O CULTO DO BELO E AS PROFUNDEZAS DO INFERNO
17/12/21
“A Beleza salvará o Mundo”.
Dostoiévski, “O Idiota”.
Fui assistir a um concerto do violinista André Rieu e da sua “Johann Strauss Orchestra” na, agora, “Altice Arena”. Que maravilha!
A música levou-me por pensamentos algo etéreos…
O espectáculo é, porém, muito mais do que um concerto, de facto é um tratado de filosofia de vida; um exemplo de profissionalismo; um conjunto de ideias morais em ordem ao Bem e o espelho do que melhor existe na matriz cultural judaico-cristã (enfim, mais cristã do que judaica).
O pavilhão estava a abarrotar e não houve “SarsCov2” que o sustivesse. Ainda bem, ainda há esperança que grande parte da população, ainda não esteja alienada de todo e não ser só o futebol que consegue arrastar multidões, com muitos dos intervenientes em toda essa realidade (da tutela, aos clubes, aos “empresários”, “às negociatas”, às “claques” e à massa associativa e espectadores em geral) cujo comportamento deixa muito a desejar e a serem notícia constante pelos piores motivos.
Este espectáculo é a prova provada de que se pode nivelar por cima, que se pode (e deve) disseminar cultura pela generalidade da população sem receio de rejeição ou do estafado slogan “não estão preparados para isto”. Havia ainda uma gama considerável de preços conforme os lugares, que não se podem considerar baratos para a média dos proventos das famílias, mas o sucesso da bilheteira foi enorme. E atrevemo-nos a dizer que se em vez de quatro espectáculos, tivessem sido dez, assim teria sido em todos os santos dias.
E é a prova também, de que podemos evitar ter uma sociedade (ocidental) onde passou a notar-se o culto do feio, do ordinário, do sórdido, do maligno, do aberrante, transversal em todas as artes (e passa também nas pantalhas televisivas), com intuito de chocar as audiências, subverter-lhes os princípios, a matriz cultural de um povo, o nivelar por baixo, etc., em nome do falso relativismo moral, de dar expressão a traumatizados sociais e morais, do “progressismo”, das “amplas liberdades”, das experiências sociais aberrantes; do igualitarismo (que não da igualdade), etc., com que somos bombardeados todos os dias e que mais não visa do que a subversão e desconstrução da sociedade; a quebra dos valores tradicionais e amplamente testados desde antanho; o repúdio da autoridade; e dos laços religiosos, enfim, a quebra da vida em comum.
E isto não tem nada a ver com crítica saudável, imobilismo ou falta de desejo de sermos melhores amanhã do que somos hoje. Mas tem a ver com a necessidade de exorcizar ideologias malsãs; ideias cretinas, aberrantes e antinaturais.
Este espectáculo é o exemplo de como se pode fazer o culto do Belo ao mesmo tempo que se repelem as tais fumaças do maligno, mas só se consegue montar com grande dose de liderança, organização e disciplina; enorme sentido de entreajuda e sincronização não só dos artistas como de todos os profissionais da luz, som, cenários e restantes logística, sem esquecer toda a parte burocrática e de gestão.
Tudo isto só é possível com um apertado crivo na selecção e preparação de quem é contratado e de muito trabalho. E tal nota-se nos mais ínfimos pormenores que chegam ao ponto da interligação de esgares faciais com notas musicais e brindes com champanhe! Nota-se porém que toda aquela gente vive com alegria e transmite alegria, o que torna seguramente todo o trabalho individual e ensaios de grupo, muito mais agradáveis e suportáveis.
A batuta de tudo é do próprio André Rieu, que não só é maestro da orquestra, como toca e, em simultâneo, fala sendo o condutor de todo o fio de meada do “show”. Pois aquilo é de facto um show de música, cor, de luz, de som, de ritmo, cenários lindíssimos e apropriados e até de humor. Transmite e suscita emoções…
E quando pensamos que o espectáculo vai terminar, ele renasce e prolonga-se quase por igual tempo e a um ritmo superior. Tudo entrosado constantemente com a participação do público!
Esta exibição de arte é ainda o espelho do que melhor pode haver em todos nós e representa o cume do estádio civilizacional a que conseguimos chegar e que parte das elites e de fatias da população de hoje em dia (e que estão a aumentar na juventude) repudia, depois de terem engordado a viver na sociedade (e sua História) que agora dizem combater, cheios de “ismos” que fedem.
Este concerto de André Rieu, um holandês, que trabalha com muitas pessoas de outras nacionalidades (e ter orgulho na sua nacionalidade, não quer dizer que se queira hostilizar ou guerrear as outras) faz mais pela preservação dos valores e civilização europeia/ocidental (e na senda do suicídio em que se encontra posta), do que dez mensagens de Sua Santidade o Papa; vinte discursos do Secretário - Geral da ONU; a verborreia demagógica da generalidade dos líderes políticos e daqueles que os querem substituir e entretanto chafurdam na pseudo liderança dos Partidos Políticos.
André Rieu e a sua equipa não falam, realizam; não prometem, fazem; não se queixam, perseveram; não reivindicam “direitos”, avançam com deveres cumpridos. E tudo fazem com qualidade superior conseguindo tocar o coração das pessoas e encher a alma.
O meu obrigado e o meu bem-haja. [1]
E como estamos na quadra, e sem receio de ofender seja quem for (se alguém se ofender, tem bom remédio), aqui fica o meu desejo que passem um Santo Natal.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
[1] Apenas um desejo e um repto: da próxima vez que a orquestra vier a Portugal fico a aguardar que incluam no repertório o grande clássico do “espírito militar”, a marcha “Alte Kameraden”, escrita cerca de 1889, em Ulm (Alemanha), pelo compositor militar Carl Teike. Pois tocam-na na maravilha.
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