sexta-feira, 16 de maio de 2014

FORÇAS ARMADAS/GOVERNO: AINDA A PROPÓSITO DO CASO DOS 99 PILOTOS

Desde o Antigo Egipto, seguramente desde os Caldeus/Assírios, passando pelos Medos/Persas, que as coisas se passam de modo parecido, quase igual.

A natureza humana não evoluiu muito e não aprende mesmo…
Em síntese é assim:
Em todas as épocas surgem problemas. Como, por norma, não são atacados atempadamente, pioram. Num dado momento existe um qualquer problema que se destaca pela sua gravidade; na sequência surgem outros.
Os responsáveis, também por norma, ignoram, menosprezam, não percebem que o problema é mesmo um problema, assobiam para o lado, ou não estão para se maçar.
Na vida militar as coisas não se passam de maneira diferente, mas como quem por lá milita, possui armas e um treino específico e único, a coisa tende a ter consequências mais graves.
O (s) problema (s) começa (m) por afectar um grupo restrito de pessoas, passando a haver um mal-estar localizado. Outros que sabem, ficam na expectativa, pensam duas vezes e se não se sentem afectados, dormem para esse lado.
O tempo passa, o (s) problema (s) piora (m); alarga-se o espectro dos afectados; o mesmo sucedendo com o conhecimento e consciência do que vai ocorrendo e suas consequências.
A hierarquia repousa na sua inércia e no “conservadorismo” das coisas, tentando passar nos “intervalos da chuva”, sentindo-se satisfeitos com algum alerta expedido e, ou, ensaiando o politicamente correcto, ou seja pegar no pedaço de merda pela sua parte mais limpa…
Alguns, porém, reagem mas, por norma, são ignorados ou prejudicam-se.
A velha fórmula repressivo/passiva.
Quando os problemas se agravam verdadeiramente, ainda sobrevêm fenómenos típicos a saber: a existência do estado de negação; passar a viver-se com os pés a 30 centímetros do solo e a fuga para a frente.
Na fase terminal ocorre o desnorte completo e a inanidade psicológica.
Querem um exemplo? Foi o que aconteceu ao Governo de Marcello Caetano, cerca de um ano antes do 25 de Abril.
*****
Quando os problemas começam a afectar uma parte alargada de cidadãos, acaba sempre por surgir uma liderança qualquer (é dos livros) que começa a organizar uma estrutura para se opor ao “status quo” e encontrar soluções para o (s) problema (s), por norma contra quem não os quer ver ou resolver e à margem ou à revelia das regras ou leis existentes.
Ou seja, o “caldo de cultura” para algo acontecer, que devia ser evitado, está criado.
Colhe-se da experiência histórica que, a partir daqui, entra-se num movimento uniformemente acelerado para surgir qualquer coisa fora das normas instituídas para a época, e que tal vai ter custos mais ou menos acrescidos.
Apesar das evidências de haver uma liderança – à partida clandestina – que começa a estruturar-se, a criar objectivos, doutrina para os sustentar e máximos divisores comuns, a hierarquia do “establishment” faz por ignorar o que se passa, sem embargo de tentar espiar o que se passa.
É quase como que inerente à natureza humana e tem causas várias, como por exemplo a ignorância, desleixo, má avaliação, menosprezo, cobardia, numa palavra, medo.
Medo de tudo, que culmina no medo da própria sombra.
A partir daqui quem está, está na defensiva e diminuído; quem está fora está na ofensiva e tem a iniciativa e a surpresa do seu lado. Por norma ganha.
Quando e se, os responsáveis começam a reagir, já tarde, fazem-no reprimindo, o que faz aumentar a tensão em vez de a aliviar. Neste ponto é usual deflagrarem incidentes vários.

Se, por outro lado, cederem demasiado nunca mais vão parar de ceder e perde-se o respeito.
No fundo a velha fórmula de Brito Camacho: “é preciso obrigar o governo às cedências que rebaixam e às violências que revoltam”…
Chegamos então, ao limiar de qualquer coisa à fronteira da confrontação.

Até que um dia, uma acção, um incidente, uma tomada de posição menos ponderada – o que ninguém sabe prever exactamente – funciona como ignidor.
É como o “triângulo” do fogo… [1]
O 25 de Abril de 1974 é, neste aspecto também, exemplar: o ignidor foi o decreto-lei nº 353/73, de 13/7, assaz conhecido, mas convenientemente esquecido.
De seguida a anarquia e as piores emoções da natureza humana soltam-se já que, também por norma, não se pensa no dia seguinte. E o dia seguinte é que é o diabo…
Quando a ocorrência se dá – seja ela qual for – aparecem de imediato uns iluminados a dizer “estava-se mesmo a ver”, alguns dos quais com avantajadas responsabilidades no que se passou…
Sem embargo de só se terem tornados evidentes depois de ocorrerem…
Outros, certamente videntes, reputam o ocorrido de “inevitável” - sem nunca terem feito nada para o evitar...
Nem eles sabem bem o que dizem pois “inevitável” é a gente morrer. E mesmo assim, só para quem não acredita na Ressureição.
Aguarda-se, em jubilosa esperança, os resultados dos próximos capítulos das actuais novelas.
Pois começa a haver várias em desenvolvimento.


[1] Ou seja, para haver fogo é necessário existir oxigénio, um comburente e um … ignidor!

1 comentário:

Anónimo disse...

"Enquanto faz asneiras, não se perturba o inimigo".
Até que ponto o "sistema mafioso" merecerá alertas com sincera frontalidade, meu tenente coronel?
D.Pinto