Como se
sabe o governo – isto é os senhores que a maioria dos votantes elegeu para nos
governar em nome da “Troika” – na sua obediência canina em cortar em tudo o que
mexa ou esteja quieto, com excepção dos órgãos que os sustentam e nas
clientelas partidárias, decidiu abocanhar uma percentagem variável dos
vencimentos dos cidadãos, depois de ter prometido coisas diferentes.
Mas, ao
arrepio do exemplo e à revelia de igualdades e justiças propaladas – para
inglês ver – abriram excepções. Afinal sempre há uns quantos mais iguais do que
outros…
São
conhecidos os casos da CGD, Banco de Portugal, NAV e TAP, que foram isentos de
muitas das penalizações aplicadas ao vulgo, em 2011 e 2012. Note-se que estamos
a falar de um grupo restrito, dos mais privilegiados trabalhadores nacionais.
Este ano,
porém, os jovens turcos que se reúnem às quintas - feiras, na R. Gomes
Teixeira, decidiram ter uma eructação de personalidade, puseram voz grossa e
atroaram os ares com uma decisão de peso: este ano, os cortes de 10% nos
vencimentos do pessoal da TAP, SATA, Portugália e SATA Açores eram para ser
aplicados!
As
administrações respectivas apresentaram os esgares e as frases, como é de
costume; os sindicatos uniram-se todos, e cá vai disto: ameaça de greve na
Páscoa.
Pois, que
diabo, não andam todos os outros transportes em greve (apesar de, ainda, não
terem levado nada)? E os portos, aquilo é que foi, meses a fio, milhões de
prejuízos! (A propósito, alguém sabe como acabou e porquê?).
As
hostes tremeram, ameaça para aqui, queixa acolá. Durou pouco, o governo cedeu
logo.
Afinal os
jovens turcos só têm “coragem” de actuar contra os fracos. Afinal são uns
cobardes!
Poder-se-á alegar que foram pragmáticos a
arranjar uma solução face aos prejuízos previsíveis. Concedo, passam então a
cobardes pragmáticos e não se livram de outros danos.
Aliás,
nunca houve coragem para resolver o problema da TAP que se arrasta desde os
tempos do “PREC”, para o que se poderia ter lançado mão das soluções aplicadas
à “Suissair” e à “Sabena”. Mas não, ajoelharam sempre perante as ameaças de
sindicatos (só na TAP há uma profusão de 14, de todos os quadrantes), sobretudo
o dos pilotos, e clientelas partidárias – isto para já não falar nalgumas
inverosímeis administrações.
Por tudo
isto a empresa foi acumulando milhões e milhões, de passivo, resultando que o
país está a um passo de ficar sem uma companhia de bandeira – que é já um símbolo
nacional – e o estado nem sequer alivia a tesouraria, pois se prepara para a
alienar por “um euro”, dado que ninguém vai dar dinheiro por uma empresa
falida, cujos proventos se esgotam em alimentar vidas de “novos - ricos”. [1]
Como foi,
então, feito o negócio usando de enleio discursivo para enganar distraídos e
crentes?
Simples:
os cortes são feitos na mesma conforme a lei, para permitir ao governo salvar a
face e a administração da TAP assume a diferença, dando com uma mão o que o
governo tira com a outra. [2]
Não se
sabe ao certo de que rubrica sairá o dinheiro para pagar esta diferença agora
acordada. Seja como fôr a solução encontrada não pôde ser transposta “tout
court” para a SATA e, daí, o Governo Regional dos Açores ter dito que não tinha
dinheiro para pagar a operação, o que obrigou a uma maratona negocial de mais
de 24 horas, cujos termos acordados se ignoram. E quem, em última análise, vai
pagar…
Não
contentes com isto, ainda conseguiram o desbloqueamento das carreiras. Outra
excepção.
Finalmente, para ilustrar a falta de norte e, sobretudo, de vergonha,
reinante, queremos denunciar a argumentação por parte de sindicalistas e não
só, de que face à “degradação” das condições remuneratórias e sociais, os
pilotos e técnicos estão a “fugir” para outras companhias, nomeadamente, no
Médio Oriente.
É preciso
ter lata: então e os restantes pilotos das companhias que não têm o Estado com
principal acionista? Ou o sindicato só representa a TAP e, agora também a SATA?
E o livre
mercado é só para funcionar quando interessa?
Já agora,
durante décadas a TAP e a SATA, não foram alimentadas por paletes de pilotos e
técnicos formados na Força Aérea (FA) e que aquelas companhias receberam de mão
beijada e a custo zero?
Sem
dúvida que a sua falta de preocupação por este “pormenor” – que tem esvaído a
instituição FA durante anos e anos, causando-lhe graves problemas de índole
vária – só tem paralelo na falta de coragem em tentar resolver os problemas por
parte da maioria das chefias militares e no olímpico desprezo votado pelo poder
político. Uma área, aliás, onde os Ministros da Defesa – se o fossem – podiam
ter servido para alguma coisa!
Aos
profissionais da Aviação abrangidos pelo teor deste escrito – contra os quais
nada me move e onde conheço excelentes profissionais – pedia que metessem a mão
na consciência, tomassem em devida conta as vergonhas existentes e actuem em
consonância.
A situação
é imoral? Sim é imoral, mas quem é que, nos tempos que correm, se atreve a
chamar imoral seja ao que fôr?
Inacreditável? De todo, apenas mais um episódio resultante da
putrefacção moral, política e social – que gera a lei da selva - em que caímos.
[1] E ainda está para se conhecer um peculiar acordo que terá sido feito, creio que durante o executivo Guterres, com o sindicato de pilotos, relativamente a cláusulas a garantir em caso de eventual privatização da TAP.
[1] E ainda está para se conhecer um peculiar acordo que terá sido feito, creio que durante o executivo Guterres, com o sindicato de pilotos, relativamente a cláusulas a garantir em caso de eventual privatização da TAP.
[2]
Soluções semelhantes têm sido usuais, a fim de garantir a “paz” social,
permitindo dizer para fora que não se têm aumentado os vencimentos base.
2 comentários:
Parabéns pela construção deste sítio e pela sua verticalidade! É triste todo o condicionamento que se fez às massas para servir outros interesses que não os da Nação.
O garoto impreparado do passos coelho só pensa em roubar os trabalhadores e deixa de fora os canalhas que arruinam o país. Peço aos habitantes de Massamá que coloquem mensagens na varanda contra o governo, passos coelho e os bandidos que roubam país, para que ele veja todos os dias o que anda a fazer aos portugueses.
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