O espaço europeu, onde nos inserimos, está
no meio de vários confrontos estratégicos, actuais, que estão longe de serem
minimamente claros e entendidos pela opinião pública portuguesa.
O mesmo se passa com a classe política, que
se tem revelado perfeitamente impreparada – e nem sequer vocacionada – para
entender o que se passa no mundo e de como Portugal pode ser afectado e
defendido, no meio de tão complexa trama.
Creio apenas existirem umas largas
centenas de pessoas conhecedoras, capazes de perspectivarem a situação
Geopolítica e Geoestratégica de Portugal e com acesso a informação relevante;
umas dezenas de milhares de cidadãos espalhados pelo país, que intuem e se
preocupam com a gravidade da situação, e umas poucas dezenas de
políticos/”gestores”, que são ponta de lança/controleiros dos poderes semi -
ocultos que puxam os cordelinhos no xadrez internacional.
Os primeiros estão, por norma, fora do
poder e pouco o influenciam; os segundos estão atomizados e dispersos, e sem
liderança que os congregue; os derradeiros estão hipotecados a interesses, para
os quais Portugal e a Nação dos portugueses, nada valem e nada interessam.
O Poder Nacional Português ficou
catastroficamente reduzido no fim do “PREC” (25/11/1975) e o nosso país deixou
de contar na cena internacional. Nem o futebol o salva…
O sistema político entretanto instituído
tem-se revelado muito incapaz e incompetente para liderar a população. A
sobrevivência de Portugal está verdadeiramente em causa, e não são declarações
“solenes” a dizerem que temos 900 anos de História e que já ultrapassámos
muitas crises, que são garantia de coisa alguma!
E tais tiradas não revelaram, até agora,
qualquer virtualidade, a não ser uma falsa sensação de tranquilidade em
espíritos mais impressionáveis.
Com este pano de fundo, a que se
deve acrescentar o facto de nos termos colocado em pré-bancarrota, que
originou a vinda da “Tróica” e termos ficado com a soberania limitada;
importando cerca de 70% do que comemos e com demografia negativa, tudo o que se
passa à nossa volta está a anos-luz de ser tranquilizador. E nós estamos sem
“Poder”.
Sem Poder não há opções políticas nem
estratégicas.
A Europa está a ficar um vulcão cheio de
fumarolas.
A Nato (leia-se, os americanos) tenta
empurrar os misseis cada vez mais para cima da fronteira da Rússia; a luta
pelas fontes de energias, seu acesso e seu transporte, é feroz e subterrânea; a
tentativa de controlo de locais chave, para o comércio, minerais estratégicos e
de interesse militar, é global e cada vez mais intensa entre as grandes
potências; o terrorismo está longe de estar controlado (parece até, estar a
renascer na Irlanda do Norte); as velhas nações arriscam fragmentarem-se em
“autonomias” e tentativas de independência; a “Primavera Árabe”, cujos
contornos ainda não se conseguem perceber com nitidez, veio trazer imensos
factores de imprevisibilidade e instabilidade; o Médio Oriente continua um
barril de pólvora; o Afeganistão e Paquistão aparentam serem incontroláveis e instáveis e o ataque militar contra o Irão foi, aparentemente, adiado, sem se
saber exactamente porquê. E não deixa de ser curioso, que a última reunião do
Grupo de Bildelberg, prevista para Haifa (Israel), tenha sido transferida para Chantilly,
Virgínia (USA) (31/5-3/6).
O quadro está longe de estar completo, mas
não é esse o ponto. O ponto é chegar à crise financeira actual e tentar
perceber o ataque ao euro (ao qual jamais Portugal devia ter aderido), o que
corre paredes meias com uma aparente tentativa de hegemonia dentro da UE, por
parte da Alemanha. Esta arrasta consigo os seus tradicionais aliados e leva a
reboque a França que, desde Napoleão tem pânico dela. Como é tradição secular
nestes casos, a Inglaterra (que funciona como “cavalo de troia” americano, na
Europa), já manobra para sabotar o esquema.
É neste âmbito que ocorre o ataque ao euro.
A guerra contra o euro parece não ter cara, mas ela existe e está do outro lado
do Atlântico.
O que se consegue perceber de tudo isto – a
informação relevante é difícil de obter, está camuflada e chega tarde – parece
poder levar a concluir o seguinte:
As poucas dezenas de famílias/empórios,
alguns já centenários, que dominam os EUA (muitas delas de matriz judaica/sionista),
que constituem a plutocracia dominante (no mundo), não podem nem lhes convém,
lançar misseis de cruzeiro sobre alvos europeus. Porquê?
Porque a maioria das teorias de
Geoestratégia e Geopolítica fazem escola ao considerarem a união das margens do
Atlântico Norte como um objectivo primordial de segurança.
Deste modo os EUA (e o Canadá) necessitam
do Continente Europeu, sobretudo da sua parte ocidental e central, para uma
defesa comum. Estas teses são o que justificam, primordialmente, a NATO.[1]
Todavia, sendo as margens do Atlântico complementares
em termos de segurança são, outrossim, concorrenciais em termos económicos.
Os EUA precisam ter na Europa um mercado forte para os seus produtos
(daí o Plano Marshall estar longe de ser apenas uma ajuda filantrópica), ao
passo que nunca deixaram de proteger a sua produção com taxas alfandegárias (o
aço é, disso, um bom exemplo).
Enquanto durou a “Guerra – Fria” este
esquema funcionou na quase perfeição: Os europeus colaboravam com os americanos
do norte nas despesas da defesa, cabendo a maior fatia aos americanos; devido
ao guarda - chuva nuclear americano os países da CEE e a EFTA (enquanto durou),
desenvolveram-se extraordinariamente e dedicaram-se ao comércio, o que era bom
para todas as partes. A Alemanha estava ocupada militarmente (como ainda está
agora, embora já não pareça), e pagava uma nota preta tanto para a NATO como
para a CEE. E mantinha “um low profile”. O Dólar era rei.
A queda do muro de Berlim (9/11/ 1989); o
alargamento da Organização Mundial do Comércio[2] a outros países,
principalmente, à China (9/11/2001); a subida de patamar na perigosidade do
terrorismo com o ataque World Trade Center (11/9/2001), em Nova Iorque (caso
ainda para se perceber verdadeiramente), a evolução dos países muçulmanos e a
emergência de novas potências (Brasil, India, Rússia, etc.), veio baralhar
tudo.
A economia lá foi andando, havendo
problemas cada vez mais acentuados, de âmbito social, nos países europeus (e
também nos EUA), por causa da deslocalização das empresas e da concorrência de
mão - de - obra barata/escrava.
Porém, o “sangue” de todo o sistema
continua a ser o (maldito) dinheiro, isto é a moeda em que a maioria das
transações é feita e a que se constitui como reserva mundial. Essa moeda tem
sido o dólar.
Ora tem sido este fluxo ininterrupto de
dólares (nomeadamente de “petrodólares”) que permite ao Federal Reserve, em
Washington (FED, para os amigos), emitir as notas que quer; manter o nível de
vida americano alto (e o preço do combustível baixo), imprescindível para não
haver revoltas nos Estados da União e ir financiando o já hiperbólico “deficit”
americano.
Eis senão quando o núcleo duro da UE decide
avançar com o euro (entrada em vigor, a 1/1/2002).
O euro começou a fazer concorrência ao
dólar e aqui é que a porca torceu o rabo…
Saddam ameaçou negociar o petróleo noutras moedas, até podia ser em
euros, resultado, o Iraque foi bombardeado e ocupado. Saddam enforcado. Na
altura houve uma crise transatlântica e surgiu a “nova Europa” versus a “velha
Europa”, lembram-se?
Kadhafi fez a mesma ameaça (até tentou
criar uma moeda única entre todos os países africanos produtores de
hidrocarbonetos, para comercializar os mesmos), e passou imediatamente de
bestial a besta. Também já cá não está para contar como foi…
Outros casos se deram e o Irão está a
aguardar a sua vez. Aparentemente foi necessário tratar da Síria primeiro (e a
realidade não tem nada a ver com o que é veiculado nas televisões).
Ora não sendo possível atacar a França e,
sobretudo, a Alemanha – que, insiste-se, continua a ser um país ocupado
militarmente e com uma constituição imposta pelos vencedores da IIGM – teve que
se inventar um novo método.
No meio da ganancia dos
principais agentes financeiros mundiais, concentrados do outro lado do
Atlântico (e também na “city” de Londres – onde a Rainha só entra depois de
pedir autorização ao “mayor” da cidade), ligados em rede pelas bolsas, a mais
importante das quais fica na Wall Street (nome originado numa paliçada para
proteger os primeiros colonos dos ataques dos índios),eis que apareceram essas
figuras enigmáticas chamadas de “mercados”. Estes “mercados” movem-se, então,
através dessas outras não menos enigmáticas figuras, apelidadas de “agências de
rating”, obviamente americanas.
Primeiro, através da inflação do crédito
barato fizeram disparar as dívidas de governos e indivíduos; apostaram na
especulação; inventaram “produtos tóxicos” (fantasmas) e geraram biliões em
dinheiro virtual que não tinha qualquer correspondência com a economia real.
Compraram políticos, comentadores e peritos
para fazerem acreditar que tudo estava indo no bom caminho; desregularam o
sistema financeiro internacional, sobretudo o Ocidental, depois de terem
destruído os mecanismos de regulação, incluindo o do próprio governo americano.
O sistema cretino- democrático da caça ao voto, fez o resto.
Muitos países endividaram-se a
um nível impossível de poderem pagar as dívidas. Portugal foi um deles e não
foi o pior.
A Alemanha resistiu, aguentou a indústria
e não deslocalizou empresas, mantém uma agricultura muito desenvolvida, óptimos
níveis de serviços e muitas mais – valias tecnológicas. Gerou “superavit” e os
seus bancos emprestam dinheiro (sem embargo de estarem enredados na trama
geral). Com cerca de 80 milhões de habitantes conseguem ter um PIB idêntico à
China com 1.3 biliões de pessoas…
Resumindo, os países do euro estão a ser
atacados um a um através dos seus elos mais fracos (a Espanha vai rapidamente
ficar pior do que nós, seguindo-se a Itália e a Bélgica), mantendo o euro e a
economia europeia numa instabilidade e derrapagem permanente. Tal criou
clivagens entre os 27, paralisou o processo de tomada de decisão que passou de
Bruxelas para Berlim e fez patinar a fuga para a frente do “federalismo
europeu”, em que a Sr.ª Merkel pretenderia orientar o caminho, único que
permitiria à Alemanha (que está longe de estar unificada) manter a supremacia
na União.
A Grã – Bretanha já iniciou, até, a
criação de um cordão sanitário – uma espécie de EFTA actualizada – para lhe
fazer gorar os planos.
O pseudo governo instalado em Lisboa, se
fosse português, percebesse alguma coisa do que se passa e não estivesse minado
por conivências várias, faria os impossíveis por nos tirar deste atoleiro.
Convinha que o resto da população
ajudasse.
[1]
Cabe aqui recordar a célebre trilogia, que sempre correu na NATO, como piada,
mas que representava a mais pura das realidades: “A Nato serve para manter os
americanos in, os russos out e os alemães under”…
[2]
Criada em 15/4/1994
3 comentários:
Exmº Adamastor
Sempre que leio um artigo seu, ora estou a consolidar o que julgo saber, ora estou verdadeiramente a aprender. Analisando de forma critica, mas sempre numa perspectiva positiva, o seu trabalho demonstra uma informação privilegiada oriunda de fontes não acessíveis à maioria dos que se interessam por estes assuntos e no entanto, deveriam estar na análise critica de todos nós.Não conseguindo uma adenda significativa ao artigo em questão, pelas razões óbvias estarem à vista, somente gostaria de deixar transparecer esta minha preocupação.Será que os chefes militares, que à partida considero serem patriotas, têm noção desta trama global? Se não têm, qual é a sua noção da geopolítica mundial? O seu papel não é o de preservar o seu país e não deveriam por isso, ter uma palavra o dizer aos governos e aos portugueses? Será que estão todos maniatados e controlados ou têm medo de ser confundidos com os esquerdóides do 25? Este artigo deveria ser divulgado e explicado à totalidade dos portugueses, para finalmente perceberem os mídia que os adormece e controla e lhes conta uma história que não bate certo. Até quando ?
Será que só o vamos perceber, quando tivermos de comer, novamente o pão que o diabo amassou? O pão que por aí já anda, nota-se que tem já um travo a inferno...
"Obrigá-los-emos a trabalhar, mas nas horas livres de trabalho, orgarnizar-lhes-emos a vida como um jogo para meninos, com canções infantis, num círculo, com danças inocentes... ah, permitir-lhes-emos também o pecado, são tão débeis e impotentes! E amar-nos-ão como crianças por lhes consentirmos pecar!
Dir-lhes-emos que todo o pecado será redimido, se foi cometido com a nossa vénia. Permitir-lhes-emos pecar porque os amamos; carregaremos com o castigo de tais pecados, Carregaremos com ele e eles nos idolatrarão como a benfeitores que respondem pelos seus pecados a Deus. E não terão segredo nenhum para connosco. Consentiremos ou proibiremos que vivam com as suas esposas e queridas, ter ou não ter filhos (sempre contando com a sua obediência) e eles submeter-se-ão com júbilo e alvoroço." (Fiodor Dostoievski, in 'Os Irmãos Karamazov').
"Obrigá-los-emos a trabalhar, mas nas horas livres de trabalho, orgarnizar-lhes-emos a vida como um jogo para meninos, com canções infantis, num círculo, com danças inocentes... ah, permitir-lhes-emos também o pecado, são tão débeis e impotentes! E amar-nos-ão como crianças por lhes consentirmos pecar!
Dir-lhes-emos que todo o pecado será redimido, se foi cometido com a nossa vénia. Permitir-lhes-emos pecar porque os amamos; carregaremos com o castigo de tais pecados, Carregaremos com ele e eles nos idolatrarão como a benfeitores que respondem pelos seus pecados a Deus. E não terão segredo nenhum para connosco. Consentiremos ou proibiremos que vivam com as suas esposas e queridas, ter ou não ter filhos (sempre contando com a sua obediência) e eles submeter-se-ão com júbilo e alvoroço." (Fiodor Dostoievski, in 'Os Irmãos Karamazov').
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