O “GOLFE” E AS FORÇAS ARMADAS
25/10/21
“Julgando um dever cumprir,
Sem descer do meu critério
Digo verdades a rir,
Aos que me mentem a sério.”
António Aleixo
Confesso que não sou fã do jogo.
Mas também nada tenho contra o mesmo, muito menos relativamente a quem o pratica, grande parte dos quais o faz mais pela parte social que comporta.
Até já conheci o “pior Campo de Golfe do mundo”, assim cognominado pelos habitantes da Ilha de Ascensão minúscula ilha no meio do Atlântico Sul, onde tal “infraestrutura” existe e que à falta de água e de terreno apropriado, aquilo parece uma paisagem lunar.
Mas lá vão bater umas bolas os militares que estacionam ou passam por uma base de rastreio de mísseis americana e um “Aeródromo de Trânsito” da RAF, que ajudou “só” os ingleses, a ganhar a guerra das Falkland/Malvinas.
Parece, no entanto, que a prática ligada ao golfe, passou a ser utilizada para efectuar mudanças nas chefias militares.
Começou com a destemperada acusação feita ao Major General Carlos Perestrello, para lhe abreviar a estadia como Comandante Operacional da Madeira e agora pretende aplicar-se a mesma receita para ajudar a empurrar o actual Chefe de Estado-Maior da Armada convés abaixo, da Marinha inteira. A coisa fede.
Sem querer fazer disto um cavalo de batalha, nem andar a responder taco a taco às barbaridades que todos os dias saem nos noticiários de que somos servidos, nem tão pouco “ensinar a missa ao padre”, convém colocar de vez em quando os pontos nos “i” e os traços nos “t”.
Como institucionalmente nada acontece, já que o Ministério da Defesa (um nome que representa uma mentira), gosta e pretende impôr, chamar a si, a expressão pública do que se passa nos diferentes Ramos das Forças Armadas e estes raramente reagirem a estímulos (deixo aos leitores tirarem conclusões e, ou, aos responsáveis dizerem de sua justiça), venho chamar a atenção do que segue.
Começou por se inventar que a Marinha tinha mandado construir um campo de golfe no Alfeite; depois a coisa ficou por uma “plataforma onde se podia treinar, isto é, bater umas bolas de golfe (em inglês “driving range"); que a Marinha conseguiu fazer com dinheiro de “mecenato”.
Em simultâneo pôs-se a correr, com foros de escândalo, que a Armada vive dificuldades financeiras muito grandes (mas não se adianta de quem é a responsabilidade), com os navios quase todos parados (o que é verdade) e está-se a gastar dinheiro com tais práticas, como se isso – “ó tempora, ó mores” - pudesse resolver quaisquer despesas com os fabricos que os navios carecem...
Chegou-se ao ponto de “alguém”, certamente bem-intencionado, colocar a público a factura de mil e tal euros referente a uma compra de bolas de golfe, assinada pelo Comandante Naval do Continente, dando-se a entender que o fez por ser praticante da modalidade. E tudo isto com direito a “honras” de polígrafo, aguardando eu, em jubilosa esperança, o dia em que aparecerá o polígrafo do polígrafo…
Ora como as Forças Armadas, juntamente com a Igreja Católica, quando vem a público, hoje em dia, se resumem a quase só pedirem desculpa por existirem, resta-me fazer esta coisa simples: assumir a legitimidade e conveniência do material adquirido.
Em primeiro lugar porque o Comandante tem competência (cada vez mais coartada, o que é péssimo) para o fazer; a despesa estava prevista na rubrica adequada e que é da maior demagogia e estupidez, comparar a despesa efectuada com aquela que se destina à manutenção da frota, à pintura de edifícios, ou ao raio que os parta.
O material adquirido trata-se tão - somente de um equipamento para a prática de educação física, mais propriamente para a manutenção da mesma (as forças militares americanas que operam na Base Aérea nº 4 (que é portuguesa e não americana), nas Lajes, por exemplo, fizeram há muito tempo um campo de golfe na ilha, para usufruto dos seus militares, famílias e não só; vão lá ver.
A boa preparação física é fundamental para o combate - fim último de qualquer força militar - e faz parte da “condição militar” de todos os que passam pelas fileiras, sobretudo do pessoal do quadro permanente.
Convém lembrar, ainda, que todos os militares têm que prestar provas físicas anuais até aos 45 anos e que daí para a frente é importante continuar a ter uma boa condição física que ajude a conservar, a vitalidade e a saúde e que se tal não se verificar, a sua carreira pode ser interrompida a qualquer momento.
Contestar os equipamentos agora em causa, é o mesmo que contestar qualquer uma das infraestruturas desportivas existentes.
Acresce que existem competições desportivas a nível militar, não só a nível nacional, mas também a nível do CISM (Conselho Internacional do Desporto Militar), organização fundada, em 18 de Fevereiro de 1948, em Nice, por cinco países (a Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França e Dinamarca), que foram aumentando até aos actuais 140, entre eles também o nosso país. Onde o golfe está incluído.
Por tudo isto, resta classificar o que veio a público de pura maldade, para não utilizar um outro termo mais consentâneo, existente no rico vernáculo português.
É que já não há paciência, ao contrário de tantos marmeleiros existentes, por esses campos, abandonados.
NOTA: Vamos supor que os “equívocos” relacionados com a frustrada demissão do Chefe de Estado Maior da Armada e invocados pelo Presidente da República eram outros. Ou seja, o Ministro da Defesa Nacional, a quem foi soprada a ideia, tenta obter a anuência do Dr. A. Costa o qual no meio das preocupações da discussão orçamental (e outras), terá percebido mal a situação e atirou com um “andem lá com isso para a frente”, ou assim entendido pelo Dr. Titterington C.
Caindo o assunto a público, ainda sem se saber publicamente o (s) autor (es) da “fuga” de informação, o ex-líder da Juventude Socialista alcandorado a Primeiro - Ministro, estranhou a coisa e inquiriu o senhor que faz o frete de “tutelar” as Forças Armadas, dos trocadilhos havidos, de que resultou a intenção de quem tinha escorregado na casca da banana, em se demitir. Ora um ministro demitir-se, é tudo menos o que o Dr. Costa quer, neste momento, muito menos que o PR o provoque.
Adiou-se, portanto, o desenlace, daí a secura (que nada adianta) do comunicado de Belém.
E o respectivo inquilino acumulou no seu paiol - que não o de Tancos - algumas munições.
Mas, claro, isto é apenas um "suponhamos".
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
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