quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O “GRANEL” DA “SAÚDE MILITAR”

Publicado no jornal "O Diabo" de 4 de Janeiro de 2011
Vista frontal do edificio principal do HMP, na Estrela
Tinha decidido não escrever mais sobre o assunto mas ao assistir ao evoluir do mesmo e ao sentir na pele as consequências das decisões tomadas (e ainda a procissão vai no adro…) resolvi dar mais um contributo para este peditório.

Sem adiantar juízos de valor vamos ver o que se passa quando as desavenças dos de acima, chegam ao elo final da cadeia, neste caso os utentes do sistema.

Um familiar meu e eu próprio tínhamos questões pendentes do foro ortopédico e urológico – justamente as duas únicas especialidades médicas cujos serviços migraram do Hospital da Força Aérea (HFA), para o Hospital Militar Principal (HMP). Acontece que, no que toca à ortopedia, a maioria dos médicos militares e civis em serviço na FA, entendeu não querer passar a trabalhar na Estrela e saíram do serviço activo.

Como a Marinha não fechou ainda o respectivo Hospital nem transferiu nenhum médico para os serviços do Exército à excepção, salvo erro, de um dermatologista, o serviço de ortopedia ganhou os doentes todos, mas não o pessoal para os curar. Ou seja conseguir-se uma consulta, passou para as calendas não gregas mas, para aí, persas. Agendar uma operação deve ser bonito…

O serviço de urologia lá marchou mas, azar dos Távoras, neste caso dos Brandões, o meu familiar que aguardava uma operação, pertence à ADSE, o que era permitido pela FA, mas não é aceite no Exército…Ainda não fui ver como se resolve a coisa, mas provavelmente só no que resta do Serviço Nacional de Saúde, ou no privado, que é para onde o governo nos quer atirar a todos, não só porque não sabe quanto gasta na saúde, mas também porque faz jeito a umas quantas empresas do mercado.

Ora isto são apenas duas pequenas consequências de um processo que nasceu torto, onde ninguém se entende e onde ninguém manda. E, no mais, perfeitamente escusado.

Mas já lá iremos.

Convinha, à partida esclarecer – porque nestas coisas a clareza é importante – se os actuais despachos do Sr. Ministro da Defesa (MDN), foram da sua iniciativa ou inspirados nalgum chefe militar. Mas os despachos e a “Reforma da Saúde Militar”, tudo espremido, versam apenas a questão dos hospitais militares (havia um para a FA e a Armada, em Lisboa; e três para o Exército, dois em Lisboa e um no Porto, sendo que o HMP tem três núcleos de edifícios distintos).

O objectivo, vá-se lá saber porque bulas, é fazer um, ou o hospital único das Forças Armadas. Hospital único não quer dizer, à partida, que tudo estivesse reunido no mesmo local, mas parece que é isso que se pretende, já que se determinou o fecho do Hospital de Belém (infecto-contagiosas) e o da Marinha para, numa primeira fase, restarem o HMP e o HFA, no Lumiar. Mas tudo aponta para que, posteriormente, apenas reste a Estrela ou o Lumiar. A serem as coisas assim, o do Porto também não vai durar muito… a alternativa seria fazer um hospital novo de raiz, o que é impensável não só porque não há dinheiro como não existe vontade política.

Esta ideia não é nova e tem andado aos baldões de ministro em ministro.

As coisas passam-se normalmente da seguinte maneira: pedem-se pareceres aos ramos e fazem-se várias reuniões; ninguém se entende. Porém, raramente os problemas são encarados de frente, evitam-se pôr os dedos nas feridas, quando as há, e opta-se – à boa maneira portuguesa – por atacar efeitos e “dourar pílulas”. A seguir acontece uma de várias coisas, a saber: muda o ministro e volta tudo à estaca zero; mudam os chefes e o processo sofre dilações; formam-se novos GT; fazem-se umas directivas que, ou não são cumpridas; verificam-se que estão erradas; cumpre-se uma coisinha. Andamos nisto há décadas.

Chegou agora um ministro – que obviamente também não percebe nada da função que veio ocupar, mas que tem peso político e com fama de “malhador” – que decidiu cortar a direito. Quando os chefes militares se aperceberam disto, em vez de se unirem, discutirem o assunto e apresentarem uma solução equilibrada, para assim poderem fazer frente às mais do que previsíveis asneiras dos políticos, não senhor, foi cada um para seu lado, tentar salvar uns cacos onde ainda possam dizer que mandam um bocadinho. Isto chegou a extremos inéditos: os médicos militares, que normalmente não ligam a estas “guerras”, passaram a vestir a “camisola” dos Ramos e andam amofinados uns com os outros!

Estamos a falar de quatro (não de quarenta!) chefes militares, que se conhecem há muitos anos, andaram em escolas idênticas e leram pelos mesmos livros, Santo Deus! Adiante.

O que se passa tem alguma razoabilidade? Não tem.

Não faz sentido ter um hospital único das FAs se não houver um Serviço de Saúde Militar único e este também não parece ter qualquer justificação. Cada ramo tem as suas especificidades e necessidades próprias.

Tudo funcionava razoavelmente bem, e os serviços estavam praticamente lotados em todo o lado. Concentrar tudo em um ou dois lugares vai tornar impossível prestar o mesmo serviço a todos os utentes como até agora. E vai custar dinheiro em mudanças e adaptações. Ao avançar-se para um hospital único, este fica dependente de quem? E como vão funcionar os serviços dos ramos e respectiva articulação? Ou seja terá que haver mais um “terramoto” organizativo e legislativo perfeitamente dispensável e inútil.

Depois está-se a olhar para a saúde militar de um modo restritivo, esquecendo-se que esta serve primariamente para apoiar as tropas em operações e que os hospitais militares são a retaguarda de tudo isto e devem articular-se com a “linha da frente” e apoiar a “família militar”.

A única coisa que faria, eventualmente, sentido seria fazer utentes dos hospitais militares o pessoal da GNR e assim “dispensar”o hospital – eufemísticamente baptizado de “clínica” – de que usufruem. Mas tal o Sr. MDN não quer pois não está na sua tutela… Ou seja, só as FAs é que têm que se “racionalizar”, o governo não!

Não se entende o que se ganha com tudo isto, mas podemos apontar os problemas verdadeiros que existem e com os quais, pelos vistos, ninguém está preocupado: harmonizar e disciplinar a qualidade de médico com a função militar – não devo agora desenvolver este aspecto; cuidar do problema da retenção do pessoal que trabalha nesta área; resolver os problemas da carreira dos enfermeiros e sua formação; ultrapassar os constrangimentos oriundos do ministério das finanças relativos à contratação do pessoal civil técnico, indispensável.

Quando se chegar à decisão de fechar o hospital de FA ou o do Exército, nova “guerra” despontará e já começou a ser preparada: como o HMP não tem condições para se bater com as instalações do Lumiar (não tem bons acessos, heliporto, parques de estacionamento, zonas de expansão e carece de verbas substanciais para manutenção de edifícios), a não ser em número de quartos, o Exército tem apostado na manutenção e alargamento da urgência, de proveito mais do que duvidoso.

Problemas há-os sempre, e procedimentos que podem ser melhorados, também. Por exemplo, a Marinha era muito atacada (sem se ponderar bem se eles não teriam razão), por o pessoal no activo receber medicamentos gratuitamente, e os do Exército e Força Aérea, não receberem. Pois bem, ora aqui está algo que devia ser uniformizado num sentido ou noutro, ponderadas as razões. Mas para isto e para a “racionalidade” do sistema seria necessário arranjar este granel medonho?

O MDN já deve estar mais que arrependido, mas como tomou a decisão agora não quer dar o dito por não dito…

Resta a pergunta, que devia em primeiro lugar ter sido equacionada: o que é que se pretende atingir com a “reforma” em curso?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para que se saiba e não se esqueça.

PORTUGAL E A UNIÃO INDIANA: OS FACTOS E A VERDADE

O ULTRAMAR E A GUERRA. AINDA!

SUSPENDER A “DEMOCRACIA”: SERÁ QUE A MANUELA TINHA RAZÃO?

Não se trata de prenda de Natal...
Escrevi este texto em 2/6/10 e obtive as reações mas diversas.
Passados cerca de seis meses envio-vos de novo a fim de o  interiorizarem e aquilatarem se pensam o mesmo de então.
Espero que perdoem o desafora, mas a intenção é boa.
Um Santo Natal para todos!
03/6/2010
(Dia do Corpo de Deus)

Não passa um santo dia em que o comum do cidadão não seja agredido na sua mente, no seu espírito e no seu bolso, por um qualquer evento ou declaração política.

Trata-se de uma verdadeira violentação cívica e psíquica, contumaz, que não há futebol, fado ou Fátima, que releve.

A última “pérola” de que fomos servidos, saíu da boquinha asneirenta do sr. Ministro das Finanças – isto não é um insulto mas antes a constatação do senhor não acertar em nada do que diz – ao defender no parlamento que o aumento do IRS devia ter efeitos retroactivos, pois o bem geral deve sobrepor-se à lei (neste caso a Constituição da República)! Este arrazoado pretende justificar a impossibilidade de uma tal medida ser tida como anticonstitucional.

E se não fora, é seguramente insensata. A insensatez e a ignorância correm, aliás, paredes meias com o despudor e a falta de vergonha com que a generalidade dos políticos diz as coisas mais inverosímeis, quando não uma coisa hoje e o seu contrário, amanhã afivelando o ar mais seráfico deste mundo.

Será que não terá ocorrido ao senhor ministro pensar para que servem então as leis? E se acaso as leis existentes não serem suposto servirem o bem público? Servirão então o quê? E se esta ideia do sr. ministro (do governo?), fizer vencimento, que outras se seguirão? Sim porque a partir daqui, é o vale tudo…Que os responsáveis políticos não dizem normalmente o que pensam, até uma mente infantil percebe; mas será que andam tão desorientados que já nem pensam o que dizem?

Quando se porá cobro a toda esta falta de seriedade, ao mais alto nível, que se desenvolve como uma mancha de óleo e que acobertada pelo termo “democrático” está a desgraçar e a desqualificar o nosso país, Portugal?

Quanto mais tempo iremos admitir, que a nível do Estado se tomem decisões gravíssimas algumas das quais põem em causa a existência de Portugal como país independente, sem consultarem e explicarem à população o que se passa?(caso da UE,por ex.). Até quando iremos admitir que nos faltem à verdade, que falhem constantemente nas previsões de tudo e raramente cumpram as promessas feitas?

Como é possível a maioria da população não se incomodar que o país esteja com uma segurança medíocre; a justiça não funcione – isto é, tudo funciona, mas não se exerce justiça… -; idem para a educação – isto é, tudo funciona, mas os resultados são desastrosos - e que se viva há mais de três décadas acima das nossas reais possibilidades, sem que ninguém responsável tenha tido a coragem de dizer que o rei anda nu ?

Até quando é que a população vai aceitar que cerca de umas 100 a 200.000 famílias que orbitam à volta dos partidos e do Estado suguem a quase totalidade da riqueza produzida na Nação?

O que será necessário acontecer para se perceber que não podemos viver sem termos objectivos políticos institucionais e de longa duração, e estratégias para os alcançar e tal não poder ser constantemente boicotado pela luta partidária (fratricida!) e pelas sucessivas pugnas eleitorais que não permitem que haja tempo para se exercer o Poder e … governar?

E será assim tão difícil apurar responsabilidades pela verdadeira incompetência/corrupção com que foi utilizada a maioria dos fundos comunitários que, tudo somado, pouco nos deixa de mais valias para o futuro? E já pensaram que estes fundos (cerca de dois milhões contos/dia desde 1986) representam uma soma incrível de riqueza que ultrapassa, em muito, as especiarias do Oriente, o ouro do Brasil e as riquezas de África, fundos estes que nós nem sequer tivemos que ter o esforço de enviar navios a buscá-los, pois estavam ao alcance de uma tecla de computador?

De facto é muito lamentável o estado a que nos deixámos chegar. E não devemos culpar ninguém, a não ser nós próprios, por isso.

Ainda não há ruptura de abastecimentos, dificuldades de sobrevivência graves e revoltas sociais extremas. Mas lá chegaremos se não atalharmos caminho.

Infelizmente não acredito que a classe política que temos se regenere e seja capaz de endireitar o país, por razões que não vou expor.

Mas vou expor meia dúzia de acções que julgo urgentes para parar o caminho para o abismo. Mesmo sabendo que vou incorrer no desacordo e na ira de muitos compatriotas.

O estado de sítio deve ser declarado.

O PR (é bom que seja o PR…), deve escolher um governo de salvação nacional, com personalidades independentes dos partidos, que reúnam três características: sejam patriotas, sérios e competentes.

O estado de sítio implicaria: suspensão da actividade partidária; censura à imprensa; proibição de greves, lockouts e manifestações; controle das fronteiras; reavaliação dos compromissos internacionais para determinar quais os que seriam suspensos; comando centralizado de todas as forças militares, policiais e de segurança; manter os tribunais ordinários a funcionar para questões correntes e suspensão dos tribunais superiores; poderes especiais para o Banco de Portugal poder intervir no sector financeiro, etc.

Os objectivos principais do estado de sítio (seis meses a um ano devem chegar), são cinco: a definição de um sistema político que funcionasse em Portugal, com portugueses – já se viu que este sistema de partidos não funciona e temos disso prova desde 1820, já chega;

A definição de objectivos nacionais permanentes e importantes e as estratégias para os alcançar (não pudemos andar constantemente à deriva ou a mudar de rumo!);

A definição de bases de uma economia minimamente sustentável, que possa ser avaliada e corrigida;

A criação de uma equipa alargada de investigadores com poderes especiais para investigarem todas as trafulhices existentes a nível dos órgãos do Estado e não só. Os casos de ilícitos instruídos transitariam para tribunais formados especificamente para julgar, com celeridade, estes casos;

Preparar a realização de referendos para as principais medidas que se vierem a considerar adequadas.

O estado de sítio não deve impedir o livre debate sobre as principais questões em apreço. Deve, porém, discipliná-las e torná-las representativas. E a acabar de vez com o mito idiota de que todas as pessoas podem ou devem, discutir e decidir sobre tudo – mesmo do que não entendem.

Por aqui me fico, sabendo que não farei vencimento. Pensem apenas que seria preferível jogar por antecipação para evitar males maiores.

Para evitar, por exemplo, que venhamos a ficar numa situação semelhante à de 1926.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O AEROPORTO “MONO”, DE BEJA E A NATUREZA HUMANA

4/12/2010

Ao fim de cerca de 12 anos a aerogare civil da Base Aérea Nº 11, sita em Beja, está praticamente construída. Falta certificá-la e… dar-lhe uso.

Contas feitas, 35 milhões de passivo e outros tantos para tornar tudo operacional. Mas resta a pergunta, para operar o quê, como e quando? Parece que ninguém sabe responder a isto, vários governos, grupos de trabalho e vicissitudes, depois.

Existe uma questão central em tudo isto e que é esta: qual o objectivo e qual a viabilidade económica desse objectivo? É aqui que o nevoeiro é imenso. O objectivo geral parece discernível, trata-se de trazer mais valias económicas/financeiras/sociais, a uma das zonas mais pobres e deprimidas do país, o Baixo Alentejo. Os objectivos parcelares que consubstanciariam o objectivo geral é que são mais difíceis de distinguir.

Senão vejamos: para que serve um aeroporto? Pois para transportar “de”, “para” e volta, passageiros e mercadorias/correio. Mas o que poderemos transportar de lá, ou para lá? O Baixo Alentejo tem um turismo incipiente (mesmo contando com um desenvolvimento muito acelerado do Alqueva); não existem eventos internacionais significativos (a não ser que se queira englobar a “Ovibeja” em tal categoria); tão pouco desportivos. 

Baixo Alentejo tem pouquíssima população e muito poucos destes habitantes tem meios para viajar de avião; a agricultura está a morrer; não tem indústria (o pólo de indústria aeronáutica que poderia servir os intuitos deste âmbito, foram colocados em Évora…), nem serviços, logo não há reuniões de negócios… Uma criteriosa agricultura de estufas, sobretudo no sudoeste alentejano podia produzir uma quantidade de produtos hortícolas e florícolas de qualidade – poderia, friso – a que se teria que conseguir mercados para exportação, mas isso justificaria voos regulares a partir de Beja? E feitos por quem? Que incentivos se poderão elencar para atrair investidores?

Pode-se pensar que o Porto de Sines poderá servir de porta de entrada e saída para produtos. Mas que produtos? Que produtos poderão chegar a Beja de avião para seguirem de navio a partir de Sines? E que produtos poderão desembarcar em Sines, para seguirem de avião? Pois apenas produtos perecíveis ou de alta tecnologia e baixo volume/peso. Quais?

Vamos supor, com optimismo, que países do Oriente, nomeadamente a China, veriam Sines como uma boa porta de entrada dos seus produtos na Europa, a aposta não recairia no caminho-de-ferro?

Temos ainda a considerar a concorrência que poderá vir a existir do terminal que os espanhóis acabaram de construir em Talavera da Real (Badajoz), e não devemos esquecer que os aeroportos de Lisboa e Faro estão a cerca de 120 km de Beja.

Ora estamos em crer que os estudos de viabilidade económica não foram feitos com a necessária profundidade e, ou, seriedade. Mas a conta calada para o contribuinte, essa, já está a facturar…

Como chegámos a este ponto? Basicamente por via da natureza humana. Expliquemo-nos.

As forças vivas do distrito anseiam por desenvolvimento, os protagonistas, sobretudo se conseguirem mais valias, terão dividendos políticos, além de previsíveis negócios.

Disso se apercebem as forças políticas no seu conjunto, primeiro a nível regional, depois no âmbito nacional. O ponto de partida seria a já existente infra-estrutura aeronáutica militar, muito disputada para utilização civil (de norte a sul do país) – esquecendo muito convenientemente os custos e implicações que acarreta. Julgam ou fingem julgar, que é só chegar lá e utilizar, tipo “tiro e queda”.

Depois de alguns relatórios e muitos almoços e jantares, lá se consegue uma luz verde, sobretudo se estivermos perto de um período eleitoral. Nomeia-se então uma comissão/grupo de trabalho/órgão, que começa por ter que se instalar. O processo é algo moroso: é necessário arranjar instalações “condignas”, viaturas, secretária(s) e parafernália vária; tratar da parte legal e, claro, conseguir cabimentação de verbas para tudo funcionar.

Começa-se então (finalmente) a trabalhar, por norma sem objectivos ou especificações precisas. Amiúde os membros nomeados, desentendem-se. Quando muda o governo, é usual haver mudanças na equipa ou no trilho do trabalho efectuado. Por vezes em ambas, quando não existem hiatos por faltar algo, normalmente dinheiro. Os orçamentos em Portugal andam de skate, derrapam sempre…

Ao fim de alguns anos, lá se tem a infra-estrutura construída, o problema seguinte é que ela engrene no País que somos.

Porque é que as coisas se passam assim? É simples, as forças vivas da cidade/região jamais admitirão que a ideia não é boa ou seja útil para o futuro, por isso continuarão a empurrar com a barriga; as estruturas político partidárias obviamente não se opõem, já que isso lhes pode retirar votos. Mesmo os da oposição são cuidadosos e não criticam em demasia, atacam apenas a forma, ou um ou outro personagem; os sucessivos membros dos GT constituídos também não se opõem a nada, e são quando muito, cuidadosos nos alertas que fazem, já que é o seu ganha-pão – mesmo que temporário – que está em causa; os organismos/entidades que podem ser chamados a intervir/colaborar, etc., também só raramente levantam problemas, que não sejam da sua área exclusiva. Afinal não é nada da sua conta e há certamente quem esteja a ver o filme todo…

Finalmente, o governo, por norma, não intervém a não ser quando o desastre é já extenso, ou o Tribunal de Contas – que na prática não tem poder nenhum – publica um relatório pouco abonatório. Percebe-se: o governo tem mais que fazer e além disso não convém desagradar às estruturas locais do partido nem às populações da área; e, com um bocado de sorte, até haveria mais um bocado de cimento para inaugurarem (para já não falar nas eventuais generosas contribuições que aqui e ali, pingam para os cofres partidários).

Em termos gerais, toda esta minha gente, passa a ter, com o decorrer do tempo, a maior dificuldade em assumir que algo está errado, mesmo que, já se sabe, tudo tenha sido feito com a melhor das intenções.

Esta é a prática generalizada no país chamado Portugal, nas últimas décadas. Nunca existem responsáveis.

Parece que agora se descobriu que além de não haver dinheiro para se manter a economia, as estruturas do Estado e o “estado social”, a funcionarem, estamos todos endividados até ao tutano.

Gostaria muito que a aerogare civil de Beja servisse para tudo aquilo que os bem intencionados desejavam. Mas tenho as mais sérias dúvidas.

Lá se deu cabo de mais uns quantos hectares de sobreiros, pasto e para plantio de cereais. E estes fazem-nos muita falta.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

AINDA OS BLINDADOS DA PSP E O PORQUÊ DAS COISAS

5/12/10
Publicado no "O Diabo" de 14 de Dezembro de 2010

Blindado semelhante aos da PSP
Conhecem-se as linhas gerais da novela:

Cerca de dois meses antes da Cimeira da NATO (19/20 de Novembro) – sobre a qual se fez derramar junto da opinião pública os mais sérios riscos; e se deve elogiar os responsáveis pelas medidas tomadas, pois foi a primeira vez, em todo o mundo, em que numa cimeira destas não houve uma única bastonada – veio a público e algo a medo, a encomenda de cinco viaturas blindadas para serem aumentadas à carga da PSP com a “desculpa” de que eram necessárias à segurança da dita cimeira. Estranhou-se o facto, houve argumentação a favor e contra, para se chegar à ocorrência da dita cuja, sem que as viaturas chegassem a tempo.

Para se perceber tudo isto, é necessário dilucidar dois aspectos: a necessidade e a oportunidade, e mais umas questões mais ou menos acessórias. Já em artigo anterior opinámos sobre a falta de razoabilidade da aquisição das viaturas blindadas, até porque existem 20 viaturas adequadas para a finalidade aludida, na GNR.

Parece então que as viaturas são pretendidas não para a segurança de cimeiras, mas para intervenção em “bairros problemáticos”, isto é em linguagem reciclada “zonas urbanas sensíveis”.

Porque não se assume isto? Bom, não tem segredo nenhum: ao governo, através do MAI não é nada politicamente correcto, vir dizer à população uma coisa destas, ainda por cima quando andam sempre a pintar de cor de rosa a segurança das populações; por outro lado a própria PSP, não pode vir dizer algo que contraria os desígnios políticos da tutela e convenhamos que também não faz bem ao seu ego ter que assumir que o patamar de segurança está a fugir aos meios que tem.

Depois temos o problema muito típico português, do “complexo de quinta” (longe de ser exclusivo da GNR e da PSP), isto é, ambos têm a mesma missão, embora em áreas complementares, mas como utilizar os meios em proveito mútuo? E quem comanda? Porque é que eles têm e eu não? O protagonismo de um prejudica o outro?, etc. Ora estes são problemas de sempre que sempre é necessário harmonizar.

Depois temos ainda a questão magna da intervenção ou não das FAs na segurança interna. Mas isto representa um imbróglio constitucional, primeiro e de regulamentação, depois, que tem a sua origem em complexos políticos, derivados da transição do “Estado Novo” para o actual modelo de Democracia e que não há meio de ser ultrapassado e resolvido.

Vejamos a oportunidade. Esta tem origem numa espécie de jogo de sombras. Ou seja os governos são relapsos em equipar adequada e atempadamente, as forças de segurança e sobretudo as FAs. A crise financeira e outras prioridades, têm agravado a situação, sobretudo nestas últimas. As FAs, porém, ainda dispõem de uma Lei de Programação Militar (que aliás nunca é cumprida…), as Forças de Segurança (FS), nem isso.

Ou seja, cada vez que há um evento maior para as FS, caso da Expo 98, Europeu de Futebol, Cimeira da NATO, etc., ou se acorda uma ida de uma unidade militar para um teatro de operações distante, por exemplo, aproveita-se a oportunidade para se tentar adquirir de tudo um pouco do que faz falta e não há (às vezes, também, do que não faz falta…).

O governo pressionado e com pavor de haver um incidente ou um morto, lá autoriza, “in extremis”, a compra de algo, por ajuste directo, o que por norma fica mais caro, arrisca-se a não chegar a horas e a provocar problemas legais.

Ora foi mais uma vez isto que aconteceu com os blindados para a PSP, acrescido das hesitações políticas e da burocracia do ministério das finanças em desbloquear verbas.

Mas se a necessidade de blindados é mais do que questionável, já o mesmo não parece acontecer com as 46 viaturas de transporte (de que ninguém fala), também pedidas (e por fim, autorizadas) e que a trapalhada descrita, ainda vai fazer que demore à sua chegada. Ora estas viaturas servem para substituir e melhorar, as existentes que estão velhas, e para garantir a operacionalidade de uma das melhores ideias que a PSP teve, que foi a de constituir equipas de intervenção de cerca de nove homens, especialmente treinados, para actuarem rapidamente em locais onde se verifiquem acções violentas de ordem pública.

Assim vamos vivendo no reino da Lusitânia.

Dizer a verdade em vez de tentar enganar o próximo não seria muito melhor?

domingo, 5 de dezembro de 2010

RÚSSIA 1, PENÍNSULA IBÉRICA 0

03/12/10


“Os ibéricos continuam a trabalhar: os nossos são em menor número do que os hespanhois, mas decididamente mais malvados e estúpidos”
Desabafo do Conde de Lavradio, 1860 (Memórias….VIII. P.305)

Finalmente uma boa noticia: não se vai realizar nenhum campeonato do mundo de futebol, de organização conjunta entre Portugal e Espanha!

Admirados? Às vezes o bom Deus dá-nos uma ajuda apesar “dos ibéricos continuarem a trabalhar…”

Podemos considerar que o Iberismo tem duas vertentes, uma espanhola, melhor dizendo, castelhana, e outra portuguesa. A primeira pode ser condensada na célebre frase de José de Carvalhal y Lencastre, ministro de Estado ao tempo do rei D. Fernando IV, “A perda de Portugal foi de puro sangue e, por isso, o ministro espanhol que não pense constantemente na reunião, ou não obedece à lei ou não sabe do seu ofício”.

É, sem dúvida, uma posição constante, adaptada às circunstâncias e, no mais das vezes, dissimulada.

O iberismo português, por seu lado, é errático, disperso e sazonal. Desperta, normalmente, em épocas de crise e tem vários matizes e motivações. Chega a ser ingénuo, idealista e roça algumas vezes a traição. Em todos os casos é, porém, ilusório e irrealista e estará, enquanto houver uma mão cheia de portugueses determinados, votado ao fracasso.

O iberismo acarreta, portanto, para o povo português e para as suas elites – quando estas estão ao lado daquele – duas frentes de combate: uma externa, para fazer face às investidas castelhanas; outra interna, a fim de neutralizar os ingénuos úteis e os “cavalos de Tróia”, que sempre os vai havendo.

O Iberismo não é coisa do passado, mas sim actualíssima e hoje em dia muito mais perigoso, por três razões principais:

Primeiro porque o “poder nacional” português foi catastroficamente reduzido após a calamidade daquilo a que chamaram de “descolonização”, o que levou o jornal “ABC” a escrever, na altura, “Adeus ao Portugal das grandezas. E agora nada mais resta a Portugal que se acolher a Castela”; e o ministro dos negócios estrangeiros espanhol, Fernando Móran, não se coibiu de fazer a seguinte declaração logo na primeira reunião de chefes de governo de ambos os países, a seguir ao 25 de Abril de 1974: “A reconversão histórica de Portugal, passa pela continentalidade e, sem dúvida, pela Europa, salvo se, como faz desde Aljubarrota aos Tratados de Windsor, procurar converter-se na base de desembarque de uma potência ultramarina e salvo se enfeude aos EUA e à Nato”.

A segunda razão prende-se com a adesão de Portugal e Espanha à CEE, em 1986. Ora esta adesão potencia, ao máximo, o iberismo, dado facilitar amplamente a “invasão espanhola do todo português: económica, financeira, cultural e psicológica, ainda por cima sem ter a maçada de grandes manobras diplomáticas ou enviar um qualquer derivativo do Duque de Alba…”

As defesas caíram todas uma a uma e sem ninguém se preocupar com as implicações. Chegámos ao cúmulo dos portugueses irem abastecer-se, estudar, tratar-se e parir a Espanha. Só falta fecharem os cemitérios, para termos de ir lá morrer também!

Além da débacle atrás apontada, passou a verificar-se uma nova realidade geopolítica: a de nós termos passado a estar nas mesmas alianças politico-militares internacionais em que a Espanha está, o que é a primeira vez que se verifica em toda a nossa História. Existe uma excepção, porém, de que ninguém fala: a Aliança Inglesa, muito apropriadamente esquecida nos actuais conceitos estratégicos de defesa nacional e militar!

Finalmente, que dizer da actuação politica? Toda a gente trata a Espanha como se ela tivesse sido sempre nossa amiga e aliada, e que essa é a situação que vai perdurar no futuro. Isto não é ingenuidade esperançosa, é inconsciência dolosa!

Ministros de governos socialistas têm afirmado, publicamente, as suas convicções iberistas; empresários e financeiros “vendem-se” ao mercado espanhol; primeiros ministros cobrem-se de ridículo a falarem “portunhol”, em ambos os lados da fronteira e em actos oficiais, e até ao mais alto nível se permite que as cimeiras semestrais entre os governos dos dois países se chamem “ibéricas” em vez do correcto “luso – espanholas.

O baixar de guardas foi longe de mais para se transformar numa leviandade, e isto não tem nada a ver com as boas relações que se pretende se mantenham e reforcem.

Mas tal não deve impedir que se levante, por ex., a questão de Olivença, que está cativa da Espanha, desde 1807, uma situação ilegal e vergonhosa; se permitisse, há anos atrás, que a volta a Espanha em bicicleta, tivesse tido inicio em Lisboa – com a presença de guardas-civis armados! -; ou se insista em construir o TGV, que já se provou ser económico – financeiramente ruinoso, mas nunca se falou ser um aborto estratégico, não só pela finalidade como pelo traçado!

Os exemplos podiam continuar pelas centenas.

Por isso jamais devia passar pela cabeça de qualquer português, digno desse nome, e muito menos pelo bestunto de um político minimamente responsável, organizar um campeonato de futebol (ou outro qualquer), com os nossos vizinhos. Tal destinar-se-á apenas a permitir que os inquilinos do palácio da Zarzuela e da Moncloa, continuem (entre muitas outras coisas), a tentar confundir a opinião pública dos dois países e a da comunidade internacional, fazendo crer que a realidade geográfica chamada Península Ibérica, representa apenas uma única entidade politica.

Não por acaso, cada ano que passa se esfuma cada vez mais as comemorações dessa aurora luminosa, que representou o 1.º de Dezembro de 1640, em que os portugueses ganharam novamente as suas liberdades como nação. Este ano nem uma linha se pôde ler na comunicação social, ou uma referência de um qualquer detentor de cargo político, sobre a efeméride… No dia seguinte lá veio a notícia da nega da FIFA.

Resta lembrar Frei Heitor Pinto, patriota sem mácula, que morreu miseravelmente, numa masmorra de Madrid e que afirmou: “El Rei Filipe bem poderá meter-me em Castela, mas Castela em mim, é impossível”.