EVENTUAIS CENÁRIOS
POLÍTICO/CASTRENSES
12/10/17 (dia da chegada de Cristóvão Colon às “Índias”)
“A ingenuidade é o humilde
parasita da ignorância”
Ortega y Gasset
Agora
que passaram as eleições autárquicas e o Orçamento para 2018 está quase pronto,
é possível que já reste tempo e querer para o governo – sobretudo ao seu
ministro entre todos o primeiro, pois é ele o responsável ante todos, pela
política de Defesa Nacional (se é que alguma) – verter um pouco da sua atenção
sobre o estado para - caótico em que se encontram as Forças Armadas (FA) em
geral e o Exército, em particular.
Como a resolução dos problemas deve
começar por cima deve apontar-se para o MDN, o Dr. Azeredo Lopes, cuja
prestação tem sido singularmente desastrosa e está debaixo de fogo de tudo e
todos, há basto tempo.
Sem embargo, e como pano de fundo,
é necessário dizer isto: nós não temos, nem tivemos, nenhum ministro da defesa,
pois esta não existe como um todo. A Defesa Nacional está reduzida às FA e por
isso nós apenas temos um ministro das, ou para, as FA!
Em
segundo lugar a classe política em geral, tem demonstrado, com invulgar fulgor,
pouco perceber de Defesa Nacional e de FA, e acha que aquela, e estas, não têm
razão de existir desde que regressámos do Ultramar; consideram não haver
ameaças (e se houver a NATO defende-nos, ah, ah, ah e a UE também, um ah, ah,
ah, ainda maior) e que os militares são uns seres esquisitos, chatos,
quadrados, que gostam de brincar às guerras e custam dinheiro que faz falta
noutros âmbitos. Como se tem visto.
Finalmente
os Partidos Políticos que são organizações inqualificáveis e que já levaram,
grosso modo, o país por quatro vezes à beira da tragédia nos últimos 180 anos –
e, tomem nota, hão - de levar uma quinta vez – não têm ninguém que saiba o
mínimo de Defesa Nacional e sobre a Instituição Militar tão pouco, que queira
prestar-se ao sacrifício, que julgam não estar à altura das suas ambições.[1]
Por
isso é que existe sempre uma grande dificuldade em escolher uma figura para a
função que é, aliás, tida como a maior das maçadas.
Em tempos o cargo de MDN ainda era
visto como trampolim para o de MNE, ou outro voo qualquer. E, até ao Dr. António
Vitorino, ainda engalanavam o título de MDN com o Ministro de Estado ou Vice
Primeiro – Ministro. Mas isso foi chão que deu uvas e, de qualquer modo, agora
a coisa está bloqueada.
E
como quiseram e querem, arredar os militares de quaisquer funções que não
estejam estritamente ligadas ao “quartel”, nunca lhes passou pela cabeça
colocar um militar em tal função governativa (e raramente noutra).[2]
Diga-se
em abono da verdade que não seria fácil encontrar um militar com “jeito” para a
função e não levantasse logo anticorpos aqui e ali, nomeadamente no seio dos
oficiais generais e entre Ramos.
Relembra-se
que o MDN, não existe, mas apenas o ministro para a tropa (isto é, para a
controlar, reduzir e asfixiar).
Só
o Professor Salazar conseguiria nomear e aguentar um militar na função, durante
20 anos tendo ele sido promovido, no lugar, de capitão a coronel…
Mas
tendo em atenção que a situação agora está a ficar assaz de má; não se
vislumbra ninguém no PS que possa ir para o lugar, a não ser o eterno
candidato, Dr. Miranda Calha (conhecido por “pisca-pisca”), que as sucessivas
lideranças partidárias têm rejeitado, vá-se lá saber porquê; o actual
Secretário de Estado Perestrello ainda não saber se consegue levantar a nota ou
não, desde a sua última prestação e o rebento do defunto Dr. Soares, apesar de
ostentar uma recruta de três meses, em Mafra, ter perdido hipóteses desde que
começou a ameaçar galhetas no “cara – livro” (em inglês “facebook”); o PCP não
se querer meter neste “bagaço” (chiça!), e a Joana Amaral Dias, que teria todo
o gosto, imagina-se, em passar revista às tropas grávida e nua, já não
pertencer ao Bloco Canhoto, a coisa não está fácil.
Mas, tendo em conta a reconhecida
esperteza saloia colorida a maquiavelismo, do optimista Dr. António Costa,
vamos atrever-nos a especular sobre se não estará na base da sua mente de
estiloso oportunista, querer empurrar um militar para a fogueira do granel em
que estamos metidos e assim aliviar encargos à sua querida coligação
gerigoncial.
Não
me parece haver falta de putativas vítimas.
A
opção, a dar-se, teria que ser por razões óbvias, num oficial na situação de
reforma. Mas também não ponho as mãos no fogo por isso…
Não se vislumbrando ainda um
familiar ou amigalhaço do peito (é normalmente por aí que a escolha começa) vai
ter que se fazer um giro no horizonte para lobrigar quem possa estar em
condições de aceitar o cargo.
A
primeira escolha que ocorre é a do Director do IDN, Major-General Viana. Já
está há algum tempo afastado das lides militares, tem feito um trabalho seguro,
discreto e politicamente neutro, dentro do Instituto e já teve tempo de
adquirir uma visão global das coisas.
Tem
o óbice de só ter duas estrelas, mas isso para políticos que nem sabem
distinguir os postos, é de somenos importância, e as sequelas da sua
ultrapassagem na promoção já estarão esbatidas.
Segue-se
um eventual adjunto militar do Primeiro-Ministro que tenha caído no goto de
algum proeminente político, neste caso do PS, mas tal não parece ter hipóteses
de acontecer pois, por norma, os PM ignoram olimpicamente tais personagens.
Haveria
um, que por acaso é do meu curso, que tem boas capacidades para o cargo mas
teve o azar de lhe calhar o “Agente Técnico” Sócrates, na rifa, pelo que pode
apanhar por tabela. Além disso é por demais inteligente, para se ir envolver em
tais andanças.
A
maior parte dos ex-chefes militares, ou outros generais e almirantes, pelo que
julgo saber, se fossem convidados para um cargo destes nem se dignariam
responder e alguns teriam até movimentações anormais no cólon e inversões de
fluxo no piloro…
Há
porém, um ainda recentemente criado grupo, cujo acrónimo é GREI (Grupo de
Reflexão Estratégica Independente), constituído apenas por oficiais generais,
onde um eventual “recrutamento” pode ainda ser tentado. Passe a propaganda.
É
preciso dizer que este grupo de cidadãos militares que enquanto no activo
tiveram um estatuto cívico de “capitio diminuto”, agravado pelo desprezo
político e falta de defesa institucional, tem toda a legitimidade em existir e
nada obstar à sua respeitabilidade. E qualquer intervenção cívica neste âmbito,
feita com competência e boa intenção, só há que louvar.
O
próprio General Ramalho Eanes teceu loas, publicamente, aquando do aparecimento
do GREI, numa curta intervenção, “muito à sua mode”.
Acontece,
porém, que alguns dos seus mais proeminentes membros vieram apoiar pública e
explicitamente um dos candidatos à Presidência da República, nas últimas
eleições, precisamente aquele que, não sendo o candidato do PS, foi quem este
apoiou realmente, e que saiu perdedor na contenda, o Professor Sampaio da Nóvoa
- por acaso meu colega no Liceu Nacional de Oeiras (digam lá se este liceu não
andava muito à frente?!).
Ora
isto introduziu alterações de monta no posicionamento do grupo, apesar de ter
havido o cuidado de esclarecer (embora a opinião pública não o saiba), que tais
apoios seriam a nível individual e não a nível de grupo.
A
direcção do mesmo teve o cuidado até de, recentemente ter pedido uma audiência
ao actual Presidente da República, a fim de lhe oferecer um livro sobre as suas
actividades, com a respeitabilidade que o prefácio do Professor Adriano Moreira
lhe confere.
Porém,
a possibilidade de escolha existe (para MDN), e dadas as circunstâncias as
pessoas que melhor se posicionam para tal eventualidade são (a ordem é
arbitrária) os Generais Pinto Ramalho, Major-General Sequeira (que já foi
Secretário – Geral do MDN e de seguida convidado para administrador da EPUL,
tido como próximo do actual PM) e Almirante Melo Gomes.[3]
O
General Luís Araújo que, apesar de não pertencer ao grupo, esteve
aparentemente, com um pé dentro e outro fora, no apoio ao candidato derrotado,
não nos parece estar para se sujeitar a tal encargo, já que terá a sua ambição
de defender a Pátria, saciada e está a desfrutar da confortável situação como
administrador delegado do Estado (não executivo), nas OGMA, recebendo por
sessão de “trabalho” um confortável pecúlio típico destas funções. E que nunca
ninguém sabe como e em que termos, é definido.
Além disso passou a ser
representante da NAV, para o que se está a preparar relativamente à utilização
da Base Aérea do Montijo, como complemento da Portela.
O Tenente General Mourato Nunes
(também do GREI), que foi Comandante – Geral da GNR, cujas ambições várias são
conhecidas, também é outro personagem sobre que o radar dos actuais políticos
pode fazer “lock on”, tendo o Governo de Sócrates chegado a inventar um cargo
feito à medida para ele aquando da sua passagem à reserva.[4]
Respirem fundo que o texto é apenas um
exercício de ficção.
(Continua)
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1] Para não haver dúvidas
queremos deixar expresso que o período considerado começa em 1820 (antes dessa
data nunca se falou em Partidos Políticos); passa por três guerras civis:
liberais versus legitimistas, Maria da Fonte e Patuleia; A Regeneração, com o seu
“Rotativismo” que desembocou na queda da Monarquia; a I República que acabou ao
fim de 16 anos de desgraça; a situação pós revolução dos cravos que vai
sobrevivendo à dívida galopante (e já vai em três pré bancarrotas) e à
geométrica perda de soberania, lambendo as feridas, para já, do resgate da
"Troika".
[2] É preciso dizer que após o
25/4/74 houve dois militares que foram ministros da defesa, os generais Firmino
Miguel e Loureiro dos Santos, mas foram-no em Governos Provisórios, após a
euforia da “revolução”.
[3] EPUL – Empresa Pública de
Urbanização de Lisboa, extinta em Dezembro de 2012.
[4] Tinha o incrível nome de
(não se riam) “Secretário - Geral para a Cooperação entre os povos de Língua
Portuguesa, em matéria de Segurança Pública, no âmbito do Ministério da
Administração Interna”. O Ministro era então o Dr. A. Costa. Durou entre 2008 e
2010. Foi posteriormente Presidente do Instituto Geográfico Português, tendo
apresentado o seu pedido de exoneração, antecipando a extinção do cargo ao
tempo de Assunção Cristas como Ministra, da Agricultura, do Mar, etc.
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