“As FA dispõem de três impressionantes vantagens políticas
sobre as organizações civis: marcada superioridade de organização. Um status
altamente emocional e o monopólio das armas; que perante tudo isto o
surpreendente é que obedeçam aos seus
chefes políticos”.
Samuel Finer (1976)
O c.m.g.
Silva Paulo (SP) garantiu, de há uns tempos para cá, uma espécie de “coluna
semanal” nas páginas do Diário de Notícias. Ele e eles, lá saberão porquê.
Com falas
mansas, mascaradas de correcção democrática e politicamente correcta q.b. vem,
sub-repticiamente, a minar os fundamentos da “condição Militar” e a tentar
subverter a postura e importância da Instituição Militar no seio do Estado e da
Nação.
Evidencia
uma avantajada falta de “espírito militar” e inépcia para ter entendido o que é
a nobre “profissão das armas”.
Não é o
único, conheci alguns com décadas de serviço e que parecia que nunca tinham
passado pelas fileiras…
Há gente
assim, enganam-se (ou são enganados) na vocação e depois passam a vida em passo
trocado e zangados com a bílis. Tenho até, dúvidas, que SP, quando se alistou
na Armada, não pensaria estar a entrar para alguma marinha de recreio.
O último
artigo dado à estampa, com o mesmo título que encima este, não foge à regra. Já
é tempo de o começar a rebater.
Nele
insinua que “muitos” andam com “saudades do Conselho da Revolução” (CR);
defendem “ modelos de actuação das FA desviantes da Constituição” e do
“controlo civil”; “discutem a legitimidade do poder político”; existem “apelos
à intervenção das FA na governação”; etc.
Nunca,
porém, concretiza, ou explicita, nada do que deixa no ar.
Chega a
invocar o “revivalismo da Carta de Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe”, como
prova do que afirma.[1]
O rosário
de barbaridades é extenso e passa ainda pela defesa da “supremacia civil sobre
as FA”; a falta de “sorriso” com que, a maioria dos militares, “como os
burocráticos públicos” aceitam “a retracção a que as FA têm sido sujeitas desde
1982”.
E acaba
fazendo incursões no que apelida de “ausência do estado de direito democrático,
na formação básica dos militares”, chegando à deselegância de propor que as FA
sejam “afastados de cenários domésticos” dado que as oportunidades (de
intervenção) podem surgir, pois a “carne é fraca”. Gostaram desta pérola? Será
que S. Exª ainda se atreve um dia destes a proibir as mulheres de irem de
bikini para a praia – “just in case”?
E deixa
um apelo pungente, depois de criticar o “Conceito da Marinha de duplo uso” –
que é das coisas mais bem elaboradas pela Armada (para além do elementar bom
senso em que se baseia):
Aproveitar esse espanto de projecto apelidado de” Defesa 2020” para
“tornar a formação básica dos militares e sobretudo dos oficiais, capaz de
garantir que eles sabem o que é o Estado de direito democrático que juraram
defender e que o defendem com convicção”.
Antes de
entrarmos na análise de algumas das contradições e na refutação de ideias veiculadas
ficámos com esta curiosidade quase mórbida: onde será que este cidadão que
cursou a Escola Naval e mais uns quantos cursos técnicos e de promoção (e não
parece haver ofício em que os seus profissionais passem mais tempo em
formação), terá conseguido aprender o que é essa coisa de “estado de direito
democrático”, que nega aos outros saberem?
E só nos
espanta como é que não propôs, desde logo, a criação de uma “campo de
reeducação” – de que ele seria um putativo director – onde os relapsos
detectados nas formaturas e conversas de bar (como fazem falta os comissários
políticos!), logo fossem internados!
Infere-se
até, que os seus camaradas foram promovidos a oficiais e andaram a jurar coisas
sem saber ao que iam...
Uma
derradeira achega: aos militares não é importante como diz, aprender o tal
conceito que para si aparenta ser o “supra sumo da essência do sublime”. Meia
dúzia de aulas de Ciência Política chegam para isso e muito mais. O que é
verdadeiramente importante é a aprendizagem e interiorização da Ética e da
Deontologia Militar. São elas que vão determinar o bom ou mau uso que os
conceitos, técnicas, tácticas, doutrina, etc., possam vir a ter.
E se
aceita um conselho, devia preocupar-se mais em que os políticos aprendessem
Ética e Deontologia do que os militares soubessem de estado de direito
democrático…
Os
políticos nem sempre cumprem as leis que elaboram; tão pouco as promessas que
fazem; mentem despudoradamente, quase por compulsão (democrática, obviamente);
dão azo a que a corrupção campeie; andam a destruir as instituições do país e o
próprio país e acabaram por bloquear o próprio sistema político onde se
enredaram e SP acha que isto representa o “Estado de direito democrático”!?
E aqui
passamos à Constituição (CR). Acusa militares (mais uma vez sem identificar
ninguém) de se quererem desviar dela, mas ainda não demos conta de ninguém o
ter feito; ao contrário, parece que a actuação das forças políticas é que não
pára de incorrer em tal prática como, de resto, o Tribunal Constitucional (TC)
vem afiançando.
E aqui é
que o texto do autor nos baralha: por um lado os militares juraram defender a
CR (e segundo SP até o devem fazer com convicção), mas por outro lado o mesmo
SP fica com erupções de pele só de pensar que algum fardado possa intervir seja
no que for. Então em que ficamos?
Aqui
para nós, eu nem sei porque é que o TC (e as restantes forças políticas) se
preocupam com essa coisa da CR. Então, na última revisão constitucional não
mudaram, quase à socapa, o articulado da dita cuja, no sentido de subalternizar
todo o edifício legal nacional, face às leis que se produzem em Bruxelas? Nesse
caso o que é que venha de lá (Troika incluída) pode ser considerado
inconstitucional?
E poderá
o eminente escriba esclarecer o que entende por “supremacia civil”?
Eu
julgava que o termo era subordinação (não submissão) das FA ao poder
legitimamente constituído, o que deve ocorrer, outrossim, com os restantes
corpos especiais, ou não, do Estado, como os diplomatas, os serviços de
informações, as direcções gerais, etc. e as polícias – a propósito não há
nenhum militar a comandar polícias, o que há é oficiais de Exército que,
transitoriamente, dada a realidade histórica, integram a GNR que presumo, deve
saber, ser uma força de segurança com estatuto militar.
Entenderá
que os civis devem andar contra os militares ou estes contra aqueles? Que os
políticos possam fazer da IM “gato – sapato” e ninguém tem direito a protestar?
Que os militares são seres descartáveis? Que a sua opinião não deve contar?
O quê?
Não lhe
chega as limitações constitucionais existentes? Os cidadãos militares na
reserva e reforma são assexuados e apolíticos? Os políticos estão acima de
crítica? Por acaso perpassa-lhe pela mente que as chefias militares não devem
apenas lealdade ao governo, mas também ao PR, aos seus pares, aos Ramos que
comandam e à Nação de onde emanam e, prioritariamente defendem?
O Senhor
atreve-se a chamar o Mouzinho – cuja carta, que evocou, devia ser lida todos os
anos nas escolas do país – que é um exemplo de virtudes militares, à colação,
para insinuar semelhanças com eventuais atitudes menos próprias, logo ele, que
teve a coragem de se meter na campa por já não suportar as perfídias dos
políticos e da política?
De facto
fazem falta outros “Mouzinhos” que escrevam ao 1º Ministro, como ele o fez,
dizendo a dado passo, “Todos sabem os apuros financeiros do país e sabem por
igual que, para segurar o poder por mais 2 ou 3 anos, V. Exª e o gabinete a que
preside não hesitarão em sacrificar o futuro”.[2]
Espero que
quando da próxima vez que balbuciar o nome do herói de Chaimite o faça
respeitosamente e na posição de sentido e, se armado, apresente armas!
Quanto ao
CR, foi um órgão que resultou das sequelas do 25 de Abril – seguramente uma das
intervenções que aos militares está interdita, a avaliar pelo que exprimiu. O
CR, de facto, não deixou grandes recordações, mas tem que se lhe fazer a
justiça de ter entregado o poder, conforme o acordado entre a maioria das
forças políticas emergentes e uma nova CR aprovada.
Não
consta que mais ninguém o tenha reivindicado a não ser por dedução do disco
riscado do camarada Otelo.
Medite
antes na citação do Samuel Finer. Se perceber a sua dúvida, talvez consiga pôr
em ordem a baralhação que lhe vai na cabecinha.
Concedo,
todavia, que numa área as FA têm sido condescendentes: nos exames
psicotécnicos.
A malha
tem de ser apertada.
[1] Carta de Mouzinho de Albuquerque (na sua qualidade de “Aio”), ao Príncipe Real, D. Luís Filipe de Bragança escrita, em 1901. Uma extraordinária peça de antologia que atesta a sua nobreza de carácter e Espírito Militar.
[2]
Carta que escreveu ao Presidente do Conselho de Ministros, José Luciano de
Castro, em 23/7/1898, após ter sido exonerado do cargo de Comissário Régio, em
Moçambique.
5 comentários:
Este Post foi muito bom.
“As FA dispõem de três impressionantes vantagens políticas sobre as organizações civis: marcada superioridade de organização. Um status altamente emocional e o monopólio das armas; que perante tudo isto o surpreendente é que obedeçam aos seus chefes políticos”.
E o mais supreendente,acrescento eu,é que obedeçam a chefes políticos TRAIDORES.
Esse marinheiro deve estar ao serviço das forças que querem acabar de vez com a soberania(alguma que resta)deste país.Mas que muitos militares parecem ser ignorantes da realidade política e social portuguesa será verdade pois estão sujeitos,como todos nós,a uma torrente de distracções e desinformações.Eles no entanto devem estar preparados(os oficiais)para intervir,não de forma ideológica(como em 1975)ou partidária,quando o regime político actual falhar(e parece-me que é o caso agora).
... desde há algum tempo, tb tenho seguido a conversa afiada desse indivíduo, cujas ideias parece copiadas dos manuais da ORA/PCP, ao tempo das rebeliões de 1936...
Faz bem BF em apontar o dedo; mas, talvez fosse melhor que a fulanos de tal genéro, se lhes passe ao largo e não lhes demos a "importância" que, na realidade, está limitada à circunstância de a sua foto aparecer em certos jornais.
... tenho seguido, tb, o que esse fulano anda por aí a escrever, quase copy>paste dos manuais da ORA/PCP ao tempo das rebeliões precedentes a Setembro de 1936.
Faz bem BF em lançar avisos à navegação, não vá algum incauto ficar encalhado naquele género de parlapié democrático. Mas, talvez fosse melhor não oferecer importância a determinados fulanos, que só a têm porque lhes estampam foto em certos jornais, democráticos.
O inimigo merece o meu respeito,um TRAIDOR só pode merecer o meu desprezo!!!!
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