quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CURTAS E GROSSAS III (Dedicado à Defesa)

“Uma Força Aérea sem munições é apenas um aeroclube muito caro”.
Uma evidência politicamente incorrecta.

(Também aplicável ao Exército – um grupo de escuteiros crescidos – e à Armada – um clube náutico na maior marina do mundo: o Alfeite!).
O projecto de alargamento da Plataforma Continental Portuguesa, a ser decidido favoravelmente, pela ONU, constituiria o ganho geopolítico mais significativo desde 1543, pico da expansão portuguesa com a nossa chegada ao Japão.
Daí para cá foi sempre a reduzir…
Este projecto está a ser “gerido” pela “Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental” (EMEPC), tendo o Governo apresentado a proposta, tempestivamente, na Comissão de Limites da Plataforma Continental, da ONU, em 11/5/2009.
O trabalho das autoridades portuguesas, onde a Armada pontuou largamente, na fase inicial, ficou concentrado na EMEPC e teve sucesso devido à competência e discrição com que têm decorrido os trabalhos, discrição felizmente conseguida devido à ausência de especulações jornalísticas e discussões inúteis no Parlamento.
A aprovação deste projecto – um dos poucos eminentemente nacionais – está longe de ser “favas contadas”, acrescendo o facto da falta de Poder Nacional, inviabilizar a “ocupação” e controlo efectivo mínimo, de tão vasta área.[1]
Arriscamos mesmo a sermos confrontados com um novo “Mapa Cor-de-Rosa” e, ou, estarmos a trabalhar para outros virem a colher os frutos da nossa legítima ambição, mas que não está sustentada em capacidades reais.
Este projecto não é a feijões, como soi dizer-se, e é na sua essência, geopolítico e geoestratégico.
Pois senhores vá-se lá saber por que bulas, a EMEPC, que dependia do MDN, passou, desde a tomada de posse do actual governo, para o Ministério da Agricultura e Mar!
Não contentes com esta aberração estrutural, foi admitida na EMEPC uma cidadã espanhola, de origem basca, bióloga marinha, que se juntou à equipa!
Este facto nem daria para acreditar, não fora já nada nos surpreender…
Então a vizinha Espanha, que nunca escondeu o apetite em interferir nas nossas águas e em tomar conta do nosso Mar; concorre na apetência de espaços contíguos; faz-nos marcação cerrada em todos os “tabuleiros” onde nos movemos e nos faz má vizinhança nas Selvagens, consegue infiltrar uma potencial “Matahari” (até em beleza física), no núcleo duro da principal equipa que trata deste assunto complexo e fundamental?[2]
Era mais fácil o embaixador espanhol ter assento no Conselho de Ministros…
Será que o Senhor Ministro (Aguiar) Traço (Branco) entende que isto é uma situação “normal”?
O Estado Português deixou de existir.
Está reduzido apenas a uma repartição de finanças que nos esbulha e a uma comissão liquidatária, que arremata o país em saldos de pouca vergonha.
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No passado dia 3 de Dezembro viu a luz do dia, uma pequena cerimónia de cunho militar, em Pedrouços/Belém, em que se pretendeu evocar a participação das FA Portuguesas no Teatro de Operações do Afeganistão.
Cumpre elogiar a iniciativa – de que não sabemos a origem – pois é o mínimo que se pode fazer para reconhecer e dar a conhecer das forças militares (ainda) nacionais, longe da Pátria, na defesa do que foi considerado como interesse do Estado Português.
No Forte do Bom Sucesso, actual museu da Liga dos Combatentes – encontra-se uma exposição alusiva a esta participação que envolveu 3227 militares dos três Ramos, durante 12 anos (desde 2002), e que nos causaram uns lisonjeiros – dada a perigosidade e complexidade das missões – dois mortos (o número oficial de feridos nunca foi revelado), que merecem o nosso respeito e consideração.
Acontece que, praticamente, ninguém ligou ao evento, sendo o desinteresse do público uma realidade gritante.
Convinha meditar sobre este facto, sobretudo tendo em conta que a nossa prestação não desmereceu das melhores tradições militares portuguesas; das limitações que sofremos) muito do material e equipamento utilizado ou foi comprado à pressa, ou foi emprestado por “aliados”); e do facto de, ao que julgamos saber, das forças portuguesas, juntamente com as inglesas e americanas, serem as únicas que podiam ser empenhadas em todo o tipo de operações – ao contrário das dos restantes países!
Outro facto que deve merecer a nossa reflexão…
Sem querer ser exaustivo, estou em crer que este “desinteresse” é fruto da displicência com que em Portugal se passou a encarar os assuntos de Segurança e Defesa; o desinteresse dos órgãos do Estado pela Instituição Militar; a fobia militante de grande parte dos OCS sobre tudo o que diga respeito ao termo “militar” e de não haver qualquer política de relações públicas das autoridades competentes relativamente às FA.[3]
Ainda, porque depois do fim infeliz, do serviço militar obrigatório e da instauração do “duplo voluntariado”, a opinião pública passou a olhar para a tropa como um emprego como outro qualquer e o cumprimento de missões fora de portas, ter passado a ser encarado como uma espécie de mercenarismo.
Outro âmbito em que o Estado Português passou a ser um resquício de simulacro…
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Mais uma “bronca” pública num estabelecimento militar de ensino, desta feita o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (IMPE): acusações de maus tratos, seguido dos invariáveis inquéritos.
Tem que se ter o maior cuidado com estas coisas, não só pelos danos que causam, mas também pela má vontade política e mediática para com estas escolas e tudo o que inclua o termo – insiste-se – “militar”.
É sabido que cenas de violência – fora o resto, droga, roubos, ofensas várias, distúrbios sexuais, etc. – acontecem um pouco por todas as escolas do país, sobretudo as públicas e aquelas frequentadas por camadas de população mais desfavorecida e problemática.[4]
Mas no seio militar tais situações são menos admissíveis (apesar de serem muito mais limitadas do que noutros locais), dado o enquadramento, supervisão, estrutura e regime disciplinar existente, ou que devia existir – embora o internato as possa potenciar.[5]
Sempre defendi as praxes e as tradições, por variadas razões, mas tal nada tem a ver com práticas menos consentâneas com a dignidade e integridade humana, muito menos com actos de violência gratuita.
Discernimento, orientação, disciplina e mão pesada, precisam-se.
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A Federação Russa através de aviões bombardeiros e respectivas tripulações – certamente fartos do clima agreste das regiões setentrionais, resolveu vir pavonear-se até latitudes mais cálidas, chegando a atingir o paralelo de Sagres.
Fizeram-no voando calmamente perto do espaço aéreo nacional (e de outros países da Nato), aos costumes dizendo nada, no que concerne ao controlo de tráfego aéreo civil.
Prestes, descolaram os caças, que nos restam, da Base Aérea 5, sita em Monte Real.
O facto foi, desta vez, objecto de ampla cobertura noticiosa e comentário público, vindo o inefável ministro “Traço” dizer que tudo se passou na maior das normalidades.
Ora nada do ocorrido tem a ver com “normalidade”…
O que se passou é consequência da crise político-militar que tem como polo, por um lado, a Nato/UE e, por outro, a Federação Russa.
Entre os muitos focos de tensão crescentes, o fulcro desta demonstração de força russa – pois é disso que se trata - centra-se nas últimas ocorrências na Crimeia; nos Estados Bálticos e no Leste da Ucrânia.
Ora os Russos – o Império contra ataca – depois de se sentirem humilhados desde a época de Yeltsin, estão a reagir (Putin não brinca em serviço), fazendo a tal demostração de força, que serve, ao mesmo tempo, para testar equipamentos próprios e alheios e avaliar reacções havidas.
Marcam posição e lançam avisos.
O aviso a Portugal foi claro: ao chegarem a Sagres querem significar que nenhuma parte do território nacional está ao abrigo de qualquer ataque ou retaliação.
Porque procedem assim? Simples, porque Portugal pertence à Nato, e pertencendo a essa organização de defesa colectiva, enviou seis F-16, o ano passado para proteger o espaço aéreo da Islândia e, sobretudo, por neste momento ainda ter outros tantos caças a liderar uma missão da Nato de protecção dos Estados Bálticos – área de absoluto interesse estratégico de Moscovo.
Seria bom que o Governo Português dispensasse alguma atenção, à Geopolítica e ponderasse para que serve hoje em dia a Nato, e se é do nosso interesse lá continuar e em que termos.
Pois convinha apurar quem está a provocar quem: se os russos querem ameaçar o ocidente ou se é a Nato – leia-se, os EUA – que querem empurrar com a barriga (e com misseis) para cima das fronteiras de segurança russas. Ou se ambos.
Convém não andar apenas a ver passar os comboios.
Neste caso, os bombardeiros russos…
O Governo Português – com a aparente conivência das chefias militares – optou há anos, por vender 12 F-16 à Roménia, venda que está agora em plena execução.
Importa perguntar se continuam satisfeitos com o negócio (lembra-se que a Força Aérea só dispõe, neste momento de duas aeronaves que dão tiros, os F-16 e os P-3) e, se sim, porque não vende o resto?
Nunca se viu tanta asneira junta!

[1] Apesar de todas as “garantias” do Direito Internacional…
[2] Dr.ª Estibliz Bercibar Zugati, “Esti”, para os amigos.
[3] Sem embargo do número não despiciendo de pessoas envolvidas nesta área.
[4] Infelizmente, e desde há muito, que uma percentagem considerável das candidaturas aos estabelecimentos militares de ensino secundário passou a ser de membros de famílias destruturadas.
[5] Isto não quer dizer que seja contra o internato, antes pelo contrário.

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