quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O “FALCÃO” GENERAL CARLOS GROMICHO, PARTIU PARA O SEU DERRADEIRO VOO.

Junto texto evocativo sobre o Tenente General Piloto Aviador Carlos Gromicho, meu camarada e amigo, que ilustrou a terra que o viu nascer e serviu com distinção a Força Aérea e a Instituição Militar Portuguesa. Na data do seu Passamento 13/9/21.
    Brandão F. 



14/9/21

“A toupeira não pode ter do mundo, a mesma visão da águia.”

                                      Séneca

Eu gostava muito do Carlos Gromicho.

Creio até que alguém bem formado, não pudesse deixar de gostar dele.

O meu camarada e amigo Gromicho – e espero que entendam que estes atributos não macularão a objectividade da minha fala – foi dos melhores oficiais que conheci até hoje, e com isto não estou a querer desmerecer ninguém. E foi-o nas suas vertentes humana, militar, de aviador, operacional e técnica.

Não vou, porém, falar da sua carreira, pois isso pode ser visto em qualquer seco e frio “curriculum vitae”. Mas quero falar dele próprio.

O jovem e depois maduro, Carlos Gromicho tinha uma apresentação distinta, sóbria e educada.

Era um profissional de mão cheia, imbuído do espírito de um verdadeiro piloto militar.

Não era, como sói dizer-se, um “gajo porreiro” (de que está o inferno cheio), nem se ria muito - não sendo, todavia, desprovido de humor – mas interessava-lhe mais os critérios de justiça como base de actuação e o “bem - fazer”!

Não adulava, não se punha em bicos dos pés, era humilde e discreto, mas tinha a verticalidade e o carácter suficiente, para pensar o que dizia; dizer o que pensava e actuar em conformidade.

O Carlos Gromicho serviu sempre e nunca se serviu. Não intrigava e não se lhe conheciam vícios. A sua Alma era limpa.

O General Carlos Gromicho era uma pessoa impoluta e briosa e levava a sério o cumprimento da Missão.

Fomos formados como “caçadores” na mesma esquadra e depois fizemos juntos, o curso de instrutores de T-37C. E não foi por acaso que a vida profissional do Gromicho esteve muito tempo ligada à instrução; era-lhe reconhecido dotes formativos e exemplo para a função. Sempre apreciei a sua serenidade e bom senso.

Conversávamos muitas vezes sobre os problemas da Força Aérea e outros, com a emotividade que só o gosto das grandes causas provoca.

E tenho pena de durante toda a vida e suas contingências, não tenha privado mais com ele.

Vai ser uma das lacunas de que já me lamento.

O estoicismo como encarou e lutou contra as várias doenças que o “atacaram” é, também, digno de realce e uma luz para quem, como todos nós, terá que continuar a enfrentar os mistérios da vida.

O Carlos Gromicho era ainda um homem de família e amigo do seu amigo. Por isso endereço os meus respeitos à sua mulher Nilda e aos seus filhos Marta e Tiago e demais familiares.

Antevejo o sentimento de perda, mas quero retemperá-lo com a satisfação no orgulho da sua memória.

E a Força Aérea também se deve orgulhar por ter formado e tido no seu seio um oficial de tal gabarito, que chegou ao topo da hierarquia por mérito próprio e sempre fez jus ao respectivo lema “Ex Mero Motu”.

As cerimónias de homenagem aos mortos são sempre muito mais viradas para os vivos. Por isso vos quero deixar o exemplo deste mui caro e raro compatriota, que ora nos deixou descolando para o seu último voo.

Que Nossa Senhora do Ar, Padroeira dos Aviadores, o conduza até à Casa do Pai, através da sua virtuosa benfeitoria.

 

                                João José Brandão Ferreira

                                Oficial Piloto Aviador (Ref.)

                             Comandante de Linha Aérea (Ref.)

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