Autor desconhecido
Não serviu, em rigor, para coisa alguma – a não ser para prejudicar a vida a uma quantidade de pessoas – porque o direito de manifestação é um escape que os ideólogos dos regimes “democráticos” inventaram para aliviar tensões sociais e dar a ilusão de que as pessoas podem influenciar alguma coisa. Estamos a falar de manifestações pacíficas, já que aquelas que virarem violentas serão reprimidas e criminalizadas.
Ou seja as greves ou manifestações só servem se conseguirem influenciar algo. Não parece ser o caso, muito menos quando quem está no governo possui maioria absoluta no Parlamento.
O Poder, no actual sistema, é legitimado pelos votos e só os votos o podem mudar, partindo do princípio de que o governo não se demite nem o PR o dissolve a AR.
O mesmo se passa com a chamada “liberdade de expressão” – outro escape – que também não serve em rigor para nada se não tiver consequências. Basta ver as notícias de escândalos, crimes, actos de corrupção, aleivosias morais, etc., com que todos os santos dias somos submersos e raramente alguma coisa muda, ou se faz justiça.
Eu disse “não serve para nada”? Emendo a mão: serve para desmoralizar as pessoas, confundi-las, desagregar o sistema político e aumentar a imoralidade através da disseminação de maus exemplos, que não são corrigidos. Mesmo quando são (bem) criticados.
Por outro lado, a altura para fazer greves também é má: a Nação está numa esquina perigosíssima da sua História. Fazer greves prejudica a economia, a harmonia social e a imagem do país. Por este andar vão ter que acabar com os feriados todos…
Além disso o Estado contra quem, supostamente, se dirige o protesto na forma de greve geral, só ganha com o evento: poupa nas contas e colhe dividendos na divisão da opinião pública.
Se as pessoas querem protestar (e até há muitas razões para o fazer), então que o façam ao fim de semana. Não se prejudicam a si próprios, nem afectam a economia. Deixem de ir atrás das actuais associações patronais e sindicais. Enquanto funcionarem da maneira que funcionam, não vamos a lado nenhum. Eles não são parte da solução, são parte do problema.
Por outro lado as razões da greve – que falha logo no princípio do objectivo, que ninguém soube exactamente qual era – são erradas por isto: nós não temos um problema económico e, ou, financeiro; nós temos é um problema político e, sobretudo, moral. Os problemas económicos, financeiros, sociais, etc., derivam daqui e enquanto aqueles não forem corrigidas, estes não se resolvem.
Apesar de se ter tentado horizontalizar tudo, a vida rege-se por hierarquias e estas geram prioridades. Por isso deveríamos tentar colocar a sociedade a funcionar segundo os 10 Mandamentos conjugados com o bom senso. As leis podem derivar apenas dos provérbios, reformulados sob o ponto de vista jurídico e técnico.
No fundo é pôr o senso comum e a procura do Bem, no centro das nossas vidas. O que não devemos ter é o império do “relativismo moral”; o indivíduo e os seus desejos como fulcro da existência, logo da acção; a desconstrução da ordem natural das coisas. Aqui o Mal tenderá a impor o seu domínio e a lei de Deus passará a ser “Mamon”, o dinheiro, tendo à sua direita o seu filho predilecto: o juro. O bordel passa a instituição respeitável, desde que, obviamente, pague o respectivo imposto.
A actual crise financeira e económica é resultado de duas ganâncias: a da riqueza material e a do Poder. Quem conseguir reunir as duas tenderá a escravizar tudo à sua volta. Porque princípios já vimos que não têm.
Fica aqui o alerta para o caso de ainda alguém não ter reparado nisso.
Na nossa “paróquia” as coisas passam-se à nossa medida: salvo alguns iluminados – do latim “illuminati” – que possam ter ligações que a gente desconhece ou não quer dizer (ou seja são parte influente e consciente, no esquema), o resto tem fluído por bitola semelhante.
Que se poderá fazer? Perguntarão os mais lúcidos; o que estás para aí a dizer? Questionam os menos esclarecidos; as coisas não serão bem assim, intermedeiam os ingénuos (sempre) úteis; como é que me vou desenrascar no meio disto tudo? Interroga – se (baixinho) a maioria, sem intuírem exactamente o que se passa (e o porquê das coisas), a não ser que têm que sobreviver ao fim do mês.
E é assim que para a greve geral (como para o resto), patrões, sindicatos, partidos e simples cidadãos optam pelo egoísmo, à falta de quem cuide da Justiça: como é que “eu” vou salvaguardar melhor o meu bocado?
A resposta é simples: não vão, iremos todos para o fundo.
Depois das referências morais, terão que vir as políticas – a tal hierarquia das coisas. Aqui há muito a protestar pois há a fazer duas de duas coisas: em primeiro lugar tentar melhorar o sistema; acontece que ninguém responsável o quer fazer e os restantes cidadãos passam a vida a dizer mal de tudo, com os políticos à cabeça (tornou-se uma espécie de desporto nacional masoquista), mas também não se incomodam por aí além.
Ora tal situação é a perfeita negação daquilo com que se enche a boca como Democracia.
Em segundo lugar – e cumulativamente – há que procurar criar um sistema político melhor – já que “acordámos” que o actual seria o menos mau de todos, tendo a Ciência Política estagnado por alturas do fim da II GM.
As hipóteses de tal ocorrer podem ser pela via evolutiva ou pela via revolucionária. Já se sabe, há séculos, que a primeira é preferível à segunda; sem embargo, esta última acaba, normalmente, por prevalecer. Em termos de inteligência isto não abona muito à Classe dos mamíferos, Ordem dos Primatas, Família do “Homo Sapiens Sapiens”…
Ora o sistema político de que somos servidos – através dos humanos que o enquadram – gerou o actual caos financeiro através de duas coisas fundamentais: não previu/preveniu (isto é, não viu/fingiu que não viu/não teve coragem para), e gerou-o/incentivou-o (através do ciclo vicioso governo/oposição/promete/necessidade de dinheiro/empréstimo/novas promessas/mais necessidade de dinheiro/novos empréstimos. Tudo envolto em demagogia/ruído/propaganda/conivências/negócio.
Esta inequação gerou um buraco financeiro cujo tamanho ainda ninguém sabe ao certo que tamanho tem, nem se quer apurar os responsáveis.
Não se percebeu que alguma coisa do que ficou dito preocupasse qualquer protagonista da greve geral.
Bons exemplos precisam-se. Dou três: a atitude desassombrada daquele cidadão anónimo que foi interpelar aquele outro cidadão menos anónimo, chamado Armando Vara, à entrada do tribunal onde está a ser julgado, por possível indecente e má figura. Disse-lhe das boas e passou na televisão, fugazmente.
Pois devia passar todos os dias durante uns tempos, pois aquele nosso compatriota disse – em forma “soft” - aquilo que a grande maioria de todos nós dizemos.
Aquele tipo de atitude é muito importante pois confronta os políticos, cara a cara, com as suas responsabilidades e é um exemplo de coragem e de intervenção cívica.
O segundo exemplo é o que se passa numa das áreas do complexo de Sines (onde está uma das chaves do nosso relançamento económico): a produtividade no terminal portuário de carvão é ímpar em todo o mundo, por causa de um acordo racional e harmonioso de gestão entre gestores e trabalhadores.
Finalmente o exemplo mais extraordinário, aquele que se passou na empresa “Sicasal”, em Mafra, na sequência do incêndio que a devastou. De imediato, sem tergiversações, desculpas, ou choraminguices. Toda a gente arregaçou as mangas e se pôs a trabalhar na recuperação dos estragos. Os responsáveis pela empresa, numa atitude de grande coragem, dignidade e humanidade, vieram logo afirmar que ninguém seria despedido; os trabalhadores, unidos à volta do interesse comum – e também em sinal de agradecimento – dispuseram-se a trabalhar o que fosse preciso no que fosse necessário, para tudo entrar novamente em velocidade de cruzeiro.
Sei, também, que no âmbito dos seguros (área onde, normalmente, se geram conflitos e tentativas de fraude), tudo se tem processado com grande correcção.
Finalmente tive a grata oportunidade de ouvir o proprietário da Sicasal – homem que provou ser com “H”maiúsculo (e não se portou como “dono”, mas sim como um verdadeiro empresário), vir pôr a tónica, com uma lucidez tranquila, na capacidade de liderança dos empresários em vez de se atirar a “culpa” para cima dos trabalhadores, por eventuais maus resultados. Até porque, se assim for, calaceiros, malandros e incompetentes terão a justa paga…
Ninguém nesta empresa precisa, seguramente, de se fazer sócio de associações patronais ou sindicais!
O exemplo devia tocar fundo em todos nós, do mesmo modo que tocou em quem colocou um pedido na “Net” para que se comprassem produtos da empresa para se oferecer na campanha de recolha de alimentos para os mais carenciados.
É com exemplos destes que o país avança e as pessoas se tornam melhores.
Deixámo-nos todos – embora com responsabilidades muito diferentes entre quem toma decisões e quem as sofre – meter no complicado imbróglio em que agora estamos. Só conseguimos sair de lá com o esforço comum. Para isso necessitamos, basicamente, de uma política que gere estratégias e exemplo.
Até agora não tivemos nem uma coisa nem outra. A greve geral não ajudou a encontrar nenhuma delas.
2 comentários:
Mas, afinal, ocorreu alguma greve "geral"? Mesmo, mesmo, geral?!
Nada disso. O que aconteceu, foi apenas a oportunidade criada por meia-dúzia de profissionais da agit-prop e da desestabilziadora demagogia (tipo "prós & contras"), para justificar os respectivos pelouros síndico-corporativo... !
Quais greves "gerais", qual carapuça. A haver uma greve, geral, seria para afundar certos rapazolas, que desde há três décadas criaram o "pântano", nele mesmo.
De facto estou completamente de acordo consigo. Temos que arregaçar as mangas e tornarmo-nos úteis à sociedade e reduzir esse masoquismo de sempre dizer mal do sistema! Aliás alguém disse que o povo merece sempre ter os governantes que tem. Essa capacidade de arregaçar as mangas tem de vir da sociedade civil, das comunidades em especial daquelas onde se verifica desertificação demográfica. Voltar à terra mas com qualidade e tecnologia! Há qualidade nos nossos produtos agrícolas/pecuários/piscícolas para serem colocados no mercado a preços superiores.
Temos que acabar com paternalismos e caridadezinhas que geram dependências e levam à destruição da liberdade individual. Temos que acabar com "trabalhos voluntários" de proveniência duvidosa, pois servem os titulares do sistema e mais não é que trabalho escravo de boa vontade! Trabalho voluntário terá que partir das bases, da comunidade e não de grandes corporações que são muitas das vezes ou ONGs de origem duvidosa ou multinacionais que geram lucro!
Em suma temos que arranjar meios de fundar bancos populares, nos quais os depositantes sejam igualmente titulares ou proprietários desses bancos a fim de que o juro seja redistribuído aos seus legítimos clientes.
Há muito para fazer mas o povo português já soube dar provas de nos momentos mais difíceis da sua história saber encontrar o caminho! Haja liderança…
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