sábado, 12 de novembro de 2011

A IMPORTÂNCIA DE EXISTIR UMA ACADEMIA AERO-ESPACIAL

“A toupeira não pode ter do mundo a mesma visão da águia”
Séneca

Apesar da sabedoria popular afirmar que “ninguém é bom juiz em causa própria”, não hesito em considerar esta ideia boa, pertinente e urgente.

A “causa do Ar/Espaço” está mal arrumada e dispersa na sociedade portuguesa e nunca ninguém lhe deu uma visão de conjunto. Não existe uma ideia consolidada do “Poder Aeroespacial” nos meios políticos, académicos, científicos e empresariais da Nação e a grande maioria da população tem destas coisas uma ideia pouco mais do que vaga.

Eis pois os fundamentos, área de acção e âmbito de uma futura Academia Aeroespacial (AA).

A Armada anda, neste âmbito, muito mais à frente do que outros, já que dispõe de uma Academia de Marinha, desde 1978, mas que tem origem, em 1969, no “Grupo de Estudos de História Marítima”, criado pelo Almirante Sarmento Rodrigues.

Sem ter que andar a “inventar a pólvora” a Futura AA poderia, facilmente, ser organizada em moldes semelhantes à Academia de Marinha, isto é (resumidamente):

Depender do Chefe do Estado Maior da Força Aérea (em Portugal é muito difícil um organismo deste tipo sobreviver sem apoios de entidades já existentes);

Ter na sua estrutura dirigente oficiais na reserva ou reforma, bem como outros membros civis de reconhecida idoneidade;

Estar instalada em unidade militar;

Estar aberta a membros do meio científico, académico e profissional, de algum modo ligado às actividades aeroespaciais, quer civis ou militares;

Ser alargada a membros correspondentes estrangeiros;

O acesso a membro estar condicionado a um número condicionado de vagas e regras definidas.

Apesar da aviação civil ser anterior à militar (o Aeroclube de Portugal foi fundado em 1909, enquanto a Aeronáutica Militar só foi fundada por lei de 1914), e de hoje em dia haver um conjunto de empresas de aviação comercial e outras associadas, aeroclubes, escolas de aviação, etc., cuja actividade e importância correm a par com a Força Aérea, sou de opinião de que a AA deve ficar inserida no seio desta. Não por qualquer espírito corporativo, mas por pensar que o Ramo militar tem maior capacidade para organizar e manter um órgão deste tipo e, sobretudo, por estar vocacionado para, no âmbito da ciência da Estratégia, fazer o estudo integrado do “Poder Nacional” de que o vector aeroespacial representa uma importante fatia. Ora as entidades civis, com o devido respeito, estão muito longe de reunirem o conhecimento e a motivação para tratarem este tema.

A AA constituir-se-ia, deste modo, numa academia de saber em que todos os assuntos relacionados com o Ar e o Espaço pudessem ser estudados, comentados e divulgados; um centro de reflexão estratégica sobre o poder aeroespacial e um repositório de conhecimento que poderia ser útil não só às Forças Armadas, como à sociedade civil e ao Estado.

A sua estrutura seria simples: uma presidência (direcção), uma secretaria, um órgão de apoio técnico, uma assembleia de académicos e um conselho científico.

Como órgãos de execução haveria secções de estudo, a começar por uma de História e outra de Tecnologia e, à medida que da sua consolidação, ir-se-iam constituir outras secções relacionadas com todas as matérias relevantes no âmbito aeroespacial: meteorologia, medicina, tráfego aéreo, estratégia, direito/legislação, aeródromos, etc. A partir daqui é todo um mundo que se abre.

Como particularidade, defendo que a AA deveria albergar também, ressuscitando-o, o “Cenáculo dos Carcaças”, um “clube/tertúlia” nascido, em 8 de Fevereiro de 1956, e que reunia, na altura, todos os pilotos do activo com 20 anos de brevet. Tal “cenáculo” deixou de existir a seguir à Revolução de Abril, sem que para tal houvesse alguma razão ponderosa.

Quanto às instalações propomos a Base Aérea 1, em Sintra, nomeadamente aproveitando as antigas instalações do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea. Existe espaço, bibliotecas, messes, anfiteatros, bons acessos e amplo parqueamento, pessoal e outras estruturas de apoio.

Está-se lado a lado com a Academia da Força Aérea com as suas multi-capacidades, nomeadamente os laboratórios e capacidade de investigação. Além de que não é despiciendo poder-se contar com todo o seu corpo docente e discente a quem a maioria das actividades a desenvolver, certamente interessará.

Nas instalações da base existe ainda o novo Museu do Ar, transferido de Alverca e remodelado, e a que se teve a boa ideia de incluir, em espaços separados, mas contíguos, os museus da TAP e da ANA.

Numa palavra, trata-se de um espaço alargado onde se vive e se respira uma atmosfera aeronáutica!

Como alternativa pode ainda considerar-se as instalações do Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide, que têm a vantagem de estar mais perto e Lisboa.

Cada realização tem um início, um começo, nasce com uma ideia; senão for agora, alguém que a corporize mais tarde.

Os tempos de crise não podem ser desculpa para a inacção. São tempos propícios à revelação de líderes; tempos para arregaçar as mangas e ultrapassar obstáculos; tempos, ainda, em que não havendo meios para expandir – ou sequer manter – as actividades aeroespaciais existentes, sejam elas quais forem, são tempos propícios ao estudo e reflexão do porvir, de exaltação e lembrança de feitos passados e de correcção de erros de percurso.

Para tal nada melhor, para o âmbito em questão, do que uma AA que, sem embargo de não possuir poderes executivos, pode ter a mais-valia de ajudar a colocar os problemas em perspectiva.

A AA não é uma duplicação de esforços, nem tira/ocupa o lugar de ninguém. Será uma “ferramenta”útil aos diferentes actores da causa do Ar e do Espaço, que em breve se transformaria numa verdadeira instituição.

A Defesa e Segurança é uma preocupação e exigência de sempre, sem a qual o desenvolvimento não é possível; a Aviação Comercial e as empresas de trabalho aéreo representam um sector muito importante do desenvolvimento económico e uma mais-valia social; o Espaço é uma das fronteiras do futuro, à qual não podemos ficar indiferentes, ou afastados.

Portugal tem muitos talentos e gente capaz, mas andam normalmente dispersos e o seu esforço não resulta, por norma, complementar, quando não se zangam ou antagonizam.

Os tempos (qualquer tempo), não se coadunam com semelhante estado de coisas. Há que harmonizar e dar corpo às boas ideias e intenções.

Aqui fica a ideia; aqui deixo o repto.

1 comentário:

Eurico Ribeiro disse...

Apenas para referir que seria melhor que essa instiuição possa ser conhecida por AAE e não AA, que se confunde com outra entidade bem conhecida...