sexta-feira, 17 de junho de 2011

AS FESTAS E OS SANTOS POPULARES

Mês de Junho em Lisboa, mês de festa na cidade, cujo marco maior são as comemorações relativamente aos três santos populares: Santo António, São João e São Pedro. Dos três aquele que tem maior devoção é, sem dúvida, Fernando de Bulhões, nascido na capital (1190? – 1231), um dos mais notáveis portugueses de todos os tempos e o segundo canonizado em toda a Igreja cujo processo levou menos tempo: onze meses e meio.

As festas realizam-se nos bairros mais antigos de Lisboa, com destaque para o Castelo e Alfama, e têm uma parte lúdica e uma parte religiosa.

A parte lúdica é constituída por decorações típicas nas ruas, fogueiras (hoje raras) e bailaricos, música popular portuguesa, marchas e fado, tudo acompanhado com bastos petiscos de que se destacam a bela da febra e da sardinha assada. Obviamente com amplo consumo de sumo de uva destilado (agora também, muita cerveja e, até, caipirinhas!).
Além disto, o notável artista que foi Leitão de Barros, deu o actual figurino às famosas marchas de Lisboa, em 1934 (tinham tido inicio dois anos antes, embora haja tradições desde o século XVIII), que deram origem a um despique bairrista, e hoje descem a Av. da Liberdade, na véspera do dia da morte do santo que, constantemente, os italianos se querem apropriar e que é, também, Tenente-coronel do Exército Português, com direito a soldo.
Completa o quadro os casamentos populares – o santo tem fama de casamenteiro – que tiveram inicio em 1958 e após interrupção de alguns anos, voltaram a realizar-se, celebrando-se o evento na imponente Sé velha, testemunha em pedra de 800 anos de História.
As cerimónias religiosas repartem-se por missas, actos de devoção e uma enorme procissão que percorre as ruas de Alfama e as suas cinco igrejas, terminando na Sé. Infelizmente com muito poucas colchas nas janelas, como é da tradição.
É sempre um gosto participar na animação.
As festas dos santos populares devem ser encaradas como uma espécie de “ex-líbris” de Lisboa (como as festividades do S. João, no Porto), pois além de representarem um conjunto de tradições antigas e que se devem preservar, passaram a ser um cartaz turístico da cidade.
Daí a necessidade de as manter castiças e autênticas. É como se houvesse aqui uma região demarcada de vinhos de que fosse mister garantir a qualidade e especificidade.
A que vem isto a propósito?
Pois a algumas adulterações que temos por lamentáveis e que devem ser rapidamente corrigidas. Por exemplo, não faz o menor sentido deixar-se montar bancas com bebidas brasileiras que nada ligam com o evento; muito menos ouvir música brasileira nas ruas – já basta a tomada de assalto de modas brasileiras no carnaval português, que não têm nada a ver com a nossa tradição. Até jazz ouvimos nas ruas de Alfama! Mas fado não ouvimos…
Gostaria ainda que me explicassem o que faz um grupo de danças e cantares marroquino no desfile das marchas? 
Já noutro âmbito é muito importante manter a higiene das ruas o mais impecável possível.
As autoridades devem ser as primeiras a tentar preservar o genuíno e a impor regras nesse sentido. A algum dos leitores passará pela cabeça enviar os “Pauliteiros de Miranda” irem desfilar no carnaval de Veneza? E alguém acredita que tal pudesse ser autorizado pela câmara italiana? A nossa Marisa, por ex., tem algumas hipóteses de ir cantar o fado no meio do corso do Rio?
E se as nossas autoridades não cumprem com o seu papel, os cidadãos tem o dever de chamar a atenção para isso, não devem aceitar tudo o que lhe colocam no prato, acriticamente.
As festas da cidade são como que um hall de entrada para a nossa casa. Creio que todos gostamos de ter o hall bem arranjado.

1 comentário:

joaquim disse...

Totalmente de acordo!


Qualquer dia em vez de sardinhas assadas na brasa, apresentam "lombos de tamboril, reduzidos em compota de maçã, sobre cama crocante de amêndoa", ou talvez, nas ruas da Alfama estejam a fazer ... "crepes suzette"!


Esta tendência portuguesa para abastardarmos o que é nosso!


Grande abraço
Joaquim Mexia Alves