A
DIRECTIVA DO MDN SOBRE LINGUAGEM NÃO DISCRIMINATÓRIA[1]
3/10/2020
“A esposa não está satisfeita com a distância que há entre eles e
lembra:
- Quando éramos jovens, costumavas dar-me a mão, na cama.
Ele hesita e depois de um breve momento, estica o braço e dá-lhe a
mão. Ela não se dá por
satisfeita.
- Quando éramos jovens, costumavas ficar bem encostadinho a
mim…
Resmungando um pouco, ele vira o corpo com
dificuldade e acon-
chega-se junto a ela, da melhor maneira possível.
Ela insiste:
- Quando éramos
jovens, costumavas dar dentadinhas na minha
orelha…
Ele solta um longo suspiro, afasta os cobertores para o lado e sai da
cama. Ela ofendida grita:
- Aonde vais?
- Buscar a dentadura!
(Isto sim,
é linguagem inclusiva…)
Vamos ver se
consigo escrever algo com serenidade, o que não é fácil dado o conteúdo (e
intenção) da “directiva” supra, que representa uma total gozação e humilhação
das Forças Armadas (FA), da Instituição Militar (IM) e dos militares. Uma
infâmia e um insulto.[2]
Aliás não há
adjectivos (depreciativos) e palavrões na rica língua de Camões que possam
classificar devidamente esta obscenidade e os seus autores, cujo responsável
maior é o Ministro da Defesa (MDA), uma figura absolutamente deslocada,
impreparada, ignorante e com falta de senso para a função que ora exerce. Que
exerce como se tratasse de um frete.
Se tivéssemos um Presidente
da República que exercesse o seu cargo com a dignidade que o mesmo requer, em
vez de andar diariamente a dar lustro ao seu ego incomensurável, o lugar de MDN
estaria hoje vago, por demissão do actual, face à sua indecente e má figura.
Esta “directiva”,
cujo destino irá ser o caixote do lixo, nem é a pior de todas as recém - saídas
– aquela que denomino de “bufanço” (Despacho nº 35 do corrente ano), é bem mais
grave, por ex. – mas tem sido a que mais indignação tem gerado. Nomeadamente de
civis de diversas áreas da vida nacional. Deve ser pelos erros acumulados ao
longo do tempo…
A “directiva” – que
nem me atrevi a ler na sua totalidade pois a agonia começou a ameaçar o vómito
– intenta regular (“orientar”) a linguagem na vida militar, dando indicação das
expressões e termos que se devem usar em contraponto às que serão “censuradas”
de proferir, isto no âmbito da igualdade de género, da inclusão e afins.
Ou seja um grupo,
já identificado, de adiantados mentais, que nunca saíram de trás de uma
secretária ou têm qualquer experiência militar (pelo menos de algum relevo) e
da idiossincrasia das suas missões e que nem sequer podem alegar cultura
livresca, arroga-se o despautério de evacuar “postas de pescada”, sobre
assuntos e práticas que vão completamente à revelia da “praxis”, doutrina,
princípios, tradições, objectivos, tudo, da IM, querendo ditar de cátedra. Da
cátedra de que Orwell nos avisou há muito…
E, claro, sem
qualquer auscultação à hierarquia (pelo menos que se saiba)!
A Directiva, assim
se chama o documento, não determina, afinal; orienta, recomenda, dispõe,
exemplifica, o que deve ser a nova postura verbal e escrita na comunicação
institucional – lá virá o dia em que tentarão fazer o mesmo com os meneios
corporais das tropas…
Eu que estou na
reforma desobedecerei abundantemente e se estivesse no activo, havia de lhes
esfregar com o papiro nas trombas.
Esta gentalha, que
não merece o menor respeito, necessita de ser contemplada com uma boiada, à
velha maneira castrense. E ser desprezada.
Conseguem ainda
ser tão infelizes e ignaros que chamam directiva a uma coisa que não é
impositiva e que supostamente intenta “orientar” (mas apelidam de
estruturante…). Será que aprenderam português?
A “directiva” vem
assinada por um obscuro funcionário do MDN (provavelmente saído de uma alfurja
partidária), que exerce as funções de Secretário-Geral do ministério. E que tem
a desfaçatez de enviar semelhante aberração para o CEMGFA e Chefes dos Ramos,
para acção, sem sequer ter o cuidado de colocar o usual “encarrega-me S. Exª o
MDN de enviar…”, o que torna a “directiva” formalmente ilegal pois os chefes
militares não estão na dependência hierárquica (cabe perguntar, até quando…) do
dito Secretário. E, ao que parece, tal personagem está longe de ser o principal
responsável pela trampa, digo, trama.
O que desobriga,
desde logo, os generais-chefes de a cumprirem ou fazerem cumprir. Mas a
“directiva” não é ilegal só por isto (além de ética e moralmente condenável),
deve ser também ilegal pela substância, por ser subversiva, estúpida,
inconveniente, aberrante e insultuosa.
Por isso, ao
contrário do que é costume português fazer nestes casos, que é o de sub-repticiamente
a deixar cair no esquecimento, só há uma atitude que as chefias militares – todos
eles – de preferência acompanhados de todos os oficiais generais dos Conselhos
Superiores dos Ramos, virem pública e veementemente repudiar, não só a
“directiva” como tudo aquilo que a ela conduziu. Devem ainda erradicar de vez o
grupo de trabalho chefiado por uma Tenente Coronel (ou será coronela?) para
essa coisa mal cheirosa da igualdade de género, de que já não se pode ouvir
falar! Bem com assim mandar apresentar o infeliz Tenente Coronel que foi
nomeado (e se presta à infâmia) para ser uma espécie de comissário político
para o género (mais uma vez), junto à unidade que está a ser preparada para ir
para a República Centro Africana!
Também ignoro como
é que alguém com um mínimo de formação militar pode admitir uma coisa destas!
Por isso Senhores
Generais a pergunta que deixo é esta: se não fizerem o que atrás proponho, ou
algo que se lhe equivale, pensarão porventura que alguém irá respeitá-los daqui
para a frente?
Reparem: esta
coisa é tão feia que a “directiva” tem o desplante de querer impor uma
modificação forçada no vocabulário da língua portuguesa (já não bastava o
aborto ortográfico) e uma censura, agora não pela proibição de referir isto ou
aquilo, mas pela obrigação de dizer frases estereotipadas. Creio que nem nos
piores momentos inquisitoriais e totalitários se pensou em fazer algo parecido…
Tenham esperança,
porém, quem pariu uma alarvidade destas pode muito bem-querer implementar
outras coisas, tais como as ordens de serviço passarem a ser escritas em sueco
(já que o governo sueco é feminista); proibir que se mande rastejar de costas,
na instrução (por ser considerado um atentado aos direitos do Homem, perdão da
mulher, perdão de todos os géneros) ou se faça anteceder as vozes na Ordem Unida,
dos termos “faz favor”, sei lá… talvez a continência seja substituída por um
“oi, meu”…
Entretanto
convinha perguntar ao MDN (ou devemos perguntar ao Secretário – Geral?) porque
é que a Marinha, presentemente, só tem, três ou quatro navios capazes de
navegar; se a Força Aérea por junto, consegue colocar 10 aeronaves no ar (já
nem falo dos “drones”), em simultâneo; ou para quando está previsto a promoção
do primeiro coronel no Exército que não tenha conseguido comandar mais do que
um pelotão (30 homens/mulheres/etc.) …
E não estou a
trazer estes factos à colação para exemplificar que “há coisas mais importantes
nas FA para se tratarem”; a directiva é um “fait divers”, etc., como algumas
vozes vieram piedosamente referir em público. Não, para se graduar a
importância ou prioridade de algo, é necessário que os assuntos em jogo tenham
o mínimo de importância. Ora neste caso a hipótese de “directiva”, não só não é
importante como é de todo desnecessária e prejudicial. É apenas um aborto
ideológico.
E se o País tivesse
um mínimo de cultura castrense saberia que nas FA não “existem nem homens nem
mulheres” (muito menos a cáfila de tarados já contabilizados em dezenas de
“géneros”), mas apenas militares, regidos por leis e regulamentos que são
iguais (e sempre foram) para todos, com a única diferenciação (recente)
relativa à condição feminina no âmbito da maternidade. O que não tem
equiparação em qualquer outra área da vida nacional!
Face a tudo isto
desejo informar que vou fotocopiar a tal “directiva” para folhas de papel
higiénico e passar a dar-lhe, diariamente, o destino que ela merece.
O País não está
apenas em bancarrota financeira; está sobretudo, ética e moralmente falido.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Nota final. Já depois de ter alinhavado este escrito,
tomei conhecimento sem surpresa, de que o MDN fez um despacho, datado de 2 de Outubro,
em que declara nulos os ofícios que enviaram a directiva, mas não a directiva. Decidi
não mudar uma linha ao que tinha escrito.
Acrescentou
que se tratava de um documento de trabalho (o que não parece ser curial pois
nada no documento nem no ofício de cobertura, o indicava) e dando a entender
que não tinha dele conhecimento, por afirmar “não ter aprovação superior”. O
que também não deixa de ser estranho, por daí ressaltar que andam funcionários
seus subordinados a exorbitar as suas competências e autoridade…
O MDN fez bem, porventura não pelo que diz, mas pela pressão
a que foi sujeito. Mas o mal está feito. E a intenção permanece.
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