MASCARENHAS
BARRETO (Lisboa 27/1/1923 – Lisboa 2/1/2017)
5 de Janeiro de
2017
“Vinde a Mim, vós todos que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”
Mateus, 11,28.
Ao fim de quase 94 anos
(“falhou” por 25 dias) faleceu de doença, no pretérito dia 2, o nosso
compatriota Mascarenhas Barreto (MB) (de seu nome completo Augusto Cassiano
Neves Mascarenhas de Andrade Barreto).
Numa época em que tão pouco
valor se dá à honra, à nacionalidade e à portugalidade, MB foi um Homem de
carácter e um Português inteiro. Daqueles antes quebrar que torcer.
MB foi um ser eclético, de
múltiplas aptidões e interesses e teve uma vida cheia.
Viajemos por breves momentos no
metropolitano da vida:
Terminou o curso liceal no Liceu
Pedro Nunes com 17 anos.
Cedo desejou ir para África,
preparando-se para tal na Escola Superior Colonial, que frequentou durante dois
anos, em simultâneo com o Curso de Árabe na Faculdade de Letras.
Arrancou para Angola em 1944,
onde foi Secretário do Governador - Geral e do Governador do Congo.
Durante a sua estadia colaborou
nos jornais “Província de Angola” e “Diário de Luanda”, tendo escrito algumas
obras.
Em 1949 regressou à então
Metrópole a fim de cumprir o Serviço Militar, no Regimento de Lanceiros 2,
tendo entrado para a GNR, onde atingiu o posto de Capitão de Cavalaria.
Durante o serviço militar tirou
o curso de Rádio Televisão e Radar, na Escola de Eletromecânica de Paço d’
Arcos, o que lhe foi de grande utilidade quando, após ter abandonado a vida
militar, se candidatou à RTP, para onde entrou, em 1958, indo ocupar o cargo de
chefe de serviço dos estúdios.
No entretanto, concorreu para um
cargo no Secretariado Nacional de Informação, que visava dar início ao turismo
em Portugal, onde foi o único admitido e onde fez aprovar as primeiras zonas
turísticas do País.
Passados dois anos regressou à
Televisão, onde ficou até ser saneado “sem justa causa” na sequência do Golpe
de Estado ocorrido, em 25 de Abril de 1974. De nada serviu reclamar.
Passou a dar aulas no Instituto
de Novas Profissões e, a seguir, no Instituto do Design e Marketing, em Lisboa.
Deixou de leccionar aos 75 anos,
sem auferir qualquer reforma…
Em 1983 foi escolhido para ser
responsável por um dos cinco núcleos da XVII Exposição de Arte, Ciência e
Cultura, realizada em Lisboa e que teve como centro expositor a Torre de Belém,
tarefa que desempenhou com competência e sucesso.
Estudou russo e tétum no
Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina e obteve a mais alta classificação
(19 valores) na cadeira de Medicina Social que efectuou com o Professor
Almerindo Lessa, Director do Hospital de D. Estefânia.
MB foi durante grande parte da
sua vida um emérito desportista: praticou hipismo, boxe e esgrima; pentatlo
militar, vela e tiro.
Ficou em primeiro lugar em
muitas competições internacionais e participou no Campeonato do Mundo de 1951,
no Mónaco e nas Olimpíadas de Helsínquia, no ano seguinte.
Em Angola tirou ainda o brevet
de piloto particular de aviões.
Não contente com toda esta
actividade foi pegador de touros durante 11 anos, nos Grupos de Forcados de
Vila Franca de Xira e Cascais.
Dedicou-se à escrita, foi
jornalista, poeta do fado, fez 352 traduções (de espanhol, francês, italiano,
inglês e russo), especialmente para a Editora Livros do Brasil e escreveu
vários livros, entre os quais uma História do Fado e outra da Polícia
Portuguesa.
Foi casado com três senhoras das
quais houve oito filhos, a mais nova das quais morreu tragicamente, aos 20
anos, sendo causa de uma dor que só se pode imaginar.
Porém a obra que mais o deu a
conhecer foi um livro que resultou de uma monumental investigação de cerca de
15 anos sobre essa figura complexa e misteriosa, cuja efabulação histórica
tornou conhecida como Cristóvão Colombo.
Na sua obra “O Português
Cristóvão Colombo, Agente Secreto do Rei D. João II” (que tem edição inglesa,
pela Editora MacMillan, em 1992) – a qual foi seguida por outra “Colombo
Português – Provas Documentais”, de 1997 – MB relançou o debate sobre aquela
figura maior da História Universal, aproximando-se muito de poder provar
inequivocamente que aquele grande navegador era um nobre português, que esteve
ao serviço de D. João II.
Apontou numerosos interesses
instalados, sustentou incontáveis controvérsias, realizou dezenas de
conferências sobre o tema, em Portugal e no estrangeiro, foi apoiado por
numerosas individualidades sobre as suas razões, de que se destacam o Dr. Silva
Rego, a Professora Janine Klawe, da Universidade de Varsóvia e o actual
descendente do Almirante do Mar Oceano D. Cristóbal Colón de Carvajal, oficial
da Marinha Espanhola e que ostenta os títulos de Adelantado Mayor das Índias,
Duque de Verágua e Marquês da Jamaica.
Aguentou firme, ataques
desferidos contra ele, vindos de vários quadrantes, alguns de carácter vil e
desonesto.
Pelo seu papel na investigação
sobre a vida de Cristóbal Colón, MB, era membro honorário da Associação Cristóvão
Colon, fundada em Maio de 2008, a qual persegue o objectivo de provar a
portugalidade do “descobridor” do novo mundo.
MB foi toda a vida, um lutador
de personalidade vincada e um patriota. Foi um homem honrado, que se honrou e
honrou-nos.
MB afastou-se a vida pública nos
últimos 15 anos de vida, não só por achaques vários que o atormentaram e que o
foram diminuindo – e ele queria ser lembrado enquanto na posse de todas as suas
faculdades – mas também por repulsa por muitos aspectos da política e da sociedade
contemporânea.
E
foi um incorrigível marialva (no bom sentido do termo): Cavalheiro, amante do
belo sexo, cavaleiro, “espadachim”, poeta do fado, devoto da tauromaquia,
literato.
E
bem se pode dizer que o seu desaparecimento nos leva o último Marialva
Português…
Tive
o privilégio de o conhecer e de trocar amizades. Era um conversador notável em
que o seu incontornável cachimbo fazia já parte do personagem.
Excelso
amigo até um dia, na Casa do Pai.
João
José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
1 comentário:
O meu ilustre professor Mascarenhas Barreto, de grande conhecimento e cativante ironia, que me deixou também enormes saudades e com o qual muito aprendi.
A memória permanece honrado-o.
Fui seu aluno na época em que escrevia o livro sobre Cristóvão Colombo e sobre o qual me confidenciou um dia, no final de uma aula, que seria "...uma bomba...vai ser uma bomba!"
Ainda hoje guardo na memória as suas aulas que se enchiam só para o ouvir.
Rui Pacheco e Silva
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