28/10/2011
Dei algumas voltas à cabeça para me decidir sobre a maneira de vos dirigir neste dia (embora, ao contrário do Prof. Vidal, não tenha qualquer preocupação em não vos maçar…), mas, vendo bem, achei não haver grande dificuldade: bastava fazer uns avisos!Mas, se porventura, a minha fala para vós bastaria assim, não posso, nem devo, colocar os ilustres convidados em tão estrito âmbito. É mister pois, saudá-los respeitosa e amigavelmente, realçar a sua presença, que nos distingue e confunde, evocar os ausentes e agradecer, penhorados, toda a contribuição que deram como mestres, conselheiros e camaradas mais antigos, para a nossa formação e para aquilo que somos hoje.
Aos oficiais cuja missão é a de continuar a gesta desta casa, um bem-haja pela disponibilidade e hospitalidade com que acolheram o curso Alves Roçadas.
Evocámos, de manhã, a excelsa figura de Sá da Bandeira, que apesar de ser dos mais ilustres do século XIX, ficou em marquês enquanto outros foram a duque! Queria ainda evocar o nosso patrono, o General Alves Roçadas e para isso vou ler-vos um pequeno trecho da “Ilustração Portuguesa” de 7/9/1914…
Quero, então, convidá-los a uma viagem atrás no tempo.
Quando entrei para esta casa, há 40 anos, o meu País – o nosso País – estava e em guerra e batia-se com galhardia.
Enquanto a rapaziada da nossa geração, universitária e não só, fazia greves, abanava os quadris pelas discotecas e curtia charros e baladas, os “tolos” que, por razões várias, tinham vindo parar à Amadora, entravam num ambiente austero e cheio de rituais e referências.
À porta do gabinete do oficial de dia estava um monge cavaleiro (a interpretação é literal), que, com ar façanhudo dizia: “Eu sou o vosso comandante de companhia”.
E logo o “candidato” mono estrelado destacado para receber “os abaixo de cão”, recém chegados, e perfeitamente apardalados (não tem nada a ver com o Prof. Pardal…), lá ia explicando, a caminho da camarata, que: a distância mais curta para o “infra” (nome pelo qual passaríamos a ser tratados), era a linha curva; que o devíamos tratar por “candidato” antecedido da palavra “senhor”; que os infras só tinham direito a uma coisa que era não terem direito a nada; elaborava sobre uma quantidade enorme de autorizações necessárias: para entrar, para sair, para deitar, para levantar, para falar, para retirar, para fumar, e outras tantas proibições. Enfim, a lista de enormidades prosseguia para gáudio e boa disposição daquela “autoridade”!
Foto de grupo |
A seguir fez-se tudo em passo de corrida: fardamento, cantina, barbeiro, refeições, etc. A máquina de fazer “chouriços” tinha entrado em acção… Mas o pior ainda estava para vir. Como dizia Moniz Barreto “A um toque de corneta levantavam-se para obedecer; a outro toque de corneta se deitavam, obedecendo”. O problema maior é que, independentemente da corneta, o pessoal levantava-se e deitava-se a esmo.
As razões eram as mais diversas e, de resto, assaz louváveis: tratava-se de convites para visitar as “cagadeiras”; o campo de obstáculos, onde pontificava a vala; ou a encosta da carreira de tiro; verificar a higiene dos apêndices pedunculares de modo a garantir que ninguém dormia de botas; evitar que o pessoal dormisse de bexiga cheia, para o que se inquiria o Himalaia de caca se já tinha urinado; mais tarde, num gesto que se pode entender como de grande fraternidade e profilático, confrontavam-se aqueles pedaços de asno, com o número de vezes que tinham sacudido a gaita: por um lado para se ter a certeza que nenhum resquício infeccioso pudesse vir a afectar a glande; por outro, para prevenir qualquer libido menos própria de tão monástico ambiente. Uma mãe extremosa não chegaria a tanto!
Em simultâneo, serviam-nos uma instrução militar intensiva onde nos chocalharam os ossos e as entranhas e, até, uma carga a cavalo nos atiraram para cima.
Na segunda semana fomos presenteados com a visita dos nossos colegas, perdão camaradas mais velhos, perdão, mais antigos, que habitavam no palácio da sede e que nos vieram trazer o seu calor fraternal. Tudo rapaziada do mais fino recorte, como que acabados de sair de uma escola fundada pelo saudoso Padre Américo. Parecidos, até, com aquela gesta de fidalgos, tudo gente escorreita e limpinha, que acompanhou o João da Nova à Índia, em 1501…
Resultado, o infralhão andava esgazeado e mais parecia um conjunto de laparotos acossados pelos lobos que lhes tinham comido a mãe!
Naquela noite fatídica, resolvi baldar-me, mas a natureza foi madrasta para comigo e não me favoreceu os dotes no sentido de passar despercebido como o elefante de óculos escuros no Rossio. Resultado, fui contemplado com uma “completa de 30”. Da segunda vez o Sr. Candidato Roca apanhou-me a roncar na “sala das botas”, atrás de umas malas que lá estavam arrumadas. Aprendi a lição e nunca mais me baldei! Aliás, quando algum de vocês me telefona encontra-me sempre no meu posto de sentinela, pronto a defender a Pátria!
A gente divertia-se muito. Estou a lembrar-me da primeira vez que o infra Obus 14, foi tomar banho (estávamos para aí no sexto mês de casa…), toda a camarata o seguiu até ao duche!
E aquela do infra Pepélegal? Lembram-se era do Porto e mais gago do que permitia o regulamento. Azar dele, como tinha o número mais baixo (era o 18), ia quase sempre para a frente da formatura. Certa vez, num daqueles dias em que o pessoal estava “de # 3 sem nada por baixo, ai do último”, um dos nossos mais queridos educadores, vá-se lá saber porquê (talvez por pensar que assim aliviaria a pressão dos sacos testiculares), virou-se para o Pepelegal e ordenou-lhe:”Ó infra mande a formatura ir F….!
O desgraçado obedeceu: deu os passos da ordenança e disse, “A…aten-ção in…in…fra…lhão. Vão-se F….! E ficou a aguardar.
Célere, veio um vozeirão:”Ó infra você é uma besta, então você manda os seus camaradas irem F…. e você não vai? Mande lá isso outra vez!
Então o nosso Pepelegal voltou-se e disparou, “in…fra…lhão, va…va…mo-nos F….! A formatura não aguentou mais e desatou tudo a rir e, claro, F….-se mesmo.
Quando o comando entendeu que a mole infrática já estava suficientemente amassada, mandaram-nos jurar um decálogo, conhecido por “Código de Honra do Cadete”. No estado em que estavam, de resto, jurariam qualquer coisa…O primeiro passo importante.
E lá começaram as aulas. Agora é que a porca torcia o rabo! Juntar ao desbaste físico e psicológico acresciam doses maciças de derivadas, integrais triplos, correntes induzidas, geometrias espaciais, espreitadelas por teodolitos, eu sei lá que mais. Enfim, esoterismos!
Havia aqui um problema insanável, porém, que era o de manter as tropas acordadas. Qualquer esforço professoral era improfícuo: as pálpebras pesavam chumbo! As últimas filas do anfiteatro de física eram altamente disputadas, já que permitiam um rebatimento horizontal que ficava desenfiado das vistas do “IN”. Os professores, calejados por muitas recrutas, eram assaz condescendentes. Mas as notas no fim do ano não podiam evitar reflectir a usura causada. Quem sobrevivesse a isto, porém, estaria apto para tudo. Era essa, aliás, a intenção.
Ah é verdade, já me esquecia, no intuito de nos inculcarem preocupações ecológicas (verdadeira antecipação do Exército verde!), de nos plasmarem com a natureza e seus habitantes não primatas, enfiavam-nos num tugúrio, que em tempos tinha servido de antro aos “gloriosos malucos das máquinas voadoras”, convenientemente rebaptizado com o termo monárquico – marialva, de “Picadeiro”.
Nele, aguardava o Zé cadete uma pequena manada de ungulados, ainda por cima bestialmente chateados por os terem afastado da palha. Ao som de “aos seus destinos em frente marche, a cavalo”, um grupo de “baratas tontas”, tentava alçar a perna para cima das alimárias. Ao princípio levava algum tempo a conseguir formar bicha pirilau. Era um autêntico bailado para cadete: quando estes iam para cima vinha, normalmente o bicho para baixo e vice-versa. Ganhou notoriedade nesta especialidade, o infra Cueca.
O instrutor, personagem invariavelmente dotado da mais maviosa voz distribuía, constantemente, conselhos da mais elevada pedagogia, como eram os do pessoal dever guardar os “tomates” numa caixinha; não sair pela garupa do animal sem pedir autorização para desmontar; não se chegar demasiado à frente para evitar que o quadrúpede magoasse a pata quando intentasse algum contacto da sua ferradura com um dos membros do cavaleiro, etc. E tudo isto acompanhado de gestos corteses a que o brandir do chicote se assemelhava à batuta de um maestro!
Eu quero deixar bem claro, que a Equitação (era assim que se chamava àquelas aulas – certamente inspiradas no antigo coliseu romano), provocava um fenómeno interessantíssimo: eram as únicas aulas a que o pessoal ia assistir quando tinha algum furo! Que outra disciplina se pode orgulhar disto?
Na Educação Física e Militar o lema era “braços que nem trancas” (um dos lemas do nosso saudoso professor Vilar Moreira) e “a aplicação militar é linda” (é linda, é linda!); na instrução militar havia fogachada de bala de salva que fervia, não se poupavam joelhos ou cotovelos, nas “quedas na máscara” e não eram permitidas “mulheres grávidas”…
Na Ordem Unida ninguém mexia nem que chovesse picaretas ou passasse um carro puxado por mil pi--- pela boca (juro que não sei como se pode dar instrução, hoje em dia, às fêmeas…).
Jamais poderei esquecer, também, a aula de IMG (instrução militar geral) dada pelo “IN” cuja alcunha era a do Cap. Curado (aquele que só repetia as coisas uma vez), sobre a espingarda Mauser, cujo calibre era de 7,9m/m, repita – 7,9m/m, repita – 7,9m/m…
Com as aulas estabeleceu-se uma rotina: às 07:00L (escuso-me de falar em horas “Zulu”, já que o pessoal do Exército jamais atinará com isso), o homem mais odiado, no momento, soprava no clarim, provocando um choque sonoro nos tímpanos, desmoralizador de qualquer monge beneditino!
Depois a formatura do almoço: 1º, 2º e 3º pelotões prontos; 2ª Companhia pronta, 1ªCompanhia pronta; 1º Batalhão pronto….seguia-se desfile e deglutição.
A educação era primorosa, sendo o objectivo final conseguir que os “Apeninos de porcaria” ali chegados se pudessem vir a sentar à mesa no Palácio de Buckingam, com o à vontade de um príncipe!
Não se poupavam esforços: comer a sopa com a colher ao contrário; engolir 48 croquetes ou apenas uma azeitona (não esquecendo o palito); aguentar firme, uma súbita e catastrófica abundância de especiarias; trocar garrafas de leite vazias por outras cheias, sem o oficial de dia desconfiar; fazer provas de esforço com a ingestão de líquidos que na gíria da Manutenção Militar tomavam o nome de vinho, e mil e um outros exercícios retirados do manual de boas maneiras, eram uma prática diária.
Leiloava-se, ainda, qualquer aracnídeo que aparecesse no prato, no salutar intuito de melhorar a dieta proteica e chegava-se, até, (como nós devíamos estar agradecidos), a simular inícios de incêndio (imediatamente apagados), destinados a testar a capacidade de reacção do “candidatal”.
À noite havia a formatura de recolher. Era assim: o “Senhor aluno” Canelas, com ar muito sério, dizia,”Camarata, firme sê…op (ainda hoje estou para perceber porque é que nenhuma parte da camarata se movia e o infralhão se punha em sentido), “Camarata Pronta!”; feita a meia volta da praxe, a sopeira de dia (aluno de dia), ciciava: “Academia Militar, Amadora, o General Comandante determina e manda publicar”, e seguia-se o Canelas, “Camarata descan….çar,…à vontade”. Prosseguia a sopeira:”Detalhe de serviço, blá, blá, blá, e calava-se. Retomava o Canelas “Camarata, firme sê…op”; era a vez do infra “O Segundo Comandante João de Deus Mendes Quintela, Brigadeiro Piloto Aviador”.
E logo o Canelas (para o oficial de dia) “Dá licença?..., Camarata direita…er, destro…çar!”.
Os que estavam iam estudar, isto é pôr-se em frente ao estirador; os desenfiados seguiam o seu caminho, sempre com aquele sagrado lema que reza assim: todo o militar tem direito ao golpe, mas se for apanhado, lixa-se!
Os arredores da Amadora eram objecto, aliás, de frequentes “RVIS”. Quem é que não se lembra do “Lord Jim” e do “Bagdad”? Havia, no entanto, instruções estritas aos mais novos sobre o modo como se comportarem em público, que eram, de um modo geral, cumpridas. Havia, também, as habituais conivências académicas relativamente aos locais de desfardar e fardar, bem como ao melhor buraco que substituía a Porta D’Armas e, ainda, aquela coisa notável de camaradagem e espírito de corpo, que representava a proibição de se entrar no café Lubélia e que vinha de 1961, por causa de um incidente ocorrido naquela altura (o que era cumprido religiosamente).
De vez em quando era necessário tomar algumas medidas “pedagógicas” face a alguns comportamentos menos amistosos para com as fardas, aquela coesão funcionava às mil maravilhas. Pena foi que não se tivesse mantido pela vida fora, como devia ser timbre.
Por falar em aluno Canelas, lembram-se daquela vez em que o infra Porco-espinho, numa atitude de auto – flagelação, inspirada por um candidato, certamente para desconto dos seus pecados, veio anunciar, durante o silêncio da hora de estudo, que era…pane.….! (já por aqui se pode ver o pioneirismo do curso Alves Roçadas, quando antecipava o assumir actual de diversas figuras públicas da sua condição de pederastas…).
No seu covil, o aluno Canelas (chefe da camarata), soou-lhe mal esta frase e, mandando apresentar o dito cujo, submeteu-o a um processo alquímico, de resultados espantosos e rápidos. Pouco depois o Porco-espinho, qual Egas Moniz, de corda ao pescoço, clamava “eu já não sou pane…..!”.
À medida que o tempo ia passando as aulas iam-se tornando mais difíceis e os horizontes alargando-se a pouco e pouco, por meio de visitas, conferências, convívios, intercâmbios desportivos, actividades circum - escolares, etc. Trabalhava-se uma média de 10-12 horas por dia, isto claro fora as aulas e trabalhos práticos da 1000ª cadeira…
Por exemplo, a Direcção da Arma de Cavalaria ficava altamente agradecida quando lhe aparecia a contagem das porcas do carro de combate que “vigiava” a parada (permitia, desde logo, dispensar o sargento do esquadrão por uns dias e poupar uns garrafões de tinto…); a CHERET muito aprendeu na sua arte de decifração, com as cartas do Mouzinho escritas do fim para o princípio; os alunos mais antigos treinavam-se nas artes do Estado – Maior ao analisarem variadas ementas a cores que iam sendo produzidas a um ritmo diário, bem como outros trabalhos de alto coturno sobre temas variados como “o emprego do arame farpado na pesca do bacalhau”, ou “a importância do morteiro 81, em tiro tenso, na conquista dos pontos de cota mais elevada”, etc.
Os mais modernos treinavam-se nas técnicas das escolas regimentais, contando carneiros debaixo da cama; a engenharia militar deve parte dos seus sucessos na construção de edifícios militares às experiências feitas para se saber quantos infras cabiam dentro do espaço da casa de banho destinado a defecar; finalmente, a escola de limitação de avarias da Armada, muito beneficiou com as sucessivas experiências feitas e que, por qualquer razão estranha, tomaram o nome de “banho japonês”.
O nosso curso, caros camaradas, foi sempre muito aplicado. O exemplo supremo disso deve considerar-se o infra Pedregulho, o qual podia ser visto a altas horas da noite, qual D. Afonso VI, prisioneiro, passeando-se de um lado para o outro, em pijama, nas cagadeiras, de livro na mão, estudando. Ainda lá se deve poder vislumbrar a laje gasta (o rapaz nunca mais recuperou do esforço…).
Estas actividades paralelas, quando bem-feitas, eram um auxiliar precioso do comando e de toda a instrução.
Quando, por ex., a altas horas da madrugada, nos recônditos de uma camarata, um senhor aluno, cujo nome esqueci, perorava aos que ocupavam a posição de “homos érectus por uma aberração da natureza”, se ouviu um soldado gritar “sentinela alerta”, e outro responder “alerta está”, tal foi aproveitado para vincar aos infráticos que uma unidade militar nunca dorme, há sempre alguém de serviço e sempre alguém de vigia. A infralhada estava de rastos, mais morta que viva, mas estas coisas ficavam…
Hoje já quase não há infralhão e, porventura, rareiam aqueles que digam estas coisas e quanto às sentinelas, Vexas concluirão.
As cerimónias oficiais alternavam com as praxes académicas e, na verdade, complementavam-se. Felizmente nunca houve abusos ou exageros, como em várias outras alturas aconteceram. Assim, a Abertura Solene das Aulas, o Dia da Academia, as visitas oficiais, as guardas de honra, a apresentação de um novo comd., etc., alternavam com a apresentação de S. Exª o Marechal de Praxe, o S. Martinho, o Natal e o Carnaval do infra, etc.
Finalmente o Juramento de Bandeira (que, no nosso caso, foi algo escondido, em S. Margarida, ao contrário da tradição da casa), as manobras finais e o “banho infrático”.
Aquelas cerimónias representavam o culminar de uma ano de trabalho, para nós com algum ineditismo, pois fomos presenteados com alguma instrução tipo “comandos” (não fossem alguns dos nossos instrutores daquela especialidade), mas só se perderam as que caíram ao lado. No fim dos exercícios se nos tivessem mandado subir o Himalaia, a malta arrancava para lá.
O banho infrático simbolizava a aceitação da nossa integração plena no Corpo de Alunos por parte de todos os outros e tinha um significado importante, hoje também muito esquecido: é que a antiguidade é um posto e os direitos adquirem-se, não devem ser dados de mão beijada.
O Juramento de Bandeira foi o compromisso assumido para com a Nação e para toda a vida, ao mesmo tempo que passámos a ser um dos deles, sendo “eles” os militares de Terra, Mar e Ar.
Tudo fizemos com sacrifícios e muitos ficaram pelo caminho. Preparávamo-nos para integrar e, mais tarde, vir a comandar umas magníficas Forças Armadas de cerca de 250.000 H, espalhados por quatro continentes e outros tantos mares, que realizavam a campanha militar mais bem sucedida desde os tempos do Senhor D. Afonso de Albuquerque. Passados 40 anos estamos reduzidos a menos de 40000H; três a quatro pequenas unidades no exterior esgotam quase por completo as nossas capacidades. Estamos a entrar em falência técnica e, há muito – mesmo há muito - que deixámos de ser considerados como “os melhores de todos nós”…
Tenho esperança que venhamos a ficar bem piores…
Aliás, o que se pode esperar que aconteça a umas FAs que têm as suas promoções congeladas, sine die, sem qualquer justificação – que, de resto, não é possível existir – e ninguém reage?
É por isso que o nosso curso pretende dar o seu contributo para a resolução da “crise” e, após consideração pelo soberano chanceler do Conselho Majestático das Ordens e Veneras do Curso Alves Roçadas, Exº infra Doninha Fedorenta, devidamente acolitado pelo Vice-chanceler, EXº infra Maconde, decidiu por unanimidade – após engalfinhamento violento, físico e verbal, atribuir pelos (des) serviços prestados, aos DRs Teixeirinha dos Santos e Santinhos Silva, a medalha da merda de 1ª classe, sem palma, (feita com as mais finas merdas e odoríficos dejectos), destinada a galardoar os cidadãos que mais porcaria causam com os seus ditos e obras;
E, ainda, condecorar os DRs. Carlinhos Gaspar e Aguiar Branquinho, com a ordem paisana da tristíssima figura, do caga agora, tira e põe – grau peonagem – (fabricada com os mais escolhidos despojos das estrumeiras a céu aberto), destinada a premiar os cidadãos que inventam, ou propõem coisas que não lembrariam ao Estado-Maior. (Vai autenticado com o selo branco).
Peço a vossa indulgência por ter feito este parêntesis mais sério. Mas 40 anos são, também, uma data séria: se, por um lado, nos dá alguns pergaminhos, por outro, acrescenta-nos responsabilidades.
A engrenagem das organizações costuma triturar os mais fortes ideais e a roda da vida provoca um grande desgaste, que aos 18 anos não se suspeita.
O que conseguirmos deixar aos vindouros será fruto do modo como conseguirmos ultrapassar o atrás citado e o que nos restar de força anímica depois disso.
Faltam 10 anos para os 50.
Fica a promessa de vos vir ler novamente este texto, e de gritar agora e sempre
“Academia, Academia, Academia ………………Militar”.
“Academia, Academia, Academia ………………Militar”.
João J. Brandão Ferreira
TCorPilAv (Ref.)
(Das mui antigas, nobres, por vezes gloriosas, mas… quase extintas FAs Portuguesas)
Fotos cortesia da Academia Militar
Fotos cortesia da Academia Militar
2 comentários:
Meu caro Brandão.
Cá está o chato do Talhinhas outra vez, estás tu a pensar para com os teus botões.
É verdade, cá estou eu para te chatear, mas desta vez não nos separa a ideologia, são outros motivos que me trazem aqui, e que são motivados pelo teu discurso que aqui publicas, e que passo a comentar.
Gostei do teu discurso, tu até tens alguma piada quando escreves, mas escrever com humor não é para todos, porque não basta ser engraçado, é preciso saber ser engraçado sem ferir susceptibilidades.
A determinado passo da tua rábula escreves o seguinte:
Por exemplo, a Direcção da Arma de Cavalaria ficava altamente agradecida quando lhe aparecia a contagem das porcas do carro de combate que “vigiava” a parada (permitia, desde logo, dispensar o sargento do esquadrão por uns dias e poupar uns garrafões de tinto…)
Não sei se foi por pudor que colocas-te entre parentes essa alusão aos garrafões de vinho, que seriam certamente bebidos pelo sargento de cavalaria que teria por missão contar as porcas do carro de combate.
Estas alusões à classe de sargentos vinda da boca dos oficial fizeram escola nas nossas forças armadas no tempo do Conde de Lipe, mas foram abolidas do léxico militar no decurso das guerras de África quando os senhores oficiais perceberam que os nossos sargentos eram seus iguais no trabalho e na bravura.
Agora estás tu novamente a pensar para com os teus botões, este gajo ainda não se esqueceu que foi sargento...É verdade meu caro Brandão, não esqueci que fui sargento e nunca me envergonhei do ter sido.
Quando entrei contigo para a Academia Militar já tinha seis anos de sargento e uma comissão em Moçambique no distrito do Niassa.
Fiz a Academia como cadete, porque na Academia não podia ser sargento aluno, mas em West Point um sargento aluno nunca perde a sua condição de sargento enquanto aluno, claro que a América não serve de exemplo para ninguém, ainda são do terceiro mundo.
Mas outro motivo pelo qual não me esqueço que fui sargento, prende-se com os cursos que pude frequentar na Academia.
Se bem te lembras concorri a piloto da Força Aérea, e salvo erro de mais de uma dezena de concorrentes fomos seleccionados quatro ou cinco, os restantes não foram admitidos pelas mais variadas razões. Ainda me lembro que no final das provas de selecção me deram os parabéns e as boas vindas ao curso de pilotagem.
Mas lembro-me ainda melhor que numa tarde, vésperas de partir-mos para Santa Margarida, me chamarem à Direcção de Instrução e me darem a triste notícia de que não podia ser oficial piloto da Força Aérea, perguntei porquê, se tinha passado em todas as provas de selecção...a resposta foi esta, você não pode ser piloto porque é oriundo de sargento do Exército.
Se bem te lembras, fomos três os sargentos que no teu ano entraram contigo na A. M. e todos eles passaram para o segundo ano sem a "água benta" que pela primeira vez na história da A.M. espargiram sobre os alunos do primeiro ano das Armas, porque só passaram verdadeiramente nove, um terço eram sargentos, perdão, cadetes oriundos de sargentos.
Para terminar, até porque não quero ser chato, quero pedir-te para que daqui a dez anos quando voltares a ler este discurso, pega no corrector e apaga o que está entre parentes, eu já lá não devo estar para te ouvir, mas faz-me esse favor.
E não te esqueças que todos bebem, mas só alguns têm a fama.
Recebe um abraço amigo do
Manuel J.M. Talhinhas
Meu Caro Sr. Brandão:
Sou um dos que lhe segue as pisadas desde há muito. Considero seus pensamentos muito correctos e pejados de valores que há muito perdemos e que seria mister conservar para bem dos portugueses e do país, que parece amar tal como eu. Li com muita satisfação todas as peripécias desenroladas inerentes à formação académica e militar que os senhores Oficiais tiveram de ser submetidos para os lados da minha terra. O Oficial é a pedra de toque e de charneira de qualquer Instituição Militar, e quem por lá andou percebe que a coisa tem de viver muito de rituais próprios. Percebe-se e é salutar que assim seja. O perigo estará presente, quando se sublimam todos esses procedimentos elevando-os a um narcisismo bacoco, fazendo seus intervenientes viverem realidades fantasiosas, que os enganam para a vida futura. Quem comanda efectivamente um regimento? Um comandante verdadeiro sabe-o. Esse na verdade, acredito que comande, há outros que unicamente mandam, enquanto os que o rodeiam o convencem ser ele o líder.
Um comandante que é lider efectivo dos seus homens, sabe quem lhe põe a Unidade a funcionar, mesmo que também beba uns copos. Se me for permitido ainda e sem molestar um pouco que seja o respeito que me merece o autor deste bolg, pelas tradicionais posturas que lhe conheço desde o Adamastor do Correio da Manhã, vou fazer uma transcrição de um dos poucos livros que falam da Organização interna dos quartéis no passado. Dou o exemplo do passado porque do presente conheci e conheço bem.
"Como anteriormente nas guerras da Restauração, a grande carência é de oficiais, já que ao tempo os soldados portugueses eram dos melhores do mundo e os oficiais inferiores,(os sargentos)de há muito que assumiam a responsabilidade pela otrganização interna dos quartéis, do decoro militar, preparação, como se fossem os próprios coronéis do regimentos." Este excerto é referente à constatação que oficiais estrangeiros fizeram da organização do nosso exército aquando da sua restruturação no século XVIII.(in Os sargentos na História de Portugal, pág36, Editorial Notícias)
Estou convencido que estes elementos, não poderiam derreter garrafões assim, nem tão pouco actualmente, para colocar todos os nossos gloriosos pilotos com os seus aviões no ar.
Até Sempre
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