“Uma Força Aérea sem munições é
apenas um aeroclube muito caro”.
Uma evidência politicamente
incorrecta.
(Também aplicável ao Exército –
um grupo de escuteiros crescidos – e à Armada – um clube náutico na maior
marina do mundo: o Alfeite!).
O projecto de alargamento da
Plataforma Continental Portuguesa, a ser decidido favoravelmente, pela ONU,
constituiria o ganho geopolítico mais significativo desde 1543, pico da
expansão portuguesa com a nossa chegada ao Japão.
Daí para cá foi sempre a reduzir…
Este projecto está a ser “gerido”
pela “Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental” (EMEPC),
tendo o Governo apresentado a proposta, tempestivamente, na Comissão de Limites
da Plataforma Continental, da ONU, em 11/5/2009.
O trabalho das autoridades
portuguesas, onde a Armada pontuou largamente, na fase inicial, ficou
concentrado na EMEPC e teve sucesso devido à competência e discrição com que
têm decorrido os trabalhos, discrição felizmente conseguida devido à ausência
de especulações jornalísticas e discussões inúteis no Parlamento.
A aprovação deste projecto – um
dos poucos eminentemente nacionais – está longe de ser “favas contadas”, acrescendo
o facto da falta de Poder Nacional, inviabilizar a “ocupação” e controlo efectivo
mínimo, de tão vasta área.[1]
Arriscamos mesmo a sermos
confrontados com um novo “Mapa Cor-de-Rosa” e, ou, estarmos a trabalhar para
outros virem a colher os frutos da nossa legítima ambição, mas que não está
sustentada em capacidades reais.
Este projecto não é a feijões,
como soi dizer-se, e é na sua essência, geopolítico e geoestratégico.
Pois senhores vá-se lá saber por
que bulas, a EMEPC, que dependia do MDN, passou, desde a tomada de posse do
actual governo, para o Ministério da Agricultura e Mar!
Não contentes com esta aberração
estrutural, foi admitida na EMEPC uma cidadã espanhola, de origem basca,
bióloga marinha, que se juntou à equipa!
Este facto nem daria para
acreditar, não fora já nada nos surpreender…
Então a vizinha Espanha, que
nunca escondeu o apetite em interferir nas nossas águas e em tomar conta do
nosso Mar; concorre na apetência de espaços contíguos; faz-nos marcação cerrada
em todos os “tabuleiros” onde nos movemos e nos faz má vizinhança nas
Selvagens, consegue infiltrar uma potencial “Matahari” (até em beleza física),
no núcleo duro da principal equipa que trata deste assunto complexo e
fundamental?[2]
Era mais fácil o embaixador
espanhol ter assento no Conselho de Ministros…
Será que o Senhor Ministro (Aguiar)
Traço (Branco) entende que isto é uma situação “normal”?
O Estado Português deixou de
existir.
Está reduzido apenas a uma
repartição de finanças que nos esbulha e a uma comissão liquidatária, que
arremata o país em saldos de pouca vergonha.
*****
No passado dia 3 de Dezembro viu
a luz do dia, uma pequena cerimónia de cunho militar, em Pedrouços/Belém, em
que se pretendeu evocar a participação das FA Portuguesas no Teatro de
Operações do Afeganistão.
Cumpre elogiar a iniciativa – de
que não sabemos a origem – pois é o mínimo que se pode fazer para reconhecer e
dar a conhecer das forças militares (ainda) nacionais, longe da Pátria, na
defesa do que foi considerado como interesse do Estado Português.
No Forte do Bom Sucesso, actual
museu da Liga dos Combatentes – encontra-se uma exposição alusiva a esta
participação que envolveu 3227 militares dos três Ramos, durante 12 anos (desde
2002), e que nos causaram uns lisonjeiros – dada a perigosidade e complexidade
das missões – dois mortos (o número oficial de feridos nunca foi revelado), que
merecem o nosso respeito e consideração.
Acontece que, praticamente,
ninguém ligou ao evento, sendo o desinteresse do público uma realidade
gritante.
Convinha meditar sobre este
facto, sobretudo tendo em conta que a nossa prestação não desmereceu das
melhores tradições militares portuguesas; das limitações que sofremos) muito do
material e equipamento utilizado ou foi comprado à pressa, ou foi emprestado
por “aliados”); e do facto de, ao que julgamos saber, das forças portuguesas,
juntamente com as inglesas e americanas, serem as únicas que podiam ser
empenhadas em todo o tipo de operações – ao contrário das dos restantes países!
Outro facto que deve merecer a
nossa reflexão…
Sem querer ser exaustivo, estou
em crer que este “desinteresse” é fruto da displicência com que em Portugal se
passou a encarar os assuntos de Segurança e Defesa; o desinteresse dos órgãos
do Estado pela Instituição Militar; a fobia militante de grande parte dos OCS
sobre tudo o que diga respeito ao termo “militar” e de não haver qualquer
política de relações públicas das autoridades competentes relativamente às FA.[3]
Ainda, porque depois do fim
infeliz, do serviço militar obrigatório e da instauração do “duplo
voluntariado”, a opinião pública passou a olhar para a tropa como um emprego
como outro qualquer e o cumprimento de missões fora de portas, ter passado a
ser encarado como uma espécie de mercenarismo.
Outro âmbito em que o Estado
Português passou a ser um resquício de simulacro…
*****
Mais uma “bronca” pública num
estabelecimento militar de ensino, desta feita o Instituto Militar dos Pupilos
do Exército (IMPE): acusações de maus tratos, seguido dos invariáveis
inquéritos.
Tem que se ter o maior cuidado
com estas coisas, não só pelos danos que causam, mas também pela má vontade
política e mediática para com estas escolas e tudo o que inclua o termo –
insiste-se – “militar”.
É sabido que cenas de violência –
fora o resto, droga, roubos, ofensas várias, distúrbios sexuais, etc. –
acontecem um pouco por todas as escolas do país, sobretudo as públicas e
aquelas frequentadas por camadas de população mais desfavorecida e
problemática.[4]
Mas no seio militar tais
situações são menos admissíveis (apesar de serem muito mais limitadas do que
noutros locais), dado o enquadramento, supervisão, estrutura e regime
disciplinar existente, ou que devia existir – embora o internato as possa
potenciar.[5]
Sempre defendi as praxes e as
tradições, por variadas razões, mas tal nada tem a ver com práticas menos
consentâneas com a dignidade e integridade humana, muito menos com actos de
violência gratuita.
Discernimento, orientação,
disciplina e mão pesada, precisam-se.
*****
A Federação Russa através de
aviões bombardeiros e respectivas tripulações – certamente fartos do clima
agreste das regiões setentrionais, resolveu vir pavonear-se até latitudes mais
cálidas, chegando a atingir o paralelo de Sagres.
Fizeram-no voando calmamente
perto do espaço aéreo nacional (e de outros países da Nato), aos costumes
dizendo nada, no que concerne ao controlo de tráfego aéreo civil.
Prestes, descolaram os caças, que
nos restam, da Base Aérea 5, sita em Monte Real.
O facto foi, desta vez, objecto
de ampla cobertura noticiosa e comentário público, vindo o inefável ministro
“Traço” dizer que tudo se passou na maior das normalidades.
Ora nada do ocorrido tem a ver
com “normalidade”…
O que se passou é consequência da
crise político-militar que tem como polo, por um lado, a Nato/UE e, por outro,
a Federação Russa.
Entre os muitos focos de tensão
crescentes, o fulcro desta demonstração de força russa – pois é disso que se
trata - centra-se nas últimas ocorrências na Crimeia; nos Estados Bálticos e no
Leste da Ucrânia.
Ora os Russos – o Império contra
ataca – depois de se sentirem humilhados desde a época de Yeltsin, estão a
reagir (Putin não brinca em serviço), fazendo a tal demostração de força, que
serve, ao mesmo tempo, para testar equipamentos próprios e alheios e avaliar
reacções havidas.
Marcam posição e lançam avisos.
O aviso a Portugal foi claro: ao
chegarem a Sagres querem significar que nenhuma parte do território nacional
está ao abrigo de qualquer ataque ou retaliação.
Porque procedem assim? Simples,
porque Portugal pertence à Nato, e pertencendo a essa organização de defesa
colectiva, enviou seis F-16, o ano passado para proteger o espaço aéreo da
Islândia e, sobretudo, por neste momento ainda ter outros tantos caças a
liderar uma missão da Nato de protecção dos Estados Bálticos – área de absoluto
interesse estratégico de Moscovo.
Seria bom que o Governo Português
dispensasse alguma atenção, à Geopolítica e ponderasse para que serve hoje em
dia a Nato, e se é do nosso interesse lá continuar e em que termos.
Pois convinha apurar quem está a
provocar quem: se os russos querem ameaçar o ocidente ou se é a Nato – leia-se,
os EUA – que querem empurrar com a barriga (e com misseis) para cima das
fronteiras de segurança russas. Ou se ambos.
Convém não andar apenas a ver
passar os comboios.
Neste caso, os bombardeiros
russos…
O Governo Português – com a
aparente conivência das chefias militares – optou há anos, por vender 12 F-16 à
Roménia, venda que está agora em plena execução.
Importa perguntar se continuam
satisfeitos com o negócio (lembra-se que a Força Aérea só dispõe, neste momento
de duas aeronaves que dão tiros, os F-16 e os P-3) e, se sim, porque não vende
o resto?
Nunca se viu tanta asneira junta!
[1] Apesar de todas as “garantias” do Direito Internacional…
[2]
Dr.ª Estibliz Bercibar Zugati, “Esti”, para os amigos.
[3]
Sem embargo do número não despiciendo de pessoas envolvidas nesta área.
[4]
Infelizmente, e desde há muito, que uma percentagem considerável das
candidaturas aos estabelecimentos militares de ensino secundário passou a ser
de membros de famílias destruturadas.
[5]
Isto não quer dizer que seja contra o internato, antes pelo contrário.
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