O jornal Público publicou um
título "Tropas Portuguesas decapitaram em Angola". Segue resposta. Há 51 anos passou-se um dos
Natais mais dolorosos de toda a nossa História colectiva. Angola estava a
"arder" e o país em pé de guerra; Goa, Damão e Diu, estavam debaixo
da pata militar da União Indiana, mas a esmagadora maioria da Nação estava
coesa e pronta para a luta, à volta da lareira dos seus antepassados, com a
velha cruz de Ourique ao peito, a espada numa mão e a charrua na outra. A
vigília foi nossa! Hoje o Sr. Ministro ds
Defesa escusa-se a ir visitar as tropas no Kosovo e no Afeganistão (onde não
defendem terras nem gentes portuguesas), para poupar uns euros (maldita moeda).
Sinais dos tempos...
Com parangonas e
ar de escândalo, a edição do jornal “Público”, do pretérito dia 16 de Dezembro,
entendeu dar a conhecer aos seus leitores que “tropas portuguesas decapitaram
em Angola”, remetendo para páginas adentro os comentários a tais façanhas
retiradas de um relatório de uma acção militar, em 27 de Abril de 1961, na
sanzala Mihungo, Norte de Angola.
E curiosidade das
curiosidades, em todo o artigo não aparece uma palavra de condenação
relativamente aos terroristas genocidas da UPA e de quem a apoiou, armou e
incentivou, por aquilo que fizeram![1]
A falta de vergonha na cara, desonestidade intelectual e a mais torpe parcialidade ideológica têm campeado em Portugal e tudo teremos que fazer para a erradicar da sociedade, um dia!
Fiquem bem.
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Perigosos opressores colonialistas eliminados pelos libertadores de Angola (1961) |
Este relatório
terá sido encontrado nos arquivos da PIDE/DGS, na Torre do Tombo, constando de
um livro recentemente editado.
Presumo que o
livro não trate só desta questão, mas foi esta que foi puxada à colação pelas
duas jornalistas autoras do referido artigo, que enquadram o episódio na
alegada “Guerra Colonial”, termos com que a ignorância atrevida e as ideologias
malsãs teimam em apelidar o conflito havido.
O equilíbrio com
que alguns dos entrevistados enquadra o evento não chega para ultrapassar o
sentido critico, de repulsa e condenação que emana do artigo no seu todo e,
especialmente, do seu titulo de 1ª página.
É claro que é
fácil às duas moças jornalistas, que nunca cheiraram a pólvora, nem nos
foguetes de Santo António, se façam de virgens ofendidas, por tão funesto acto;
ou que burgueses, bem - postos na vida, após barriga cheia, se esmerem em
dissertar sobre o “como” e o “deviam” as coisas se ter passado.
O que,
seguramente, nunca fizeram foi colocar-se na situação daqueles que, há mais de
50 anos, foram confrontados com uma chacina hedionda. Sim, senhoras
jornalistas, entrevistados e demais leitores, como é que pensam que reagiriam,
já meditaram?
A falta de vergonha na cara, desonestidade intelectual e a mais torpe parcialidade ideológica têm campeado em Portugal e tudo teremos que fazer para a erradicar da sociedade, um dia!
Por outro lado, não conheço povo mais masoquista do que aquele a que pertenço e que se compraz em autoflagelar-se – ainda por cima sem motivo para tal – ao ponto, e por ex., do cineasta português, mais consagrado de todos os tempos, se ter lembrado de fazer um filme só com derrotas que os portugueses sofreram na sua vetusta História…[2]
Não tenho qualquer dúvida que o relatório aludido é verdadeiro e que o caso relatado não foi o único que ocorreu. Isto é, não foi a única vez que se cortaram cabeças aos bandidos que nos retalharam a carne e os haveres – embora, creio, nunca se o tivesse feito a pessoas (?) vivas.
Quero acrescentar, para eventual escândalo de muitos que, apesar do horror da cena, ela se justificou. E isto não tem nada a ver com a estafada afirmação de que todas as guerras acarretam actos de violência gratuita e inumana.
Em primeiro lugar, sobretudo para os mais distraídos, deve começar por se dizer que não fomos nós que começámos…
Na imagem, um soba esventrado pelos terroristas da UPA (norte de Angola, 1961) |
O objectivo, já ensaiado, com sucesso, no Congo Belga, era causar o pânico e o terror, provocando a debandada dos portugueses brancos e a fuga e o choque das populações indígenas.
Enganaram-se, pois os portugueses não são belgas…
Para além da aplicação do “principio” de que nas guerras se têm de aplicar os meios que melhor neutralizam as tácticas e armamento do inimigo foi, neste caso especifico, necessário usar pontualmente este método, não só para evitar que a UPA continuasse a fazer barbaridades, como a causar real medo a tal corja de assassinos, cujas hordas drogadas por feiticeiros, estavam inculcadas da ideia de que eram invulneráveis às balas.
Além disso a separação da cabeça do corpo tinha um significado religioso, pois para as crenças daquela gente, tal impedia uma futura ressurreição.
E, o que é certo é
que a “táctica” teve um sucesso fulminante, pois ao fim dos primeiros dois
meses, os actos selvagens por parte da UPA terminaram.
O PAIGC e a FRELIMO quando desencadearam a subversão, respectivamente, na Guiné (1963) e Moçambique (1964), não cometeram os mesmos erros.
O ocorrido não põe em causa a civilidade e, até, o humanismo com que as tropas portuguesas se comportaram na sua esmagadora maioria, em todo o longo conflito.
A Instituição Militar portuguesa tem quase 900 anos de existência e não tem pejo em se confrontar com qualquer “Exército” das nações mais civilizadas, ou outras, no modo como sempre combateu, relativamente às leis da guerra e sua evolução pelos séculos fora.
E foi sempre fiel cumpridora das convenções internacionais assinadas pelos diferentes governos portugueses, ao longo dos tempos.
Penso que isto é claro mesmo para os desertores e traidores que foram pontuando a nossa existência…
Só não estou seguro do modo como foram decididas as poucas acções deste tipo desencadeadas pelas nossas tropas e qual a cadeia de comando e directivas (se é que alguma) envolvidos. Mas já era tempo de, quem de direito, tornar público, oficialmente, o que se sabe que se passou, pois não parece que haja nada a esconder.
O mesmo se aplica à história de “Wiriamu”, que já tresanda!
Jornalistas, comentadores e “historiadores”, à falta de melhor, ressuscitam o caso quase com sincronia de calendário – é uma espécie de disco riscado – e nunca se os vê preocupados com os milhares (milhares, leram bem?), de acções violentas, raptos, bombardeamentos, trabalho forçado, assassinatos, etc., que a FNLA, o MPLA, a UNITA, o PAIGC e a FRELIMO fizeram contra as populações de todas as cores que queriam continuar portuguesas.
Só mesmo com um pano encharcado no “fácies”![3]
[1]
UPA, União dos Povos de Angola, organização independentista baseada no ex-Congo
Belga e chefiada por Holden Roberto.
[2]
Já terão pensado, também, naquilo que as populações portuguesas faziam aos
franceses invasores (1807-1811), quando os apanhavam à mão, depois das
barbaridades que eles cá fizeram?
[3]
Em português Vicentino (de Gil Vicente), lê-se “tromba”.
7 comentários:
Sim, meu caro amigo, mas permite-me:
"um pano encharcado de merda"!!!
Um abraço
Joaquim Mexia Alves
"Foram os interesses que levaram as nações europeias, no século passado, ao assalto da África, assim como são os interesses que movem hoje no mesmo sentido as actuais superpotências: Rússia, China e Estados Unidos da América.
Mas não há duvida de que, ao lado do aproveitamento económico das terras ocupadas, os colonialistas fizeram muitos benefícios. Se o imperialismo europeu e norte-americano teve ás vezes aspectos atrozmente negativos, no caso especial da África realizaram os colonialistas uma obra altamente meritória. Negá-la, esquece-la, não a apresentar como contrapartida aos idealismos independentistas do nosso tempo e ir atrás do logro, chorando lágrimas de arrependimento, é sobretudo injusto.
Há trinta anos, um belga, Fred van der Linden, apontava contra os cantadores ceguinhos, acompanhados das falácias de Rousseau, a obra realizada pelos colonizadores em beneficio de povos sujeitos ainda a práticas bárbaras, a sacrifícios humanos e à autoridade de chefes despóticos, injustos e cruéis.
A esses povos o colonizador levou antes de mais nada a paz e a segurança.
Foram os colonizadores quem pôs fim ás guerras tribais e ao tráfico da escravatura – que fora durante séculos negócio corrente entre os chefes nativos e os negreiros e um direito normal do guerreiro vitorioso. Levaram aos povos autóctones o conhecimento de novas culturas, de sentido universalista, que os alçavam à consciência de membros da grande família humana e de filhos do mesmo Deus. Organizaram o estudo e a luta contra as doenças, abriram hospitais, sanatórios, lazaretos, consultórios, laboratórios de análises, ordenaram o ensino da medicina e enfermagem, multiplicaram as campanhas de desparasitação, quininização, rastreio da tuberculose, combate aos agentes patogénicos. É de notar, no combate à mosca tzé-tzé, causa da doença do sono, a actividade dos médicos portugueses, que praticamente erradicaram esta doença dos nossos territórios. Generalizaram o ensino primário, abriram escolas técnicas e secundárias, universidades e institutos superiores de investigação. Os nossos institutos de investigação veterinária e agrícola em Angola, por exemplo, eram organismos de categoria internacional.
O colonialismo fez leis de trabalho e de previdência social, estudou os melhores métodos de cultura das terras e da criação de gado, aproveitou fontes de energia, instalou industrias, construiu portos marítimos, rasgou estradas, caminhos de ferro e pistas de aeroportos, edificou cidades, estabeleceu ligações terrestres, marítimas e aéreas, com todo o mundo.
Não têm as nações colonizadoras em África, dum modo geral, razões para se sentirem culpadas do que por lá fizeram. Porque, a par de erros cometidos – e alguns desmedidamente avolumados pelos facciosismos da propaganda – há toda uma obra de trabalho, de progresso, de promoção social, que os africanos mais tarde hão-de lembrar reconhecidos e que para os europeus será sempre motivo de orgulho e não de complexo de culpa, injusto e absurdo.
Pode dizer-se que até nalguns erros a obra dos colonizadores ficou. Tal o caso dos limites das novas nações africanas. Foram talhadas com fronteiras artificiais, no arbítrio dos acordos entre as potências europeias. Muitas separaram grupos étnicos que ficaram divididos por dois países novos, parte num, parte noutro. Pois apesar disso é de supor que os novos estados fiquem com as fronteiras convencionadas pelos colonizadores e dentro delas desenvolvam, progridam e façam a sua História."
"Conta-se que, depois do 25 de Abril, um diplomata do Leste europeu visitou Lourenço Marques. Acompanhou-o ali um dos dirigentes da FRELIMO apontou indignado para as palhotas:
-Isto é uma herança do colonialismo!
O diplomata do Leste sorriu e comentou:
-Isto aqui é África. A herança do colonialismo está ali.
E apontava para os altos prédios que se erguiam imponentes a umas centenas de metros..." (Barradas de Oliveira, Quando os cravos murcham, O complexo de culpa dos colonizadores)
"Conta-se que, depois do 25 de Abril, um diplomata de país do Leste europeu visitou Lourenço Marques. Acompanhou-o ali um dos dirigentes da FRELIMO, que não perdia oportunidade de assacar aos portugueses as culpas de tudo quanto viam de mau.
Assim, quando o levou à «cidade do caniço», o da FRELIMO apontou indignado para as palhotas:
-Isto é uma herança do colonialismo!
O diplomata do Leste sorriu e comentou:
-Isto aqui é África. A herança do colonialismo está ali.
E apontava para os altos prédios que se erguiam imponentes a umas centenas de metros..."
(Barradas de Oliveira, Quando os cravos murcham, O complexo de culpa dos colonizadores)
Como simples leigo, vejo a coisa assim:
"Cai bem e convém" a esse jornal do tio Belmiro de Azevedo demonizar, por encomenda, a conduta das Tropas Portuguesas no Ultramar (e portanto a diplomacia de Portugal), estando hoje iminente, como se sabe, a fusão da Sonaecom (mãe do 'Público'), com a Zon onde a filha do Zé Eduardo (leia-se a cúpula do MPLA), tem bilionária participação...
Curiosa a "coincidência" de se escolher, de todos onde intervieram as nossas tropas, o teatro-de-operações de Angola para dar pano à investigação que ali se 'noticia'. E caricato serem duas jornalistas cujo portfólio é exclusivamente da área cultural (LC no ballet e teatro, IS na arte), a desenvolver tal assunto, em vez de algum tarimbado na área da política.
Até porque se trata de um monumental frete político, para investidor ver.
Felizmente, até agora, não vi aproveitado o trabalho oportunalístico noutros media.
A miséria da universidade (investigação e teses dos doutores) está, desde há longos anos, muito para lá dos problemas orçamentais. Começando pela arregimentação de docentes envergonhados com a história da Nação, numa espécie de cruzada para nos livrar "do Salazar e da barbárie colonialista".
Enfim, só mete-nojo.
Neves dos Santos, Português, nascido em 1980
Esta gente - pseudo intelectuais da treta - além de ignorante (ainda que licenciados em duvidosos cursos para "doutores") são, de facto e como bem o diz, masoquistas que gostam de se fazer passar por falsos "aguadeiros do deserto".
É, simplesmente lamentável, ter compatriotas que, hoje e ainda, incriminam aqueles que tentaram evitar a actual e desgraçada situação nacional que vivemos, muitos com o sacrifício da própria vida.
Que não os homenageiem... custa, certamente, mas que os tratem como "os maus da fita"... é injusto, isso é por demais repugnante, para qualquer português que se preze.
Lamento, cada vez mais, a juventude perdida numa luta por um povo que não a merece. Pior, creio mesmo que nunca a mereceu.
Cumprimentos
A Guerra de Àfrica, do Ultramar ou Colonial, surge num contexto geopolítico e histórico. Histórico, porque após a 2ª GM o triunfo das democracias sobre os regimes autoritários europeus não se fez sentir em Portugal, mantendo-se um regime que recusava a abertura a novas ideias de governação e de desenvolvimento social, político e económico. Num contexto geoolítico, porque uma nova ordem mundial emanava depois de 1945, com a criação da ONU e o reconhecimento de todo os povos à autodeterminação e independência. Portanto, é no plano político e não no militar que surgem todos os problemas com o conflito que irá atravessar as décadas de sessenta e setenta do século passado, que mobilizará um milhão de homens (e algumas mulheres), que contará com mais de oito mil baixas militares e para mais de vinte e cinco mil feridos, muitos deles com gravidade.
Posto isto, olhar para o comportamento de algumas tropas portuguesas em cenários de elevada tensão como os verificados em Março de 61 no Norte de Angola e não fazer o devido enquadramento é adulterar a realidade dos acontecimentos. Em primeiro lugar, o valor da Vida não é igual na actualidade ao que era há cinquenta anos. Há princípios que foram interiorizados nas FA e que os respetivos comandos fazem observar. Em segundo lugar, para muitos dos militares que se viram confrontados com os massacres sobre as populações indígenas e brancas o medo foi tremendo. É preciso notar que muitas das nossas tropas eram oriundas da Europa, a maioria nunca tinha saído da sua terra, e encontrava-se num ambiente totalmente diferente ao que estava habituado: a humidade, a calor, os sons, as árvores, as pessoas, tudo era estranho, tudo era diferente, tudo era desconhecido, e tudo isto contribuía para que o medo se sobrepusesse à razão. Daí à retaliação na "mesma moeda" foi um pequeno passo, sem que houvesse alguma preocupação sobre a profanação de cadáver, partindo do princípio de que as decapitações ocorreram post mortem. O que correu mal nisto tudo? Foi o problema político. Fosse Portugal nessa altura uma democracia, não teria havido um encobrimento da situação, a cadeia de comando teria sido inquirida e os autores penalizados, tal como aconteceu na Argélia, no Vietname e mais recentemente na Bósnia, Iraque ou Afeganistão. Com isto, as Forças Armadas mantinham a sua honra, porque respeitavam e faziam respeitar princípios e tratados internacionais, e evitavam passar, de vez em quando, pelos ataques à sua honorabilidade, a qual é um dos pilares fundamentais da sua existência.
Rui Pinto de Almeida
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