A REACÇÃO DO MDN À ENTREVISTA DO CEMGFA[1]
20/07/19
“Tem a palavra o Senhor Deputado:
- Senhor Primeiro-Ministro, isto está de tal maneira mau
que até as raparigas licenciadas têm que se prostituir
para sobreviver.
O Primeiro- Ministro com o seu sorriso responde:
- Lá está o Senhor Deputado a inverter tudo, o que se passa
é que o nosso sistema de ensino está tão bom, que até as
as prostitutas, hoje, são licenciadas.”
Conversa de Parlamento
Com cerca de 30 anos de atraso – altura em que
os mais responsáveis desta III e infeliz República, começaram a atacar com
denodo, as Forças Armadas (FA) e a Instituição Militar (IM) – o actual CEMGFA,
Almirante Silva Ribeiro deu uma entrevista à Rádio Renascença, onde falou de
alguns problemas que afectam as FA Portuguesas.
Não falou de todos
os problemas, pois para isso precisava de uma entrevista de 48 horas…
Referiu, porém,
algumas questões que são prementes e que se arrastam penosamente, que decorreram
da entrevista (que ignoramos como foi preparada), nomeadamente, do furto das
armas em Tancos – uma história ainda muito mal contada; a aproximação das FA à
Sociedade Civil (ou deverá ser o contrário?); a gestão das carreiras das
praças, a sua retenção, vencimentos e condições de vida; tipo de serviço
militar (de cuja discussão toda a gente foge como o chifrudo da cruz); a missão
(secundária) do combate aos incêndios – melhor dizendo o apoio à Protecção
Civil; a cooperação com as Forças de Segurança – um tema sensível; a pensão de
sangue e estatuto a atribuir aos militares em regime de contrato, que sejam
vítimas de acidente em serviço (nomeadamente em combate!); a situação do
Hospital das FA (em verdade devia ser de toda a Saúde Militar e do IASFA) e o
momentoso problema da falta de efectivos, que não só se tornou uma situação insustentável
(como referido três vezes), como dramática.
Todas estas
questões foram tratadas com decoro, calmamente, com dados objectivos, com
conhecimento de causa, com sentido de Estado e com dignidade.
E, sobretudo,
com verdade – coisa a que a generalidade dos políticos não sabe o que é e se dá
mal – e, se pecou, foi por defeito.
Ora perante tudo
isto - que só acontece depois das chefias militares esgotarem tudo aquilo que
está ao seu alcance fazer (a partir daqui só passando à “agressão”) – como é
que o “curioso” que ocupa com aparente enfado, a pasta da Defesa – figura que o
cómico do comentador Sousa Tavares se congratulou por ser alto, pois “assim
podia falar de cima para baixo” com os generais – reagiu?
Pois reagiu com os
pés, os quais, infelizmente, nunca tiveram bolhas por calçarem umas botas de
uniforme (antigamente cardadas, por economia…).
Com voz agastada
proferiu uma série de enormidades e convidou sibilinamente o CEMGFA a
demitir-se, ficando no ar a ameaça de o fazer.
O Almirante além
de ter colocado as questões com urbanidade, pensou seguramente várias vezes
antes de dar o passo da entrevista. Mas que lhe restava fazer?
Os chefes
militares aguentam, faz décadas, cortes e reduções de toda a ordem, que se têm
revelado autênticos torniquetes em termos financeiros, materiais, em pessoal e
em autonomia; ataques à imagem da IM e ao Estatuto da Condição Militar – que os
diferencia positivamente de todos os corpos do Estado e de qualquer profissão
civil; degradação das suas condições de vida; menorização das suas missões
primárias; desfasamento continuado da justiça relativa com os restantes
sectores do Estado equivalentes (Cátedra, Diplomacia, Forças de Segurança;
Magistratura, etc.); tudo misturado com atitudes e “tiques” de humilhação,
desprezo e hipocrisia.
Repito, faz 30
anos, não são 30 meses…
Enquanto isto se passava, é bom frisar, os diferentes
sectores do Estado e também da Sociedade Civil, viviam na maior das
irresponsabilidades, cuja dívida escabrosa e impossível de pagar (em metal
sonante) que temos, representa a síntese mais perfeita e evidente, do
que afirmámos. E o filme que a explica varia entre a classificação de “terror”
e “pornográfico”!
Por tudo isto a
reacção a todo este estado de coisas, tem décadas de atraso (sendo por isso que
se chegou ao estado em que estamos) e se tal não favorece os poderes públicos
pela perfídia, falta de seriedade e patriotismo revelados, tão pouco ilustra os
militares, naturalmente nas pessoas das mais altas hierarquias, em cada época,
por não se terem feito respeitar e à Instituição que serviam e representavam.
Já para não falar
no País no seu todo, a que parece ninguém liga patavina.
É certo que a
grande maioria dos chefes militares, não é gente mal formada e nunca esperou
dos políticos contemporâneos, a irresponsabilidade, desprezo e incompetência
com que passaram a tratar os militares e as FA (o que tem origens diversas e
fundas); são avessos por formação ética, moral e técnica, a tomar atitudes que
ponham em causa os princípios militares e o decoro público (o “PREC” é uma
anormalidade insana, que tem que ser avaliado fora de um contexto de normalidade);
têm pruridos de sentido de Estado, da defesa da Nação e das instituições;
esperam que o bom senso prevaleça; aprenderam a “encaixar danos”; sabem que em
tempos de paz os militares têm tendência a ser desvalorizados; mantêm, diria
naturalmente, uma neutralidade político/partidária, etc..
Mas tudo tem sido
em vão.
Esta cáfila de
políticos, aproveitando-se das restrições de cidadania aplicada aos militares,
tem praticado a política da terra queimada e não respeitam nada. A não ser a
força.
Por isso o
confronto vai ser inevitável.
Trata-se da
sobrevivência da IM e sem ela a Nação não sobreviverá.
O ministro
Cravinho mostrou-se agastado e já tratou mal o CEMGFA.
Este não se deve
demitir (é o que eles querem) e também não deve deixar que o ministro o trate
mal – que é o mesmo que tratar mal a IM. Os chefes militares não são “boys nem
girls” dos Partidos; as FA não são propriamente um simples órgão de administração
corrente e os militares não são funcionários públicos.
Os outros três
Chefes devem unir-se e actuar como um bloco e atrás deles (formados) devem
estar os Conselhos Superiores dos Ramos. E deve ser enviada mensagem para que
caso pensem em demitir alguém, ninguém assumirá o cargo.
Os governantes, de
um modo geral, têm sido uns cobardes relativamente àquilo que,
eufemisticamente, apelidam de “tropa”. Sabem que é a única profissão no país
que não pode ter sindicatos (e bem) – caramba, até os juízes têm! (e mal) – os
militares no activo não podem falar, nem defender-se seja do que for (sem
autorização superior); que os próprios gabinetes de relações públicas dos Ramos
estão condicionados naquilo que podem fazer e dizer; que se pode facilmente
avençar jornalistas e comentadores, para criticar e denegrir a imagem dos
militares e das FA, etc..
Os poderes
públicos pouco (diria, nada) fazem, para compensar os militares pelas suas
restrições cívicas e deveres acrescidos, além de não exercerem o seu dever de
tutela na defesa do seu bom nome e imagem.
Por isso não tenho
pejo em adjectivar a sua conduta de miserável.
O actual ministro
da tutela, que perdeu o direito a que o trate por “senhor”, após as declarações
que exalou, como os seus anteriores, está fartinho de saber dos problemas
existentes. A razão é simples, aliás: foram eles que os criaram; e agora
mostra-se indignado pelo CEMGFA, depois de muitas démarches internas (atiradas
para a gaveta), dizer o óbvio!
Acusa ainda o CEMGFA
de não conhecer as suas funções e que estas se resumem a fazer o que ele,
ministro, lhe disser para fazer…
Espero que o
Almirante CEMGFA lhe responda à letra, oportunamente, mas fica-me a ideia de
que quem não sabe o que anda a fazer é o emproado urdidor de blagues, que por
um solavanco político/partidário foi exercer funções que certamente nunca lhe
passaram pela cabeça desempenhar.
E teve o
despautério de zunir: ”em vez de nos preocuparmos em lastimarmo-nos devemos é
deitar mãos à obra”. Deitar mãos à obra? Apetece-me estrafega-lo! Sabe por
acaso, as condições em que se tem trabalhado nos últimos anos com a asfixia
permanente em termos financeiros, material, pessoal e administrativos? Com as
mil e uma pseudo reformas que tiraram da cartola e que apenas querem dizer reduzir?
Das mudanças constantes de regras a meio do jogo? De tratarem as FA como se de
um bocado de plasticina se tratasse?
Passa-lhe pela
cabeça que possa haver em Portugal algum órgão do Estado ou empresa ou
organismo civil, que suportasse um cem avos do que têm feito ao Exército, Força
Aérea e Armada Nacionais?!
Tenha tento e
vergonha na cara!
E como pode ter, se remata assim: “não podemos queixar-nos
que não temos suficientes militares e esquecermos o recrutamento de
mulheres”...
Sim senhora, esta
tirada é digna de Napoleão após a vitória de Wagram!
Diplomata
Cravinho, V. mercê é uma vergonha e uma lástima.
Por certo conhece
a lastimável frase de um antigo e já desaparecido, maioral do PS, para um
humilde guarda da PSP que apenas cumpria o seu dever.
Aplica-se a si.
João José Brandão
Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
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