EVENTUAIS CENÁRIOS
POLÍTICO/CASTRENSES (CONCLUSÂO)
12/10/17 (Dia da chegada de Cristóvão Colon às Índias)
“A ingenuidade é o humilde
parasita da ignorância”
Ortega y Gasset
Mas
que o Dr. Costa tem que pôr ordem no beco, rapidamente, tem (mas não vai pôr, é
claro).
Olhe
o Exército está de rastos, há mais de quatro meses e, na prática, apenas tem um
general e anda tudo zangado. Ninguém se entende sobre as promoções (há ainda
pendente o caso do Major-General Vasconcelos, que está emprateleirado no EMGFA);
o seu “4º secretário” das finanças nunca mais se resolve a dar autorização para
que alguém seja promovido (uma situação escabrosíssima para as Forças Armadas
(FA), mas com a qual todos os generais e almirantes têm convivido felizes da
vida – por muitíssimo menos se fez o 25/4, que deu nisto); o caso das mortes
dos Comandos arrasta-se; a questão de Tancos – que está para lá de qualquer
congeminação - não tem fim à vista e, aparentemente, ninguém sabe o que se
passou; para já não falar nos anteriores assaltos às arrecadações de material
de guerra dos Comandos, dos Fuzileiros e da PSP.
O
Exército está tão desgraçado – e isto pesa-me pois eu até sendo da Força Aérea,
fui formado na Academia Militar – que já nem consegue comemorar o Dia da
Infantaria e o seu Patrono, o Condestável e Santo D. Nuno Álvares Pereira.
De
facto, após mais uma decisão assaz infeliz sobre a reforma das Escolas Práticas
das Armas e Serviços – uma asneirada infrática de que só o Exército se pode
queixar – o Dia da Infantaria era comemorado como de tradição e estava certo, a
14 de Agosto e em Mafra, onde estava instalada a casa mãe da Arma, desde 1887.
Acontece
que com o fim dessa Escola Prática há cerca de três anos, passaram as
comemorações para o Campo de S. Jorge, onde se deu a inolvidável batalha.
A
cerimónia foi um fiasco.
No
ano seguinte foi cancelada, alegando-se que a maior parte do pessoal militar
estava envolvido nos incêndios, e passada para o dia do Regimento de Infantaria
de Beja…
Este
ano alegou-se o mesmo, mas passou-se a cerimónia para o dia 4 de Outubro, em
Aveiro, Aniversário do Regimento de Infantaria 10, lá (ainda) aquartelado!
Acontece
que, por coincidência, fazia parte desta cerimónia a passagem de testemunho (um
bastão) entre o general mais antigo, oriundo de Infantaria, designado “Director
Honorário da Arma de Infantaria” e o seu sucessor.
Esta
cerimónia que é uma tradição firmada e grada, na hoste que defendeu a Nação
desde 1128, é antecedida de um jantar de confraternização e despedida, do
cessante.
Este
ano o jantar estava marcado para a véspera, como é habitual, pelo actual Vice-Chefe
Tenente General Serafino (o único general que resta no activo) que iria receber
o “bastão” das mãos do CEME, depois de recebido do Director cessante, Tenente General
Menezes.
Acontece
que este último general foi um dos que se demitiu recentemente em choque com o
actual e algo moribundo General CEME.
Ora
este, uns dias antes do evento marcou uma reunião do Comando do Exército
justamente para o mesmo dia, não se esquecendo de informar que a mesma não
tinha hora para terminar.
Ou
seja inviabilizou na prática, o jantar. Em face disto, vários oficiais
cancelaram a sua participação nas comemorações do dia seguinte.
Isto
é mau demais para ser verdade. E vamos a ver e, afinal, é!
Parece, outrossim, ser de
uma evidência cristalina que os dias festivos devem ser comemorados nesses
precisos dias e não noutros!
Seguiu-se a mesma cena
relativamente ao Dia da Engenharia Militar, adiada do seu verdadeiro dia (13/7)
por na altura o Comandante estar “exonerado temporariamente” e o ambiente ser
de cortar à faca…
A cerimónia teve lugar a 13/10, mas
as ausências gradas da família do “Barrote ao Alto” foram mais que muitas.
Nada, porém, que afecte deslumbrados
que vivem em estado de negação…
E
vamos ficar por aqui.
Na
Marinha continua em curso o apaziguamento após a saída do ex - CEMA, Almirante
Macieira Fragoso, há poucos dias brindado com a pequena prebenda de Presidente
não executivo dos Estaleiros da Naval Rocha (do grupo Empordef).
Mas
existe um problema derivado da saída extemporânea do Vice -Almirante Pires da
Cunha, do EMGFA e que passava à reserva em Janeiro. Para o seu lugar seguiu o Tenente
General Almeida da Força Aérea.
Dadas
as estritas regras e completa ausência de “almofadas” administrativas e de autoridade
na administração de pessoal por parte dos Chefes de Estado-Maior – reduzidos na
prática a “ajudantes” (finalmente a “célebre” frase de Cavaco Silva sobre os
Secretários de Estado fez carreira), o senhor Almirante boia à tona de água.
Vamos a ver para onde a corrente o leva.
Porque
é que as coisas se passam assim? Mistério.
A
Força Aérea está sem Comandante de Pessoal e sem Comandante da Logística, pois
as promoções tardam – uma situação deveras caricata e insustentável, mas como
pelos vistos não há sindicatos que defendam a instituição e os generais e
almirantes ainda não ameaçaram fazer greve como os juízes, nem fazem dos
militares gato, sapato.[1]
Uma
palavra em defesa da Instituição e da inocência presuntiva dos militares presos
preventivamente há demasiado tempo, até serem condenados, por causa do problema
das eventuais falcatruas nas messes, também seria apreciada.
Enfim
este último caso, como outros, levanta o magno tema do fim dos tribunais
militares e do foro próprio militar, pecado original terrível e que não mereceu
da hierarquia de então, qualquer repúdio, nem levantou qualquer prurido, até
hoje, às chefias que se seguiram.
Um
desastre!
Finalmente
e como prova do maior desprezo, e inaudita desfaçatez, o Governo - depois de
andar a brincar e enganar tudo e todos com um orçamento esquálido para
sustentar o ridículo dispositivo e sistema de forças existente - depois de
aprovar os “numerus clausus” para os cursos de oficiais e sargentos dos três
Ramos, e cadetes das Escolas Superiores Militares, e já depois dos concursos
feitos e pessoal admitido, veio reduzir há poucos dias, estes mesmos números,
deixando os Ramos ainda mais desprovidos de pessoal, que já está abaixo de todos
os mínimos há muito, e criando problemas pessoais a dezenas de cidadãos que vêm
as suas vidas profissionais serem destruídas ou adiadas.
Uma situação inadmissível que só
encontra explicação no miserável rateio que andam a fazer com o Orçamento de
Estado a fim de contentarem os partidos defensores de ideologias criminosas e
desgraçadas!
Estava a esquecer-me do CEMGFA,
General Pina Monteiro. Naturalmente porque desapareceu em combate; combate que
deve estar a ser sério, pois recordo-me de o ter ouvido queixar-se de um murro
que levou no baixo - ventre.
Já
agora, e para terminar, Sr. PM e Sr. MDN e, também, Senhor PR, os aviões da
Força Aérea (FA) não existem para transportar a selecção portuguesa de futebol,
ou outra, para Andorra ou seja para onde for. Os aviões da Força Aérea servem
para ir, por exemplo, salvar os jogadores ou outros portugueses, caso eles
estejam em perigo.
Vejam se percebem a diferença.
Como podem observar os leitores há
por aqui soma considerável de assuntos por onde refletir. A começar por esta
crónica que não devia ter razão de existir.
E não faltam instituições e
organizações espalhadas pelo país onde se estudam e refletem estas e muitas
outras coisas.
Convinha é que quem agora reflete
tivesse tido e querido, o ensejo de o fazer quando ainda estavam no activo da
sua vida profissional.[2]
E mais do que refletir, importa
agir. Haver gente que decida.
Os Governos sustentados nos
Partidos, ou os Partidos sustentados pelos Governos, são por norma relapsos a
qualquer reflexão e ideias que venham de fora do ovo da serpente que os gera e
mantém, visando a manutenção do Poder, o que não tem nada a ver com o governo
da cidade, mas sim com o acesso a negócios de muito dúbia idoneidade.
Como os sucessivos escândalos
judiciais têm demonstrado à saciedade.
A Instituição Militar anda perdida
(embora nem todos se percam) no meio disto tudo.
Finis
Pátria.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] Já agora também convém
referir que os polícias - que têm neste momento (a situação é dinâmica) 16
sindicatos (!), sendo um de civis - teimam em desfilar e confrontar os seus
“colegas” de serviço, quando não provocam desacatos, numa cadência estudada.
Uma organização destas só tem um destino – apesar de não serem eles os
principais responsáveis – é ser extinta na hora, e nascer no dia seguinte com
outro tudo.
[2] Farão os leitores o favor
de decidir o que entenderem melhor como corolário: “agora é tarde e Inês está
morta”, ou “vale mais tarde do que nunca”…
1 comentário:
Boa noite sr TCOR Brandão Ferreira. Vou presumir duas coisas: que o chefe da casa militar na Presidência da República não guardaria esta sua reflexão na gaveta, e que lha gostaria de remeter para o PR pensar neste estado de coisas.......lamentáveis.
Concorda?
Os meus cumprimentos
António Rodrigues Cabral
cAlmirante, reformado
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