ADEUS
A UM SOLDADO!
1/2/19
“E esta terra onde agora descansam não é tanto como a recordação
imortal sempre renovada e enfocada em discursos e comemorações. Os homens
eminentes têm por túmulo a terra inteira”.
Oração de Péricles, 430 A.C..
O General Altino Amadeu Pinto
Magalhães (1922-2019) deixou a nossa convivência no passado dia 24 de Janeiro.
Era um homem bom; foi um homem bom. Teve uma vida longa e boa de 96 anos.
Transmontano de velha cepa – nasceu
em Ribalonga / Carrazeda de Ansiães – não alardeava as características mais
expressivas dos arreigados descendentes celtas da nossa terra, mas não deixava
de ser uma pessoa entranhadamente telúrica e um patriota de gema.
Trás-os-Montes tem dado à Pátria incontáveis e nobres guerreiros, sendo talvez
a província do país que mais condecorados com a Torre e Espada, produz.
Altino de Magalhães foi, ele
próprio, um notável militar e combatente.
De compleição modesta e humilde, não
foi em grandes feitos, desempenhos fulgurantes ou no tilintar das condecorações,
que Altino foi grande.
Mas foi-o alardeando as velhas
virtudes militares, conforme o General Ferreira Martins tão bem definiu: na
Probidade e Discrição; na Obediência e Disciplina; na Subordinação e Respeito;
na Lealdade e no Patriotismo; na Fraternidade, Dedicação e Confiança nos
Chefes; na Solidariedade, na Camaradagem e no Espírito de Corpo; na Coragem
(física e moral); na Abnegação, Constância e Resignação; na Generosidade na
Vitória e Paciência na Adversidade. Finalmente era dotado de Honra e Valor.[1]
Foi tudo isto que demonstrou ao
longo da vida nos mesmos cargos e funções que exerceu de onde destaco, uma
comissão em Macau, como Capitão e em Angola (onde já tinha servido por duas
vezes), como Comandante do Sector do Uíge, em 1972-74, sendo promovido a
Brigadeiro, em 1973, e após o 25/4/74, sido nomeado Comandante da Zona Militar
do Norte, naquela província ultramarina.
Foi ainda Comandante-Chefe das
Forças Armadas nos Açores no difícil período de 1975-76.
Acabou Vice-Chefe do
Estado-Maior-General das Forças Armadas, entre 1979 e 1984, concluindo assim,
uma carreira que começou em Março de 1943, quando entrou para o quadro
permanente do Exército, na Arma de Infantaria.
Em todo o período conturbado de
1974-76 foi um elemento que muito contribuiu com a sua inteligência, espírito
de bem cumprir e serenidade, para a estabilização da Instituição Militar.[2]
Mais tarde foi Director do Instituto
de Defesa Nacional e Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes,
função em que conseguiu concretizar o projecto do memorial de homenagem aos
combatentes da Guerra do Ultramar, junto á Torre de Belém, o que conseguiu no
meio de grande adversidade e escolhos.[3]
A sua boa formação impedia-o, por
vezes, de ver o mal ou os vícios, em outros de formação e carácter duvidosos, o
que acontece frequentemente às almas mais puras e cândidas.
Dotado de uma educação esmerada
ultrapassou em muito a sua origem humilde para se tornar um aristocrata do
espírito, espantando os outros com a sua lhaneza de trato.
Era um Homem de consensos, não de
rupturas.
O desaparecimento físico do General
Altino de Magalhães só será, porventura, uma perda para o Exército, que tanto
amou, para as Forças Armadas e para o País, se a sua memória desaparecer das
gerações futuras.
Que o Pai do Céu o sente ao lado dos
melhores combatentes da Sua Santa Fé pois é disso merecedor.
Meu General foi uma honra tê-lo
conhecido.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto A
[1]
General Ferreira Martins, “As Virtudes Militares na Tradição Histórica de
Portugal”, Edição da Liga dos Combatentes, Lisboa, Outubro de 1944.
[2] Uma
atitude que ilustra bem a maneira de ser do General Altino, ocorreu algures, em
1975, quando foi “eleito” por larga maioria para Director da Arma de
Infantaria. Com firmeza declinou o cargo alegando “não querer participar no
saneamento de camaradas”.
[3] Este
monumento foi proposto e apoiado, em 24/1/87, pela antiga Associação Nacional
dos Combatentes do Ultramar.
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