OLIVENÇA, MEMBRO
DA UCCLA [1]
20/3/19
“Nós
consideramos o cidadão que se mostra estranho ou indiferente à política como um
inútil à Sociedade e à República”.
Péricles, “Oração de Péricles”, 430
AC
No
pretérito dia 19 de Fevereiro realizou-se na sede da UCCLA, em Lisboa, a
cerimónia de adesão da vila portuguesa de Olivença, àquela organização.
O
evento teve, infelizmente, pouca repercussão na comunicação social.
Existe
aqui uma incongruência e uma aparente incongruência.
A
primeira tem a ver com o facto de se incluir nesta organização, uma localidade
que jurídica e politicamente é portuguesa, estando debaixo de administração do
Estado Espanhol, o que configura uma situação de usurpação de soberania; a
segunda porque a sigla “UCCLA” se refere apenas a “capitais de língua
portuguesa”, inclui agora uma cidade que não o é. A não ser que se considere
Olivença como capital dos 430,1 km2 que constituem o seu termo…
A
primeira realidade foi escamoteada em toda a cerimónia referida, como se nada
se passasse e talvez tal seja essa a justificação para que o “Grupo dos Amigos
de Olivença” (que desde 1938 luta pelo retrocesso de Olivença à sua Pátria)
tenha sido ignorado tanto nos convites, como em qualquer referência. [2]
A
segunda questão encontra a sua justificação no alargamento entretanto feito,
pela Direcção da UCCLA, na porta estreita da admissão, resultando que já
existem 23 membros efectivos; 27 associados e cinco observadores. Tudo
localidades de alguma forma ligadas à Lusofonia. É assim a modos que
equivalente à adesão da Guiné Equatorial à CPLP…
Sem
embargo, ressalvando os aspectos atrás referidos temos que considerar a adesão
de Olivença, à UCCLA, como positiva.
Estiveram
presentes, entre outros, o Secretário-Geral da UCCLA, Dr. Vítor Ramalho; o
Presidente da Câmara de Olivença, Manuel J. González Andrade; do Director da
Associação de Desenvolvimento da Comarca de Olivença, Joaquim Fuentes, do
Presidente do Movimento 2014-800 anos da Língua Portuguesa, Dr. Ribeiro e
Castro (pessoa que tomou um especial interesse sobre Olivença, após presidir à Comissão
Parlamentar dos Negócios Estrangeiros da Assembleia da República); do
Embaixador de Cabo Verde (país que agora preside à CPLP), Dr. Eurico Monteiro;
o Dr. André Magrinho, da Fundação A.I.P.; a Dr.ª Lídia Monteiro, do Instituto
de Turismo de Portugal; o Dr. Fernando Quintas da Agência de Comércio e Turismo
de Portugal; e alguns empresários da agora cidade de Olivença, dois dos quais
participaram como oradores, num total de cerca de 50 pessoas.
E
o que se pode dizer é justamente que esta inclusão de Olivença na UCCLA visa,
essencialmente, objectivos económicos de âmbito comercial, turístico,
industrial ou outros, o que se compreende.
Olivença
(não Olivenza) está situada numa das zonas mais pobres da Península e algo
isolada. Necessita investimento e saídas para os seus produtos e entradas para os
de outrem.
Dada a sua especificidade cultural
e linguística – esteve debaixo da soberania plena de Portugal entre 1297 e 1801
– tem lógica a sua pretendida abertura aos países da CPLP (Comunidade dos Países
de Língua Oficial Portuguesa) onde, de resto, o Estado Espanhol nos quer
substituir. Daí necessitar dos portos portugueses, sobretudo o de Sines.
Deste
modo todos os discursos andaram neste tom sobretudo o das autoridades
oliventinas, estando o lema escolhido em sintonia: “De Olivença vê-se o Mar”.
Leia-se,
vê-se o mar através da terra portuguesa…[3]
Já
quanto ao turismo, espera-se que o fomento do mesmo seja feito segundo a
fórmula já usada”vá para fora cá dentro”, até porque como se sabe – embora
convenientemente omitido – os marcos da fronteira entre o rio Caia e o rio
Guadiana e a confluência da ribeira de cucos com o mesmo Guadiana, estejam
interrompidos.
Algo
que não deve esquecer ao Instituto de Turismo Português.
Bem
como ao Dr. Vítor Ramalho que, numa de “paz e amor”, resolveu a certa altura
afirmar, que já não há fronteiras. Engano seu, para além da fronteira “física”
(da soberania), que ninguém aboliu, existem as fronteiras da segurança, dos
interesses, das vulnerabilidades e até a fronteira global (tem a ver com as
agressões ao meio ambiente, por ex.) e a da solidariedade, etc..
As
“fronteiras” multiplicaram-se, não se reduziram…
E
não deixa de ser curioso verificar que tudo o que foi apresentado no filme
turístico sobre Olivença é português, tirando a tourada que passou a “fiesta”!
Tudo
o resto foram palavras de circunstância (só o Dr. Ribeiro e Castro aflorou o
contencioso político existente) numa cerimónia “curiosamente” liderada pelo
Oliventino Sr. Eduardo Machado membro e grande entusiasta da Associação
Além-Guadiana (que persegue objectivos ligados à herança cultural portuguesa em
Olivença), e que na qualidade de “elemento” da câmara daquela cidade
(alentejana), assumiu a função de “mestre – de - cerimónias”.
Esperemos
por bons augúrios e realizações desta adesão à UCCLA. Nunca esquecendo porém,
que Olivença é terra portuguesa!
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto-Aviador (Ref.)
[1] União das Cidades Capitais
de Língua Portuguesa. Foi fundada em Lisboa, em 28 de unho de 1985, por
iniciativa do então Presidente da Camara de Lisboa, Dr. Nuno Krus Abecassis;
juntou, além de Lisboa, as cidades de Bissau, Luanda, Macau, Maputo, Praia, Rio
de aneiro e São Tomé/Água Grande. É uma Associação Intermunicipal Internacional
focada em projectos de cooperação na área das empresas, imigração, cultura,
promoção da língua portuguesa e questões urbanas.
[2] Grupo de Amigos de
Olivença que tem sido, até hoje, o “núcleo duro” que luta pela Portugalidade e
soberania sobre Olivença, mais do que qualquer governo.
[3] Como alias, já era assim,
desde que o então frei Henrique Soares de Coimbra – que celebrou a primeira
misa no Brasil – foi nomeado bispo de Ceuta e Primaz da África, em 1506, e fez
de Olivença a sede do seu bispado, onde veio a falecer, em 1532.
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