Parece (do que há registo) que a primeira desavença
séria se deu no reinado do Senhor Rei D. Afonso II, um conflito de Poder entre
ele e as irmãs; depois houve desavenças graves no reinado de D. Sancho II, que
acabou deposto e substituído por seu irmão Afonso que veio a ser o III; por
duas vezes as hostes de D. Dinis e do seu fogoso filho, o futuro Afonso IV, se
defrontaram, valendo a Rainha Isabel, que veio a ganhar a santidade.
A crise de 1383/5 foi de uma gravidade extrema e
partiu o Reino ao meio, ganhando (felizmente) a vertente nacional; podíamos ter
acabado logo aí.
A família real e as casas nobres do país
desentenderam-se após a morte do douto e infeliz Rei D. Duarte, o que só veio a
ser sanado em Alfarrobeira, em 1449, com a infausta morte do Infante D. Pedro,
o “das sete partidas”.
O sangue correu, novamente, no reinado de D. João II,
até este conseguir debelar as duas conspirações feitas contra ele por elementos
da alta nobreza, onde também entrou a mãozinha castelhana.
Em 1580 desentendemo-nos de vez, o que foi
aproveitado pelo sagaz Filipe, que chamou um figo à corrupção de grande parte
do alto Clero e Nobreza e zás: comprou-nos, conquistou-nos e herdou-nos! É o
que acontece às árvores que se deixam apodrecer por não serem podadas a tempo:
morrem.
Lá nos reabilitámos com a “Restauração”, mas…
A situação piorou muito no século XIX, após as
invasões francesas, a Corte no Rio de Janeiro e as influências jacobinas da
Revolução Francesa, à mistura com o domínio Político/económico britânico. Em
resultado de tudo isto, e da perda do Brasil, a família real cindiu-se, idem
para o Exército e, por arrastamento, toda a Nação.
A coisa foi feia de se ver, com o eclodir da pior
guerra civil, entre 1828 e 1834, logo seguida de duas outras, a “Maria da
Fonte” e a “Patuleia”, em 1846/7.
Nunca mais recuperámos disto até hoje, mesmo tendo em
conta o período do “Estado Novo”.
A transição da Monarquia para a República causou
outro grave afrontamento e, o que se lhe seguiu, não sendo uma guerra civil
clássica, configurou uma calamidade conflitual terrível que durou 16 anos!
Mesmo no período da Ditadura Militar e no da vigência
da Constituição de 1933, ocorreram cerca de uma dezena de golpes militares, com
apoios vários, terminando com o de25/4/74, em consequência do qual o país
esteve novamente à beira da guerra civil, travada “in extremis”, em 25/11/75.
Enquanto isto, pelos antigos territórios ultramarinos
deflagraram conflitos que vieram a causar mais de um milhão de mortos. Nunca
saberemos exactamente quantos.
Tudo o que se apontou configura uma situação de muito
pouco “juízo”, ao longo dos tempos…
*****
Depois de 1976 liberalizou-se, desregrou-se e
relativou – se (quando não se subverteu), tudo: as leis, as regras, os valores,
os princípios, os deveres, os direitos, as contas, etc. Tudo.
E como se foi gastando à tripa forra e dando
subsídios a quase todos, andava toda a gente contentinha. Pois haverá alguma
cidade cercada que resista a um burro carregado de ouro?
Ou posto de um modo mais modernaço, quem vai (isto é,
ia) passar férias a Cancun, mesmo sendo a cartão de crédito, insurge-se contra
o quê?
Em síntese, finalmente houve um país que pôs em
prática, na sua plenitude, os “slogans” do “Quartier Latin” no recuado Maio de
68…
Bom, chegámos à beira de mais um precipício.
Ainda não se contam espingardas, mas há uma
quantidade enorme de “democratas” que, via “Net”, aspiram cortar cabeças uns
aos outros. Mas enquanto for só na net…
Sem embargo uma enorme guerra civil já começou há
muitos anos e aparece estampada no papel, no som e na imagem da Comunicação
Social, à frente de todos. E os indígenas – que somos todos nós – à força da
agressão constante já entendem as coisas como “normais”, por habituais.
Ora o que parece ser um facto incontroverso é que
assistir a um qualquer telejornal é um puro exercício de masoquismo.
Deixemos as desgraças que vão por esse mundo fora e
concentremo-nos nas nossas.
Comecemos pela política, pois os actores da política,
pela sua permanência e exemplo marcam o quotidiano da “Polis”.
O espectáculo é de guerra civil, permanente,
partidária e entre órgãos de soberania, com grande falta de elevação, ataques
pessoais, “bota abaixo” e desrespeito por tudo e por todos!
O bloqueamento da Justiça, o comportamento de muitos
dos seus agentes e o tratamento mediático deste sector fundamental da sociedade
é simplesmente lamentável; a indisciplina nas escolas, as mudanças constantes e
experiencias delirantes, do sistema de ensino, é o maior “calcanhar de Aquiles”
da Nação; o desregramento financeiro, em praticamente todos os sectores do
Estado, é aterrador; o comportamento dos sindicatos extravasa tudo o que é de
bom senso e devia ser permitido; a sobranceria, privilégios e falta de controlo
do sistema financeiro é um vector de desequilíbrio e injustiça permanente; as
Forças Armadas são destruídas e ignoradas implacavelmente e as Forças de
Segurança são minadas nos seus fundamentos.
A Diplomacia não tem a menor acção na defesa dos
Objectivos Nacionais Permanentes e temporários de Portugal, pois os sucessivos
governos deixaram de ter política seja para o que for, a não ser para se
manterem no Poder e andar de mão estendida para Bruxelas (agora, Berlim).
Com um pano de fundo destes (muito aligeirado, aliás)
a sociedade sofre-lhe as consequências e desagrega-se.
Com todos os “ismos” na pantalha da escrita, da imagem
e do som, correndo transversalmente todas as artes e espetáculos, o pessoal
exorbita: os casos de corrupção ou suspeitas de, vertidas nos noticiários,
acompanhados dos crimes mais repugnantes e do aumento constante da criminalidade,
que as tiradas demagógicas não iludem; o envolvimento cada vez maior de agentes
das Forças de Segurança e, até, de investigação criminal, em actos criminosos;
suspeitas de pedofilia na Igreja e fora dela; o número de vigarices, desde os
clubes de futebol às autarquias, etc., que se vão descobrindo, são de molde a
desmoralizar o melhor candidato a santo!
Ou seja, o país corrompeu-se e desmoralizou-se
profundamente e, agora, anda tudo de cabeça perdida sem saber o que fazer.
E tudo numa correria infrene debaixo de um dilúvio
mediático que impede qualquer aferição e reflexão séria sobre tudo o que se
passa…
Razão tinha o Papa Bento XVI, quando logo no início
do seu pontificado, veio dizer que a prioridade número um, para a Igreja, devia
ser o combate ao “Relativismo Moral”.
Pois este parece ser o cerne de tudo isto, o que não
é mais do que a continuação da eterna luta entre o Bem e o Mal.
E as rupturas podem começar a surgir em catadupa.
Um exemplo
para terminar:
Um jovem professor de português colocou aos seus
alunos, de 13 e 14 anos, o seguinte tema para uma composição: “acabas de fazer
13 anos e decides pôr fim à tua vida. A tua decisão é irrevogável e resolves
explicar as razões da angústia que te atormenta. No texto que redigires refere
os acontecimentos da tua vida que causaram esse sentimento”.
Que pedagogia ou desequilíbrio levará um “professor”
a escolher um tema destes numa turma de adolescentes?
O Bem triunfará do Mal?
Que nos diz a Razão e a Esperança?
3 comentários:
E já nem se fala no nefando acordo (aborto) ortográfico que corrompe e mutila a língua portuguesa, a qual foi também transformada num (mais um) negócio... chorudo.
E já nem se fala no nefando acordo (aborto) ortográfico que corrompe e mutila a Língua Portuguesa a qual se vê assim transformada num (mais um) negócio... chorudo.
Conforme notícia dos media revolucionários (http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=5B89898F-EEE4-4712-9679-80E91E54526E&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021),«O papa Bento XVI considera que o mundo actual está a viver uma “espécie de ditadura do relativismo que mortifica a razão, uma vez que chega a afirmar que o ser humano não pode conhecer, com segurança, o que há para além do campo científico”. Perante várias centenas de fiéis na residência dos papas, em Castel Gandolfo, Bento XVI alegou que o racionalismo, corrente filosófica central no pensamento liberal, foi inadequado, uma vez que não teve em conta os limites humanos e pretendeu elevar apenas a razão para medir todas as coisas, “transformando-a numa deusa”.»
A ditadura da fé no tudo é falso – relativismo – impôs-se efectivamente ao mundo após a Segunda Guerra Mundial com o triunfo do modernismo. Neste momento o bem e o mal já não estão definidos, ninguém pode defender o bem nem atacar o mal, pois o farol que os referenciava tem vindo a ser desprezado. Ninguém quer saber da Verdade, todos querem o máximo prazer, todos querem chafurdar no hedonismo, mas, da justiça, da moral, da honra, poucos se interessam. O racionalismo conduziu à sua forma extrema – o empirismo – cujo precursor foi o pai de todos os revolucionários, John Locke. Desta forma defeituosa de entender a origem do conhecimento nasceu o liberalismo e com ele as futuras revoluções que viraram o mundo ao contrário. Para o empirismo o único conhecimento possível é o determinado pela experiência. Negligencia-se assim o conhecimento interior, as faculdades inatas, e o poder da razão sem a observação, e ainda o conhecimento transmitido de forma divina com base na contemplação, na reflexão e na intuição. A modernidade está cheia de falsidades, em boa hora o Santo Papa alerta o mundo para o perigo de se pretender a todo o custo fugir à verdade. Não confundir pois o nobre e honesto homem leal com o homem liberal. Quando se questiona: posso ser cristão e liberal? não há pois que ter dúvidas na resposta.
Respeitosos cumprimentos,
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