segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O LAMENTÁVEL ENCERRAMENTO DO INSTITUTO DE ODIVELAS

“Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores”.
Palmira Bastos
(Peça teatral “As árvores morrem de pé”)
O Governo em funções, através do seu Ministro da Defesa – seguramente um dos piores ministros desde que o cargo foi criado, em 1950 – decidiu encerrar o Instituto de Odivelas (IO), escola notável, centenária e de excelência.
A admissão de novas alunas foi interrompida este ano lectivo e as alunas existentes, que assim o entendam, irão ser transferidas para o Colégio Militar, onde está a ser ultimada uma camarata, para estabelecer a aberração da existência de um internato feminino e masculino de menores, no mesmo espaço colegial.
Edifício já cognominado pelos actuais alunos com o significativo nome de “maternidade”…
Este encerramento configura um crime cultural, educativo e patrimonial; antipatriótico e de vistas curtas. “Estúpido” será uma maneira pouco loquaz, mas assertiva de classificar o gesto![1]
Nele serão implicados, no julgamento da História e do Bom – Senso, os sucessivos políticos – quais bárbaros do “Estado Islâmico” - que provocaram o acto; as chefias militares que tremeram de coragem, na defesa pífia que fizeram das Instituições que tutelavam (o que se passa no IO está intimamente ligado com as duas outras escolas militares de ensino secundário, que estão a ficar completamente descaracterizadas); as diferentes associações de pais e de antigos alunos, por causa da falta de entendimento que revelaram, ao não terem estabelecido uma acção comum e concertada, para fazer frente a esta verdadeira “invasão de Vândalos”.
Complexos de quinta e egoísmos de capela, não são bons conselheiros quando causas mais altas se levantam!    
A Comunicação Social eivada de “ismos”, nunca transmitiu uma ideia equilibrada do que se estava a passar, ao passo que a o comum dos cidadãos vive uma ignorância esfarrapada, relativamente a tudo que é importante e se passa à sua volta, aos costumes disse nada.
Quanto ao inquilino de Belém, lá esteve no seu comportamento habitual de “falta de comparência a jogo”.
Uma tristeza.
Apetece também perguntar para que serve a “liberdade de expressão” e de “opinião”. Pois, aparentemente, serve apenas a quem é dono, ou controla os Órgãos de Comunicação Social.
Lamentavelmente também, não se pode ter qualquer tipo de esperança na retroversão da situação por rebate de consciência, tão pouco numa eventual mudança do quadro parlamentar e governamental por via de eleições que se desenhem no horizonte.
Por um lado o senso comum é siderado e obliterado, pela tecnocracia cega, vesga e bruta e, sobretudo, pelo “cheiro a negócio” – resta, aliás, saber o destino das instalações do IO; depois porque quando se trata de resolver algo que tenha a ver com o termo “militar”, todas as forças políticas representadas no hemiciclo dos antigos frades de S. bento – e que pouco mais se representam do que a elas próprias – fazem concorrência para ver quem consegue fazer mais asneiras, mais depressa.
Não se pode confiar neles nem uma migalha.
Lembramos até, o caso de Paulo Portas, quando era ministro da defesa e botou fala na cerimónia comemorativa dos 100 anos do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, em 2011.
Disse então S. Excelência e mestre em demagogia: “Eu não me arrependo de, porventura contra ventos e marés, ter tomado a decisão de não deixar encerrar os Pupilos do Exército. O custo de uma decisão tecnocrática e simplista como essa significaria o desaparecimento de uma instituição secular que tem um lugar próprio no ensino das Forças Armadas, e que tem méritos destacados na história do ensino militar em Portugal” e continuava sempre no mesmo estilo: “A nota institucional que eu queria deixar tem a ver com a importância do ensino na Instituição Militar. Eu faço parte daqueles que acreditam que Portugal é um país forjado por soldados e que não teria a sua independência garantida sem as Forças Armadas”; “…dir-vos-ia, por isso, que os Pupilos do Exército… fazem todo o sentido neste século XXI…”
Mas, saído do pelouro, que para mal dos nossos pecados nunca deveria ter ocupado, esqueceu-se rapidamente dos méritos dos estabelecimentos militares de ensino, que tanto elogiou, e sendo vice primeiro - ministro de um governo, que relativamente a fardas só faz disparates, deixou cair o IO como se de um trapo velho se tratasse!
Resta pois recorrermos a Fátima ou esperar pelo D. Sebastião o que convenhamos não nos pode deixar tranquilos, quando o nosso proverbial desleixo e indiferença, não abona a que tais entidades se prestem a compadecer de nós.
Em alternativa e por exclusão de partes, resta preparar um encerramento digno para o IO, que não pareça um funeral rápido e esquivo, e lhe preserve a memória.
Uma memória que não envergonha os futuros portugueses e em que estes se podem rever sem lhes corar a face de vergonha, antes lhe arrima os ânimos e o orgulho pela terra que lhes deu o berço.
O Instituto de Odivelas vai morrer. Pois que morra de pé. Como as árvores.



[1] Deviam até, candidatar-se, na “UNESCO” ao prémio da “Estupidez Imaterial da Humanidade”…

sábado, 29 de agosto de 2015

RECONHECIMENTO MERECIDO

RICHARDS, Gen. David, Taking Command, London, 2015
 
O Gen David Richards, do Exército Britânico, que foi chefe supremo das Forças Armadas do Reino Unido e que, em 2006 e 2007, comandou as forças da NATO no Afeganistão acaba de publicar uma autobiografia na qual, entre outros assuntos, dá a conhecer o seu pensamento sobre as diferentes forças que sob o seu comando prestaram serviço naquele país.
Assim se expressa a determinada altura:
«Durante o meu tempo à frente da International Security Assistence Force (ISAF) estive dependente – por vezes de forma exagerada – das tropas portuguesas. Desenvolvi uma ligação emocional muito estreita com os portugueses, porque muitas vezes tive de os mandar para zonas e operações muito complicadas. Não tinha alternativa. Eram eles ou mais ninguém. Mas os portugueses saíram-se sempre de forma brilhante.»[1]
 
Não tive ainda oportunidade de ler o livro, mas tenho conhecimento que outras afirmações do Gen Richards no mesmo sentido são ali produzidas.
O Gen Richards não é um general qualquer, não só pelas funções desempenhadas mas também pela sua nacionalidade; os britânicos não são dados, como se sabe, a tecer loas a não britânicos e os portugueses, velhos aliados, não são habitualmente, antes pelo contrário, excepção à regra.
 
Qual a difusão que tal opinião mereceu aos Órgãos de Comunicação portugueses, exceptuando o Diário de Notícias e o Jornal do Exército? O Governo, nomeadamente o Ministério da Defesa português, não devia publicitar estas notícias ou até mesmo promover a tradução e difusão da obra em Portugal? Ninguém é profeta na própria casa mas é triste serem os estrangeiros a reconhecer a qualidade do trabalho dos militares portugueses enquanto internamente eles são permanentemente desrespeitados e vilipendiados.

[1] Tradução in Jornal do Exército nº 649 – Jun/Jul2015, a partir do artigo de Paulo Assunção no Diário de Notícias de 29Jun2015.

NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

ATÉ ONDE CHEGA A CENSURA POLÍTICO-MILITAR

Recentemente um tenente general da Força Aérea (FA), na situação de reforma, escreveu um artigo sobre um evento de guerra ocorrido em 1969, no então teatro de operações da Guiné-Portuguesa.
 
O artigo foi enviado para a “Mais Alto”, revista oficial da FA onde, aliás, o oficial em causa já escrevera várias vezes.
Algum tempo depois o Director da revista, oficial de igual patente, mas muito mais moderno, informou o putativo autor de que o artigo não seria publicado.
 
A razão prendeu-se, aparentemente, com o facto de, no artigo, se tecerem considerações críticas sobre um país – a Suécia – supostamente amigo e aliado de Portugal.
Esta situação é recorrente, mas atingiram-se patamares de paroxismos delirantes.
 
Todavia o autor em questão pode considerar-se um privilegiado, pois tiveram a rara decência de o informar da decisão – o que subentende, não qualquer deferência, mas o embaraço da situação – o que representa um procedimento fora do comum, não só na “Mais Alto”, como na generalidade das revistas militares e órgãos de comunicação social…
E eu sei do que falo.
 
Porque é que as coisas se passam assim?
Certo dia, ainda a minha pessoa usava os galões de capitão, fui chamado ao Chefe de Estado - Maior da FA, de então - sem desfazer, uma excelente pessoa, oficial e combatente – que entendeu dizer-me o que considerava os limites da liberdade de expressão dos militares e dos parâmetros que balizavam a “Mais Alto”.
 
Eram quatro, a saber:
·         A revista não dizia mal de si mesma, isto é da FA;
·         A revista não dizia mal dos outros Ramos;
·         A revista não dizia mal dos Orgãos de Soberania;
·         A revista não entrava em questões político/partidárias.
 
Pareceram-me sensatas e equilibradas, na altura – e hoje ainda parecem – estas quatro regras, embora a distinção entre “dizer mal” e “criticar” não aparecesse distinguida e não seja fácil distingui-la.
 
Tal decorre, como já disse, do bom senso; da responsabilidade oficial do Ramo, que é um órgão do Estado e dos limites à liberdade de expressão dos militares, sobretudo os do activo, regulamentados pelo “célebre” artigo 31 da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas.
 
Durante alguns anos decorreram colóquios com periocidade anual ou bianual, inicialmente promovidos pelo saudoso Brigadeiro Mendes Quintela, cujo objectivo era debater e explicitar toda esta problemática e promover a dignificação e importância da Imprensa Militar.
 
Se a memória não me atraiçoa, o último colóquio foi organizado pela “velhinha” e decana Revista Militar, há uns 20 anos atrás…
 
De todo este esforço e das propostas saídas de todos estes encontros, nada resultou, pois nunca colheu grandes (nem pequenas…) simpatias ou acolhimento por parte das sucessivas chefias militares, muito menos do poder político, leia-se Ministros da Defesa Nacional.
 
Estes, aliás, tudo têm feito para aperrear tudo aquilo que é escrito e dito sobre as FA e a Defesa e Segurança Nacionais, permitindo-se o despautério de acabar com a revista “Baluarte”, do CEMGFA e respectivo Gabinete de Relações Públicas, reduzindo aqueles dos Ramos, na prática, a pouco mais do que uma caixa de correio.
 
Mas enfim, cada um tem o que merece.
 
Nos anos 80, creio, um número da Revista Mais Alto foi mandado recolher, pelo VCEMFA, depois de já estar em distribuição, porque comportava dois artigos – um desta praça velha e outro do General Kaúlza de Arriaga – que falavam da “Descolonização” e até já me aconteceu ver um artigo, feito por altura e a propósito, do centenário da morte do grande Mouzinho de Albuquerque, ser recusado pelo “Jornal do Exército”, alegando-se que o mesmo jornal era distribuído em Moçambique e “eles” podiam não gostar…
 
Exemplos do que foi acontecendo ao longo da vida e se os fosse contar todos ia faltar o papel!
 
Isto para já não falar na censura às pessoas, que não às ideias.
 
Mas parece que só no regime anterior é que se fazia censura…
 
Porém o escrito de hoje é sobre o artigo agora (mal) recusado, intitulado “Um ataque de olhos azuis”.
 
Vejamos.
 
O artigo do nosso general, escrito em português escorreito, conta um “ronco” obtido por meios da FA, na então Província da Guiné, em 1969, contra o PAIGC e os …. Suecos.[1]

Ora se, já de si, uma vitória das forças portuguesas contra a cáfila de insurrectos acoitados nos países limítrofes, inimigos de Portugal, causa engulhos aos “enganados da vida” e ao maldito do politicamente correcto, quanto mais agora criticar quem apoiava tão excelsos “libertadores de povos oprimidos”!
 
Pois foi exactamente isso que o general/ autor – honra lhe seja feita – descreveu no papel: uma operação exemplar contra um grupo fortemente armado do PAIGC, que há luz do dia (o que nunca faziam) bombardeava um pequeno quartel do nosso Exército, no extremo sul da Província, de uma outra posição abandonada no ano anterior.
 
Os quatro pilotos de Fiat colocaram as bombas todas no alvo (abençoados!) e escaqueiraram as forças inimigas.
 
Foi-se ver e havia corpos de pretos e brancos por todo o lado. Investigado o mistério apurou-se tratar-se de uma operação em que o PAIGC simulava ter tomado a antigo aquartelamento português e logo de seguida flagelava o mais próximo, tudo a ser filmado pela televisão da Suécia, país que durante toda a última campanha ultramarina, apoiou material e moralmente os inimigos de Portugal em África.
 
Tudo isto sendo nosso parceiro na EFTA e noutras instâncias internacionais.[2]
 
Aliás, os “bárbaros do norte” percebiam e percebem tanto de África como de lagares de azeite…
 
O que, sem embargo, os não impediu de fazer tráfico de escravos nos séculos XVIII e XIX, como o autor general explicitou…
 
E gostam tanto de pretinhos e outros coloridos, e têm tanto jeito para lidar com eles, que desde que abriram uma delegação para a cooperação na Guiné, anos após a independência, nunca conseguiram pôr nada a funcionar e praticamente não se davam com ninguém nem saíam das instalações…
 
Tive ocasião de assistir enquanto por lá estive nos anos 90.
 
Ora uma metade do artigo sobre os tais de olhos azuis, que o general Fernandes Nico descreve e faz considerações é, justamente sobre a atitude dos governos suecos durante o tempo que durou o conflito, para com Portugal, por sinal muito bem fundamentados.
 
E foram estes considerandos que incomodaram a chefia da FA – não sabemos se o próprio ministro – ao ponto de vetarem a publicação do artigo na Mais Alto.
 
Ora tal aparenta ser incompreensível e inaceitável.
 
Em primeiro lugar porque é tudo verdade – e muito ficou por dizer; depois porque se reportam a factos que têm mais de 45 anos; que já são História e nada existe de difamatório ou ofensivo.
 
Finalmente porque seja o PAIGC, o governo guineense (quando existe), o governo sueco ou qualquer outro actor político, se coíbe de dizer o que quer que seja sobre Portugal e os portugueses, sem terem o menor escrúpulo pelos nossos sentimentos, quiçá pela verdade histórica.
 
Estou farto, por tudo isto e muito mais, de ver comportamentos de compatriotas meus, com funções de responsabilidade, a colocarem-se na posição de “quatro patas”, perante personalidades, governos, ou entidades várias, que ainda têm que comer muito pãozinho antes de nos quererem dar lições de moral seja sobre o que for.
 
Ganhem coragem, se forem capazes, e alguma vergonha na cara.
 
Uma coisa, aliás, ajuda à outra. 


[1] PAIGC – Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde.
[2] EFTA – Associação Europeia de Comércio Livre.

domingo, 2 de agosto de 2015

HOMENAGEM ao MAJOR PIL. AV. ANTÓNIO LOBATO

NO CENTENÁRIO DA AVIAÇÃO MILITAR


“Chamei Manuel Gouveia em Tripoli e disse-lhe:

- Você sabe Gouveia, que vamos cruzar uma região perigosíssima e o voo é longo, cerca de 1000 Km. Os perigos multiplicam-se. Se formos obrigados a aterrar, a morte é certa: no deserto ou morremos de forme senão encontrarmos ninguém, ou morremos decapitados se alguém nos vir; no mar, tão deserto como o deserto, se procurarmos esse refúgio a morte é certa, também. Se você quer vá para o Cairo num navio, nós o esperaremos aí.

Gouveia olhou para mim zangado e um pouco malcriadamente – porque não o direi? – respondeu-me apenas:

- O meu comandante parece que não me conhece, eu sou do Porto, da terra que deu nome a Portugal. Se for preciso, morrer, morre-se.”
Brito Pais
(extraído do relatório da viagem aérea Macau, em 1924)
 
A atleta Rosa Mota é figura destacada na actual campanha contra o cancro de pele, causado pela excessiva exposição ao astro-rei.

É uma boa ideia e faz bem. 

Rosa Mota está na calha, certamente, para ir para o Panteão Nacional. 

Foi medalha de ouro na mais difícil competição desportiva desde a invenção dos Jogos Olímpicos: a corrida da Maratona. 

Portou-se bem a nossa “Rosinha” e estou certo que a maioria dos seus compatriotas a considerou uma heroína. 

Não se lhe conhecem taras, nem consta que alguma vez tenha feito algo que envergonhasse a nação dos portugueses. 

E se não se enganar a apostar em eventuais candidaturas à Presidência da República terá direito – a avaliar por exemplos recentes – a lugar em sarcófago de pedra, na antiga Igreja de Santa Engrácia. 

O que esperamos aconteça – Deus assim o entenda – daqui a muitos anos.

É isto ser-se honesto, talvez a forma de se ser herói todos os dias, o papel mais difícil de ser feito em sociedade. 

Um herói, pode sê-lo apenas por um acto que, numa hora de bom e desprendido julgamento, coragem extrema, ou de uma virtude excepcional, faça com que um ser humano pratique um acto ou acção, que o distinga dos demais e que não está ao alcance da capacidade da maioria. 

Alguns casos existem assim na sociedade portuguesa e que não foram ainda reconhecidos como tal. 

Entre eles destaca-se, seguramente, o caso Major Piloto Aviador António Lourenço de Sousa Lobato, nascido em terras do Minho, mais precisamente na Aldeia de Sante, freguesia de Paderne, concelho de Melgaço, a 11 de Março de 1938. 

É aqui que começa a fazer sentido o título do escrito: é que António Lobato (AL) é Oficial Superior da Força Aérea, na situação de reforma.

Que fez então este nosso concidadão de tão notável que, não só merece uma homenagem nacional que nunca lhe foi feita, mas também que a sua história deva ser contada recorrentemente, em todas as escolas do país? 

Resumidamente: 1 AL alistou-se na FA em 1957 e fez parte do Curso de Pilotagem P3/57. Recebeu as suas asas em Junho de 1959, e tinha o posto de Segundo-Sargento.
1 Ver livro de sua autoria “Liberdade ou Evasão”, Erasmus, Amadora, 1995 – há demasiado tempo esgotado!

O outro avião despenhou-se e o piloto morreu.

Partiu em missão de soberania para a então Província da Guiné, em Julho de 1961, ainda a guerrilha não tinha tido início.

Ajudou a FA a operar naquele território a partir do… nada.

No dia 22 de Maio de 1963, após uma das muitas missões em que já participara, no regresso à base, suspeitando que podia ter sido atingido por fogo inimigo, pediu ao seu asa – piloto recém - chegado e inexperiente – que passasse por baixo do seu T-6 para ver se detectava algo de errado. O “asa” cometeu um erro na manobra, tendo chocado com o seu avião de que resultou AL ter de efectuar uma aterragem forçada. 

Após a aterragem foi preso por um grupo de populares afectos ao PAIGC, que o entregou a uma força de guerrilheiros chefiados por Nino Vieira que viria, mais tarde, a ser Presidente da Guiné-Bissau, qualidade em que receberia AL em audiência. 

AL sofreu maus tratos por parte dos indígenas, mas foi bem tratado pela guerrilha – que viu nele um valioso troféu de guerra e o levou para a Ex- Guiné Francesa.

Ia começar para AL um longo e doloroso cativeiro, que duraria sete anos e meio, tendo sido resgatado na célebre operação Mar Verde, comandada pelo extraordinário combatente que foi o Comandante Alpoim Calvão, em 22/11/1970, juntamente com mais 25 portugueses, que jaziam numa masmorra em Conacri.

Um feito que D. João de Castro não desdenharia… 

No entretanto AL mudou três vezes de prisão, conheceu a “solitária”, fugiu e foi recapturado, três vezes, e passou por um processo mental de sobrevivência que bem poderia ser estudado por um grupo selecionado de psicólogos. 

Nesta luta teve um apoio precioso da família, sobretudo da sua jovem mulher – que esteve à sua altura – (tinham casado há poucos meses antes de ter sido feito prisioneiro), que chegou a pedir uma audiência ao Papa, visando a sua libertação.

No mesmo sentido, ainda está por fazer, a história do que foi feito a nível do Estado Português – e foi bastante – para o libertar. 

Mas o mais notável em tudo o que se passou, é que o Sargento António Lobato, manteve-se firme na sua qualidade de militar e combatente da FA Portuguesa, nunca traiu o seu juramento para com a Pátria, cumpriu sempre o Dever Militar, e, tentado várias vezes a trocar a prisão, pela “liberdade”, num país de leste, mais tarde na Argélia (onde pontificava a chamada Frente Patriótica de Libertação Nacional, de exilados portugueses), sempre recusou. 

Para a sua libertação tinha “apenas” que redigir uma mensagem radiofónica em que declarava a sua oposição à guerra – logo a justiça da luta do IN – e comprometer-se a nunca mais pegar em armas contra a guerrilha. 

Note-se que estas propostas chegaram a ser feitas pelo líder do PAIGC Amílcar Cabral, que o visitou na prisão. 

Um dia inquirido porque nunca quisera aceitar o que lhe ofereciam, deu esta resposta extraordinária, por simples e profunda e que diz tudo: “com que cara é que eu chegava ao largo da minha aldeia?”. 

Pois, caros leitores, é um homem desta têmpera, que se manteve posteriormente sempre impoluto, de que no século passado haverá, talvez, em todo o mundo, uma mão cheia de exemplos que se lhe igualem, que a grande família portuguesa desconhece e o Terreiro do Paço nunca reconheceu e homenageou. 

É certo que a FA e o Governo da altura, o reintegraram nas fileiras, pagaram-lhe todos os retroactivos e promoveram-no por distinção a Tenente. A seguir e mediante legislação para o efeito criada, passaram-no ao quadro permanente, na especialidade de piloto aviador. 

Mas até hoje, nem no activo – onde nunca se tentou tirar sequer partido em qualquer circunstância do valiosíssimo exemplo, experiência e valor, do militar em questão – na reserva e reforma se colocou este português dos quatro costados e pessoa de carácter, no lugar a que por direito próprio merece ocupar. 

E nós, os outros, também devemos ter direito a justamente nos orgulharmos dele.

Ora a FA nunca se lembrou que tinha AL entre um dos mais notáveis dos seus. Nem sequer o convida para o aniversário anual, onde AL devia ter lugar de honra… 

É claro que no actual regime sem norte, nem valores dignos desse nome, enfermo de corrupção, em que nos habituámos (mal) a viver, AL tem contra si, o facto de não ter sido desertor, traidor, tão pouco gozar da fama de antifascista, senão certamente já teria sido cumulado com várias “ordens da liberdade”, esgotado telejornais e entrevistas. 

Mas, parece, que não foi isso que ele aprendeu no largo da sua aldeia… 

A Força Aérea ainda vai a tempo de emendar a mão e colmatar uma injustiça, e promover uma homenagem ao Major Lobato. 

E tem uma oportunidade de ouro agora, aproveitando as comemorações do centenário da aviação militar, que se iniciaram a 14 de Maio do ano passado, mas que por estranho silêncio, ninguém sabe de nada, nem o Estado Português se associou. 

Parece até, que a própria FA tem vergonha do evento!... 

Atitude que desmerece a citação do “grande” Tenente Manuel Gouveia e que, em boa verdade, sintetiza e consubstancia a missão da Força Aérea: voar e lutar. 

Já tarda e já basta. 

Pelo António Lobato

“Acção, acção, acção, …..Aviação”!
(Início do “grito” da Força Aérea)

À CONQUISTA DE CEUTA

sábado, 1 de agosto de 2015

ESTARÁ A SANTA SÉ NO BOM CAMINHO?

“Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado: não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvide disso não conhece a natureza humana.”
Mikhail Bakunin (1814-1876)
Anarquista russo do século XIX

Este pontificado corre célere.
 
Célere e algo trapalhão.
 
Depois do pontificado de Bento XVI assertivo e de grande clareza e coerência doutrinária; de tomadas de posição e decisões ponderadas e faseadas no tempo; antecedido que foi de um Papa de enorme carisma, espírito de iniciativa, corajoso e tenaz no bom combate; viajante incansável de peregrino e evangelizador, como foi João Paulo II (o curtíssimo consulado de João Paulo I, ficou envolto nas maiores dúvidas que o próprio “Espírito Santo”, não aclarou); temos agora um comportamento algo errático e populista, com muitas afirmações mal “mastigadas” ou impulsivas, do actual Papa Francisco em que a opinião publicada tem posto grandes esperanças e elogios.
 
Sua Santidade tem-se comportado talvez, com demasiada loquacidade e ri-se muito.
 
Mostrou firmeza na questão da correcção, absolutamente necessária, dos problemas da pedofilia no seio da Igreja (apesar de raros), mas – e não pretendo ser injusto – muito do que já veio a público aparenta revelar tendência para relativizar Princípios. Ora isto no seio de uma Instituição como a Igreja, que sendo servida por homens se deve orientar pela imanência do imaterial e do Espírito, destrói-a e pode levar a cismas.
 
Espera-se prudência e muito cuidado com eventuais ambiguidades.
 
Um problema existe, porém, e é de monta – e não tem nada de espiritual - que se arrasta pelo menos desde meados do século XIX, e que nenhum Papa tem sabido, querido ou podido resolver: o problema das finanças do Vaticano e das entidades, sejam bancos ou outras, que dele têm tratado…
 
Sua Santidade viaja por estes dias pela “sua” América do Sul de onde é natural – e isso pode explicar muita coisa.
 
Acontece que na visita à Bolívia (9/7/15) – esse estranho país que a geopolítica espanhola criou, como estado “encravado”, no meio do continente sul - americano – o Presidente daquele país que não esconde as suas convicções marxistas, ofereceu ao Sumo Pontífice um crucifixo na forma de uma foice e martelo, símbolo do comunismo internacionalista. Pondo de lado o mau gosto da oferta, o gesto é, claramente, uma provocação e um desafio.
 
E continua a ser uma provocação quando alguns vêm defender que o Comunismo, na sua essência mais pura, se pode equiparar à doutrina de Cristo, que é a tolice principal em que incorrem os chamados “católicos progressistas”…[1]

O Papa, aparentemente, comeu e calou.
 
Os serviços do Vaticano vieram na mecha dizer que desconheciam que tal iria acontecer.
 
Bom, mas se desconheciam, mais uma razão para ter havido uma reacção imediata, porventura, o cancelamento da visita, pois o acto é de uma descortesia intolerável. Mesmo para quem deve oferecer a outra face…[2]

Além do mais nada disto abona nada a favor da Diplomacia do Vaticano que é “só” a mais antiga e experiente em todo o mundo e cujo estricto cerimonial só deve ser ultrapassado pela Monarquia Nipónica.
 
Se a moda pega ainda veremos o Papa visitar a Coreia do Norte e ser presenteado com um espectáculo num redondel (tipo coliseu) onde alguns dissidentes seriam despedaçados por cães selvagens esfomeados…[3]
 
Mas o Santo Padre – que, recordo, representa todos os católicos e onde estes se devem rever – ficou e, usando ainda de uma humildade cristã sem limites, entendeu pedir desculpa pelas atrocidades cometidas pela Igreja, durante a “conquista da América”.
 
Confesso que já me começo a sentir incomodado e enfadado com estes constantes pedidos de desculpa por parte dos responsáveis da Igreja, com a agravante de nunca virem acompanhados de um enquadramento das situações, por mínimo que seja.
 
Não cai os parentes na lama a ninguém pedir desculpa quando há motivos para isso e a Igreja, tem-nos seguramente, até porque os Santos alçados aos altares são uma ínfima parte dos que se dizem ou disseram cristãos (que são de carne e osso). É um acto de humildade e, até, de lucidez e, também, de querer construir o futuro emendando os erros do passado.
 
Mas quando tal empenho, se torna repetitivo, passa a entrar no campo do masoquismo e em dar tiros nos pés.
 
Sobretudo se tivermos em conta que a Igreja tem expiado – e não pouco – os seus pecados, e o seu exemplo de contrição não conseguiram, até hoje, contagiar mais ninguém com o seu “exemplo”.
 
Nunca ouvimos o Presidente Evo Morales, Fidel Castro, a ex-terrorista que acampou no Palácio do Planalto, em Brasília, por ex., ou qualquer líder comunista presente ou passado, acabando no português Álvaro Cunhal, sua pandilha e descendentes – fazer qualquer mea culpa pelos horrores cometidos em nome daquela ideologia maldita que trucidou mais humanos em média por ano, do que todas as hordas de Gengis Khan e de Tamerlão, juntos!
 
Nunca me soou aos ouvidos quaisquer pedido de desculpa por parte de um líder muçulmano pelas lutas fratricidas que espalham entre eles e vizinhos; nada consta relativamente a luteranos, calvinistas e anglicanos, quanto às perseguições e guerras civis que provocaram, ou ao tráfico de escravos em que foram exímios; tão pouco nos chegou ao pavilhão auricular, qualquer remorso de judeus e sionistas por terem, ao que se sabe, inventado o juro e a usura e terem desde então, sujeito a humanidade à política da agiotagem e para poderem voltar ao território que reivindicam no Médio Oriente, terem expulsado (e não só) uns milhões de palestinianos.
 
Tão pouco, alguém no mundo inteiro tem conhecimento de que a Maçonaria tenha assumido algum passivo pelos atentados que semeou, das revoluções que fomentou e dos monarcas que apeou, só para ficarmos por aqui.
 
Nem sequer um único republicano que se diga herdeiro dos jacobinos, ciciou até ao presente, qualquer remorso pelas cabeças que guilhotinou e afogou em terras e rios de França, após a Revolução que – dizem – deu origem à Declaração Universal dos Direitos do Homem, e que em poucos anos ultrapassou largamente as vitimas das fogueiras da Inquisição, em três séculos!
 
Não, só a Igreja Católica é que pede desculpa. Abençoada, ao menos, que seja por isso!
 
E relativamente à conquista da América, também gostaria de chamar a atenção do Santo Padre e da Santa Sé – peço desculpa, mas o dogma da infalibilidade do Papa aplica-se apenas a questões espirituais e de Fé – que não deve meter tudo no mesmo saco.
 
Quero referir-me aos portugueses.
 
A Igreja portuguesa, os seus missionários e a generalidade dos “colonizadores” portugueses nunca se dedicaram a exterminar os gentios, nem na América nem em lado nenhum. Educavam-nos, misturaram-se com eles, integravam-nos e assimilavam-nos à medida das probabilidades e o tempo permitia. Os missionários portugueses catequizavam pelo dom da palavra, através do conhecimento das respectivas culturas e não pela lei da força ou do chicote.
 
Tudo tinha a cobertura superior da coroa portuguesa que nunca decretou leis ou instruções iníquas. E nunca passou pela cabeça de ninguém meter indígenas em reservas (como aconteceu por exemplo, nos EUA e no Canadá) e nunca se chegou à vilania de distribuir coberturas com bacilos de doenças, aos índios, como ocorreu com autoridades sitas em Washington. Também nunca os ouvi pedir desculpa por isso.
 
Alguns missionários portugueses no Brasil, Santo Padre, oriundos da mesma Companhia de Jesus, onde professou, sofreram até agruras, com o governo local e até em Lisboa, por quererem proteger e cuidar dos indígenas para além do que era o entendimento oficial da altura.
 
Por isto e por muito mais, não é justo colocar os portugueses e a sua Igreja, em generalizações descuidadas, muito menos quando as mesmas podem ser tidas como demagógicas.
 
Temos Sua Santidade como pessoa de bem e bem - intencionada. Nem outra coisa se pode pensar.
 
Mas estou em crer que saberá – o Núncio Apostólico poderá confirmá-lo – que nós aqui no canto mais ocidental da Europa temos um ditado que afirma estar o inferno cheio de boas intenções…
 
E temos ainda um outro, que reza não ser grande coisa “querer ser mais papista que o Papa”.
 
E com esta tirada me vou.
 
Para o Purgatório.



[1] Conhecidos na gíria como “peixinhos vermelhos em pia de água benta”…
[2] “Não resistirás àquele que é iníquo; mas, a quem te esbofetear a face direita, oferece-lhe também a outra”. Sermão do Monte, Mateus 5:39. E convém também, não distorcer o significado da parábola…
[3] Estranha-se ainda aquela ideia de pôr o Papa a mastigar coca. Convenhamos que não é a mesma coisa do dar a provar, por hospitalidade, um pastel de nata….