ALGUMAS REFLEXÕES
A PROPÓSITO DO DIA DA ACADEMIA MILITAR
01/03/19
“Nenhuma coisa
desta vida humana é tão aproveitável
aos viventes que a lembrança e memória dos bens e
males passados para do mal nos guardarmos, regendo
a vida para nele não cairmos segundo os bons fizeram”
Gaspar Correia (in, “Lendas da India”).
O
Senhor Ministro da Defesa – que espero esteja melhor preparado para o lugar que
os seus anteriores; idem para a jovem Secretária de Estado e diplomático Chefe
de Gabinete (qualquer dia não haverá um único militar no MDN…) – resolveu, no
seu afã de conhecer o que resta das tropas, ir presentear a Academia Militar
(AM), com a sua presença, na comemoração do seu dia festivo, 12 de Janeiro, [1].
Convindo nestas coisas, começar as
cerimónias militares a horas - coisa a que os civis são relapsos - lá se fez a
cerimónia quase ao pôr-do-sol, havendo apenas a destacar, das generalidades e
culatras a que estamos habituados a ouvir das bochechas ministeriais, que o
actual inquilino do 7º piso do antigo Ministério do Ultramar, está preocupado
com o facto de só 10% do Corpo de Alunos ser composto por mulheres!
Será que estará também preocupado
com o facto da grande maioria dos alunos das escolas de enfermagem serem
mulheres? Deve-se aumentar a quota para homens? E no seu ministério (MNE), já
reparou na necessidade de lá meter elementos do sexo feminino e aumentar a
quota de heterossexuais, para cujo casamento ainda não foram disponibilizadas
instalações de uma embaixada?
Com
tanto problema que aquela casa (AM) tem - e como a “mais que tudo do Exército”
devia ser um “brinco”- o senhor ministro está preocupado com a falta de fêmeas
intramuros no antigo Paço da Bemposta!
Que
quer que o Exército e a GNR façam? Que vão para o Rossio fazer propaganda boca
a boca? E para o ano vai exigir quotas para monhés, pretinhos, muçulmanos,
transexuais e parafernália diversa?
Quando é que aprendem a respeitar
os desejos do cidadão e a deixarem de querer obrigar a sociedade a seguir
modelos saídos de ideias subversivas oriundas de “escolas” de engenharia
social?
Se
eu fosse a si estava era preocupado em resolver o gravíssimo problema da falta
de efectivos existentes, sobretudo em praças, que para a Academia toda
(instalações de Lisboa e Amadora), só resta (va) m 46!
Mas
não, o senhor ministro está preocupado, diz ele, por haver poucas mulheres a
quererem ser oficiais do Exército e da GNR.
E
se eu lhe disser que são demais, acredita? Pense nisso.
Da próxima vez dê um salto ao
aquartelamento da Amadora, onde dará conta da existência de instalações
desportivas, em pleno século XXI, ainda a funcionar em antigos hangares da
antiquíssima Esquadrilha de Aviação República, criada em 1919 (e que bem merece
uma comemoração a condizer, este ano, a assinalar os 100 anos da sua
fundação…)!
E se lá for, provavelmente
encontrará à “Porta D’Armas” (que passará a chamar-se qualquer coisa como
“portaria”), não um militar, mas um “colaborador” (parece que agora é assim que
se diz) de uma empresa de segurança.
Ou talvez até, um militar da GNR,
porque não? Não são já eles ou a PSP, que escoltam os transportes de armamento
e munições, de um local para outro, e autorizam as licenças de porte de armas
aos militares?
O estado de humilhação a que os
políticos contemporâneos sujeitaram as Forças Armadas e a Instituição Militar,
não tem paralelo em toda a História Nacional. E representa bem o preço que
ainda está a ser pago, pelas consequências do mal gizado golpe de estado, em
25/4/74.
O Senhor Ministro faria bem,
outrossim, em passar os olhos pelas sucessivas reformas do enino militar (e
ainda muito se tem conseguido preservar) para ajuizar o que a “invasão” do
“ensino civil” tem causado no “ensino militar”.
É que, qualquer dia, iremos ter
muitos oficiais e sargentos mestres e doutores, mas não vamos ter ninguém que
saiba dar um tiro, ou leve alguém atrás a fazê-lo.
Já ponderou, outrossim, em
reverter o sistema de promoções ao estádio em que estavam antes de uma tal de “Tróica”
ter vindo cá impor as suas draconianas medidas, que não soubemos evitar?
É que o que fizeram foi dar uma
facada monumental nas carreiras de oficiais e sargentos; mudarem regras a meio
do campeonato; retirarem a competência da gestão de pessoal dos Ramos para o
MDN e para um secretário qualquer do Ministério das Finanças; fazerem
engenharias financeiras; encostarem as promoções, a seu belo prazer, para o fim
de cada ano (sem direito a retroactivos), etc., anarquizando o sistema e
tornando-o um funil a conta - gotas.
E não deixa de ser “curioso”
verificar, que em tempos apodados de “Ditadura”, “obscurantismo”, até
“Fascismo”, umas poucas centenas de oficiais se revoltaram, por uma decisão
muito menos gravosa (que tentava resolver um problema muito grave de falta de
oficiais, num país em guerra), do que aquilo que agora se passa há poucos anos;
e presentemente, em tempos “luminosos”, de “Liberdade”, e “Estado de Direito
Democrático”, se tenha enveredado, de um dia para o outro, por decisões muito
mais gravosas para a vida profissional dos militares do Quadro Permanente e nem
um protesto, se tenha entreouvido.
Será que a contagem de tempo de
serviço dos professores é mais grave do que isto?
O senhor ministro e o governo
estarão à espera que os militares se filiem na Intersindical para resolver o
assunto?
Compreendo: senhor ministro em
vez de estar preocupado com a demografia suicida em que estamos (e que é um
aspecto relevantíssimo para a Defesa Nacional, em lato senso, como deve ser
entendida), está preocupado é que as mulheres portuguesas preferem defender a
Pátria na retaguarda, em vez de na linha da frente!
Tão pouco parece preocupado com
o cumprimento da Lei de Programação Militar, como se viu pela aprovação da
última revisão; em que até hoje nenhuma esteve sequer perto de ser cumprida;
onde os ministros das finanças (não é só o actual) exercem largamente a “arte”
das cativações e quando chega o momento da sua revisão e /ou actualização, tal
significa, invariavelmente, cortes; programas que se não cumprem; ou são
abandonados a meio, com graves danos financeiros (neste âmbito, é de justiça
dizer que o Exército é, por norma, o mais sacrificado).
O que invariavelmente, também,
é sempre apresentado, como tendo sido necessário, racional, adequado à
“situação” do país e, obviamente, não pondo em causa o cumprimento das missões
atribuídas.
Convenhamos que nem o melhor
alquimista da Idade Média seria capaz de fazer melhor!
Finalmente – não por estarmos
esgotados de assunto, mas porque a prosa já vai longa – uma pequena referência
ao facto do até há pouco tempo Chefe de Estado Maior da Força Aérea, não ter
sido reconduzido, quando tudo apontava para decisão contrária. Não vamos
dissecar as razões que eventualmente a tal levaram, por não terem interesse
público relevante. Mas seria seguramente oportuno refletir na vantagem em que
as chefias dos Ramos e CEMGFA, tivessem um prazo de três anos não renovável.
Se mais nenhuma vantagem houvesse, teria
seguramente aquela de retirar esse constrangimento, na actuação da maioria dos
oficiais postos em tais funções.
E por aqui me fico.
Pense, pois, Sr. Ministro no
que é importante e esteja de boa mente para resolver os gravíssimos problemas
por que passam as Forças Armadas, ao contrário do que tem sido regra no
passado, que já não é recente.
Parafraseando o General Gomes da Costa, que
sendo um excelente militar e homem culto, não tinha jeitinho nenhum para a
política, mas não as cortava, “terá V. Exª o coração no seu lugar para
desempenhar tal função? É o que resta ver.”[2]
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
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