SALAZAR, O
REVISIONISMO HISTÓRICO E A MENTIRA CHAPADA
7/9/19
“Tempos difíceis criam homens
fortes;
Homens fortes fazem tempos
fáceis;
Tempos fáceis criam homens
fracos
E homens fracos fazem tempos
difíceis.”
Ditado Indiano
Como
se sabe os vencedores impõem a sua visão dos acontecimentos que fazem a
História dos povos, ignorando os argumentos dos antagonistas/inimigos e não
raro fazendo desaparecer documentação que possa ilibar ou dar alguma respeitabilidade
a quem foi vencido ou, por outro lado, macula a parte vencedora.
O
que só raramente é corrigido e, por norma, muitos anos passados sobre os
eventos a que dizem respeito.
Sempre
foi assim e acreditamos que sempre assim será, pois a natureza humana não muda.
Por
isso para se entender minimamente a História, é necessário muita reflexão,
estudar diversas fontes e cruzar o máximo de informação.
Ora
o que se passou neste âmbito a seguir ao Golpe de Estado ocorrido a 25/4/74 e
que virou revolução, não fugiu à regra.
Mas
antes de entrarmos a analisar o que se tem passado e nomeadamente, ao que agora
corre sobre o anúncio de se estabelecer no Vimieiro, na antiga escola primária/cantina,
Salazar - mandada construir em 1940, com donativos de emigrantes no Brasil e
outros nacionais - de um “Centro Interpretativo do Estado Novo”, é mister dar
dois exemplos que ilustram onde queremos chegar.[1]
O
primeiro exemplo é o do Marquês de Pombal. Se fossemos atrás daquilo que uma
procissão barulhenta de dementados, por aí tem zurrado, a estátua do Marquês de
Pombal tinha que ser derrubada.
Senão
vejamos: Sebastião José mandou cercar uma aldeia de pescadores na Trafaria,
para onde tinham fugido alguns desertores, por um esquadrão de cavalaria. Foi
tudo morto pelo fogo.
Após
protesto, uma parte considerável dos lavradores do Douro, na Régua, foram
reprimidos à bruta, e na execução de uma pena prescrita, à revelia das mais
elementares regras do Direito – mesmo daquela altura – mandou matar com
requintes de crueldade (após tortura pública) os membros de duas ilustres
famílias nobres portuguesas.
Foi
ainda o maior expoente do “Despotismo Esclarecido”, a ponto de ofuscar o
próprio Rei.
Só
para ficarmos por aqui.
Caiu
em desgraça no reinado de D. Maria I, mas foi recuperado (com juros) após a implantação
do Liberalismo no nosso País, em 1820.
Não
acham estranho que um ser deste quilate goze da fama de estadista (e sim ele
teve alguns rasgos) e tenha a maior estátua existente no país - começada no
tempo da I República (o concurso foi lançado em 1915), mas inaugurada no Estado
Novo, a 13 de Maio de 1934 - que encima uma avenida chamada da Liberdade? Da
Liberdade? Porque será?
Segundo
exemplo, D. Pedro IV, Rei, por pouco tempo, mas Rei.
Como
é que um príncipe herdeiro da coroa portuguesa – note-se na altura constituído
como Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (uma fórmula política única no
mundo!), se pode tornar Rei de um país e de uma dinastia que traiu, após ter
liderado a secessão da mais importante parcela do território nacional?
Mesmo tendo em conta, a desastrosa
acção do Governo e das Cortes, na altura; a complacência de D. João VI (que
desventuradamente dizia algo como isto: “Pedro se o Brasil se for, ao menos que
seja para ti, que me obedeces, do que para alguns dos aventureiros que por aí
abundam”) e da quebra do acordo espúrio, de casamento entre D. Miguel e sua
filha menor D. Maria (com sete anos de idade).
O
que veio a causar a mais sangrenta guerra civil que em Portugal já houve!
Algum
livro de História coloca hoje em devida perspectiva o que se passou ou falecem
os encómios a D. Pedro, suspeito ainda do que hoje se chama de “violência
doméstica”?
Porquê?
Ora
após o 25/4/74 o revisionismo histórico, o deitar abaixo e o alterar tudo o que
estava, atingiu foros inauditos. Sobretudo relativamente ao período conhecido
por Estado Novo (1933-1974).
O
frenesim para derrubar estátuas, mudar nomes às ruas e erigir piras para tudo o
que se relacionasse com esse período (extraordinário) da nossa História e do
seu principal doutrinador e líder, que não contivessem as mais fundas
condenações do inferno, foi … infernal!
A
bandalheira instituída, a censura dos “média”, a cobardia institucionalizada, o
cretino do politicamente correcto e a ignorância e perfídia dos governantes, fizeram
o resto.
O
PC (P) e, mais tarde, o Bloco de Esquerda tomaram conta do Ministério da
Deseducação Nacional (e não só) e instituíram “dogmas” que nem a Inquisição,
nos seus piores dias, se atreveu a formalizar, mesmo tendo a Fé como respaldo.
Este
último partido desencadeou nos últimos anos - ultimamente com a ajuda de um
mentecapto importado, cujos caninos fazem lembrar os seus antepassados canibais
- um revisionismo histórico radical e ultramontano, tentando a culpabilização e
demonização do homem branco; tecendo um manto de mentiras sobre a Escravatura;
a extraordinária “aventura” dos Descobrimentos; o rebaixamento dos heróis
nacionais, as referências da Cultura, do Bem, do Belo, do Nacionalismo (palavra
que virou maldita que devia ser elevada, nas sua verdadeira expressão); na
ocultação da memória histórica do povo, etc., e na exaltação de piratas,
bandidos, traidores, desertores, ou simples delinquentes do foro comum.
Por
isso não existe qualquer surpresa nem admiração, por um grupo dos de sempre,
quando ouviu falar que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão está em vias de
concretizar um museu na terra do auto consagrado (sem direito a contraditório)
“ditador” e negregado “fascista”, António de Oliveira Salazar, com o nome de “Museu
de Interpretação do Estado Novo” a que já, ostensivamente, mudaram para “Museu
Salazar”.
O
que não é a mesma coisa.
A
contestação foi assumida prioritariamente por duzentos e tantos cidadãos
através de uma petição, a maioria dos quais se intitula perseguida, prisioneira
e vítima de maus tratos (vulgo tortura) por parte dos “esbirros” do regime
deposto em 1974.
Pelos
vistos não lhes basta a ditadura política e histórica imposta após o 25/4, o
domínio dos “média”, a imposição ideológica nas escolas, a mentira do discurso
político onde reinam mas, mesmo assim, tremem-lhes os pêlos do cóchis sempre
que ouvem falar no fantasma do “Ditador”.
Faz
lembrar o episódio ocorrido aquando da vinda a Lisboa de Filipe I, em 1581, e
este visitou aquela que classificou de “igreja digna desse nome” que vislumbrou
em Portugal, a do Convento do Carmo, onde estava sepultado o grande D. Nuno
Álvares Pereira - o qual, curiosamente, ainda não foi alvo da sanha
revisionista que por aí medra.
Quando os membros da comitiva de
Filipe I souberam disto, um temor instintivo os fez recuar, a que Filipe I
retorquiu algo parecido com, “Podeis avançar, o homem está morto há muitos
anos…”.
Mas
esta gente por cobardia e perfídia tem horror à verdade e pesa-lhe a
consciência, se é que lhes resta alguma.
Vou
ainda ser mais cru, de um modo que talvez nunca se tenha ouvido em Portugal,
após a data florida a cravos e cravanços.
Desde
1933 – data da instituição do Estado Novo e do seu criador - morreram nas
prisões, ditas políticas, portuguesas, cerca de 50 presos, como de resto
escreveu José António Saraiva, no “Sol” de 31/8.
Ou seja em 41 anos (1933-1974),
morreu pouco mais de uma pessoa por ano. Não sei (mas alguém há-de saber)
quantas pessoas foram presas.
Um
“site” de um conhecido admirador da seita e com antepassados carbonários (ou
seja insuspeito de simpatias pelo Estado Novo) pode ler-se que entre 1931 e
1974, morreram 88 cidadãos às mãos das polícias e nas prisões (parte delas por
doença), alegadamente por razões políticas, o que inclui o assassinato de Mondlane
e Amílcar Cabral – o que nem sequer é correto e não fosse lícito eliminar
aqueles que combatiam a soberania portuguesa e nos emboscavam as tropas;
Catarina Eufémia, que toda a gente sabe ter-se tratado de um acidente e outros
casos que necessitam enquadramento devido o seria ocioso fazer aqui.
Não
direi que não houve violência e que vários cidadãos foram violentados na sua
integridade física.
Mas
pergunta-se: só houve violência durante o Estado Novo?
Na
Monarquia Constitucional e na I República não houve violência? Havia alguma
razão moral, racional, jurídica ou política para se atentar contra a Família
Real ou fazer cair a Monarquia à bomba?
Só
houve violência por parte dos defensores do Estado Novo? Os opositores demo -
republicanos que tinham desgraçado o país e sobretudo a nóvel força
internacionalista dos anarcas e comunistas nunca mataram ninguém? Não fizeram
atentados? Não se mataram até, entre eles?
Não
chegaram a atentar contra a vida do Chefe do Governo, em 1937? Não revoltaram
dois contratorpedeiros no Tejo, para se irem juntar às forças republicanas em
Espanha – uma autêntica traição à Pátria – episódio que está na origem da
criação da prisão do Tarrafal?
Aquando
da inauguração da Ponte Salazar, em 6 de Agosto de 1966, não quiseram sabotar um
dos pilares da ponte de modo a derrubá-la, episódio frustrado “in extremis”
pela polícia e que se pode considerar um atentado equivalente à das Torres
Gémeas, em Nova Iorque?
E
em plena Guerra do Ultramar – a que aleivosamente chamam “colonial” - não
causaram a destruição de 28 aeronaves na Base Aérea de Tancos, em 8 de Março de1971,
o que representou o maior dano material no esforço de guerra e que não encontra
paralelo nas três frentes de guerrilha? Será que um dia vão revelar o que
fizeram com a tripulação do navio Angoche? Querem que continue?
Lamento
que tenha havido violência e mortes, sobretudo entre portugueses, e por razões
políticas, mas tudo isto faz parte das opções de vida e da História.
A
perda de uma simples vida, por motivos injustos, será sempre de lamentar, em
termos absolutos.
Mas
na vida real não há o “Absoluto” (apenas “Deus” é o Absoluto), mas sim o
relativo.
Quer
isto dizer que, no caso vertente, os mortos que houve por cá, na repressão às
forças comunistas representam todas elas se comparadas com o que aconteceu na
União Soviética, apenas um episódio decidido num pequeno – almoço em que o “kamarada”
Estaline palitava os dentes, estando bem - disposto.
Sabe-se
que o Marxismo e o Comunismo, para além de serem ideologias erradas,
mentirosas, anti naturais, incompetentes, irrealistas, visando até um utopismo
inconsequente por estúpido e onde os fins justificavam todos os meios, nos
países em que se impuseram, o fizeram por meios violentos, sem respeito por
nada nem ninguém, massacraram e violentaram populações inteiras à moda de
Tamerlão, com a justificação da criação do “homem novo”. Malditos sejam.
E fizeram isto, não só na pobre e
infeliz Rússia, mas em dezenas de países em todo o mundo, numa orgia de sangue
e violência que causou cem milhões de mortos e culpa-se o Estado Novo por os
reprimir?
Chama-se
a isso antecipar problemas, higienização política e social ou simplesmente legítima
defesa. Diria até, simples bom senso.
E
digo mais, face ao que se passou e à experiência que tivemos aqui ao lado
aquando da guerra civil espanhola (1936-1939), que possivelmente correspondeu à
repressão mais dura por parte do governo português, toda a repressão foi
branda, ou não sejamos conhecidos pelos nossos “brandos costumes”.
Mas
nunca fiando, imaginem só por um momento, o que teria acontecido se o PCP e as
forças que o apoiavam, não tivessem sido derrotadas no 25 de Novembro de 1975.
Aí tivemos uma pequena amostra do que iria acontecer no após…
Por
último, que Nação – digna desse nome - representada pelo seu Estado pode
admitir uma força política no seu seio, que obedeça a uma potência estrangeira
(a URSS) e que se manteve inimiga de Portugal entre 1917 e 1989, como foi
objectivamente o caso do PC – o que o excluiu moralmente de ostentar o “P” de
português? Mas que insanidade é esta?
Por
tudo isto as razões aventadas pelos “dinossauros” que assinaram a petição (e
agora estão caladinhos depois de uma intervenção do senhor PM…) contra a existência
do Centro Interpretativo do Estado Novo (que volto a dizer, não é um museu
sobre Salazar – e que fosse), não cabem na cabeça de um fósforo; revelam uma
mentalidade cobarde, censória, medrosa da verdade, totalitária (que é o que
sempre foram) enfim, a todos os títulos errada.
O
despautério e o despeito é tanto que têm a lata de terem estas iniciativas
depois de já terem assegurado a existência de museus (Peniche, da Resistência,
etc.), fundações, estátuas, nomes de ruas, etc., onde pretendem perpetuar os
seus erros, as suas falsidades, as suas ignomínias, os seus crimes e parte
daqueles que foram os protagonistas.
E devo lembrar que o Estado Novo,
ao contrário dos próceres da I República e do Regime saído da Constituição de
1976, nunca mudaram nomes a ruas ou apearam estátuas, de quem esteve antes…
Dou-lhes,
por isso, um alvitre: proponham a existência de um museu (chamem-lhe o que
quiserem) onde fique exposta a papelada roubada da sede da PIDE e enviada para
Moscovo, n os idos de 1974/5, fora aquela que foi destruída ou posta a recato,
parte da qual foi utilizada para todo o tipo de torpezas e chantagens para
podermos ter um cabal entendimento de tudo o que se passou…
Até
lá, ganhem vergonha e deixem de atacar o extraordinário estadista a quem com
propriedade, o historiador José Hermano Saraiva chamou de “ditador santo”.
Vocês não valem o pó que ele tinha
nos sapatos.
E que ao contrário do que escreveu,
equivocado, António Barreto, nós não vamos tratar Salazar como ele nos tratou a
nós!” A razão é simples: nós não merecemos o que fez por nós e pelo País.[2]
Viva
a Verdade; abaixo a mentira! (que é aquilo que qualquer Estado, seja
democrático ou não, e qualquer pessoa singular, deve defender).
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
[1] Salazar, na altura com 51
anos, não esteve presente na inauguração. Imaginem se fosse hoje…
A cantina destinava-se a apoiar as crianças carecidas
da freguesia do Vimieiro.
A escola primária que Salazar frequentou, foi
construída no final do século XIX, sendo nela que, mais tarde, a sua irmã Maria
do Resgate Salazar, foi professora.
[2] Artigo publicado no
“Público”, a 1 de Setembro, intitulado “Três Museus”. E, tirando a parte
referida, um bom e equilibrado artigo.
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