser uns poucos milhões de euros, que serão tragados, em segundos, no abismo das “PPP”, “swaps”, resgate de bancos falidos, indemnizações e contrapartidas de negócios ruinosos, luxos faraónicos de órgãos do Estado, juros de dívida, etc., e manutenção de um sistema político ineficaz, incompetente e maléfico, que atirou o País para uma fossa moral/económico/financeira, abissal, que dez “Gaspares” juntos levariam anos para conhecerem o fundo!
    As capacidades dos F-16, porém, não voltam mais…
    Pela mesma lógica (insana, insisto) com que realizaram este negócio, o que farão a seguir?
    Vendem os submarinos, as fragatas, os P3-P, os M-60 e as Pandur?
    Os Jerónimos?
    Já agora, imaginem o que os americanos irão pensar (apesar de terem autorizado esta revenda) da próxima vez que lhes formos bater à porta a fim de comprar/negociar armamento…
    Com um bocado de boa vontade esta decisão do Governo poderia, até, ser considerada inconstitucional, dado ferir o nº 1 do Artº 273 da CR, “É obrigação do Estado assegurar a Defesa Nacional”.
    Mas quem a suscitará? O PR? A Comissão Parlamentar de Defesa? O CSDN?[6]
    Alguém mais foi ouvido sobre esta decisão?
    As chefias militares opuseram-se ou foram coniventes? Convinha saber.
    Se bem que, na prática, no caso dos chefes militares tanto faz dizerem, escreverem, estarem calados ou falarem. Infelizmente já há muito que lhes foi outorgado o estatuto de “irrelevantes.
    Ficámos, deste modo, a ter mais um “cheirinho” do que, após terem aprovado o esparvoado Conceito Estratégico de Defesa Nacional, o Governo entende por “racionalização” e “aumento da operacionalidade”, com que se engasgam a falar.
    Por tudo isto afirmo que o Governo foi inconsciente e insensato. E como da inconsciência resulta mais um crime de lesa-Pátria, o Governo devia ser levado à barra dos tribunais e preso.
    E numa prisão-hospício, pois além de inconsciente revela traços de louco perigoso.[7]
    Está a vender e a destruir Portugal.


[1] A não ser por um pequeno período entre 1956 (abate dos F-47) e 1958 (chegada dos F-86). Não estou a contar com o F-84-G, por ser mais um caça-bombardeiro.
[2] SICCAP – Sistema Integrado de Comando e Controlo Aéreo Português. Na altura era, possivelmente, o maior e mais caro projeto a nível nacional, existente. Era Chefe de Estado-Maior o General Lemos Ferreira.
[3] A III fase incluía a instalação de dois radares no Arquipélago dos Açores. Foi cancelada por a NATO estar com menos dinheiro e ter outras prioridades. Para nós, portugueses, é mais uma infelicidade, pois os Açores irão estar, a breve trecho, no “centro do furacão” relativo ao controlo e exploração das ZEE e Plataforma Continental, no Atlântico Central.
[4] O Alfa – jet não é considerado pois apenas serve, actualmente, para reconversão de pilotos e está, a breve trecho, condenado.
[5] Na versão optimista…
[6] CSDN Conselho Superior de Defesa Nacional
[7] Para desgraça nossa, tem a seu favor – sem lhe acrescentar coisa alguma – não ter sido o único!