A RECONFIGURAÇÃO DA “DIREITA NACIONALISTA”?
13/06/19
“Tem a palavra o Senhor Deputado:
- Senhor Primeiro-Ministro, isto está de tal maneira
mau que até as raparigas licenciadas têm que se
prostituir para sobreviver.
O
Primeiro-Ministro com o seu sorriso responde:
- Lá está o Senhor Deputado a inverter tudo, o que
se
passa é que o nosso sistema de ensino está tão
bom, que até as prostitutas hoje são licenciadas.”
Conversa
de Parlamento.
A propósito de um
trabalho jornalístico sobre uma possível reconfiguração da “Direita
Nacionalista” (assim designada), a quem alguns conotam com a direita
radical/extremista, protagonizada (ainda segundo a mesma fonte) por uma nova
geração, assumidamente identitária e contra a emigração, e de uma palestra que
fiz para uma jovem organização, talvez abusivamente incluída na designação
atrás mencionada, fui questionado por um jornalista, que me colocou três
questões sobre o assunto.
Resolvi adaptar o
texto que entreguei com as respostas, o que resultou no artigo que segue.
Não tenho conhecimento
especial sobre o que julgo ser apelidado sobre “reconfiguração da Direita
Nacionalista…”, para além do que vem expresso nos “media”, o que me parece o
mais das vezes distorcido por falta de isenção noticiosa.
Também não sei avaliar o que se
deve entender por “radical/extremista”. Se for extremista, pouco a distinguirá
nos fins e processos dos extremismos (totalitarismos) do outro extremo do leque
partidário; se por “radical” entendermos aquele que aprofunda ou vai às raízes
dos problemas, já me pareceria uma lufada de ar fresco, coisa infelizmente impensável
na lógica político/partidária.
E
se são contra a imigração desregrada, como também vem expresso, só é pena serem
pouco.
Clarifico:
O
problema “migratório” actual é muito mais um problema geopolítico do que
humanitário. E deve ser parado a bem ou a mal.
Por três ordens de razões: de segurança e soberania; de integração (que
alimenta várias actividades ilícitas), e sobretudo pelo risco de alteração
profunda da matriz cultural, social e identitária da Nação Portuguesa (no nosso
caso), como tal.
Este
facto já está a gerar consequências terríveis em vários países europeus, que
serão más para todos (e não só para alguns), piorando dramaticamente as
questões humanitárias em vez de as minorar ou resolver.
Aquilo que se pode entender por “Direita” começou a ficar destroçado
ainda antes do fim do “Estado Novo” (como a dita “Extrema Direita” foi
liquidada, em 1934, com o fim do “Nacional-Sindicalismo”), Regime que prosseguia
um fim político e doutrinário nacional e patriótico, algo equidistante de
ideologias (ou para além delas), sem preocupações de conotações de
esquerda/direita – sem embargo do seu carácter estruturalmente anti comunista,
mas também anti liberal selvagem e independente de jugos estrangeiros ou
organizações “capciosas” mais ou menos secretas/discretas.
Concretamente, não me parece que se esteja, ainda, a dar passos para um projecto
político unitário e consistente.
Há falta de doutrina; muito “complexo de quinta”; muita divisão, etc.,
não tendo ainda aparecido uma liderança destacada.
Vivemos
numa sociedade muito atomizada, hedonista, egoísta e individualista, para que
um projecto nacional consistente – é isso o que verdadeiramente devia estar em
causa – possa vingar, facilmente.
As mentiras históricas, políticas e sociais postas a correr, após o 25
de Abril de 1974, (algumas das quais passaram a ser uma espécie de “mentiras de
Estado”); a blindagem que as actuais forças políticas com assento parlamentar,
fizeram do sistema político e a maioria dos “média”, subvertidos pela chamada
“Escola de Frankfurt”, e não só, não ajudam, também, a mudanças no “status
quo”.
Além
disto uma das imagens de marca das forças que sustentam a III República foi
confinar o Parlamento a estar reduzido – ainda segundo a linguagem serôdia da
Revolução Francesa – entre o Centro e a Extrema-esquerda…
E
isto tendo por base (digo eu) a afirmação de que os Partidos Políticos são,
talvez, a pior invenção de sempre, da “Ciência Política”!
Enfim, o caminho faz-se caminhando e tudo o que se possa fazer para
agitar o pântano suicidário em que estamos, será sinal de Esperança.
*****
A actual geração, melhor dizendo uma
pequena parte dela, pois está marcada, constrangida e algo asfixiada pelo
politicamente correcto; a alienação futebolística, das novelas e dos concertos
rock; baralhada pelo dilúvio de notícias e desinformação; desmoralizada por
escândalos consecutivos de corrupção e maus exemplos e, sobretudo, tocada pelo
Relativismo Moral, que atenta diariamente com a noção do BEM e do MAL está,
naturalmente, a questionar e a questionar-se, a fazer perguntas e a colocar
questões.
Procura novos caminhos e um ideal que valha a pena abraçar.
Eu sou apenas um velho português que não se sente ideologicamente com
nenhuma força política actual.
As ideologias são invenções do pensamento humano, que muitos seguiram
com boas intenções, outros como alavanca para a tomada do poder e a maioria por
moda.
A
sua aplicação nunca resolveu nenhum problema; criaram muitos outros e não raro
desembocaram em guerras ou lutas intestinas fratricidas.
A
melhor ideologia, melhor dizendo, doutrina moral e social, tem mais de três mil
anos e está condensada nos 10 Mandamentos. Mas sendo apenas dez, raramente o
ser humano os consegue ou quer, seguir.
O
nosso País, que houve nome Portugal, tem uma matriz política e cultural coesa,
que lhe vem do princípio da nacionalidade. É o país com fronteira definida,
mais antigo da Europa (enfim, falta resolver a questão de Olivença e o seu
termo!), quiçá do mundo, mesmo tendo em conta a realidade arquipelágica do
Japão que, aliás ajudámos a unificar.
Somos um dos raríssimos países, senão o único, em que a Nação antecedeu
o Estado, sendo que a maioria dos estados existentes, nunca conseguiu
constituir uma nação. O caso, para nós, mais paradigmático é a Espanha.
Não existem problemas de raça, língua, cultura, separatismos (andam,
porém, a querer inventar problemas com a estúpida da regionalização), ou
religião.
Com este pano de fundo é natural que exista uma noção prática de coesão
nacional telúrica, que entrou no nosso “ADN” (e está para além das ideologias),
que seja difícil beliscar e que tem conseguido sobreviver a todos os desastres
havidos e às três maiores ameaças à tal matriz inicial, que ocorreram no
reinado de D. João III; a seguir à implantação do Liberalismo e na sequência do
golpe de estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, a situação mais perigosa de
todas.
Por isso é natural, recorrente e lógico, que velhas questões e ameaças
aflorem às mentes dos mais jovens (sobretudo quando os avós não lhes passam o
testemunho), apesar das tentativas, que tenho de considerar criminosas, de se
querer distorcer e, ou, abolir a memória histórica e colectiva da Nação.
Numa palavra, para se alcançar as “aspirações utópicas”, clássicas, de
Segurança, Justiça e Bem-Estar – por esta ordem, já que a ordem dos termos não
é arbitrária – não é necessário professar qualquer tipo de ideologia especifica,
mas realizar com competência, honestidade e patriotismo – daí o problema
fulcral da escolha e preparação das elites – o que for julgado adequado em cada
momento para o todo nacional.
Tendo à cabeça, é bom de ver, o objectivo nacional, permanente e
histórico, originado nos campos de S. Mamede, em 24 de Junho de 1128 e
sedimentado em Ourique, em 25 de Julho de 1139: garantir a independência
soberana da Nação Portuguesa; a segurança do território e o alvedrio das suas
gentes, que o habitam vai para 900 anos.
Daqui deriva a importância da preservação do termo “Nação” e da sua
idiossincrasia, que não é mais do que o conjunto extrapolado de famílias, que
se identificam com a tal matriz cultural inicial, que nos formou, caldeada por
todas as vicissitudes históricas, que lhes foram comuns. E que através desse
cadinho de séculos se transmutou de uma realidade apenas física, para uma
entidade espiritual chamada Pátria. A Pátria Portuguesa (a qual está muito para
além da língua de que falava o Pessoa).
Ora para se preservar a Nação é necessário adequar todo o sistema
político à mesma e não violenta-la com invenções estranhas que lhe são
inadequadas, nefastas e até aberrantes.
E
devemos começar pela Constituição da República, bastando referir para isso que
nos seus 289 artigos (a mais extensa desde a primeira datada de 1822) não
refere uma única vez o termo Nação e apenas uma vez (no seu artigo 276)
a palavra Pátria…
Ora isto é só por si muito lamentavelmente revelador!
*****
Fui convidado a participar num fórum de
reflexão cívica tão mais importante, quanto se sabe que o pensamento e o
discurso político e social, nacional, foram capturados por uma partidocracia
que instaurou em Portugal, não uma Democracia, mas uma ditadura partidocrática,
bem como a corrupção dos costumes.
Falei sobre os “Espaços Estratégicos de Interesse Nacional”, o que está
no âmbito da Geopolítica. Fundamentalmente tem a ver com o problema do Espaço;
os cenários geográficos e políticos com que nos defrontamos; os interesses que
são importantes defender, para Portugal e as possíveis ameaças aos mesmos.
Uma análise que, melhor ou pior, sempre se fez desde Afonso Henriques
até 1974, mas que daí para cá, passou a constituir uma actividade menor, difusa
e envergonhada.
Enfim, uma maçada.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
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