domingo, 27 de fevereiro de 2011

O que disse EM SINTRA, ontem, no 29.º ANIVERSÁRIO DA LIGA DOS COMBATENTES

MONUMENTO AOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR

“Essas poucas páginas brilhantes e consoladoras que há na história de Portugal contemporâneo, escrevêmo-las nós, os soldados, lá pelos sertões de África, com as pontas das baionetas e das lanças a escorrerem em sangue. Alguma coisa sofremos, é certo: corremos perigos, passámos fomes e sedes e a não poucos postraram em terra para sempre as fadigas e as doenças. Tudo suportámos de boa mente porque servíamos el-Rei e a Pátria, e para outra coisa não anda neste mundo quem tem a honra de vestir uma farda. Por isso também nós merecemos o nome de soldados. É esse o nosso maior orgulho.”
Mouzinho de Albuquerque,
(Carta ao Príncipe D. Luís Filipe)

As últimas campanhas militares ultramarinas portuguesas – ultramarinas porque se desenrolaram em terras onde os portugueses se estabeleceram além-mar – tiveram início no Estado Português da Índia, em 1954, quando se reforçou aquele território militarmente, por a ameaça assim o justificar; continuaram em Angola com o deflagrar do terrorismo, em 1961, e na Guiné e Moçambique, respectivamente em 1963 e 1964, com o início da guerrilha. Pelo caminho ficou a mesquinha ocupação da fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, pelo Daomé, em 1 de Agosto de 1961 – facto de que já ninguém se deve lembrar – e o reforço de todos os restantes territórios, como precaução, havendo a registar uma séria alteração da ordem pública, em Macau, em 1966, no auge da revolução cultural maoísta.

Directa ou indirectamente ligados a todos estes eventos, foi ainda necessário intervir ou fazer face, aos acontecimentos resultantes da secessão do Catanga, entre 1960 e 1963; à guerra do Biafra, entre 1967 e 1970 e ao bloqueio do canal da Beira, por parte da Inglaterra a partir de Janeiro de 1966, na sequência da independência unilateral da Rodésia. Na Metrópole europeia teve ainda que se fazer frente, a partir dos anos 70, a um conjunto de atentados violentos e propaganda subversiva, por parte de algumas organizações clandestinas de orientação comunista e que visavam protestar e, objectivamente, prejudicar o esforço de guerra em que a nação – e não só o Estado – estava empenhada.

A soberania portuguesa terminou, “de facto”, de forma dramática em Goa, Damão e Diu, em 19 de Dezembro de 1961, após ocupação “manu militari” do nosso território, por parte da União Indiana, resultante de uma vergonhosa invasão militar, sem declaração de guerra, à revelia do Direito Internacional e do normal convívio entre povos do século XX, e sem que a mais pequena réstia de razão o justificasse.

A luta nas restantes frentes desenrolou-se, vitoriosamente, em termos de guerra de guerrilha de baixa intensidade, até que os acontecimentos ocorridos em Lisboa, em 25 de Abril de 1974, quebraram psicologicamente a vontade de continuar a luta.

A extrema ingenuidade (to say the least), com que os autores do golpe de Estado, então ocorrido, actuaram, fez com que rapidamente o poder caísse na rua; lançou o país no caos político, económico, social e financeiro, quebrou a disciplina e a confiança nas FAs e fez desmoronar todo o aparelho político/ militar nas quatro partes do mundo onde flutuava a bandeira das quinas. O resultado foi a outorga do poder às forças marxistas – e só a essas – do poder político em todo o ultramar de uma forma atrabiliária, o que impediu qualquer tipo de autodeterminação minimamente organizada e que respeitasse fosse o que fosse. As independências surgiram assim, de qualquer maneira e em catadupa, por todo o ano de 1975 o que resultou, durante décadas, nas abominações mais indescritíveis. Macau foi excepção a esta debácle, não porque o desvario que corria em Lisboa o quisesse, mas porque a China milenar impôs a sabedoria dos antigos.

Na parte europeia de Portugal, chegou-se nesse ano às portas da guerra civil, evitada “in extremis” por alturas de 25 de Novembro. Timor ficou ainda a pairar como uma chaga viva na consciência nacional, durante os anos que durou a ocupação indonésia, ocupação essa de que nós fomos, senão os únicos, pelo menos os principais responsáveis. O que se passou por causa disso, na sociedade portuguesa assemelhou-se a uma catarse de expiação de culpas, colectiva.

O período histórico em que tudo isto se passou, entre Abril de 74 e Novembro de 75, foi um tempo muito curto, mas olhando para toda a História de Portugal, dificilmente se vislumbra algum outro de tanta ignomínia e que tantos danos causasse.

Assim regressámos às fronteiras medievais europeias sem lustre e sem glória, depois de uma debandada de pé descalço – como lhe chamou o insuspeito António José Saraiva.

A Nação dos portugueses não merecia que as coisas se tivessem passado desta maneira.

Muito menos o cerca de milhão de homens que combateram abnegadamente nos quatro continentes e mares em que o território nacional de então, se espalhava e que carinhosamente foram apelidados de os “melhores de todos nós”.

Não mereciam estes, nem os anteriores que lutaram por ideias e interesses que fazem parte da matriz nacional portuguesa desde a I Dinastia e, objectivamente, combateram durante 600 anos – tantos quanto durou a diáspora portuguesa. Esta é a primeira reflexão que vos proponho: nós não andávamos nisto há meia dúzia de dias, não o fizemos de ânimo leve e tal nunca teve a ver com regimes, pessoas, interesses de grupo ou sistemas políticos. Não foi uma ideia de um qualquer rei louco; de corsários, ou aventureiros; de “lobbies” económicos ou interesses mesquinhos. Foi obra de toda a Nação – da Coroa, dos Nobres, do Clero e do Povo e teve uma ideia transcendente como referência; a globalização espiritual do império de nosso Senhor Jesus Cristo, através da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo.

É tudo isto e a maneira superior dos portugueses em se relacionarem com os outros povos que explica a especificidade da colonização portuguesa e o modo como organizávamos e sentíamos os nossos territórios e as gentes que sempre procurámos integrar na coroa portuguesa e não descriminar.

*****
A segunda reflexão que vos queria propor tem a ver com a escala dos ataques exteriores de que Portugal foi sujeito, que desembocaram nestas campanhas e que, modernamente, foram explicados pela falácia dos “Ventos da História”.

Basicamente desde o início da Nacionalidade até à perda da independência, em 1580, Portugal contou apenas com dois inimigos que se podem classificar de clássicos: a Moirama e Castela; tendo de se fazer ainda frente, a partir do século XV à guerra de corso movida principalmente por franceses e ingleses.

Porém, a partir do domínio filipino Portugal veio a herdar todos os inimigos da coroa espanhola, pelo simples facto de Filipe I como Rei de Espanha não poder estar em guerra com vários países e como Rei de Portugal, poder gozar a paz. E foi assim que passámos a ser atacados por povos do centro e norte da Europa. Os judeus, que tinham sido bem tratados em Portugal até D. Manuel I, passaram a guardar inimizade a Portugal após a sua expulsão, em 1496, e posterior perseguição pela Inquisição. No século XX, a URSS tornou-se nossa inimiga política, por razões ideológicas e nunca perdoou ao estado português o facto de ter ajudado a derrotar as forças republicanas durante a guerra civil espanhola. Isto explica o empenho que colocou no apoio à auto determinação dos povos e o anti colonialismo (leia-se dos povos que estavam debaixo do domínio político das nações da Europa Ocidental e apenas dessas) – e entre estas estavam englobados os territórios portugueses. Conceito este que tinha sido posto em marcha após o fim da II GM e do início da Guerra-fria, de que passou a ser uma forma indirecta de a travar. A este desiderato juntaram-se os EUA, a fim de tentarem subtrair os novos estados ao controlo da União Soviética, ganharem acesso a fontes de matérias-primas, controlo de pontos estratégicos e por preconceito político/social, já que eles próprios tinham sido uma colónia.

Chamaram a isto os “Ventos da História”, que tinham muito mais a ver com a substituição de soberanias do que com a auto – determinação dos povos. E hão-de Vexas fazer o favor de reparar, que os ventos da história são sempre soprados por quem tem o poder na altura, no sentido dos seus interesses e não por causa dos eventuais princípios filantrópicos que proclamam. Portugal tem sido amiúde vítima, destes “ventos”, por uma razão muito simples: as grandes potências do mundo jamais perdoaram a uma pequena potência como Portugal, se tenha alcandorado a tão grande grandeza histórica e territorial e sempre que puderam, aproveitaram-se das circunstâncias para nos depredar. Foi isso mais uma vez que aconteceu no Ultramar a partir de 1954, e já é tempo de nós todos termos noção da realidade dos factos e não dos mitos e falácias que nos quiseram e querem vender.

Portugal tinha, ao tempo em que começaram a ocorrer os eventos que descrevemos, poder efectivo – político, diplomático, económico, financeiro, psicológico e militar; vivia uma paz social e dispunha de uma liderança forte, patriótica e competente, que se dispôs, altaneira, a defender as suas gentes e património e a vender cara a pele. Nenhum bom português pode condenar esta atitude.

E foi assim que cerca de um milhão de homens foi ocupar sucessivamente os seus postos de combate, naquilo que constituiu, sem sombra de dúvidas, a melhor campanha efectuada desde os tempos do “tirribil” Afonso de Albuquerque, chegando-se a combater simultaneamente em três teatros de operações de uma extensão enorme, separados entre eles e a Metrópole – que era a base logística principal – por milhares de quilómetros, sem generais ou almirantes importados – o que já não sucedia, note-se, desde Alcácer Quibir – e fazendo-o vitoriosamente com a excepção já referida do Estado da Índia, devido à esmagadora desproporção de forças em presença e à deserção de alguns ditos aliados. Mesmo assim fizemos frente com sucesso a 10 anos de malfeitorias da União Indiana, não foi coisa de somenos!

Todo este esforço foi feito sem qualquer disrupção política, social ou financeira; mantendo-se o desenvolvimento económico sempre a subir e de forma sustentável, em todos os territórios do Minho a Timor; sem qualquer tipo de ruptura logística, casos de indisciplina notórios e com uma taxa de desertores (incluindo as tropas negras), que não encontra paralelo em nenhuma campanha contemporânea.

Até ao 25 de Abril de 1974, os batalhões embarcaram todos completos e em boa ordem de marcha!.... E lembro que antes de embarcarem permitia-se que os militares fossem a casa despedir-se dos familiares durante 10 dias…

Foi pois todo um povo irmanado de um mesmo ideal e sentir, que aguentou firme e estoicamente, anos e anos de campanhas e sacrifícios. E se eram os combatentes que na linha da frente aguentavam os embates da guerrilha, eram as suas famílias que, na retaguarda, suportaram os sacrifícios e a incerteza que as frentes de combate implicavam. Neste âmbito há que fazer uma menção especial às mulheres portuguesas.

Se é certo que aos expedicionários cabia sofrer as agruras da campanha, que não poucas vezes lhes causavam ferimentos ou a própria morte, foi a mulher portuguesa que desde a expedição a Ceuta, em 1415, aguentou a retaguarda, tratou da casa, criou os filhos e passou toda a sorte de infortúnios para que a gesta se cumprisse. É ela que verdadeiramente cria e justifica a palavra “saudade” e foram a suas lágrimas que salgaram o mar português.

Algumas se destacaram: mulheres como Filipa de Vilhena e Mariana de Lencastre, que armaram elas próprias, os filhos cavaleiros e os incentivaram a defenderem a Pátria; as mulheres de Diu, que atrás das pedras da fortaleza, obraram prodígios, ajudaram a aguentar dois terríveis cercos, tratando dos feridos, transportando armas e munições, municiando espingardas, etc; como as mulheres de S.Aleixo da Restauração, que mesmo correndo o risco de ficarem sepultadas debaixo dos escombros da igreja, motivaram os homens a resistir.

Foram estes e outros exemplos que perduraram nas mulheres do terceiro quartel do século XX e que permitiram que as famílias se mantivessem coesas na defesa dessa família maior que é a Nação dos Portugueses!

Para elas vai a minha homenagem!

*****
Em boa hora, pois, um grupo de cidadãos patriotas pretende erigir um monumento que perpetue a memória dos combatentes, no bonito e importante município de Sintra, 36 anos depois das campanhas terem terminado e os centuriões regressado a casa.

E esta é a última reflexão que vos quero colocar, porquê só 36 anos depois?

A resposta sendo triste e dolorosa é simples de dar. Mas eu tenho de a dar.

A Pátria não se tem mostrado agradecida porque está de mal com ela própria...

As forças políticas que saíram vitoriosas daquilo que era para ser um golpe de estado e virou revolução sem lei nem roque, eivadas de ideias erradas e anti nacionais, fizeram seu, o ideário político dos, até então inimigos, da nação portuguesa – fazendo crer que eram apenas inimigos do estado português – sanearam quem se lhes opunha e intimidaram a restante população. Quem não concordava, não conseguiu, quis ou soube, fazer frente a tudo isto. Depois iniciaram um processo de lavagem ao cérebro onde participaram muitos desertores, repatriados e refugiados políticos, de modo a fazer crer que a acção dos portugueses tinha sido criminosa; que os combatentes andaram a defender o imperialismo, o fascismo, o colonialismo e outros “ismos”, que eles tinham metido na cabeça mas colados com cuspo, arrumando os combatentes na prateleira da ignomínia histórica. E decretaram, liminarmente e sem direito a contraditório, que a guerra que travámos era injusta! O condicionalismo psicológico foi enorme e, de omnipresente nos “media”, no discurso político, na literatura e artes plásticas, passou para os livros da escola.

Um vento mau assolou o país e, porque não dizê-lo, uma onda de cobardia também o varreu.

Por isso, só muito lentamente a população tem estado a acordar das mentiras em que a enlearam e cujos efeitos morais e materiais estão hoje à vista de todos.

Este monumento, que queremos rapidamente ver erigido, é um momento desta reacção. Os combatentes não precisam de subsídios, mas de respeito e que o seu esforço seja lembrado aos vindouros. E é preciso gritar bem alto que os combatentes portugueses de então, o merecem, que fizeram uma guerra justa, pois actuaram em legítima defesa e proporcionadamente e além de justa, limpa, com pouquíssimas quebras na ética militar; foram, generalizadamente, humanos e usufruindo de meios materiais pouco sofisticados. E podem justamente orgulhar-se, de para lá de legitimamente defenderem territórios e gentes herdadas dos seus antepassados e que eram incontestavelmente portugueses – nossos! – ajudaram ao desenvolvimento dos mesmos, o que ultrapassou tudo o que se fez nos quatro séculos anteriores.

Divisava-se, assim, a formação de uma sociedade multi racial e pluricontinental, que vivia em harmonia, única no mundo e que constituía e constitui um dos mais altos ideais da Humanidade. Era um Ideal digno dos nossos maiores de que justamente devemos estar orgulhosos. E o facto de não se ter conseguido fazê-lo perseverar, não invalida o que atrás se disse.

Caros compatriotas, está na hora de afirmar a verdade histórica e as boas intenções e repudiar a mentira e os mentirosos; há que separar águas e voltar à matriz original portuguesa.

Os “ventos da História”não foram erradicados e podem voltar a soprar contra nós, de novo; não sei até, se o deixaram de fazer...Há que estar preparado e nunca, mas nunca, baixar as guardas! Um verdadeiro combatente só dá baixa para a cova! Lembro apenas que, presentemente, nos querem esbulhar do nosso mar, da nossa ZEE.

É mister terminar.

Curvando-me comovido e grato perante a memória dos nossos combatentes, apenas posso solicitar um grande e merecido viva para os soldados, marinheiros e aviadores da nossa terra, e um grande viva a Portugal.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

29.º Aniversário
Dia 26 de Fevereiro de 2011 no SMAS de Sintra
Av. do Movimento das Forças Armadas, 16 - Portela de Sintra

PROGRAMA
A cerimónia será presidida pelo Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, Tenente General Joaquim Chito Rodrigues, e terá a seguinte sequência:
• 10H30 – Recepção dos convidados
• 11H00 – Início da cerimónia
-- Alocução proferida pelo Presidente do Núcleo – Dr. Joaquim Cardoso Martins
• 11H15 – Palestras:
-- Oradores convidados:
-- Coronel de Infantaria Paraquedista José Moura Calheiros
A Última Missão
-- Tenente Coronel PilAv João José Brandão Ferreira
Significado dos Monumentos aos Combatentes
• 12H15 – Breves palavras alusivas à cerimónia proferidas pelo Exmo Sr. Presidente da Câmara de Sintra
-- Prof. Fernando Reboredo Seara
• 12H30 – Apresentação de Maqueta do Monumento
-- Arquitecto Júlio Alves
-- Escultor Moisés Preto
• 12H40 – Entrega de diplomas
• 12H45 – Encerramento da Cerimónia pelo Exmo Sr. Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes Tenente General Joaquim Chito Rodrigues
• Entoação do Hino Nacional
• 13H30 – Almoço no restaurante “TIROL”

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O CERNE DO ACTUAL BLOQUEIO POLITICO/FINANCEIRO

Paulo Portas, Presidente do CDS
Uma proposta de Lei do CDS, apresentada na AR, apoiada pelo PCP e BE, foi rejeitada pelo PS com o apoio expresso do PSD, no dia 18 do corrente. Em que consistia esta proposta? Numa coisa simples, justa e prioritária, que se consubstanciava na existência de limites e cortes nos vencimentos escandalosos (e acrescentaria “mordomias”), dos gestores das empresas públicas do Estado.

Simples, pois é de uma evidencia cristalina; justa, pois é uma indecência pornográfica haver tais ordenados e regalias, tendo em conta os vencimentos médios da população, a condição do país e as manchas de pobreza existentes; e prioritárias, pois não se devem (porque poder já se viu que podem!), pedir sacrifícios a toda a Nação e os principais responsáveis em exercício – e também culpados maiores do descalabro criminoso em que colocaram o país – não dão uma ponta de exemplo!

Isto não é demagogia é, na mais elementar hierarquia das virtudes e da liderança, apenas bom senso. A esta gentalha não lhes falta, porém, senso. Apenas escrúpulos e vergonha.

Se, aliás, tivessem uma réstia de pensamento no serviço público nem sequer lhes seria difícil manter a equidade: bastava manter em vigor a Lei 2105 de 6 de Junho de 1960, em que se proibia que a remuneração de um qualquer gestor do Estado pudesse ser superior à de um ministro. Simples e eficaz!

Mas parece evidente que uma lei nitidamente “fascista” não podia ser aceite pelos paladinos da “Democracia”…

Os leitores farão o favor de reparar – e já é tempo de deixarem o conforto do sofá pela luta na defesa da decência na sociedade e menos na contemplação do seu umbigo – que desde que a crise se instalou, mesmo a contragosto do discurso político, todas as medidas de austeridade e contenção se situaram no âmbito da população, mas nunca onde poderia doer à classe politica.

Ou seja, no orçamento da Presidência da República; Assembleia da mesma; Governo e gabinetes dos ministérios; na administração das empresas públicas; nos bancos, nas autarquias; nos governos e parlamentos regionais; nas fundações; nas parcerias público – privadas; nos institutos públicos; nas empresas camarárias; nos tribunais supremos, etc.

De facto em qualquer âmbito que possa afectar, nem que seja ao mais de leve possível, qualquer membro de um cargo político, ou a função para onde normalmente migram depois de se sacrificarem pela Pátria…

Mesmo os 10% de corte aplicável na função pública foi largamente compensado pelos aumentos, entretanto efectuados, nos subsídios de representação, ajudas de custo e similares. E são públicas as tentativas obscenas de contornar a lei por parte de algumas administrações de empresas públicas e do Governo Regional dos Açores, por ex.

Porque é isto assim? Simples e meridianamente claro: porque a fazerem-se cortes equitativos no conjunto da população, isso iria, de facto, afectar os detentores, ex-detentores, e futuros aspirantes a detentores de cargos político – partidários. Ou seja, as clientelas dos Partidos.

Quer dizer, que umas 50000 famílias (grosso modo), cerca de 200000 pessoas, arrogam-se o direito de sugar e dispor de cerca de 90% da riqueza criada no País e dispensar os trocos restantes ao remanescente da população.

Eis a razão pela qual o PS – que é poder agora – votou contra a proposta e o PSD – que aspira a ser poder – também o fez. E sabe-se que a maioria dos que já passaram pelas cadeiras do poder também pertenceram a estas duas filantrópicas agremiações.

O BE e o PCP não têm, por seu lado, qualquer problema em votar a favor, pois sabem que não vão ser poder (isto é, não vão ocupar as tais cadeiras), ao passo que usufruem de umas migalhas gordas enquanto estiverem com um pé no sistema.

O CDS de onde parte a proposta é o caso mais curioso: está na charneira do poder: é do sistema e pode ser “bengala” do poder. Neste âmbito usufrui de todos os lados e colhe votos no eleitorado. A proposta beneficia-o e, por isso, faz sentido a sua iniciativa. Resta saber se é sentida e não apenas (mais) um rasgo demagógico.

Esta é pois uma das principais razões pela qual o actual sistema político está num impasse e bloqueado. E não tem saída própria, vai apodrecer com o tempo e as misérias humanas.

Infelizmente isto não é de agora. Tem as suas origens em 1820 e só foi interrompido durante um “buraco negro” da nossa História recente, de que não se pode falar com direito ao contraditório.

Façam o favor de estudar, reflectir e cruzar informação, que acabam por perceber.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

FAZER A ACADEMIA AEROESPACIAL!

Ao ser eleito recentemente membro correspondente da Academia de Marinha resta-me, na minha qualidade de antigo oficial piloto aviador, propor a criação da Academia Aeroespacial.

Apesar da sabedoria popular afirmar que “ninguém é bom juiz em causa própria”, não hesito em classificar esta ideia de boa e de urgente.

A “causa do Ar/Espaço”, está mal arrumada e dispersa na sociedade portuguesa, não existe uma ideia consolidada do “Poder Aeroespacial” nos meios políticos, académicos e culturais da nação e a grande maioria da população tem destas coisas uma ideia pouco mais do que vaga.

Eis pois os fundamentos e a área de acção da futura Academia Aeroespacial (AA).

Como devemos ser práticos, pragmáticos e não andar a tentar inventar o que já existe, defendemos que a AA tenha uma estrutura semelhante à da Academia de Marinha, isto é (em traços gerais):
- Depender do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea (em Portugal é extremamente difícil uma instituição deste tipo sobreviver sem apoios de entidades já existentes…);
- Ter na sua estrutura dirigente, oficiais na situação de reserva ou reforma, bem como outros membros civis de reconhecida idoneidade;
- Estar instalada em unidade militar;
- Estar aberta a membros oriundos do meio científico, académico e profissional de algum modo ligado às actividades aeroespaciais, quer militares quer civis;
- Ser alargada a membros correspondentes, estrangeiros;
- O acesso a membro estar condicionado por “números clausus” e regras definidas.

A AA constituir-se-ia assim uma Academia de saber em que todos os assuntos relacionados com o Ar e o Espaço pudessem ser estudados, reflectidos e divulgados; um centro de reflexão estratégico sobre o poder aeroespacial e um repositório de conhecimento que poderia ser útil tanto à “sociedade civil” como aos órgãos do Estado.

A sua estrutura seria simples: uma direcção, uma secretaria, um órgão de apoio técnico, uma assembleia de académicos, um conselho científico.

Como órgãos de execução haveria secções de estudos, a começar por uma de História e outra de Tecnologia; depois e à medida da sua consolidação, poder-se-ão constituir secções relacionadas com tudo o que se relaciona com o meio aeroespacial: meteorologia, medicina; tráfego aéreo, estratégia, direito/legislação, aeródromos, etc.

A partir daqui é todo um mundo que se abre.

Como particularidade, defendo que a AA deveria albergar também, ressuscitando-o, o “Cenáculo dos Carcaças”, um “clube/tertúlia” nascido em 8 de Fevereiro de 1956, e que reunia, na altura, todos os pilotos do activo com 20 anos de brevet.
Os seus fundadores eram membros do novel Ramo Força Aérea, alguns oriundos da extinta Aviação Naval. Foram eles: Alm. Paulo Viana, Alm. Cardoso de Oliveira, Gen. Dário de Oliveira, Gen. Humberto Pais, Gen. Costa Macedo, Cor. Telo Pacheco, Alm. Carlos Sanches, Cap.m.g. Trindade dos Santos, Gen. Venâncio Deslandes, Gen. João de Freitas, Cor. Rodrigues Costa, Brig. Costa Franco e Cor. Vasconcelos de Carvalho.
O bastonário desta “ordem”, conhecido por “carcaça Mor”, era o piloto com o brevet mais antigo. Infelizmente, esta tertúlia “sentimental e evocativa”, como consignado na sua acta de fundação, deixou de existir a seguir ao 25 de Abril de 1974, sem que para tal houvesse qualquer razão ponderosa.

Quanto às instalações propomos a Base Aérea 1, em Sintra, nomeadamente o aproveitamento das antigas instalações do antigo Instituto de Altos Estudos da FA. Existe espaço, bibliotecas, messes, anfiteatros, bons acessos e parqueamento, pessoal e outras estruturas de apoio.

Existe a Academia da Força Aérea com as suas multi-capacidades e o Museu do Ar. Respira-se uma atmosfera aeronáutica.

Como alternativa, poder-se-á considerar as instalações do Estado-Maior em Alfragide, hoje subaproveitadas e que têm a vantagem de estar mais perto de Lisboa.

Cada realização tem um início, um começo. Normalmente nasce com uma ideia. Se não for agora, alguém que pegue nela mais tarde.

Portugal tem muitos talentos e gente capaz, mas andam, normalmente, dispersos, zangados ou antagonizam-se. Os tempos não se coadunam com este estado de coisas. Há que harmonizar e dar resultante às boas ideias e intenções.

Aqui fica o repto.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

AS MILITARES DA GNR QUE SE CASAM

Publicado no jornal "O Diabo" de 22 de Fevereiro de 2011

“O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”
Martin Luther King

Era um facto esperado que só admira por tardio. Já estava previsto acontecer logo que a iníqua lei fosse aprovada.

Temos uma sugestão a fazer às jovens nubentes: a nossa cabo deveria convidar o Sr. Ministro entre todos o primeiro, para padrinho, ou mesmo madrinha de casamento – a partir de agora a ordem é arbitrária – já que foi do seu grupo de “alfaiates” de leis, que saiu a proposta de legalidade agora em vigor; e a nossa capitão deverá endereçar o mesmo convite, ao recém-empossado inquilino de Belém, que genuflectiu sobre o diploma apesar de – confissão sua – não concordar com ele.

E que diabo, sempre se respeitava a hierarquia entre praça e oficial; bandalheira sim, mas não tanta!

Idêntico convite deveria ser endereçado ao coordenador Louçã e ao operário Jerónimo, para que, vestidos de meninas imaculadas e uns enfeites no cabelo abrissem o cortejo transportando as alianças; e também, no mínimo, uma participação do evento ao Passos laranja e ao Paulinho das feiras, a fim de poderem espreitar o evento, já que aparentaram vontade de participar na boda.

As paredes nuas do registo civil seriam ornamentadas com um grupo coral constituído por uma escolha de deputados inspirados nos tenores italianos (com voz de falsete), que cantariam árias burlesco – eróticas a quem o mestre maior do Oriente Luso, serviria de maestro. Ámen.

Já sei, sou um reaccionário sem respeito pela “liberdade” alheia que o “progresso” desacreditará. No meu estertor, porém, lamento informar que nem tudo o que se diz e faz é ou tem de ser aceitável, muito menos respeitável e que, para o caso de não terem reparado, também tenho direito a opor-me e, eventualmente, a que me perguntem o que penso, já que se dizem tão democráticos.

Ora nenhuma destas premissas parece fazer vencimento, nem em políticos, comentadores ou na classe dos jornalistas, que é quem filtra as notícias a serem divulgadas para a opinião pública. São assim como uma espécie de comissão de censura gigante, sem coronéis (visíveis) a tutelar. E há quem se lhes arrogue a autoridade de um 4º poder. Resta só saber quem os elegeu…

A campanha nos “média” a favor dos casos de acoplamento de sexos idênticos – a caminho de serem transformados em “géneros”, onde irá parar a esquizofrenia? -, destina-se a tornar o assunto banal e por isso “normal”. E a condicionar psicologicamente a maioria da população o que, diga-se em abono da verdade, têm conseguido. O assunto é até mais grave pois não fica por aqui: é um processo subversivo da sociedade.

Quando a televisão pública, por ex., dedica 30 segundos à tomada de posse do novo Chefe de Estado-Maior General das FAs – logo um acontecimento menor – (e os outros canais, creio, que nem se referiram a tal); e por causa de uma morte repugnante originada numa cena infeliz, sórdida e canalha, de um conhecido pederasta – cuja mais valia conhecida foi a de fazer crónicas sociais, de grande profundidade cultural e metafísica (!), para a imprensa cor de rosa – os telejornais (todos) abriram durante vários dias com a notícia. O que se há-de pensar? E estas notícias não duraram segundos, levaram muitos minutos e repetiam-se à exaustão, enviaram-se repórteres e coscuvilhou-se de tudo um pouco.

Isto não tem nada a ver com a sacrossanta liberdade de informação: isto merece a maior censura social porque é um nojo. E, no fundo, é como no casamento das “senhoritas”: tentar transformar vícios privados em públicas virtudes.

Filosofemos.

É por estas e por outras que, enquanto os povos sujeitos a ditaduras, aspiram à democracia (mesmo sem saberem muito bem o que isso é), nas democracias, ao fim de algum tempo, sobretudo nas que se deixam degenerar nas regras e na moral, os povos começam a pensar em ditadura! Infelizmente, a solução não está em nenhuma delas (isto depois de se terem inventado e testado numerosas ideologias e formas de governo, à esquerda e à direita, falhando todas!).

A solução está na escolha representativa dos homens bons, íntegros, capazes e desprendidos, que sejam pelo bem comum e que sejam colocados nos lugares de responsabilidade. Quando, raramente, isso acontece os povos prosperam, a justiça aperfeiçoa-se, a vida melhora.

No fundo, trata-se da eterna luta entre o Bem e o Mal. Luta essa que nenhuma religião, também, conseguiu “resolver”, sem embargo das teologias existentes – que também lutam entre si – e que, sem excepção postergam a solução final para o que acontecer depois da morte…

Verificando-se que a vida na terra – inserida no cosmos – consubstanciada nas leias da natureza, o que engloba os seres vivos e inanimados, a geografia, o clima, etc., vivem em equilíbrio e geram o equilíbrio, não deixa de ser assaz perturbador constatar que o homem constituiu-se no único e extraordinário perturbador das leis naturais. É o único ser vivo que pratica a guerra; depreda até à exaustão os recursos naturais; altera o clima; quer mudar as leis genéticas; é capaz de matar a sua descendência ainda antes desta nascer e mesmo não acreditando em Deus intenta desafiá-lo no seus poderes e competências…

E passou a estar de tal modo centrado no seu “eu” que deixou de perceber porque é que uma zebra fêmea não se satisfaz sexualmente com outra fêmea até porque isso representa romper com o equilíbrio da espécie.

E não se querer perceber, ainda, a gravidade que um comportamento semelhante tem numa Instituição Militar é algo de que já não me ocuparei hoje. Já filosofei demais.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MORREU O CEMGFA, VIVA O CEMGFA!...

Publicado no jornal "Públíco" de 20 de Fevereiro de 2011

Dia 7 de Fevereiro foi data de mudança de inquilino no sexto piso do edifício que alberga o Estado-Maior-General das FAs. Ou seja do respectivo chefe (CEMGFA). Sai o General Valença Pinto (VP) entra o General Luís Araújo.

O CEMGFA é a autoridade militar de maior graduação que preside a um de dois órgãos fundamentais definidos na actual legislação enformadora das relações político-militares: o Conselho de Chefes de Estado-Maior (cCEMs). O outro é o Conselho Superior Militar, onde se reúnem os quatro chefes militares com o Ministro da Defesa (MDN), que preside.

Estes dois órgãos são fundamentais para o bom funcionamento das Forças Armadas e para a correcta articulação com o poder executivo, em funções.

No primeiro órgão discutem-se, analisam-se, aprovam-se e fazem-se executar as principais linhas de orientação, para os três ramos sem prejuízo das competências próprias dos respectivos chefes; no segundo órgão encontra-se o nível estratégico e o conselho militar com a ideia política.

Sem querer entrar nas vantagens/inconvenientes e consequências da actual organização, pretendemos apenas fazer sobressair a importância e responsabilidade das funções das pessoas que ocupam os respectivos cargos. Porquê?

Por causa do modo como decorreu a cerimónia de despedida do general VP no passado dia 4/2, no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), em Pedrouços.

Das notícias que vieram a público – e são essas que mais marcam a opinião publicada – ressaltou o carácter “informal” da cerimónia.

Ora não parece curial que se convide a nata da hierarquia militar para um IESM, para marcar oficialmente a despedida de um CEMGFA e se transforme o acto numa “informalidade”.

Para isso seria preferível marcar uma qualquer “happy hour” na messe. Mas o mais espantoso foram alguns dos termos usados pelo senhor ministro e a desenvoltura do tratamento com que mimoseou o homenageado, tratando-o pelo nome próprio, quase a roçar o “tu cá tu lá”. Parece que fizeram a recruta juntos!

No elogio, porém, o que realçou como qualidades, foram a “impaciência e a frontalidade”. A frontalidade é própria dos militares (ou deve ser), agora a impaciência? Impaciência quer dizer “pressa”, ”sofreguidão”, “inquietação”, “frenesim” e impaciente é aquele que é “falho de paciência”, “frenético”, “apressado”, “precipitado”. Ou seja tudo aquilo que nós não queremos que um chefe militar seja.

Terá o senhor ministro tido um “lapsus lingue”, estava no gozo, ou passado mal a noite? É que a seguir ainda referiu um “tique” do general que só a intimidade consente: “… um sinal físico que é a perna direita a começar a agitar-se”. E chamou “eloquente” a esse sinal. Informalidade?

O MDN referiu, aliás, que a “paciência” era um defeito do povo português. Esta afirmação é espantosa, sobretudo vindo de um possuidor de um doutoramento em sociologia (ainda por cima não obtida numa qualquer universidade independente).

A paciência só será um defeito quando confundida com “resignação” ou “conformismo”, não como significando “calma”, “conformidade” ou “perseverança tranquila”.

De facto já não há é paciência para ouvir tanto dislate…

Por último ficámos a saber que o Sr. MDN encara o agora ex–CEMGFA como a encarnação da concepção “moderna”, “democrática” e “cosmopolita”, com que quis caracterizar a Instituição FAs.

Estou elucidado: moderna, não quer em si dizer nada; democráticas as FAs não podem ser, pois não há eleições na tropa nem as decisões são obtidas através de votos; e espero que o termo “cosmopolita” não queira significar que os militares portugueses andam espalhados pelo mundo, deleteriamente, para verem e serem vistos…

Das palavras do general VP – também elas “informais” – quando nos congratulávamos em ouvir dizer a honra que tinha em pertencer ao Exército e a consciência do dever cumprido, topámos com a confissão de ainda estar à espera do despacho a um requerimento que fez, em 1973, quando era capitão, em que pedia a demissão de oficial do Exército “por querer um Portugal melhor”.

Afinal, sorte sua e azar nosso: se lhe tivessem deferido o papel não teria sido CEMGFA, mas talvez hoje o país estivesse, de facto, melhor, dadas as vicissitudes vividas.

É costume nestas ocasiões saudar quem sai e quem entra. Não levem a mal não o fazer mas vou esperar melhores dias. Dias em que as FAs, como Instituição, se voltem a dar ao respeito.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A FORÇA AÉREA E O ESTADO DO SÍTIO

Publicado no jornal "O Diabo" de 15 de Fevereiro de 2011


Soubemos, por uma notícia da agência “Lusa” que o Sr. Ministro da Defesa (MDN) afirmou que a Força Aérea Portuguesa (FA) “está disponível para repatriar todos os portugueses que desejem abandonar o Egipto” e que os “meios da FA estão, evidentemente, como é sua obrigação, empenhados nessa operação de repatriamento” (sublinhados nossos) e, ainda, que a “operação é tutelada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros” (MNE) o que não se sabe muito bem o que tal quer dizer, já que o MNE não comanda qualquer força militar.

Finalmente, que “nunca as FAs faltaram às suas obrigações no que diz respeito a uma das suas missões constitucionais…”.

O que o Sr. ministro não disse é que as missões estão a ser feitas no fio da espada e que está tudo preso por arames, cada vez mais finos. E não referiu também que não lembraria a nenhum Estado-Maior, deixar partir turistas para uma área de conflito perigoso (para depois os ter que repatriar...), numa demonstração grosseira de falta de informação estratégica e, ou, capacidade de análise e decisão. Já bastaria ter que ir buscar os que lá foram apanhados desprevenidos!

E está tudo preso por fios (ou “pinças”) porque a desmontagem das capacidades militares efectuada nos últimos 25 anos, tem desmantelado de tudo um pouco e as carências em pessoal, material e financeiras são gritantes. E isto não tem nada a ver com a actual crise económico/financeira de que, aliás, as FAs são completamente alheias.

No caso em apreço a FA dispõe de seis aeronaves C-130, com cerca de 30 anos de serviço, cada vez mais difíceis de manter e a necessitar modernizações urgentes, e cuja substituição já deveria estar a ser equacionada e processada há meia dúzia de anos. A prontidão é, assim, baixa e um dos aviões destacados para esta operação foi confrontado com uma avaria em Creta. Teve que se transportar uma equipa de manutenção de Falcon, para se resolver o problema.

Quanto a pessoal a situação ainda é mais crítica, já que a Esquadra só dispõe de três tripulações e meia (a média dos últimos 10 anos deve rondar as quatro - ou seja é um problema crónico), quando para uma exploração adequada da frota, devia dispor de 12 (julgo que na FA ainda haverá alguns oficiais capazes de explicar ao Sr. MDN o porquê). A situação é de tal modo crítica que já se chegou ao ponto de ter um Oficial General no Estado-Maior a cumprir missões regulares na esquadra e para se cumprir o actual repatriamento, teve que se ir buscar um ex-comandante de base, a frequentar o curso de promoção a Oficial General, em Pedrouços.

E tudo isto porque não mais se parou de menorizar a condição militar, a partir de 1982 (fim do Conselho da Revolução e entrada em vigor da Lei da Defesa Nacional e das FAs), e de se tentar reduzir a Instituição Militar à expressão mais simples, tendendo para “zero”.

No caso particular dos pilotos (e outras especialidades críticas), a causa principal – além dos “dourados” da farda, já não terem brilho – é a disparidade pornográfica com que o mesmo patrão, isto é o Estado, trata dos seus “servidores” em termos de vencimentos e regalias sociais.

No caso vertente focamo-nos nas empresas públicas de transporte aéreo, com destaque para a TAP. É impossível reter pessoal navegante, quando um co-piloto entra na TAP a ganhar o mesmo que o Chefe de Estado-Maior do Ramo, ou quando um comandante na vida civil (a quem nem sequer é exigido uma licenciatura), ganha três vezes mais do que um Coronel (ou mesmo mais), e quando os pilotos de longo curso fazem, em média, um voo, vírgula qualquer coisa (leram bem?) por mês! Isto porque em vez de terem sete tripulações por avião, têm cerca de 12, quando seis já lhes dariam uma vida confortável.

Mas mesmo tendo gente a mais (ou aviões e ligações a menos), acabaram de abrir mais um concurso para pilotos que vai levar mais uns quantos oriundos da FA, isto, claro, se as vagas não forem todas preenchidas por filhos de funcionários da “casa”, dadas as “tradições monárquicas” de longa data, existentes. Mas quando é preciso ir arriscar a vida e, ou, cumprir missões difíceis e arriscadas vai a FA, pois é sua “obrigação”.

A FA não tem obrigação, mas sim o dever de cumprir as missões que lhes estão consignadas, e tem-no feito com eficácia, apesar dos constrangimentos apontados. O governo é que tem a obrigação de lhe proporcionar os meios necessários e consentâneos com essas mesmas missões e prover à equidade social dos seus mais fiéis servidores. E pôr na ordem quem exorbita, ou não cumpre o que lhe é devido, ajoelhar constantemente quando o sindicato dos pilotos, vírgula, da TAP, ponto, ameaça fazer greve; ser incapaz de sanear as contas de uma companhia que desde 1974 não dá lucros e que acumulou um passivo de cerca de 2,3 biliões de euros (segundo o relatório e contas de 2009, com tendência para aumentar…) – como é que dizem que a querem privatizar?

E pagam a um estrangeiro para servir tal empresa mais de duas vezes o vencimento do presidente dos EUA. O que, incrivelmente, ou não, só foi dado conta, há uns dias, pelo directório de um partido da oposição! A TAP está tecnicamente falida e em situação ilegal, pois está com os capitais próprios negativos o que não é permitido pelo código das sociedades comerciais (artº 35).

Não consta, porém, que toda esta situação incomode qualquer jornalista ou comentador, ou tire o sono a nenhum general ou almirante (já nem vale a pena falar em políticos…).

No fim disto tudo não se vai resolver coisa nenhuma e o abaixo-assinado é que vai passar por ser o “chato” da fita. Além de ter acabado de ganhar mais uns quantos inimigos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

CICLO DE CONFERÊNCIAS - PENSAR PORTUGAL!

Para quem estiver interessado, fica o programa de conferências a realizar brevemente pela SHIP.
São às 18 horas. Uma delas a proferir por esta "praça velha".

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

LIVROS PUBLICADOS

À Frente do Tempo II
Lisboa: Caminhos Romanos, 2014.

 
 


As nossas ilhas selvagens disputadas no jogo geoestratégico
Com preâmbulo de Dulce Abalada
Lisboa: Apeiron, 2014.
 
Em Nome da Pátria.
Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa
Com prefácio do Prof. Adriano Moreira
Lisboa: Publicações D. Quixote (Leya), 2009.
ISBN 978-972-20-3335-0












A Evolução do Conceito Estratégico Ultramarino Português – Da Conquista de Ceuta à Conferência de Berlim.
Com prefácio do General Pedro Cardoso
Lisboa: Atena, 2000.
ISBN 972-8435-34-7













A Evolução do Conceito Estratégico Ultramarino Português - Da Conferência de Berlim à Descolonização.
Com prefácio de António José Telo
Lisboa: Hugin, 2002.
ISBN 972-794-132-X












A Inserção das Forças Armadas na Sociedade.
Com prefácio do General Loureiro dos Santos
Lisboa: Hugin, 2003.
ISBN 972-8310-81-1














À Frente do Tempo.
Com prefácio do General Lemos Ferreira
Lisboa: Prefácio, 2008.
ISBN 978-989-8022-57-8















Informações e Segurança – Estudos em Honra do General Pedro Cardoso.
Coordenação de Adriano Moreira
Lisboa: Prefácio, 2004.
ISBN 972-8816-13-8



Crónicas Portuguesas.
Coordenação de Abel Matos Santos
Lisboa: O Jornal de Coruche, 2009.
ISBN 978-989-36339-0-2
Para descarregar este livro em PDF clique no link seguinte
http://ojornaldecoruche.com/docs/Livro_cronicasportuguesas.pdf


Nuno Alvares Pereira – Homem, Herói e Santo.
Coordenação de Humberto Nuno Oliveira, Cristina Moita e Ismael Teixeira
Lisboa: Univ. Lusíada e Ordem do Carmo, 2009.
ISBN 978-989-640-041-5


Revisitar Goa, Damão e Diu.
Com prefácio do General Ramalho Eanes.
Coordenação de Manuel Barão da Cunha, Manuel Bernardo e Sara Roque.
Lisboa: Liga dos Combatentes, 2010.
ISBN 978-972-97209-5-6




Finis Mundi - A Última Cultura
Lisboa, Antigona, 2010
Direcção de Flávio Gonçalves