O PROJECTO EUROPEU
A UNIÃO EUROPEIA
SEGUNDO MARCELO
19/04/19
“As nações
europeias são ovos cozidos. Não se podem fazer omeletas com ovos cozidos.”
Charles de Gaulle, sobre a União Europeia.
O
Presidente da República (PR) deu uma entrevista que foi publicada no jornal
“Público” do pretérito dia 31 de Março. Sobre a União Europeia (UE).
O
conteúdo merece algum comentário, desde já pelo facto de ter sido dada a uma
jornalista conhecida pelo seu europeísmo e federalismo.
É
importante começar por dizer isto para situar a coisa.
Por
outro lado, dado o estilo de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), como PR e pessoa,
nós não sabemos ao certo, em que condição é que ele deu a entrevista, pois às
tantas é difícil distinguir se é o Presidente das “selfies” que se diverte; o
“piegas” dos sem – abrigo; o porreiraço do “está tudo bem e nós somos os
maiores”; o comentador, que opina sobre tudo e todos; o repentista dos
telefonemas em directo para a televisão, ou se está a falar de cátedra.
Ou
seja, saber se o devemos levar a sério ou não.
Optemos,
na circunstância, por o levar a sério.
Comecemos
pelas frases primeiras e, provavelmente, não precisaremos de sair delas.
A
jornalista começa a dizer-nos que para MRS a “Europa não dispõe hoje de um
centro político ou de uma liderança suficientemente forte para enfrentar os
desafios internos e externos, que tem pela frente. Angela Merkel está
enfraquecida. Passada a crise do euro, durante a qual França e Alemanha
dominaram, o eixo Paris-Berlim não se renovou com a entrada em cena de Emmanuel
Macron.”
Pergunta-se:
é suposto a Europa, melhor dizendo, a União Europeia (UE) – constituída,
lembro, por 28 países – ter uma liderança (individual)?
A
UE não é uma entidade supranacional (apesar de jurídica e politicamente mal
definida), constituída por um conjunto de países que decidiram cooperar e
juntar sinergias, fazer coisas em comum com regras iguais ou idênticas?
É
suposto ter uma liderança? E havendo uma liderança ela tem que ser
personificada em alguém? Esse, “alguém”, foi votado em eleições? É-o por
direito divino? Foi eleito/designado, pelos seus pares? Onde se enquadram as
lideranças rotativas por países?
Ou estará à espera que apareça, sei
lá, um Carlos Magno que pela sua verve, sabedoria ou energia cinética do murro,
arraste a ele, Marcelo, e os seus pares atrás de uma cruzada qualquer? (esta da
“cruzada” tem graça pela ironia…).[1]
E
porque havia de ser a senhora Merkel – que por acaso se chama Kastner, ou
Mácron (curiosamente de nome próprio Emmanuel, que quer dizer “Deus connosco”),
uma espécie de “enteado” dos Rothschild? E porque será que tem que haver um
eixo Paris-Berlim, ou outro qualquer? Será que somos todos iguais como dizem,
ou há uns mais iguais que outros?
Ou
será, que nunca deixou de haver a hierarquia das Nações, como todos sabem, mas
escamoteiam?
Porque
é que ele, Marcelo, descendente (por herança histórica) de “Gamas e
Albuquerques”, não arranja um “eixo” qualquer e se candidata a líder da tão
famigerada Europa que, nos dias que correm, quase não passa de uma realidade
geográfica para onde os nativos de outros continentes desaguam como rios
sôfregos de encontrar um mar?
E
se o decidisse teria ele, MRS, ou o Estado Português como tal, meios para o
fazer? Claro que não tem. Por isso se contenta em clamar para “outrem” aquilo
que eventualmente gostaria de ver feito – o que não deixa também de ser uma
forma de desculpa…
Será que a “liderança” do
dia-a-dia não deve caber ao Comissário Europeu que responde actualmente ao
chamamento pelo nome de Juncker, um ser curioso, dada a sua aparente
dificuldade em caminhar em linha recta entre dois pontos?
E
isto segundo os tratados e leis existentes e as orientações dos lideres dos
diferentes países, quando estes deliberam (Conselho Europeu)?
Abre-se
aqui um parêntesis para referir o Parlamento Europeu que ninguém sabe muito bem
para que serve, tirando o facto de ser uma espécie de prateleira dourada de
políticos dos diferentes países que os seus “patrões” nacionais pretendem
enxotar por incómodos, ou premiar por “serviços” prestados e que, por norma,
passam o tempo a viajar para os respectivos países sexta-feira, cedo e a
regressar segunda-feira, tarde, enquanto coleccionam bens e regalias materiais
através de empresas maioritariamente sediadas no Luxemburgo.
Voltando
às palavras, certamente afectuosas e de crítica fraternal – não fosse ele um
assumido católico (progressista?) – do nosso PR, em criticar a liderança
europeia, quererá ele insinuar que ficaremos contentes com qualquer liderança
que desponte na Europa? E poderá ser húngara ou polaca? Ou tem que ser alemã ou
francesa?
Esta
eventual liderança deve sobrepor-se ao Parlamento Europeu? À Comissão Europeia?
Enfim, às Instituições Europeias?
Mas
diga-me senhor Presidente, como é que se pode liderar cerca de 4,5 milhões de
Km2, habitados por 500 milhões de almas (melhor dizendo “corpos” pois a alma
foi-se perdendo há muito…) apostados em suicidarem-se colectivamente, por causa
da demografia negativa (deixaram de querer ter filhos!) importam migrantes em
quantidade e qualidade impossíveis de integrar; desistiram ou renegaram a sua
matriz cultural e religiosa; têm vergonha da sua História; não se querem
defender; assumiram a cultura da morte e o relativismo moral; estão todos
politicamente divididos em ideologias divergentes e antagónicas, etc.?
Ou seja, são visceralmente
diferentes uns dos outros; divididos pela História, pelo Clima, pela Geografia,
pela idiossincrasia própria, os hábitos, a gastronomia, etc., que durante 2000
anos viveram em guerra e agora vão-se unir, em décadas, porque uns castiços
imbuídos de ideias nem todas elas confessáveis, entendem que o deviam fazer? E
o senhor Presidente lastima-se porque não há uma Liderança? Mas como? Quer
arranjar uma polícia europeia para impor uma ditadura?
Ainda
não reparou que aquilo que constituía o alicerce ancestral dos países europeus,
ou seja o Cristianismo, sobretudo desde S. Bento, a Razão Grega e o Direito
Romano, se começaram a esfarelar desde a Reforma e a Revolução Francesa e estão
hoje uma sombra do que já foram?
O
Senhor pensa que isto tem conserto e queixa-se que não há liderança neste caos
controlado, que foi sendo criado pelas próprias lideranças ao longo dos tempos?
Será
que ainda não percebeu porque é que a maioria dos britânicos (mais velhos ou
não) votou pelo "Brexit"?
Ainda
não deu conta que a única coisa que Bruxelas sabe fazer, perante qualquer
problema que surja, é atirar dinheiro para cima dele? E que o dinheiro agora é
controlado pelo Banco Central Europeu, que por acaso está dominado por
accionistas privados? Ou seja o dinheiro não pertence aos Estados nacionais,
logo não pertence aos contribuintes?
O
cerne da UE é e será sempre, um problema geopolítico.
Há
dois factores fundamentais na Geopolítica: a Geografia e o Carácter do povo.
Ora a Geografia não muda e o carácter do povo muda muito devagarinho, quando muda…
Não
há nada de novo debaixo do Sol.
E
por mais voltas que se dê, o General De Gaulle tinha razão (e isto de haver um
francês com razão em algo é, já de si, extraordinário): os ovos estão cozidos,
não servem para omeletas.
Bem
nos parecia que não sairíamos da análise das primeiras frases.
E,
bem vistas as coisas, nem sequer é preciso.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto
Aviador (Ref.)
[1] Lembrei-me do Carlos
Magno, pois existe um prémio com o seu nome, atribuído em Aachen (onde está
sepultado), atribuído a quem se distinga no ideal europeu. Também existe outro,
semelhante, atribuído em Viena de Áustria, que toma o nome de um tal de
Kallergy. Talvez um dia MRS almeje ser galardoado com um deles. Quem sabe?
Sem comentários:
Enviar um comentário