domingo, 29 de setembro de 2019

A CRETINA MODA DE MUDAR OS NOMES ÀS COISAS


A CRETINA MODA DE MUDAR OS NOMES ÀS COISAS
27/9/19
                                       O Alentejano
                                       Em noite de feroz inspiração, o poeta foi passear
                                       pelo campo e, topando com um alentejano que
                                       contemplava o luar, disse-lhe:
                                      - És um amante do belo! Acaso já viste também os
                                        róseos-dourados dedos da aurora tecendo uma
                                       fímbria de luz pelo nascente, ou as sulfurosas
                                       ilhotas de sanguíneo vermelho pairando sobre um
                                       lago de fogo a esbrasear-se no poente, ou as
                                       nuvens como farrapos de brancura obumbrando a
                                       Lua, que flutua esquiva, sobre um céu soturno?
                                      - Ultimamente não!... respondeu o alentejano
                                       pasmado; há mais de um ano que não me meto
                                       nos copos!

                Esta estúpida e subversiva moda teve lugar logo de seguida à “Revolução” havida após o 25 de Abril de 1974, onde a sanha foi destruir tudo aquilo que fizesse lembrar as principais figuras ou símbolos do regime político então derrubado, conhecido por “Estado Novo”.
                E não só.
                Deram-se então (processo que ainda não terminou) nomes de praças e ruas, do Minho ao Corvo – território que restou de uma criminosa tragédia a que apelidaram de “Descolonização”, em cuja terra ou bem ainda não tenha sido saldado, vendido, hipotecado ou ocupado por hordas de estranhos - a vendilhões da Pátria portuguesa e de sórdidos inimigos da nacionalidade lusa, como se tal fosse o acto mais natural do mundo.
                Mas tal auto - humilhação, “hara-kiri” e desnorte não foi suficiente para que um grupo ainda mais radical de sevandijas quererem dar impulso à completa perda da memória histórica dos nacionais, bem como proceder à revisão da própria História, num vendaval de loucura, mentira e paranoia que fazem parecer a eliminação da imagem de Trotsky nas fotos em que aparece junto a Estaline, uma birra de crianças!
                  Ele são, manifestações estúpidas; apoucamento de heróis pátrios; invenções de racismo; parvoíces sobre a escravatura; ameaças de destruição de estátuas; censura nos livros escolares (e em todo o lado), museus revisionistas, etc..
                Só ainda não chegámos à exumação de esqueletos, mas pelos vistos, lá chegaremos…
                Como se tudo isto não bastasse, este desacerto colectivo, ditado por ferozes ódios ideológicos (os piores de todos, só superados pelos ódios religiosos) e muito apropriadas conveniências, começam agora a despontar ambições de âmbito pessoal ou familiar, como parece ser um caso em desenvolvimento na alentejana localidade de Santo Aleixo da Restauração.
                A história conta-se em poucas linhas.
                Uma cidadã filha da terra desenvolve a meritória profissão de médica (na capital). Uma sua irmã entendendo que os méritos da senhora – que não discuto – são já de tal monta, tem envidado esforços para que, o nome daquela que jurou perante Hipócrates seja alçado à dignidade de ter uma rua com o seu nome.
                Só que não pode ser uma rua qualquer. Não; tem que ser o da rua principal da vila, hoje infelizmente, reduzida a cerca de 800 habitantes.
                E neste sentido tem multiplicado esforços junto da população local e entidades autárquicas.
               Acontece, porém, que a dita rua tem um nome há muito atribuído, o nome de Lopo Sancas, herói da Guerra da Restauração/Aclamação, o qual sendo Capitão - Mor da então aldeia, a defendeu heroicamente de um ataque espanhol, no ano de 1644.
              Ora os antigos de Santo Aleixo, por diversas vezes se mostraram gente tesa e valorosa, nomeadamente em 1641, 1644 e 1704, a tal ponto que mereceram que se acrescentasse os temos “da Restauração” ao nome de Santo Aleixo, por decreto-lei de 3 de Maio de 1957.
                Como até, a acção referida em 1644, mereceu ter sido inscrita na base do monumento aos Restauradores, na praça com o mesmo nome, em Lisboa.
              E tal foi a importância da Restauração da completa independência do Reino de Portugal, que o dia em que a revolta despontou (1 de Dezembro de 1640) veio a ser considerado o primeiro feriado nacional estabelecido no nosso país – o que recentemente um governo insensível e ignorante, resolveu eliminar, para depois sofrer a vergonha da reversão de tal funesta decisão…
                Espera-se que a Junta de Freguesia de Santo Aleixo e, ou, a Assembleia Municipal da Câmara de Moura, rejeitem liminarmente esta pretensão, que para além de ser um insulto à memória histórica da Vila; uma usurpação toponímica e um delito ético é, simplesmente, um erro e uma falta de senso.
               Será que uma eventual “vaidade” particular se deve sobrepor a um bem público?
                Ou será que o Lopo Sancas é suspeito de ter sido “fascista”?
                Os actuais membros da citada família (que não conheço) acham-se porventura mais importantes do que aqueles que defenderam a sua terra séculos atrás?
                Vão porventura fazer uma petição para substituir (por exemplo) o nome da Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, para Praça Mário Soares?
                Não haverá em Santo Aleixo nada a inaugurar a que possa ser dado o nome da Senhora, caso passe no escrutínio do merecimento?
                O que se passará a seguir se for atribuído o nome da dita cuja à rua já baptizada?
                Com que argumento se evitaria uma nova proposta?
                Santo Aleixo está no mapa pelos feitos militares e pelo destaque público de alguns dos seus filhos.
                Não por se substituírem uns por outros.
                Convinha, pois, não se andar sempre nos copos.


                                                             João José Brandão Ferreira
                                                            Oficial Piloto Aviador (Ref.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sr Tenente Coronel
Este seu Texto, que muito apreciei e me entristece pelo assunto tratado, fez-me trazer à memória casos semelhantes igualmente estultos.
Por todo o lado não há canto nenhum onde não seja afixada uma lápide por isto por aquilo com a presença do Sr. Dr...
Aponto apenas três casos dos muitos que tenho visto:
- Inaugurou-se o Túnel do Areeiro, lá está a placa a lembrar o facto com a presença do Sr. Dr...
- O Jardim do Campo Grande foi rebaptizado e lá está uma placa a recordar o nome de um vizinho do dito, o Sr Dr...
- Há uns anos vi, nas proximidades do Quartel Militar de Abrantes, uma placa com o nome do Autarca que mandou endireitar a estrada de acesso à cidade e inaugurou a obra em 25 de Abril de...
Todos numa ânsia de mostrar a sua importância (!) e deixar uma pedra com o seu nome em local público...
Creio que as pedreiras de Estremoz já estariam esgotadas há muito se, durante o Estado Novo, houvesse semelhante proceder com tudo quanto se erigiu, alindou ou inovou em quarenta anos de trabalho sério e fundamental, em prol da "coisa pública".
Chocante, é ver a Placa de inauguração do Hospital Escolar de Lisboa (Hospital de Santa Maria) vandalizada, tendo-lhe sido arrancadas as letras que compunham os nomes das mais altas figuras da Nação que tornaram possível, estiveram presentes e inauguraram tal Edifício e seu apetrechamento completo, nos idos de 27 Abril de 1953.
Meus cumprimentos
Manuel Alves

Ana Marta disse...

"Os actuais membros da citada familia.."????????Quem lhe passou as informações acerca deste tema não as passou de forma verdadeira...e à sua pesquisa também lhe falta relação logica.
Isto acontece quando à ausência de gratidão se junta inveja e ignorância.